Estávamos no ano de 1954 e em
24 de julho desse ano, o Sporting Clube da Covilhã inaugurava a sua Feira
Popular localizada no recinto da Cidade.
Os Leões da Serra, então ainda
na primeira divisão nacional, já sem o famoso André Simonyi, sofriam de um
castigo imposto pela FPF, referente a um jogo da Taça de Portugal da época
passada, consequência do qual esteve a jogar fora, no Campo do Tortosendo,
durante os quatro primeiros jogos em casa.
Na Covilhã, tinha-se iniciado
uma campanha de “Lembranças para os soldados e crianças da Índia Portuguesa,
iniciativa da Cruz Vermelha Portuguesa, Cáritas Portuguesa e Diário Popular”.
Prestava a sua colaboração o Núcleo do Corpo Nacional de Escutas. A guarnição
militar da Índia havia sido reforçada com tropas metropolitanas. O general
comandante da 3ª região militar fazia declarações carinhosas sobre a forte impressão que lhe causou a magnífica
festa militar, a que assistiu na Covilhã, “e que o Batalhão de Caçadores 2 dedicou
ao seu contingente expedicionário”.
Entretanto, no princípio deste
ano de 1954, iniciaram-se as obras de construção da nova capela do Rodrigo. O
pároco de Nossa Senhora da Conceição, a que este bairro pertence, padre José de
Andrade, acompanhou bastante de perto os trabalhos de terraplanagem, viu cavar
os alicerces, subir as pedras quase uma a uma, encorajou os operários e
orientou os trabalhos.
De há muito que se fazia
sentir no Bairro do Rodrigo a falta de uma capela que proporcionasse aos
moradores a assistência à missa dominical, dado o seu relativo afastamento da
Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição. A Eucaristia vinha sendo
celebrada, há cerca de dois anos, numa das salas das escolas primárias.
Mas a capela acabaria por ver
a sua construção concluída e no domingo, dia
5 de setembro do ano da graça de 1954, há 70 anos, era a mesma inaugurada sob
a invocação de Santo António, com que ficaria a ser conhecida. “É de linhas
sóbrias, mas elegantes, a Capelinha de Santo António”, referia o NC de
04-09-1954 e acrescentava que o traçado é obra da responsabilidade da edilidade
covilhanense, que soube “aliar o estilo das moradias às exigências litúrgicas”.
“Olha a norte pelo lado do altar-mor, com um arco circular, cavado na parede
cimeira. As grandes janelas rasgadas pelo corpo da única nave traduzem decisão
e energia e iluminam o interior do templo com uma luz suficiente mas discreta. As
três janelas do fundo, quase geminadas espreitam o adro e a linda avenida da
frente. Vista de fora, fazendo um todo com o lindo bairro, quase se confunde com
as outras casas brancas. Entrando dentro da mesma, a grande porta escancarada,
no jeito da entrada das antigas fortalezas medievais, é como dois braços aberto
convidando a todos para a calma religiosidade interior. O coro, que a porta fez
subir, mais do que as proporções exigiam, tem o sentido da utilidade. Os tetos,
em madeira, não são ricos, mas dizem bem na seriedade do templo. O altar-mor
que não se ajustará, porventura, com o todo da construção, tem o valor de uma
preciosa recordação. Veio da demolida Capela de Santa Marinha. O estado de
conservação do seu bom e eterno castanho permitiu que o altar fosse
reconstituído, respeitando, no geral, a sua antiga forma. No trono do altar,
Santo António preside. Ele é o patrono. Santo António deve sorrir na casa nova
e lavada que a fé de um bairro pobre mas cristão quis erguer à memória do mais
português dos santos. As duas sacristias, mais espaçosa uma, outra de menores
dimensões, servem admiravelmente ao fim a que se destinam. O campanário tem
originalidade e sobriedade.”
A inauguração precedeu de um tríduo
preparatório, todos os dias, pelas 21 horas, com pregação adequada. Na festa da
inauguração teve a presença do Bispo da Guarda, que benzeu a capela e celebrou
a missa solene, com sermão, havendo ainda procissão e Bênção do Santíssimo. De
tarde foi arrematação de ofertas e quermesse, sendo abrilhantada pela Banda da
Covilhã.
Entretanto, em 16 de janeiro
de 2004, reportava-me aos cinquenta anos da inauguração da Capela do Rodrigo,
em artigo com publicação no NC, onde colaborava, então sob a égide do pároco
Padre Fernando Brito dos Santos, que muito tem dedicado parte da sua vida a
todo um trabalho hercúleo de entusiasmo em prol das gentes deste Bairro, e de
toda a Paróquia, Cidade e instituições em que está envolvido, com assistência resiliente
aos mais necessitados, e num sentido para que nada lhes falte. Aqui neste
Bairro do Rodrigo, na vontade inquebrantável do seu pensamento, ainda esteve
presente a ideia de fazer surgir um Centro de Dia, colaboração em que também me
envolveu, juntamente com outros companheiros, mas tal não foi possível, depois
de muita labuta. No entanto, na mente do Padre Fernando Brito – o protetor dos
pobres e dos jovens, muito empenhado da sua forte experiência dos movimentos
operários no seu lema de “Ver, Julgar e Agir”, olhou para a Capela, hoje
Igreja, a necessitar de ampliações e alterações adequadas aos novos tempos, num
melhor conforto, e eis que eu próprio me vejo também envolvido na colaboração
para as obras de remodelação da Igreja
que se viriam a concluir em dezembro de 2001, sendo as Eucaristias
dominicais celebradas por deferência do Grupo Instrução e Recreio, na sua Sede.
Desta Comissão, de que eu
também fiz parte, constavam ainda os paroquianos José Manuel de Brito, Gregório
Marques Esgalhado, José Martins (atualmente Diácono) e Manuel Pina Soares.
Nas alterações efetuadas há 23
anos, para salvaguardar a riqueza histórica do altar-mor que foi objeto de
total substituição, por outro mais adaptável aos dias de hoje, houve o cuidado
do aproveitamento de duas colunas desse antigo altar, oriundo da demolida
Igreja de Santa Marinha e parte da pintura em madeira do mesmo, que se
comtempla em dois quadros frontais.
O grande entusiasmo do
incansável Padre Fernando Brito dos Santos, hoje Cónego, foi ver em grande
destaque a imagem de Cristo Ressuscitado, a qual foi adquirida e colocada na
altura destas alterações com fortes beneficiações na Igreja de Santo António do
Bairro do Rodrigo, no ano 2001.
Hoje, o Padre Fernando Brito,
como é mais conhecido, recentemente homenageado pelos seus 65 anos de
sacerdócio, e a caminho de nove décadas de vida, não temendo a sua longevidade mas
tendo no entanto a fragilidade da sua saúde, é o exemplo de Homem íntegro que
deixou já fortes marcas na vida citadina.
Por isso, o dia 5 de setembro de 2024, na comemoração dos 70 anos
da inauguração da Igreja de Santo António do Bairro do Rodrigo, é mais uma
pedra deste templo a brilhar na alma do Reverendo Pároco.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum
Covilhã”, de 04-09-2024)
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