Giovanni Maria Mastai Ferretti, seu nome de batismo, nasceu em 13 de maio
de 1792 e veio a falecer em 7 de fevereiro de 1878, perto dos 86 anos, tendo o
seu pontificado sido o mais longo da Igreja, com a duração de 32 anos, depois
do de São Pedro, tendo ele todo orientado para a devoção a Maria. Nasceu na Senigallia
(Itália).
Oriundo de uma família de nobres, foi batizado no dia do seu nascimento. Revelando
vocação para as humanidades, estudou Filosofia, Direito e Teologia em Roma.
Foi notória a sua atenção para com os mais necessitados, suavizando a
dura política praticada pelo cardeal Lambruschini.
Resultante de uma separação entre conservadores e liberais, que era o
caso de Pio IX, esta eleição ocorreu num panorama histórico e político
complicado, onde fatores como a derrota de Napoleão, a unificação da Itália e a
perda dos Estados Pontifícios dificultaram a sua obra, tornando-o num dos
maiores papas de sempre. Marcado por diversas mudanças, o seu papado iniciou-se
com uma amnistia a favor dos presos políticos ou exilados, que lhe valeu grande
popularidade. Com a oposição dos jesuítas, Pio IX introduziu os jornais em
Roma, permitindo uma maior liberdade de imprensa. A sua ação durante o papado
ficou marcada pelo reformismo e pela viragem para um sentido mais conservador.
Nas suas realizações é de referir a solene proclamação do dogma da
Imaculada Conceição em 1854, reforçando o poder da Igreja em Espanha, Portugal
e América Latina. Também de referir são as sessões do primeiro Concílio do
Vaticano, o Concílio Ecuménico Vaticano I, considerado o zénite do seu
pontificado, que se iniciou em 1869 e terminou a 18 de julho de 1870.
Manobrado pelas seitas maçónicas, fervia por toda a Itália o movimento
tendente à unificação nacional, que exigia o desaparecimento dos Estados
Pontifícios. As forças sectárias chegaram a assassinar o primeiro-ministro Pellegrino
Rossi, quando se dirigia para a inauguração do Parlamento pontifício. Pio IX
vê-se forçado a refugiar-se em Gaeta, no reino de Nápoles. Daí anuncia ao mundo
católico a sua fuga forçada e reitera a nulidade das concessões que, coagido, tivera
que fazer aos revoltosos. Pio IX recebeu apoio de todo o mundo católico,
salientando-se o da rainha portuguesa D. Maria II que lhe escreveu a oferecer
asilo no nosso país. Pio IX retribuiria este gesto, assinando em 1857 com D.
Pedro V uma concordata sobre o padroado, censurando, no entanto, os bispos
portugueses por não terem sabido reagir contra a lastimosa situação religiosa em
que caíra o país. Esta reprimenda seria muito atual para o que se passa nos
dias de hoje.
A 4 de abril de 1850, o Papa dirige-se novamente para Roma, onde chega
uma semana depois, entre aclamações de triunfo e simpatia.
O Papa fica reduzido a Roma e, a 17 de março de 1861, Victor Manuel é
proclamado pelo Senado como rei de Itália. Inicia-se para a Santa Sé uma
situação dolorosa que só encontraria solução definitiva bastantes anos depois,
com o Tratado de Latrão, celebrado em 1929 entre Pio XI e Mussolini, e
atualmente em vigor.
Vista à distância, a situação atual, com a Santa Sé reduzida aos 525
hectares do Vaticano, parece a mais conveniente para a Igreja que, livre de
preocupações de ordem temporal, se pode dedicar com maior disponibilidade ao
governo espiritual dos fiéis.
Ato de relevo neste pontificado seria a proclamação dogmática da
Imaculada Conceição de Maria pela Bula Ineffabilis Deus, em 1854, sendo
indescritível o júbilo com que a cristandade festejou este acontecimento que
Pio IX perpetuou com uma grandiosa coluna erguida em Roma, na Praça de Espanha.
Portugal de há longos anos vivia a fé neste dogma mariano, tendo D. João
IV consagrado o reino à Senhora da Conceição – prometendo solenemente “confessar
e defender sempre, até dar a vida sendo necessário, que a Virgem Senhora Mãe de
Deus foi concebida sem pecado original”.
Por isso, D. Pedro V, após a proclamação dogmática, determina festejos
nacionais “por haver Deus inspirado ao pai comum dos fiéis uma resolução de
tamanha glória para a Beatíssima Virgem que, sob o título da sua Conceição Imaculada
é poderosíssima padroeira destes reinos”.
Quatro anos depois desta definição dogmática, como a confirmá-la,
verificam-se em Lourdes as aparições da SS. Virgem que se apresenta como a
Imaculada Conceição.
Em maio de 1851, o cardeal-patriarca de Lisboa aprova a devoção do Mês de
Maria, prática e piedade popular que ainda hoje perdura.
A devoção do Sagrado Coração de Jesus que, muito espalhada e viva desde o reinado de D. Maria I, havia decaído com a expulsão da Companhia de Jesus, sua principal alimentadora, vê-se reacendida com o regresso dos jesuítas, que fundam em Lisboa o primeiro núcleo do Apostolado da Oração, a 17 de abril de 1864 – associação que, passados breves anoa, se encontraria implantada em quase todas as paróquias do país, contribuindo eficazmente para o ressurgimento da vida eucarística, e sendo, ainda hoje, com centenas de milhares de associados, uma das principais fontes de piedade popular.
Fontes:
“O Grande Livro dos Papas – De São Pedro a Bento XVI” e
“História dos Papas – Luzes e Sombras”, de Heitor Morais, s.j.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-05-2024)
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