5 de setembro de 2025

Volta a Portugal: Memórias e Emoções de Ontem e de Hoje

 

No final de uma época futebolística que deu brado e provocou acesas discussões entre adeptos de diferentes clubes, paradoxalmente inicia-se uma nova fase desportiva, com a entrada para um novo campeonato – a época 2025/2026 – carregada de expectativas e emoções.

Com o calor de verão, regressa o ciclismo vibrante: a Volta a Portugal em Bicicleta, ou simplesmente “a Volta”. Está já a caminhar para o centenário, pois a 1ª edição realizou-se  em 1927.

A comunicação social esteve na origem da sua organização, numa parceria entre os jornais Diário de Notícias e Os Sports, inspirando-se no Tour de France, criado pelo jornal L’ Auto em 1903.

A Volta surgiu depois do Giro d’ Itália, organizado pela La Gazzetta dello Sport em 1909, e antes da Vuelta a España, criada pelo jornal Informaciones em 1935. Tanto a Volta a Portugal como o Tour se distinguem de outras provas pela forma como, nos seus primeiros traçados, seguiram de perto a fronteira territorial dos respetivos países, acompanhando os seus contornos durante várias décadas.

A primeira edição da Volta iniciou-se a 26 de abril de 1927 e percorreu o país durante 20 dias, num percurso de 2000 km, distribuídos por 18 etapas. Terminou com uma receção apoteótica em Lisboa. O vencedor foi António Augusto de Carvalho, do Carcavelos, que inaugurou a galeria de campeões da chamada “Prova Rainha” do ciclismo português.

Na adolescência como tantos portugueses, ganhei entusiasmo por esta competição. Entre as figuras marcantes da época estavam Alves Barbosa, do Sangalhos, e Ribeiro da Silva, do Académico do Porto – este último falecido tragicamente num acidente de motorizada em 9 de abril de 1958.

Nos anos 60, o F. C. Porto destacou-se com ciclistas como Carlos Carvalho, Sousa Cardoso, Mário Silva e José Pacheco. Mas em 1963 o título foi para João Roque, do Sporting CP, e, em 1965, para Peixoto Alves, do Benfica.

Em 1967, pela primeira vez, a Volta foi conquistada por um estrangeiro: Antoine Houbrechts, da Flandria.  

Na década de 70 surgiu um nome incontornável do ciclismo português: Joaquim Agostinho, do Sporting CP, vencedor das edições de 1970, 1971 e 1972. Outros corredores de relevo seguiram-se, como Fernando Mendes e Firmino Bernardino, do Benfica.

A partir dos anos 80, surgiram novas figuras entre as quais Marco Chagas, que venceu em 1982, 1983, 1985 e 1986, representando o F. C. Porto e, mais tarde, o Sporting C. P.

Houve também nomes que marcaram várias edições, mas nunca conseguiram vencer a geral, como Jorge Corvo, do Ginásio de Tavira, e, já no século XXI, Cândido Barbosa, da Liberty Seguros.

Na minha memória, permanece viva a edição de 1962. A 12 de julho, um domingo, eu, o meu irmão e alguns amigos da Covilhã partimos para as Penhas da Saúde, sem autorização dos pais, para assistir ao final da etapa. Seguindo atalhos pela serra, encontrámos um ambiente vibrante: público entusiasta, caravanas promocionais, bonés, brindes e a expectativa pela chegada dos heróis da estrada.

Nesse dia, o grande protagonista foi João Centeio, do Águias de Alpiarça. Na 12ª etapa, de 175 Km entre Portalegre e Penhas da Saúde, chegou com larga vantagem – cerca de 30 minutos sobre o segundo classificado, segundo o Diário de Notícias de 11 de agosto de 2005. “Quando lá chegou, atirou-se para a piscina”.  Segundo testemunhos, arrancou na “Varanda dos Carqueijais” – cerca de cinco quilómetros após o início da subida, onde a inclinação chega a 13%   – e deixou todos para trás. Terminou com 11 minutos de vantagem sobre o segundo. Apesar da façanha, Centeio nunca venceu uma Volta: em 1962 terminou apenas em 31º, devido a várias quedas. Este carismático ciclista já faleceu. * Mas não desapareceu do imaginário das gentes da serra.

O vencedor da 25ª Volta, em 1962, foi José Pacheco (F. C. Porto), seguido de Peixoto Alves (Benfica) e Jorge Corvo (Ginásio de Tavira). O Prémio da Montanha foi para Mário Silva (F. C. Porto).

Infelizmente, nesse mesmo dia, no regresso à Covilhã, um jovem covilhanense, José Filipe Carriço de Sousa, foi atropelado por um automóvel, falecendo no local.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

*Informação telefónica obtida em 09/08/2025, junto do Clube Desportivo Águias de Alpiarça, por D. Jessica (Secretaria).

(In “O Olhanense”, de 01-09-2025)


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