15 de maio de 2024

O MÊS DE MAIO E O PAPA BEATO PIO IX

 



Giovanni Maria Mastai Ferretti, seu nome de batismo, nasceu em 13 de maio de 1792 e veio a falecer em 7 de fevereiro de 1878, perto dos 86 anos, tendo o seu pontificado sido o mais longo da Igreja, com a duração de 32 anos, depois do de São Pedro, tendo ele todo orientado para a devoção a Maria. Nasceu na Senigallia (Itália).

Oriundo de uma família de nobres, foi batizado no dia do seu nascimento. Revelando vocação para as humanidades, estudou Filosofia, Direito e Teologia em Roma.



Foi notória a sua atenção para com os mais necessitados, suavizando a dura política praticada pelo cardeal Lambruschini.

Resultante de uma separação entre conservadores e liberais, que era o caso de Pio IX, esta eleição ocorreu num panorama histórico e político complicado, onde fatores como a derrota de Napoleão, a unificação da Itália e a perda dos Estados Pontifícios dificultaram a sua obra, tornando-o num dos maiores papas de sempre. Marcado por diversas mudanças, o seu papado iniciou-se com uma amnistia a favor dos presos políticos ou exilados, que lhe valeu grande popularidade. Com a oposição dos jesuítas, Pio IX introduziu os jornais em Roma, permitindo uma maior liberdade de imprensa. A sua ação durante o papado ficou marcada pelo reformismo e pela viragem para um sentido mais conservador.

Nas suas realizações é de referir a solene proclamação do dogma da Imaculada Conceição em 1854, reforçando o poder da Igreja em Espanha, Portugal e América Latina. Também de referir são as sessões do primeiro Concílio do Vaticano, o Concílio Ecuménico Vaticano I, considerado o zénite do seu pontificado, que se iniciou em 1869 e terminou a 18 de julho de 1870.

Manobrado pelas seitas maçónicas, fervia por toda a Itália o movimento tendente à unificação nacional, que exigia o desaparecimento dos Estados Pontifícios. As forças sectárias chegaram a assassinar o primeiro-ministro Pellegrino Rossi, quando se dirigia para a inauguração do Parlamento pontifício. Pio IX vê-se forçado a refugiar-se em Gaeta, no reino de Nápoles. Daí anuncia ao mundo católico a sua fuga forçada e reitera a nulidade das concessões que, coagido, tivera que fazer aos revoltosos. Pio IX recebeu apoio de todo o mundo católico, salientando-se o da rainha portuguesa D. Maria II que lhe escreveu a oferecer asilo no nosso país. Pio IX retribuiria este gesto, assinando em 1857 com D. Pedro V uma concordata sobre o padroado, censurando, no entanto, os bispos portugueses por não terem sabido reagir contra a lastimosa situação religiosa em que caíra o país. Esta reprimenda seria muito atual para o que se passa nos dias de hoje.

A 4 de abril de 1850, o Papa dirige-se novamente para Roma, onde chega uma semana depois, entre aclamações de triunfo e simpatia.

O Papa fica reduzido a Roma e, a 17 de março de 1861, Victor Manuel é proclamado pelo Senado como rei de Itália. Inicia-se para a Santa Sé uma situação dolorosa que só encontraria solução definitiva bastantes anos depois, com o Tratado de Latrão, celebrado em 1929 entre Pio XI e Mussolini, e atualmente em vigor.

Vista à distância, a situação atual, com a Santa Sé reduzida aos 525 hectares do Vaticano, parece a mais conveniente para a Igreja que, livre de preocupações de ordem temporal, se pode dedicar com maior disponibilidade ao governo espiritual dos fiéis.

Ato de relevo neste pontificado seria a proclamação dogmática da Imaculada Conceição de Maria pela Bula Ineffabilis Deus, em 1854, sendo indescritível o júbilo com que a cristandade festejou este acontecimento que Pio IX perpetuou com uma grandiosa coluna erguida em Roma, na Praça de Espanha.

Portugal de há longos anos vivia a fé neste dogma mariano, tendo D. João IV consagrado o reino à Senhora da Conceição – prometendo solenemente “confessar e defender sempre, até dar a vida sendo necessário, que a Virgem Senhora Mãe de Deus foi concebida sem pecado original”.

Por isso, D. Pedro V, após a proclamação dogmática, determina festejos nacionais “por haver Deus inspirado ao pai comum dos fiéis uma resolução de tamanha glória para a Beatíssima Virgem que, sob o título da sua Conceição Imaculada é poderosíssima padroeira destes reinos”.

Quatro anos depois desta definição dogmática, como a confirmá-la, verificam-se em Lourdes as aparições da SS. Virgem que se apresenta como a Imaculada Conceição.

Em maio de 1851, o cardeal-patriarca de Lisboa aprova a devoção do Mês de Maria, prática e piedade popular que ainda hoje perdura.

A devoção do Sagrado Coração de Jesus que, muito espalhada e viva desde o reinado de D. Maria I, havia decaído  com a expulsão da Companhia de Jesus, sua principal alimentadora, vê-se reacendida com o regresso dos jesuítas, que fundam em Lisboa o primeiro núcleo do Apostolado da Oração, a 17 de abril de 1864 – associação que, passados breves anoa, se encontraria implantada em quase todas as paróquias do país, contribuindo eficazmente para o ressurgimento da vida eucarística, e sendo, ainda hoje, com centenas de milhares de associados, uma das principais fontes de piedade popular.

 

 

 

                                             Fontes: “O Grande Livro dos Papas – De São Pedro a Bento XVI” e

“História dos Papas – Luzes e Sombras”, de Heitor Morais, s.j.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-05-2024)

 

 

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