Chegou ao fim o ano mais quente das nossas vidas. O primeiro em que a temperatura média da Terra subiu 1,5 graus Celsius. Em 2024, acumulámos recordes climáticos indesejáveis e falhanços em cimeiras dedicadas ao ambiente. A única atmosfera de que dispomos está saturada de carbono e isso irá tornar a Terra cada vez mais inóspita para quase todos os seres vivos. Proveniente de quem sabe, estamos a andar para trás, recuando ao ritmo de crescimento da pré-pandemia.
Este ano de 2025 reserva novas oportunidades de negociação internacional na área climática. Cientistas, ativistas, decisores políticos e ambientalistas já estão com os olhos postos na COP30, que terá lugar em Belém, no Brasil. Até fevereiro líderes políticos de todo o mundo devem fazer as suas promessas climáticas que se querem mais ambiciosas possível.
Pergunto muitas vezes no âmago dos meus pensamentos, se os responsáveis no âmbito da Humanidade, a começar por cada um de nós, preferem o seu desaparecimento à face da Terra, mais acelerado, ou viver nos limites para que fomos criados. Estamos, de facto, num mundo de contradições.
O ano que findou não nos deixou saudades. Foi uma galeria de horrores, sobejamente conhecidos: a guerra da Ucrânia continuou e até se intensificou com soldados norte-coreanos servindo de carne para canhão de Putin e ataques ucranianos dentro das fronteiras russas. O conflito entre Israel e Hamas estendeu-se também numa luta com o Hezbollah no Líbano e o Irão. Cerca de 100 reféns continuam aprisionados e maltratados em Gaza. A Síria depôs um ditador sanguinário. Pela segunda vez, os troca-tintas americanos, neste vendaval internacional, elegeram para a Casa Branca um agressor sexual.
Confesso-me dececionado com a conduta de tantas gentes pensantes, que mais parecem banhados de uma ingenuidade galopante, que chegou ao nosso País de brandos costumes, frase que ainda costuma ser vezeira em ocasiões de oportunidade.
A rusga na Mouraria, com as reações à foto de dezenas de imigrantes alinhados contra a parede na Rua do Benformoso foi a vergonha nacional deste nosso governo. Muito se falou e rios de tinta correram pelos jornais. As televisões marcaram a sua presença para destacar o lamentável espetáculo jamais visto neste País que se diz sabe acolher os imigrantes. Eu ainda há poucos meses percorri essa rua para as comemorações do centenário da Casa da Covilhã, sediada no nº. 150-1º. B, sem problemas. Obviamente também sem o aparato policial no Martim Moniz que lembra o pior do século XX, nas palavras da deputada socialista Isabel Moreira. Podemo-nos recordar dos imigrantes, 50 ano depois, como se fez com os retornados das ex-colónias. A tónica das políticas públicas para os imigrantes tem que passar pelo emprego, no alojamento e nas qualificações, ao invés das operações policiais.
Mas disto já todos estamos fartos de ver, ouvir e ler, aqui para quem está interessado em analisar opiniões jornalísticas.
Agora volto-me para um tema que se tornou escaldante durante vários anos. Afetou economias de particulares e empresariais de muitos portugueses, e não só – que dá força ao título desta crónica – as SCUT – Autoestradas sem custo para o utilizador.
Tiveram início em Portugal em 1997, durante o governo liderado por António Guterres. O objetivo principal desse modelo era promover o desenvolvimento regional e a coesão territorial, garantindo o acesso a infraestruturas modernas sem custos diretos para os utilizadores, financiadas pelo Estado através de receitas fiscais. Em 2010, no contexto da crise económica e de ajustamentos financeiros, o governo liderado por José Sócrates iniciou a introdução de portagens nas SCUT’s transformando-as em autoestradas pagas, com base no princípio do utilizador-pagador. Esta mudança gerou longos e inúmeros debates e protestos.
Levou 13 anos para que o governo revertesse a controversa decisão de portajar as SCUTs. Finalmente os viajantes podem usufruir da A23 e A25 sem custos diretos, aliviando os bolsos de quem depende dessas vias. Aquela manobra perigosa, dos nossos governos, conseguiu fazer uma marcha-atrás sem perigosidade.
Foi uma luta quase insana liderada pela Plataforma Pl’a Reposição das SCUTS, voltando agora a poder circular -se na A23 e na A25, sem custos diretos, como se reclamava desde o dia 8 de dezembro de 2011. E, para encanto e glória dos malfeitores de lideranças governamentais, tínhamos as portagens mais caras de todas as ex-SCUTS do País. Mas por que cargas de água isso aconteceu? Inacreditável!
Apesar dos desafios enfrentados, tanto globais como locais, há razões para acreditar que a marcha-atrás pode ser mais que uma metáfora – pode ser um caminho real para mudança e progresso.
Votos para que 2025 venha a ser um ano que nos traga mais esperança num novo mundo, pleno de paz e amor entre todos os habitantes do Planeta.
João de Jesus Nunes
jjnunes6200@gmail.com
((In “Jornal Fórum Covilhã”, de 08/01/2025)
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