4 de setembro de 2024

A IGREJA DE SANTO ANTÓNIO DO BAIRRO DO RODRIGO FOI INAUGRADA HÁ 70 ANOS

 

Era o início do mês que iria dar lugar a um tempo mais fresco, situado então entre o solstício de verão e o equinócio de outono. Mas não deixava de continuar a ser verão.

Estávamos no ano de 1954 e em 24 de julho desse ano, o Sporting Clube da Covilhã inaugurava a sua Feira Popular localizada no recinto da Cidade.

Os Leões da Serra, então ainda na primeira divisão nacional, já sem o famoso André Simonyi, sofriam de um castigo imposto pela FPF, referente a um jogo da Taça de Portugal da época passada, consequência do qual esteve a jogar fora, no Campo do Tortosendo, durante os quatro primeiros jogos em casa.

Na Covilhã, tinha-se iniciado uma campanha de “Lembranças para os soldados e crianças da Índia Portuguesa, iniciativa da Cruz Vermelha Portuguesa, Cáritas Portuguesa e Diário Popular”. Prestava a sua colaboração o Núcleo do Corpo Nacional de Escutas. A guarnição militar da Índia havia sido reforçada com tropas metropolitanas. O general comandante da 3ª região militar fazia declarações carinhosas sobre a  forte impressão que lhe causou a magnífica festa militar, a que assistiu na Covilhã, “e que o Batalhão de Caçadores 2 dedicou ao seu contingente expedicionário”.

Entretanto, no princípio deste ano de 1954, iniciaram-se as obras de construção da nova capela do Rodrigo. O pároco de Nossa Senhora da Conceição, a que este bairro pertence, padre José de Andrade, acompanhou bastante de perto os trabalhos de terraplanagem, viu cavar os alicerces, subir as pedras quase uma a uma, encorajou os operários e orientou os trabalhos.

De há muito que se fazia sentir no Bairro do Rodrigo a falta de uma capela que proporcionasse aos moradores a assistência à missa dominical, dado o seu relativo afastamento da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição. A Eucaristia vinha sendo celebrada, há cerca de dois anos, numa das salas das escolas primárias.

Mas a capela acabaria por ver a sua construção concluída e no domingo, dia 5 de setembro do ano da graça de 1954, há 70 anos, era a mesma inaugurada sob a invocação de Santo António, com que ficaria a ser conhecida. “É de linhas sóbrias, mas elegantes, a Capelinha de Santo António”, referia o NC de 04-09-1954 e acrescentava que o traçado é obra da responsabilidade da edilidade covilhanense, que soube “aliar o estilo das moradias às exigências litúrgicas”. “Olha a norte pelo lado do altar-mor, com um arco circular, cavado na parede cimeira. As grandes janelas rasgadas pelo corpo da única nave traduzem decisão e energia e iluminam o interior do templo com uma luz suficiente mas discreta. As três janelas do fundo, quase geminadas espreitam o adro e a linda avenida da frente. Vista de fora, fazendo um todo com o lindo bairro, quase se confunde com as outras casas brancas. Entrando dentro da mesma, a grande porta escancarada, no jeito da entrada das antigas fortalezas medievais, é como dois braços aberto convidando a todos para a calma religiosidade interior. O coro, que a porta fez subir, mais do que as proporções exigiam, tem o sentido da utilidade. Os tetos, em madeira, não são ricos, mas dizem bem na seriedade do templo. O altar-mor que não se ajustará, porventura, com o todo da construção, tem o valor de uma preciosa recordação. Veio da demolida Capela de Santa Marinha. O estado de conservação do seu bom e eterno castanho permitiu que o altar fosse reconstituído, respeitando, no geral, a sua antiga forma. No trono do altar, Santo António preside. Ele é o patrono. Santo António deve sorrir na casa nova e lavada que a fé de um bairro pobre mas cristão quis erguer à memória do mais português dos santos. As duas sacristias, mais espaçosa uma, outra de menores dimensões, servem admiravelmente ao fim a que se destinam. O campanário tem originalidade e sobriedade.”

A inauguração precedeu de um tríduo preparatório, todos os dias, pelas 21 horas, com pregação adequada. Na festa da inauguração teve a presença do Bispo da Guarda, que benzeu a capela e celebrou a missa solene, com sermão, havendo ainda procissão e Bênção do Santíssimo. De tarde foi arrematação de ofertas e quermesse, sendo abrilhantada pela Banda da Covilhã.

Entretanto, em 16 de janeiro de 2004, reportava-me aos cinquenta anos da inauguração da Capela do Rodrigo, em artigo com publicação no NC, onde colaborava, então sob a égide do pároco Padre Fernando Brito dos Santos, que muito tem dedicado parte da sua vida a todo um trabalho hercúleo de entusiasmo em prol das gentes deste Bairro, e de toda a Paróquia, Cidade e instituições em que está envolvido, com assistência resiliente aos mais necessitados, e num sentido para que nada lhes falte. Aqui neste Bairro do Rodrigo, na vontade inquebrantável do seu pensamento, ainda esteve presente a ideia de fazer surgir um Centro de Dia, colaboração em que também me envolveu, juntamente com outros companheiros, mas tal não foi possível, depois de muita labuta. No entanto, na mente do Padre Fernando Brito – o protetor dos pobres e dos jovens, muito empenhado da sua forte experiência dos movimentos operários no seu lema de “Ver, Julgar e Agir”, olhou para a Capela, hoje Igreja, a necessitar de ampliações e alterações adequadas aos novos tempos, num melhor conforto, e eis que eu próprio me vejo também envolvido na colaboração para as obras de remodelação da Igreja que se viriam a concluir em dezembro de 2001, sendo as Eucaristias dominicais celebradas por deferência do Grupo Instrução e Recreio, na sua Sede.

Desta Comissão, de que eu também fiz parte, constavam ainda os paroquianos José Manuel de Brito, Gregório Marques Esgalhado, José Martins (atualmente Diácono) e Manuel Pina Soares.

Nas alterações efetuadas há 23 anos, para salvaguardar a riqueza histórica do altar-mor que foi objeto de total substituição, por outro mais adaptável aos dias de hoje, houve o cuidado do aproveitamento de duas colunas desse antigo altar, oriundo da demolida Igreja de Santa Marinha e parte da pintura em madeira do mesmo, que se comtempla em dois quadros frontais.

O grande entusiasmo do incansável Padre Fernando Brito dos Santos, hoje Cónego, foi ver em grande destaque a imagem de Cristo Ressuscitado, a qual foi adquirida e colocada na altura destas alterações com fortes beneficiações na Igreja de Santo António do Bairro do Rodrigo, no ano 2001.

Hoje, o Padre Fernando Brito, como é mais conhecido, recentemente homenageado pelos seus 65 anos de sacerdócio, e a caminho de nove décadas de vida, não temendo a sua longevidade mas tendo no entanto a fragilidade da sua saúde, é o exemplo de Homem íntegro que deixou já fortes marcas na vida citadina.

Por isso, o dia 5 de setembro de 2024, na comemoração dos 70 anos da inauguração da Igreja de Santo António do Bairro do Rodrigo, é mais uma pedra deste templo a brilhar na alma do Reverendo Pároco.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 04-09-2024)

 

 



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