13 de novembro de 2025

SAÚDE MENTAL E ENVELHECIMENTO – O QUE DEVEMOS SABER

 



Decorridos mais de cem anos, a Ciência ainda não conseguiu encontrar o mecanismo exato que provoca a doença de Alzheimer e, por conseguinte, os meios adequados à sua prevenção e tratamento.

Envelhecer não é, contudo, sinónimo de perda de autonomia cognitiva e funcional, sendo importante agir, de modo individual e coletivo, para a evitar. Uma das ações fundamentais é o reconhecimento dos fatores de risco potencialmente modificáveis – aqueles que nós controlamos e que nos permitem agir preventivamente.

Quando alguém que não vemos há muito tempo nos diz “não mudaste nada”, sabemos que apenas quer dizer que somos reconhecíveis apesar das mudanças necessariamente operadas pela simples passagem do tempo.

Envelhecer bem, sem demência, implica perder alguma rapidez mental, ser talvez menos criativo do que os jovens adultos, possivelmente menos aventureiro e menos ávido de novidade do que os adolescentes, tendencialmente mais repetitivo e voltado para o passado. Mantêm-se, no entanto, a capacidade de aprender, de acumular conhecimento e de o ligar ao já adquirido, de procurar a novidade, ainda que com menos avidez, e muito certamente a vontade de rever uma grande parte daquilo de que sempre gostámos.

“Demência” não é sinónimo de “doença de Alzheimer”, embora, na prática, os termos sejam muitas vezes usados indistintamente.

Por demência, entende-se a perda de capacidades cognitivas e funcionais previamente adquiridas, por meio de uma doença que conduz a uma degeneração do cérebro.

O cérebro adulto pesa entre 1,1 e 2 Kg e estima-se que tenha 86 mil milhões de neurónios.

Quanto ao tipo de função cognitiva, todos têm noção da perda de capacidade de memorização com a idade, bem como da diminuição da velocidade de processamento da informação.

A idade, a hipertensão arterial, a diabetes, a obesidade, o tabagismo e o alcoolismo são os fatores de risco mais comuns para a doença cerebrovascular.

A perda do sentido do “Eu”, a perda da identidade biográfica, é um dos defeitos essenciais da doença de Alzheimer, no contexto da qual, progressivamente, se vai apagando o passado que trazemos connosco desde o nascimento, numa linha que vemos sempre a acumular memórias sobre memórias, que, na verdade, sabemos serem inúmeras vezes evocadas, modificadas, readquiridas e perdidas, em múltiplos ciclos contínuos.

Platão, pela voz de Diotima de Mantineia, em O Banquete, obra composta cerca do ano 384 a. C., diz-nos o que a Neurociência provou muitos séculos depois: “Com efeito, aquilo que se chama estudar é como um conhecimento que se deixa partir, pois o esquecimento é a saída do conhecimento, e o estudo, fabricando de novo uma nova memória inovada em substituição da antiga, salva o conhecimento, de tal modo que ele parece ser o mesmo”.

A doença de Alzheimer deve o seu nome a Aloís Alzheimer, que, no início do século XX, descreveu as principais modificações patológicas no cérebro dos doentes.

As alterações cerebrais caraterísticas desta doença começam muito antes dos sintomas que trazem o doente a uma primeira consulta. Este lapso de tempo, que pode ir de 15 a 30 anos, constitui um dos maiores problemas para o tratamento da doença e é o principal alvo da investigação atual, particularmente sobre os meios de diagnóstico.

Os sintomas e sinais iniciais não surgem, por regra, todos ao mesmo tempo e não têm todos a mesma intensidade. A dificuldade crescente na conversação e a rapidez com que escapam as coisas que se dizem levam a um isolamento relativo a uma tristeza sem causa evidente. As dificuldades cognitivas são progressivas e vão-se somando, em combinações várias e intrincadas.

O envelhecimento é reconhecido como o mais importante fator de risco para a perda cognitiva, pois o cérebro acumula danos ao longo da vida.

A perda de audição que se deve ao envelhecimento, designada por presbiacusia, carateriza-se por uma perda auditiva, neurossensorial progressiva, bilateral e simétrica, e atinge cerca de um terço das pessoas acima dos 65 anos. A presbiacusia começa a manifestar-se habitualmente na quarta década de vida e, pelos 80 anos, atinge 50-80% dos indivíduos.

A hipertensão arterial na meia-idade é reconhecida como um fator de risco de demência na idade tardia. A tensão arterial ideal é <120/<80 mmHg e a hipertensão arterial compreende valores >135-140 mmHg para a tensão sistólica (máxima) e >85-90 mmHg para a tensão diastólica (mínima).

A diabetes é considerada um fator de risco de demência, aumentando o risco com a duração e a gravidade da doença.

A obesidade, definida como um índice de Massa Corporal (IMC) x 30, tem vindo a aumentar em todos os grupos etários, incluindo entre os mais idosos.

A maior parte dos habitantes das grandes cidades não se desloca a pé nem para o trabalho nem para a escola, como acontecia maioritariamente há algumas décadas. A prática do exercício físico associa-se a uma redução do risco de demência em vários estudos longitudinais com diferentes populações. É destacada a necessidade de manter a atividade física ao longo da vida.

Embora o tabagismo seja, por si só, um fator de risco de demência, é principalmente um fator de risco de morte prematura, ou seja, morte antes da idade mais frequente do desenvolvimento da demência.

Os danos causados ao cérebro pela ingestão excessiva de álcool são conhecidos desde há muito. A definição de consumo excessivo de álcool aponta para um valor superior a 21 unidades/semana, sendo uma unidade igual a 10 ml ou 8 g de álcool puro.

A depressão e a ansiedade são termos conhecidos por se referirem a duas patologias mais frequentes na sociedade moderna. Sigmund Freud (1856-1939) foi o “pai” da Psicanálise que atribuiu no seu ensaio O Mau Estar da Civilização, o neuroticismo crescente das sociedades modernas à acumulação de frustrações impostas pela vida em sociedade, assistindo-se à repressão dos instintos primários, nomeadamente sexuais, para corresponder às exigências coletivas.

Isolamento social – Segundo os Censos de 2021, mais de um milhão de pessoas no nosso país viviam sós, sendo que meio milhão eram idosos. Há certamente diversos modos de viver só, mas a solidão do idoso é a mais difícil de ultrapassar e a que tem maior impacto sobre a vida física e mental, devido aos dias inteiros que passa sem conversar com ninguém, as horas seguidas a ver televisão, a que se seguem sentimentos de desesperança, de não pertença e de depressão. É de 40% a média europeia de mulheres idosas que vivem sós, contra 19% de homens.

As perturbações de sono surgem repetidamente associadas ao aumento do risco de doença de Alzheimer e outras demências. Parece existir um maior risco com a duração curta do sono, inferior a cinco horas. Segundo alguns autores, o período ideal situa-se entre cinco e sete horas de sono.

A apneia do sono é um fator de risco reconhecido de patologia cardíaca, morte súbita e patologia vascular cerebral e surge também associada a um maior risco de demência.

Envelhecemos todos de maneiras diferentes, o que resulta da genética e dos inúmeros fatores ambientais a que estivemos expostos ao longo da vida. É por isso que uns, com mesma idade de um paciente, mantêm as capacidades cognitiva e funcionais, outros não.

A alimentação humana tem um papel absolutamente estruturante ao longo do tempo. A nível individual, não apenas no desenvolvimento e crescimento saudáveis, mas também no surgimento de doenças e no combate às mesmas.

Crescemos com o saber ancestral relativo às melhores alturas para semear o quê e onde, quando devemos colhê-lo e porquê, onde e em que alturas pescar certos peixes, ou como alimentar os outros animais para a força ou para o prato.

“Existe uma rede de (des)informação sobre a doença mental e temas que foram outrora categorizados como tabu e que, atualmente fazem parte quer da narrativa do dia a dia quer das tecnologias de pesquisa avançada”. (Catarina Ruas Antunes, psicóloga clínica).

O dia 10 de outubro é considerado o Dia Mundial da Saúde Mental.

Fonte: “Quando a Memória Falha”, de Belina Nunes e Álvaro Machado – neurologistas.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 13-11-2025)


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