Em pleno coração de África, há bem mais de cem anos, acampou entre os
nativos de uma aldeia indígena um jovem escocês, médico e missionário,
Conquistou a amizade do chefe tribal, distribuiu remédios pelos enfermos da
tribo e pregou sobre um Deus, Pai de
todos os homens.
David Livingstone nasceu no dia 19 de março de 1813, na Escócia. Em
pequeno, trabalhou fiação doze horas por dia. Anos depois, estudou Teologia e
Medicina na Universidade de Edimburgo.
Quando chegou a África, no ano de 1840, toda a região central do
Continente era um espaço vazio nos mapas. Devido, em grande parte, aos seus
esforços, esta zona foi explorada e cartografada, aberta à colonização e ao
comércio. Livingstone coroou todo o seu trabalho com uma cruzada incansável
contra a escravatura, as superstições e o analfabetismo.
Durante trinta e três anos de trabalho árduo e de viagens, lutando
constantemente contra as doenças tropicais, exposto a todo o momento ao ataque
dos selvagens e dos animais ferozes, levou a luz da civilização às zonas mais
atrasadas do mundo.
Livingstone sentiu-se possuído de uma profunda compaixão pelos negros
africanos. O tráfico de escravos revoltou-o e desgostou-o de tal forma que fez
voto de dedicar a sua vida a combater esse monstruoso comércio.
A sua atividade médica era parte indispensável da sua obra apostólica. Demonstrava,
diariamente, a eficácia do quinino no tratamento da malária. Durante os
primeiros cinco anos de trabalho, ele mesmo sofreu trinta e um acessos de febre.
Sem quinino, não teria sobrevivido. Com este medicamento, insuflou vida a
famílias e a tribos inteiras. Os negros, quando lhes tratava as doenças,
chamavam-lhe, com alegria, o Homem Bom.
As façanhas de Livingstone como explorador alinham com as dos maiores aventureiros
de todos os tempos. Explorou um terço do imenso Continente – do Cabo até quase
ao Equador e do Atlântico ao Oceano Índico, tendo desbravado uma área mais extensa
do que a descoberta por qualquer outro explorador. Traçou mapas de todas as
regiões que visitou e enviou relatórios pormenorizados à Sociedade Real da
Geografia de Londres.
Foi o primeiro europeu a chegar às margens do grande Lago Ngami.
Descobriu, também, as magníficas cataratas, duas vezes mais altas do que as do
Niagara, que batizou de Cataratas de Victória, em homenagem à sua rainha.
A partir de 1858 Livingstone foi mais explorador do que missionário. Numa
lancha a vapor, ele e os seus companheiros exploraram o Zambeze e outras vias
fluviais do centro e do leste de África. Descobriram o Lago Niassa,
estabeleceram postos missionários, escolas e rotas comerciais.
No princípio de 1866 empreendeu a tarefa perigosa de explorar as
vertentes que alimentam o Lago Niassa e o Lago Tanganica. Depois do dia em que
Livingstone partiu para essa memorável expedição, só um branco o voltou a ver
vivo. Os negros hostis roubaram-lhe as provisões. Chuvas incessantes e moscas
trsé-tsé tornaram quase impossível a viagem. Em 1869, gravemente doente,
Livingstone foi transportado em liteira até Ujiji, no Lago Tanganica, numa
tormentosa viagem que durou dois meses.
Certa noite, na aldeia de Ilala, Livingstone sentiu-se tão exausto que
não podia sequer falar. Carinhosamente, os ajudantes colocaram-no no leito.
Pouco antes de amanhecer, encontrava-se morto, de joelhos, junto da cama tosca,
com a cabeça apoiada sobre as mãos postas.
“Morreu o Homem Bom”. A notícia correu de cabana em cabana, de aldeia em
aldeia. Embalsamaram o corpo mas tiraram-lhe o coração para o enterrar,
respeitosamente, na terra a que verdadeiramente pertencia.
Começou, então, o cortejo fúnebre mais longo de que há memória na
História. Entoando hinos do Evangelho que o “Homem Bom” lhes havia ensinado, os
nativos que formavam o cortejo iniciaram uma marcha de nove meses até à costa.
De Zanzibar, um navio britânico transportou o corpo para Inglaterra. A 18 de
abril de 1874, David Livingstone foi sepultado com todas as honras na Abadia de
Westminster.
Fonte: JMCD,
“Condensado de Biografias Famosas”.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”,
de 01-05-2024)
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