No final de uma época
futebolística que deu brado e provocou acesas discussões entre adeptos de
diferentes clubes, paradoxalmente inicia-se uma nova fase desportiva, com a entrada
para um novo campeonato – a época 2025/2026 – carregada de expectativas e emoções.
Com o calor de verão, regressa o
ciclismo vibrante: a Volta a Portugal em Bicicleta, ou simplesmente “a Volta”.
Está já a caminhar para o centenário, pois a 1ª edição realizou-se em 1927.
A comunicação social esteve na origem
da sua organização, numa parceria entre os jornais Diário de Notícias e Os
Sports, inspirando-se no Tour
de France, criado pelo jornal L’ Auto em 1903.
A Volta surgiu depois do Giro d’ Itália, organizado pela La
Gazzetta dello Sport em
1909, e antes da Vuelta a España, criada pelo jornal Informaciones em
1935. Tanto a Volta a Portugal como o Tour se distinguem de outras provas
pela forma como, nos seus primeiros traçados, seguiram de perto a fronteira
territorial dos respetivos países, acompanhando os seus contornos durante várias
décadas.
A primeira edição da Volta iniciou-se
a 26 de abril de 1927 e percorreu o país durante 20 dias, num percurso de 2000
km, distribuídos por 18 etapas. Terminou com uma receção apoteótica em Lisboa. O
vencedor foi António Augusto de Carvalho, do Carcavelos, que inaugurou a
galeria de campeões da chamada “Prova Rainha” do ciclismo português.
Na adolescência como tantos
portugueses, ganhei entusiasmo por esta competição. Entre as figuras marcantes
da época estavam Alves Barbosa, do Sangalhos, e Ribeiro da Silva, do Académico
do Porto – este último falecido tragicamente num acidente de motorizada em 9 de
abril de 1958.
Nos anos 60, o F. C. Porto destacou-se
com ciclistas como Carlos Carvalho, Sousa Cardoso, Mário Silva e José Pacheco.
Mas em 1963 o título foi para João Roque, do Sporting CP, e, em 1965, para
Peixoto Alves, do Benfica.
Em 1967, pela primeira vez, a
Volta foi conquistada por um estrangeiro: Antoine Houbrechts, da Flandria.
Na década de 70 surgiu um nome
incontornável do ciclismo português: Joaquim Agostinho, do Sporting CP, vencedor
das edições de 1970, 1971 e 1972. Outros corredores de relevo seguiram-se, como
Fernando Mendes e Firmino Bernardino, do Benfica.
A partir dos anos 80, surgiram
novas figuras entre as quais Marco Chagas, que venceu em 1982, 1983, 1985 e
1986, representando o F. C. Porto e, mais tarde, o Sporting C. P.
Houve também nomes que marcaram
várias edições, mas nunca conseguiram vencer a geral, como Jorge Corvo, do
Ginásio de Tavira, e, já no século XXI, Cândido Barbosa, da Liberty Seguros.
Na minha memória, permanece viva
a edição de 1962. A 12 de julho, um domingo, eu, o meu irmão e alguns amigos da
Covilhã partimos para as Penhas da Saúde, sem autorização dos pais, para
assistir ao final da etapa. Seguindo atalhos pela serra, encontrámos um
ambiente vibrante: público entusiasta, caravanas promocionais, bonés, brindes e
a expectativa pela chegada dos heróis da estrada.
Nesse dia, o grande protagonista foi
João Centeio, do Águias de Alpiarça. Na 12ª etapa, de 175 Km entre Portalegre e
Penhas da Saúde, chegou com larga vantagem – cerca de 30 minutos sobre o
segundo classificado, segundo o Diário de Notícias de 11 de agosto de
2005. “Quando lá chegou, atirou-se para a piscina”. Segundo testemunhos, arrancou na “Varanda dos
Carqueijais” – cerca de cinco quilómetros após o início da subida, onde a
inclinação chega a 13% – e deixou todos para trás. Terminou com 11
minutos de vantagem sobre o segundo. Apesar da façanha, Centeio nunca venceu
uma Volta: em 1962 terminou apenas em 31º, devido a várias quedas. Este
carismático ciclista já faleceu. * Mas não desapareceu do imaginário das gentes
da serra.
O vencedor da 25ª Volta, em 1962,
foi José Pacheco (F. C. Porto), seguido de Peixoto Alves (Benfica) e Jorge
Corvo (Ginásio de Tavira). O Prémio da Montanha foi para Mário Silva (F. C.
Porto).
Infelizmente, nesse mesmo dia, no
regresso à Covilhã, um jovem covilhanense, José Filipe Carriço de Sousa, foi
atropelado por um automóvel, falecendo no local.
João de Jesus Nunes
*Informação telefónica obtida em 09/08/2025,
junto do Clube Desportivo Águias de Alpiarça, por D. Jessica (Secretaria).
(In “O Olhanense”, de 01-09-2025)


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