Decorridos mais de cem anos, a
Ciência ainda não conseguiu encontrar o mecanismo exato que provoca a doença de
Alzheimer e, por conseguinte, os meios adequados à sua prevenção e tratamento.
Envelhecer não é, contudo,
sinónimo de perda de autonomia cognitiva e funcional, sendo importante agir, de
modo individual e coletivo, para a evitar. Uma das ações fundamentais é o
reconhecimento dos fatores de risco potencialmente modificáveis – aqueles que
nós controlamos e que nos permitem agir preventivamente.
Quando alguém que não vemos há
muito tempo nos diz “não mudaste nada”, sabemos que apenas quer dizer que somos
reconhecíveis apesar das mudanças necessariamente operadas pela simples
passagem do tempo.
Envelhecer bem, sem demência, implica
perder alguma rapidez mental, ser talvez menos criativo do que os jovens
adultos, possivelmente menos aventureiro e menos ávido de novidade do que os
adolescentes, tendencialmente mais repetitivo e voltado para o passado.
Mantêm-se, no entanto, a capacidade de aprender, de acumular conhecimento e de
o ligar ao já adquirido, de procurar a novidade, ainda que com menos avidez, e
muito certamente a vontade de rever uma grande parte daquilo de que sempre
gostámos.
“Demência” não é sinónimo de
“doença de Alzheimer”, embora, na prática, os termos sejam muitas vezes usados indistintamente.
Por demência, entende-se a perda
de capacidades cognitivas e funcionais previamente adquiridas, por meio de uma
doença que conduz a uma degeneração do cérebro.
O cérebro adulto pesa entre 1,1 e
2 Kg e estima-se que tenha 86 mil milhões de neurónios.
Quanto ao tipo de função
cognitiva, todos têm noção da perda de capacidade de memorização com a idade,
bem como da diminuição da velocidade de processamento da informação.
A idade, a hipertensão arterial,
a diabetes, a obesidade, o tabagismo e o alcoolismo são os fatores de risco
mais comuns para a doença cerebrovascular.
A perda do sentido do “Eu”, a
perda da identidade biográfica, é um dos defeitos essenciais da doença de
Alzheimer, no contexto da qual, progressivamente, se vai apagando o passado que
trazemos connosco desde o nascimento, numa linha que vemos sempre a acumular
memórias sobre memórias, que, na verdade, sabemos serem inúmeras vezes
evocadas, modificadas, readquiridas e perdidas, em múltiplos ciclos contínuos.
Platão, pela voz de Diotima de
Mantineia, em O Banquete, obra composta cerca do ano 384 a. C., diz-nos
o que a Neurociência provou muitos séculos depois: “Com efeito, aquilo que se
chama estudar é como um conhecimento que se deixa partir, pois o esquecimento é
a saída do conhecimento, e o estudo, fabricando de novo uma nova memória
inovada em substituição da antiga, salva o conhecimento, de tal modo que ele
parece ser o mesmo”.
A doença de Alzheimer deve o seu
nome a Aloís Alzheimer, que, no início do século XX, descreveu as principais
modificações patológicas no cérebro dos doentes.
As alterações cerebrais caraterísticas
desta doença começam muito antes dos sintomas que trazem o doente a uma
primeira consulta. Este lapso de tempo, que pode ir de 15 a 30 anos, constitui
um dos maiores problemas para o tratamento da doença e é o principal alvo da
investigação atual, particularmente sobre os meios de diagnóstico.
Os sintomas e sinais iniciais não
surgem, por regra, todos ao mesmo tempo e não têm todos a mesma intensidade. A
dificuldade crescente na conversação e a rapidez com que escapam as coisas que
se dizem levam a um isolamento relativo a uma tristeza sem causa evidente. As
dificuldades cognitivas são progressivas e vão-se somando, em combinações
várias e intrincadas.
O envelhecimento é reconhecido
como o mais importante fator de risco para a perda cognitiva, pois o cérebro
acumula danos ao longo da vida.
A perda de audição que se deve ao
envelhecimento, designada por presbiacusia, carateriza-se por uma perda
auditiva, neurossensorial progressiva, bilateral e simétrica, e atinge cerca de
um terço das pessoas acima dos 65 anos. A presbiacusia começa a manifestar-se habitualmente
na quarta década de vida e, pelos 80 anos, atinge 50-80% dos indivíduos.
A hipertensão arterial na
meia-idade é reconhecida como um fator de risco de demência na idade tardia. A
tensão arterial ideal é <120/<80 mmHg e a hipertensão arterial compreende
valores >135-140 mmHg para a tensão sistólica (máxima) e >85-90 mmHg para
a tensão diastólica (mínima).
A diabetes é considerada um fator
de risco de demência, aumentando o risco com a duração e a gravidade da doença.
A obesidade, definida como um
índice de Massa Corporal (IMC) x 30, tem vindo a aumentar em todos os grupos
etários, incluindo entre os mais idosos.
A maior parte dos habitantes das
grandes cidades não se desloca a pé nem para o trabalho nem para a escola, como
acontecia maioritariamente há algumas décadas. A prática do exercício físico
associa-se a uma redução do risco de demência em vários estudos longitudinais
com diferentes populações. É destacada a necessidade de manter a atividade
física ao longo da vida.
Embora o tabagismo seja, por si
só, um fator de risco de demência, é principalmente um fator de risco de morte
prematura, ou seja, morte antes da idade mais frequente do desenvolvimento da
demência.
Os danos causados ao cérebro pela
ingestão excessiva de álcool são conhecidos desde há muito. A definição de consumo
excessivo de álcool aponta para um valor superior a 21 unidades/semana, sendo
uma unidade igual a 10 ml ou 8 g de álcool puro.
A depressão e a ansiedade são
termos conhecidos por se referirem a duas patologias mais frequentes na
sociedade moderna. Sigmund Freud (1856-1939) foi o “pai” da Psicanálise que
atribuiu no seu ensaio O Mau Estar da Civilização, o neuroticismo
crescente das sociedades modernas à acumulação de frustrações impostas pela
vida em sociedade, assistindo-se à repressão dos instintos primários,
nomeadamente sexuais, para corresponder às exigências coletivas.
Isolamento social – Segundo os
Censos de 2021, mais de um milhão de pessoas no nosso país viviam sós, sendo
que meio milhão eram idosos. Há certamente diversos modos de viver só, mas a
solidão do idoso é a mais difícil de ultrapassar e a que tem maior impacto
sobre a vida física e mental, devido aos dias inteiros que passa sem conversar com
ninguém, as horas seguidas a ver televisão, a que se seguem sentimentos de
desesperança, de não pertença e de depressão. É de 40% a média europeia de
mulheres idosas que vivem sós, contra 19% de homens.
As perturbações de sono surgem
repetidamente associadas ao aumento do risco de doença de Alzheimer e outras
demências. Parece existir um maior risco com a duração curta do sono, inferior
a cinco horas. Segundo alguns autores, o período ideal situa-se entre cinco e
sete horas de sono.
A apneia do sono é um fator de
risco reconhecido de patologia cardíaca, morte súbita e patologia vascular
cerebral e surge também associada a um maior risco de demência.
Envelhecemos todos de maneiras
diferentes, o que resulta da genética e dos inúmeros fatores ambientais a que
estivemos expostos ao longo da vida. É por isso que uns, com mesma idade de um
paciente, mantêm as capacidades cognitiva e funcionais, outros não.
A alimentação humana tem um papel
absolutamente estruturante ao longo do tempo. A nível individual, não apenas no
desenvolvimento e crescimento saudáveis, mas também no surgimento de doenças e
no combate às mesmas.
Crescemos com o saber ancestral
relativo às melhores alturas para semear o quê e onde, quando devemos colhê-lo
e porquê, onde e em que alturas pescar certos peixes, ou como alimentar os
outros animais para a força ou para o prato.
“Existe uma rede de (des)informação
sobre a doença mental e temas que foram outrora categorizados como tabu e que,
atualmente fazem parte quer da narrativa do dia a dia quer das tecnologias de
pesquisa avançada”. (Catarina Ruas Antunes, psicóloga clínica).
O dia 10 de outubro é considerado
o Dia Mundial da Saúde Mental.
Fonte: “Quando a Memória Falha”, de Belina Nunes e Álvaro
Machado – neurologistas.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
13-11-2025)



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