18 de setembro de 2025

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS: A DANÇA DAS CADEIRAS POLÍTICAS

 

À medida que se aproximam as eleições autárquicas, o país veste-se de cartazes, slogans ambiciosos e promessas renovadas – muitas vezes, apenas recicladas. Multiplicam-se candidatos, cada um mais convicto do que o outro de possuir a chave para o desenvolvimento local.

Há quem veja este momento como a festa da democracia local; outros, com um certo ceticismo, assistem ao desfile de rostos sorridentes e frases feitas, perguntando-se se, por trás de tanta cor e otimismo, não se esconde o mesmo enredo de sempre, num palco de vaidades e estratégias pessoais, onde os eleitores se veem mais como plateia do que como protagonistas.

Curioso é notar que, entre tantos candidatos, alguns, já sem possibilidade de renovar o mandato no seu concelho, decidem aventurar-se em novas praças. A geografia política parece, assim, um tabuleiro de xadrez onde o importante é não perder o lugar de topo. Trocam-se freguesias por cidades, concelhos por vilas, mas permanece a ambição de se manter na ribalta.

Trocam-se concelhos como quem troca de camisola – mas como o mesmo objetivo: não perder o poder

Não que falte legitimidade a quem deseja continuar a servir a causa pública. Porém, esta “dança de cadeiras” levanta questões inevitáveis: trata-se de vocação ou de carreira? De serviço ou de poder? Em ano de eleições, o eleitorado, tantas vezes esquecido entre mandatos, volta a ser cortejado. E, entre promessas e discursos inflamados, cabe a cada cidadão separar o trigo do joio, distinguir quem de facto se compromete com a terra de quem apenas procura mais um degrau na escalada política.

Curioso é o número de candidatos dispostos a tudo para manter o “lugar de topo”. Até que ponto esta mobilidade reflete vontade de servir, ou apenas medo de desaparecer dos holofotes?

Entre mandatos, o eleitorado parece esquecido. Mas, quando chega setembro ou outubro, todos voltam a bater à porta do povo, com um sorriso treinado e uma mão estendida.

Cabe, por isso, a cada cidadão – o único que tem, de facto, a chave da mudança – avaliar com rigor quem se apresenta. Olhar para além dos cartazes, ouvir para lá das promessas e, sobretudo, perceber quem tem trabalho feito e quem vive apenas de ambição.

A democracia vive da escolha consciente e informada. As autárquicas são um ato de confiança. Que não nos deixemos levar pela espuma dos dias nem pelo marketing político. Porque, no final, a verdadeira força da democracia não está nas cadeiras que alguns disputam, mas na lucidez com que o povo escolhe quem se senta nelas.

Que estas eleições autárquicas sirvam, então, para reforçar a voz dos cidadãos, mais do que alimentar vaidades ou perpetuar jogos de poder. Porque, no fim, o verdadeiro protagonista deveria ser sempre o povo – aquele que, em silêncio, decide o rumo das suas terras e confia, a cada quatro anos, que os eleitos honrem o peso do voto que lhes foi dado.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-09-2025)

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