Ficou a frase enérgica do Rei D. Juan Carlos, de Espanha, dirigida ao enervante líder venezuelano Chávez. E já existe nos tons de telemóveis.
Ficará para a história política dos dois países, como, entre nós, “O estado a que isto chegou”, de Salgueiro Maia, “Para o poder não cair na rua”, de Marcelo Caetano, “Vá à bruxa!”, de Adelino da Palma Carlos, “Força, força, companheiro Vasco”, de Carlos Alberto Moniz, “Montar o cavalo do poder”, de Otelo, “olhe que não, doutor, olhe que não...” de Álvaro Cunhal para Mário Soares, ou o “O povo é sereno. É só fumaça!”, do almirante Pinheiro de Azevedo, “A Assembleia é um ninho de lacraus”, do deputado maoísta Américo Duarte, “...e cinco deputadas espanholas. Olé!”, de Vasco da Gama Fernandes, “Sinto-me como um passarinho a quem abriram a gaiola”, de Mário Soares, “Ficou capado o Morgado”, de Natália Correia, “Só fui fazer a rodagem”, de Cavaco Silva, entre outras.
À boleia da frase em título, também não me vou calar, porque:
- A cidade covilhanense continua defecada com tantos cães, sem rei nem roque, com os proprietários a deixarem imundos os passeios, e com a edilidade a não querer mostrar autoridade neste capítulo, impondo uma legislação, como já se viu noutras cidades do País. A este propósito, registo uma notícia em evidência, neste mesmo jornal, de 07/04/1929: “Os Cães – O Sr. Administrador do concelho acaba de tomar a acertada medida de não permitir que vagueiem aí pela cidade a qualquer hora do dia e à noite uma chusma de cães que, além de darem cabo dos jardins, dão a quem nos visita a impressão de que se não está numa cidade civilizada, mas sim numa aldeia sertaneja. Quem se dá ao luxo de ter cães que os retenha e não faça da cidade canil”.
- As praxes académicas aos caloiros foram uma autêntica pouca-vergonha, obrigando muitos jovens, mormente raparigas, a ser forçados a palavrões, em uníssono, numa atitude patética dos que já saíram da casca do ovo. Amanhã são “doutores” que muito ficarão a dever à sua educação. Obrigar as jovens a utilizar coleiras com palavras obscenas é pretender manchar a sua dignidade. Não haverá outras formas de “praxar”? A população covilhanense tinha razão para reagir como o fizeram as gentes eborenses.
- Apesar da crise, “reveillons” a 1260 euros o casal, com hotéis quase cheios, é anunciado na comunicação social. Afinal, onde está a crise para muitos portugueses?
- 3000 Idosos no “tradicional almoço de Natal, do cartão Social Municipal, com os artistas Roberto Leal, Clemente, Maria Lisboa e Joana”. Quanto vai despender a autarquia, parecendo encontrar-se em tempo de “vacas gordas”, pode informar-nos?
Mas, vai-se andando, já que é raro ouvir alguém dizer com convicção: “Como estou? Estou óptimo! Como não havia de estar?”Somos mais dados a afirmações equívocas e lúgubres. Se alguma coisa correu bem, bem mesmo, em vez de dizer “Óptimo, maravilhoso!” surge um lacónico “Não correu mal”. Na saúde é o mesmo: “Como estou? Mais ou menos”, ou: “Uns dias bem e outros mal”, ou: “Vai-se andando”.
E, neste País de ricos e pobres, com a classe média já destruída, cito Vasco Pulido Valente: “Sócrates (com a voluntária ajuda de Cavaco) despolitizou Portugal. Vivemos numa sociedade apolítica, que obedece à autoridade, sofre calada e aceita com resignação o seu destino. Pouco a pouco, o essencial desapareceu de cena: a liberdade e a justiça, o Governo e o Estado. E voltaram, como sempre, o “imperativo nacional” e a competência técnica, que Sócrates naturalmente encarna”.
O que é certo e verdade é que nunca se reclamou tanto da falta de empregos, os despedimentos são uma constante e a insegurança social está a criar uma sociedade amedrontada com o futuro, e já se diz, a meia voz: salve-se quem puder!
Já não andamos de olhos vendados, pois encontramo-nos num mundo em que todas as janelas tendem a estar abertas, seja ao vermos televisão, ao olharmos para uma banca de jornais ou ao navegarmos na Internet. As condições materiais são melhores mas a vida social agravou-se em alguns aspectos.
E, para terminar, vem aí Kadhafi, com a sua tenda, e, porque não lhe vamos dizer, “Por que não te calas com a tenda?” Vamos tolerar a sua intolerância.
(In Notícias da Covilhã e Kaminhos de 29/11/2007)
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