Em 1863 foi entregue aos Padres
da Companhia de Jesus o Colégio dos Órfãos de S. Fiel. A partir dessa data,
logo começaram a ser frequentemente visitados por dois ilustres sacerdotes da
Família Grainha, os Padres João e Francisco. Não tardaram estes em pedir aos
Jesuítas de S. Fiel a fundação na Covilhã de uma Residência para ministérios.
Só em 23 de outubro de 1869 o Padre italiano, Vicente Ficarelli, nessa altura
Superior dos Jesuítas em Portugal, enviou para a Covilhã o Padre Nicolau
Rodrigues, que se hospedou em casa daqueles referidos sacerdotes.
Foi em 11 de dezembro de 1871 que
o Papa Pio IX ordenou que o Padre Nicolau Rodrigues fundasse a suspirada
residência. Isso veio a surgir numa casa, no largo fronteiro à Igreja de Santa
Maria Maior. A casa foi cedida para esse fim por Luís António de Carvalho, um
dos maiores benfeitores logo a partir da primeira hora. A sua generosidade
haveria de continuar pelos seus descendentes – a família Crespo de Carvalho. Ao
fundador da Residência veio juntar-se o Padre Francisco Xavier de Miranda que
até então vivera no Colégio de Cernache do Bonjardim.
Como os dois religiosos jesuítas
não dispunham de Igreja própria, exerciam os ministérios sagrados na Igreja de
Santa Maria Maior. Não durou muito tempo a estadia do Padre Nicolau e seu
companheiro nesta primeira casa. Fizeram os dois jesuítas por encontrar alguma
igreja ou capela onde pudessem ter maior liberdade de ação. Compreendeu esta
necessidade o Pároco de S. Pedro, que em fins de fevereiro de 1872 lhes confiou
a vetusta capela de S. Tiago. Nela fundaram logo três associações: uma para
operários sob o título de S. José, outra para ambos os sexos sob o título do
Coração de Jesus e do Apostolado da Oração e a terceira para rapazes sob o
título de S. Luís Gonzaga. Para junto desta Capela mudaram a Residência ficando
instalada numa casa pertencente a Manuel de Belmonte que, generosamente, não
exigiu renda. Só em 1876 se pensou na construção de edifício próprio que
começou a ser habitado em 1879. É a casa atualmente pegada à Igreja do Coração
de Jesus.
Apesar do aumento feito à Capela de S. Tiago, era insuficiente para conter toda a multidão de fiéis qu
e aí acorriam. Pensou por isso o Padre Nicolau por comprar a Capela para no seu lugar se erigir uma Igreja. A aquisição da mesma foi feita por Maria José de Sousa Tavares que em 1875 a vendeu à Companhia de Jesus. Em fins de março desse ano abriram-se os primeiros alicerces para a nova igreja. A primeira pedra foi benzida e colocada debaixo da porta lateral do lado da epístola em 27 de abril. Presidiu à cerimónia o Padre João Grainha estando presente o Pároco de S. Pedro em cuja paróquia ficava situado o novo templo. Tanto as autoridades camarárias, presididas pelo Visconde da Coriscada, Francisco Joaquim da Silva Campos Melo, como os fiéis auxiliarem a construção da Igreja.
A pedido do Padre Nicolau, o
Presidente da Câmara com a Edilidade, permitiu o alargamento do átrio fronteiro,
consentindo para isso que fosse deitado abaixo um muro alto que o impedia. A
pedra desse muro foi doada à Igreja. Assim, esta ligou para sempre o seu nome à
Igreja e aos seus possuidores.
Tinha a Igreja 14 metros de
altura e 23 de comprimento. Foi aberta ao culto a 25 de dezembro de 1877. A
esta Igreja ligou também o seu nome a Família Megre que em 1878 mandou
construir um altar em que foi colocada uma imagem da Virgem Mãe, adquirida em
França.
Sobrevindo os tempos calamitosos
de 1910, foram os Jesuítas da Covilhã espoliados desta Igreja que foi
convertida em tribunal e a Residência em dependência desse tribunal.
A 10 de outubro de 1930
regressaram os jesuítas à Covilhã instalando-se no edifício na Rua Nuno
Álvares. Em 1947 adquiriu-se a antiga Igreja, ou mais exatamente, as suas
paredes – a única coisa que ficara do incêndio que a devorou em 27 de novembro
de 1942 (era Comandante dos Bombeiros Voluntários da Covilhã João Garcia).
A 10 de novembro de 1948
fechou-se o contrato com a sua restauração e a 10 de fevereiro de 1952 era de
novo aberta ao público com grande solenidade e concorrência de fiéis.
Uma das maiores preocupações dos
jesuítas na Covilhã foi a educação da juventude estudantil e operária. Em 1931
fundaram um Colégio para rapazes do 1º. Ciclo dos Liceus. Mas em 1934 teve de
ser fechado para não criar, dizia-se, dificuldades ao novo liceu, fundado nesse
mesmo ano. Não deixou, porém, de funcionar o Centro Académico, sempre
frequentado por grande número de alunos do Liceu e Escola Industrial. Os jesuítas
ajudam também, na medida do possível, os Párocos da Cidade.
Atualmente o Centro Académico já
não existe tendo os Padres (chegou a haver Irmãos Jesuítas que coadjuvavam nas
tarefas da Igreja), passado a residir nas novas instalações anexas à Igreja do
Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida por Igreja de S. Tiago.
- * -
Nota: As fotos (nem todas foi possível inserir, por falta de espaço) são
elucidativas para quem, ainda jovem, visitou e utilizou estas instalações, como
eu. Na foto, os vários padres jesuítas, acompanhada dos párocos da altura, são
do conhecimento das gentes mais antigas da Covilhã. Dou uma ajuda na sua
identificação: Na primeira fila, da esquerda para a direita: Padre Cândido
Ferreira, jesuíta (1º); Bispo da Guarda, D. Policarpo da Costa Vaz (6º.); Sr.
Clemente Alfredo da Costa Espinho Petrucci (7º.); Cónego Fernando Brito dos Santos
(o único vivo com 89 anos) – (8º.).
Em cima, pela mesma
ordem: Padre Barreiros, jesuíta (2º.); Cónego Joaquim dos Santos Morgadinho (3º);
Padre Pina (4º.); Padre António Oliveira Pita (5º) e Padre José Batista
Fernandes (7º).
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 15-05-2024)
Sem comentários:
Enviar um comentário