14 de julho de 2009

AQUELE GRITO DE REVOLTA

Num semanário da Região escrevi há quase quatro décadas, com repercussão a um artigo surgido na semana anterior, que se intitulava “Funcionários públicos – esperança para 1972”, e, dando título ao meu texto – “Uma sóbria profissão: o Funcionalismo Público” – defendi a situação difícil que nesse tempo vivia esta classe, sem receio do tempo do “exame prévio” que substituíra a “comissão de censura”, mas que produzia o mesmo efeito.
Embora não me chegassem a pisar os calos, senti alguns risos irónicos e um rosnar de vozes por alguns cantos do município onde então trabalhava; e, paradoxalmente, algumas vozes de apoio para que eu prosseguisse na mesma senda, por colegas da Repartição de Finanças, o que eles não desejavam fazer…
Os tempos de hoje são diferentes mas ainda há vozes que preferem silenciar-se, não divulgando, na comunicação social, os erros ou incúrias que lesam gravemente o ser humano, chegando ao ponto de partirem para a outra margem da vida.
“UM GRITO DE REVOLTA”, de Maria dos Prazeres Matos Antunes Oliveira Roque, de Caria, que li no número de 28 de Maio, do Jornal do Fundão, e cujo conteúdo já conhecia porque a autora, num desabafo de revolta, de semblante triste, mas sem desejo de vingança, lamentava profundamente a negligência de que seu marido fora vítima, pelos clínicos que não souberam diagnosticar devidamente a sua doença; e o reconhecimento àqueles que constataram, tardiamente, a ineficácia do serviço dos seus colegas, mas que a ética profissional os obrigava a não fazerem comentários, é uma atitude de coragem e, embora não reclamando justiça, apela para o alerta futuro na dignidade que o doente merece.
Conheci e fui amigo do Américo Roque, da minha idade, pessoa quão simples como do brotar de simpatia, que gostava de viver, de lidar com os animais, dos pássaros e aves de capoeira, aos cães e gatos; mas que não pôde continuar a viver porque andou por caminhos clínicos errados.
Penso que as gentes da nossa gente beirã e portuguesa devem estar atentas e denunciar vivamente, sem receios, o que entenderem sobre eventuais erros ou negligência que possam afectar até ao túmulo a vida das pessoas.
Sabemos que dentro daquele véu em que muitas vezes se escondem os médicos – o foro clínico – não é suficiente para que o doente; ou os seus familiares, que até tem o seu estatuto, com vários direitos, espalhados pelas paredes dos hospitais; não deixe de responder à conduta que lhe é lesiva.
Sabemos que é difícil, e que o livro de reclamações pouco adianta, pois ainda hoje aguardo resposta a uma reclamação feita sobre um clínico duma urgência, verificada no dia 21 de Agosto de 2008, do Hospital da Covilhã.
Também sabemos distinguir os médicos de excelência que, quantas vezes, nos trazem o ambiente balsâmico para as nossas vidas.


(In Diário Digital ''Kaminhos'' de 14/07/2009)

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