Tive a feliz oportunidade de passar pela maior “fábrica” do ensino da Região, mormente do técnico e profissional, até ao terceiro quarto do século XX – a Escola Industrial e Comercial Campos Melo – que hoje se denomina Escola Secundária Campos Melo.
Até aí, não havia hipótese de prosseguimento de estudos, e obtenção de qualquer licenciatura, face à vivência da época, com o ensino máximo praticado na Região, direccionado para uma ocupação profissional.
Com alguns trocos nas algibeiras, e o esforço financeiro dos pais, e alguma sorte, a opção universitária pouco mais seria que aceitar as instituições distantes, para a altura, de Lisboa, Porto ou Coimbra.
Mas é a Escola Campos Melo – a segunda a ser criada no País de todos nós – uma instituição de excelência no ensino, que foi frequentada por um mar de covilhanenses e de outras paragens da região, e não só, que vai dar oportunidade de aprenderem, a valer, para ficarem a saber para os vários ofícios, grande número de homens e mulheres; e ser ainda a precursora da criação da Universidade da Beira Interior.
No peito de cada um ficou aquele enigmático emblema de orgulho pela Escola onde se formaram para a vida, e os professores que os ensinaram – hoje ainda recordados como pedras vivas mesmo para além da morte.
Na celebração dos 125 anos desta Escola, vai a alegria de também ter podido contribuir, com uma minúscula parcela, para o brilho das comemorações do seu Centenário, e na génese da constituição da associação de antigos professores, alunos e empregados, que ali germinou, como primeira associação do género no País – a APAE –, evento atestado nas palavras do então Ministro da Educação, já falecido – José Augusto Seabra.
Ironizando (já lá vão uns 26 anos), numa das nossas últimas reuniões, realizadas na Sala do Conselho Directivo da Escola, então presidido pela sempre jovem professora, Maria Ascensão Simões, me expressei alegremente: “Vamos fazer os possíveis para que tudo corra bem nestas comemorações do Centenário, porque depois só podemos corrigir no segundo Centenário...” . Alguns dos que estiveram presentes já não se contam no número dos vivos, e já lá vai um quarto de século!
Muitas coisas mudaram até então.
Há dias entra no meu escritório um amigo – Carlos Barradas – covilhanense que, aos 81 anos, foi recordar no Brasil; para onde fora de tenra idade (regressou depois em 1947, para fazer a sua vida profissional na Covilhã, e constituir família); os Colégios onde estudou durante a infância e juventude: Liceu Municipal de Orlândia, em 1939, em São Paulo; Ginásio Nossa Senhora da Aparecida, em 1942; Colégio Estadual de Ribeirão Preto, de 1943 a 1945.
Foi ainda encontrar a sua primeira professora, com a provecta idade de 92 anos – Anita de Quadros – e visitar também o Colégio de Santo Inácio, no Rio de Janeiro, que frequentou em 1941.
Depois de 61 anos de ter regressado definitivamente do Brasil, Carlos Barradas ainda sentiu o impulso de ligação às suas origens do ensino naquele país.
Outra surpresa: o Colégio de Santo Inácio, ao completar 100 anos, fez sair um livro onde constam também os cerca de trinta mil alunos e professores que por ali passaram. E lá está o nome Carlos Hélio Barata Tavares Barradas, que acabaria por se licenciar em gestão de empresas, em Lisboa.
Pois bem, seria interessante, importante mesmo, que a nossa Escola Campos Melo ombreasse também com esta iniciativa, a todos os títulos meritória para a cultura da Covilhã, onde todos os que passaram por esta Instituição, tanto quanto possível, fossem recordados, constituindo também um valioso documento para a história do ensino na Covilhã.
(In Notícias da Covilhã de 5 de Março 2009)
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