Quase todos passamos nas nossas vidas por duas fases em que umas vezes
surge o otimismo, outras emerge o pessimismo, neste sentimento paradoxal entre
nós, humanos que somos. Também eu tenho plena consciência de que o meu prazo de
validade vai sendo cada vez mais curto, contrastando com décadas precedentes. Tempos
houve em que a minha apetência pelos livros se virava para muitas aquisições, onde
a História era o meu ponto forte, em livrarias e bibliotecas, e o rigor na
génese do que procurava em termos temáticos, chegavam por vezes a prejudicar a
minha vida familiar e profissional. Não consegui ler todos os livros que fui
integrando, ao longo de uma vida, da minha biblioteca, e que tinha à espera de
serem lidos, em grande parte, ainda que alguns na diagonal, com o prazer de outros
folhear naquela atração de alguma página me fazer parar na direção do seu conteúdo
apelativo.
Resolvi há poucos meses reduzir alguns milhares dos volumes que possuía
para algumas centenas, por via de doações a bibliotecas, instituições e
particulares, e, outros, já sem o interesse inicial, seguiram o destino do
Banco Alimentar.
O formato digital não cabe nas minhas opções de leitura, em livro, ainda
que, quanto aos jornais, assino alguns diários neste formato, desde que surgiu
a pandemia.
Mas enquanto nos contatavam os habituais vendedores de livros porta a
porta, apareciam também as Selecções do
Reader’s Digest e o Círculo de
Leitores, este do Grupo Bertrand, que proporcionaram a abundância de vendas
com o aliciante deste último ter a iniciativa de apresentar as obras completas
dos principais autores portugueses, como Júlio Dinis, Eça de Queirós, Camilo
Castelo Branco, Aquilino Ribeiro, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, entre
outros.
Foi entretanto também o tempo da transmissão das telenovelas brasileiras
em Portugal, inicialmente ainda a preto e branco.
As primeiras transmissões a cores
começaram em 1976, durante as eleições presidenciais, e em setembro de 1979 são
transmitidos os “Jogos sem fronteiras”, também a cores, por obrigação europeia.
Só em 7 de março de 1980 é que começaram as emissões regulares a cores em
Portugal, com o Festival da Canção RTP.
Mesmo com a RTP a preto e branco, consegui, no tempo em que os meus
Filhos eram crianças, ver a TV Espanhola a cores, que então se via
perfeitamente em Portugal, com antena própria, isto por força de já me ter antecipado
à aquisição de uma Grundig no Pinho.
E é então que a RTP inicia na RTP
1 e RTP 2 a emissão diária a cores na sua totalidade, a partir de 3 de novembro
de 1980, após ter iniciado período experimental de emissões.
Nos anos 90 surgem a nível
nacional as estações privadas: a SIC, a 6 de outubro de 1992 e a TVI em 20 de
fevereiro de 1993. Nesta altura a TVI chamava-se “4”, por ser o quarto canal de
TV em Portugal.
E é em meados da década de
setenta do século passado que o país se deslumbra com as telenovelas
brasileiras, mormente após a hora do jantar. Ficavam assim na memória os seus
protagonistas – atores sem necessidade de legendas para se fazerem entender.
A primeira telenovela exibida em
Portugal pela RTP 1 com um enorme sucesso em todo o país foi Gabriela, corria
o ano de 1977 mas a data vem do ano 1975, iniciada no Brasil.
Começou a ser transmitida em 16
de maio de 1977 e foi um enorme sucesso em todo o país. Neste ano, o número de
aparelhos televisivos era baixo em Portugal (150 televisores por mil
habitantes), o que fazia com que os habitantes das aldeias, pequenas vilas e
bairros populares se deslocassem de propósito a cafés, às associações de bairro
e de moradores ou sedes de outras associações cooperativas, para poderem
assistir à telenovela. A sua popularidade atingiu todos os estratos sociais. Esse
sucesso também se refletiu em novos modos de comportamento e de relacionamento
social, com algo que nunca tinha sido visto na televisão portuguesa.
Influenciou a moda, incluindo os penteados, a escolha dos nomes dos bebés e da
linguagem usada (palavras como bacano tornaram-se populares). Essa influência
continuaria com outras novelas oriundas do Brasil. Gabriela foi um
sucesso estrondoso na televisão portuguesa, abrindo horizonte para a produção
de uma série de novelas portuguesas,
sendo a primeira Vila Faia, em 1982.
A transmissão teve lugar até 16
de novembro de 1977, sendo substituída por outra telenovela brasileira, O
Casarão.
Por não caber tudo o que gostava
de memorizar das telenovelas brasileiras, nesta crónica, apenas menciono algumas
delas e alguns dos seus atores com as suas personagens: 1977 – Gabriela (Sónia Braga – Gabriela da Silva; Armando Bogus – Nacib; Paulo Gracindo
– Coronel Ramiro Bastos; José Wilker – Dr. Mundinho; Nivea Maria – Jerusa
Bastos).
- 1978 - Escrava Isaura (Lucélia Santos – Isaura dos Anjos; Rubens
de Falco – Leôncio Correia).
- 1978 – O Casarão (Oswaldo Loureiro – Deodato Leme; Gracindo
Júnior – Paulo Gracindo – João Maciel.
- 1978 – 1979 – O Astro.
- 1980 – 1981 – Dona Xepa.
- 1976 – 1988 – Roque
Santeiro.
- 1995 – 1996 – Pantanal.
Votos de boas férias, e boas leiruras, para os prezados Leitores que já
as puderam programar.
João de Jesus Nunes
(In quinzenário “O Olhanense”, de 15-07-2024)
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