30 de julho de 2009

A VOCAÇÃO E A CAUSA – 50 ANOS




Corria o ano da graça de mil novecentos e cinquenta e nove e eu, na minha adolescência, passava o tempo pós escolar e das férias, na antiga Biblioteca Municipal, ao Jardim, onde meu pai se encarregava dos livros e dos jornais.
Na vinda e no regresso para casa, passávamos forçosamente pelas traseiras da Igreja de S. Francisco onde, no largo passeio, se viam, por vezes, vários seminaristas e pessoas novas que frequentavam aquela Igreja.
Um dia vimos um jovem, esguio, de batina preta, cheia de botões, de alto a baixo, como era usual na altura, e pensávamos que se trataria de mais um seminarista de teologia.
Mas como o víamos rezar o breviário, viemos a saber pelo merceeiro José Soares Cruto; do outro lado da rua – a Combatentes da Grande Guerra – que era visitado por alguns sacerdotes, como o Padre Nabais, para falarem também sobre o futebol, de que muito gostavam; e outros nomes que não menciono, por traição da memória; que se tratava do novo coadjutor do pároco da Conceição, o então Padre José Andrade.
Soube-se então que o novel padre dava pelo nome de FERNANDO BRITO DOS SANTOS, natural de Loriga; estávamos no mês de Setembro, daquele ano. Havia sido ordenado padre no mês anterior, mais precisamente em 2 de Agosto, na Sé da Guarda, ele o último de onze novos sacerdotes, ordenados naquele mesmo ano, o derradeiro da década de cinquenta do século passado, e que começaria em 14 de Março, com a ordenação de um novo padre do concelho da Covilhã – Sobral de S. Miguel, e também da Torre, do Sabugal; seguir-se-iam outros, da Rapoula do Côa, Santo Estêvão, Malhada Sorda, Bendada, Aranhas, Janeiro de Cima, Aldeia do Bispo, do concelho de Penamacor (dois), e, finalmente, o Homem de Loriga.
De imediato vimo-lo um sacerdote irrequieto, persistente, quão de humilde até aos dias de hoje, duma tenacidade que nem pensava sequer no seu desgaste, ao longo dos tempos, que o viria a afectar na sua saúde.
O Centro Cultural e Social da Covilhã abria as suas portas e instalou-se também aí o jornal Notícias da Covilhã (NC), propriedade da Diocese da Guarda, e é também aí que o Padre Fernando Brito irá encontrar o seu poiso e percorrer incansavelmente aquelas ruas de calçada em pedra, subidas e estreitas, até à Rua de Santa Maria (hoje Rua do Jornal Notícias da Covilhã).
Dedica-se de alma e coração aos jovens, e não só, numa acção profícua, junto da Acção Católica, onde mais de três décadas foi Assistente Diocesano, impregnando uma forte dinâmica na JOC – Juventude Operária Católica, em tempos difíceis que incomodavam a ditadura salazarista e mesmo marcelista.
E o lema desta juventude católica –“Nós não queremos a revolução, nós somos a própria revolução” – iria ser a luz forte que iluminaria muitos rapazes e raparigas, alegres, numa vontade inquebrantável, de ajudar a mudar o mundo do trabalho, na cristandade, quais Carrolas, Chiquitas; e outros quejandos, que o digam o José Manuel Duarte e a Alexandrina, e que outros nomes, omissos por exigências do espaço deste jornal, também foram merecedores da “bênção” do Padre Fernando.
Depois, dividido entre a Redacção do NC e outras multifacetadas funções, nomeadamente a sua intensa acção paroquial, levou-o a uma sobrecarga de trabalho, que ainda mantém, mas sem um qualquer enfado, antes na envolvente da palavra “sim” que trás sempre na mente.
Sim, porque ele é o “S. Vicente de Paulo covilhanense”, como fôra, durante trinta e cinco anos, o “Cardijn covilhanense, de coração”; sim, porque está sempre nos trilhos mais difíceis onde outros não querem ir; sim, porque é o apaziguador de conflitos, sempre no anonimato; sim, porque ele é uma estrela nas peregrinações que se transformam numa festa.
Fica muito por dizer deste Covilhanense de coração, de excessiva humildade, e que, por isso, muito do que faz não chega ao domínio público.
Se alguém da Cidade merece uma sentida homenagem pública, de há muito, este Homem é credor do respeito citadino, e diocesano.


(In “DIÁRIO XXI”, “GAZETA DO INTERIOR” e “JORNAL DE SANTA MARINHA”, digital, (Quinzenário do Concelho de Seia), de 29 de Julho; “NOTÍCIAS DA COVILHÔ e “NOTÍCIAS DE GOUVEIA”, de 30 de Julho e Jornal de Seia “Porta da Estrela”, de 30 de Julho, em edição papel e electrónica)

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