23 de julho de 2009

OS “RITAS” AINDA TRAZEM À BAILA O “SPORTING DA COVILHÔ

Li em três jornais desportivos, de 29 de Junho último, com destaque, a contratação pelo Paços de Ferreira, de Leandro Barrios, neto do antigo guarda-redes do Sporting da Covilhã (SCC), José Rita.
O “Jogo” referia: “Meio século depois, os relvados nacionais vão voltar a ser pisados por um Rita dos Mártires. O legado da família começou na década de 1950, com José Bartolomeu, e vai continuar agora com o neto Leandro Barrios, avançado.”
Sendo certo que na antiga I Divisão chegaram a jogar dois guarda-redes, de nome Rita – o João Rita, do Caldas; e o José Rita, do SCC, ambos já falecidos, foi, no entanto, este último que, de facto, se evidenciou a nível nacional.
José Bartolomeu Barrocal Rita dos Mártires, de seu nome completo, mais conhecido pelo Rita, radicou-se no Brasil, quando deixou o Benfica, onde faleceu.
Num breve telefonema, uns dois anos antes da sua morte, já doente, falou comigo, com dificuldade, encorajado pela filha; que nasceu na Covilhã – a Fátima Regina, que lhe deu três netos: a Luana, o Tiago e o Diego; que insistiu com ele para falar: “É o teu amigo de Portugal, da Covilhã, onde jogaste!” Pouco falou e quase que só pôde perguntar onde estavam os seus antigos companheiros do SCC – o Martin, o Hélder e o Cavem.
Mas, uns anos antes, ainda em forma, em 1991, ficou deslumbrado quando recebeu notícias da Covilhã. As suas palavras, escritas pelo seu próprio punho, são evidentes de uma grande alegria: “Que emoção! Nem sei como explicar-lhe tanta alegria! Como é gratificante a gente saber que não é esquecido! (…) Paizão, vá tomar banho, vista um shorts e sente-se no sofá e relax, pois vai ter uma grande alegria. Não acreditei. As lágrimas rolaram de tanta emoção. Como foi possível rever antigos companheiros. Puxa vida! Não tenho palavras para lhe agradecer. Deus lhe pague. (…) No SCC agradeço aos meus companheiros da defesa: Hélder, Couceiro, Cavem, Martin, Cabrita. Estes gajos eram fogo! Que saudades! Era amor pela camisola verde e branca (…)”.
Depois, mais tarde, o filho, José Manuel Rita dos Mártires, ao receber a história do SCC, em 1993, no Brasil, envia-me uma carta e, dizia, num extenso rol de emoções: “(…) Estou muito emocionado, e orgulhoso do meu querido pai, pois desde pequeno sempre ouvi dizer que o “Rita” foi um bom goleiro; porém, nas últimas horas, ao ler a sua obra, é que descobri que ele foi um dos melhores. É emocionante para um filho descobrir aos 28 anos que seu pai era um atleta respeitado e entender hoje os porquês da vida. Estou-me sentindo como uma criança quando vê no pai um super-herói.
Quando garoto joguei na Portuguesa dos Desportos, aqui em S. Paulo. (…) Esta obra que o Sr. nos enviou me fez saber porquê das atitudes de meu pai, pois um atleta que teve de tudo, respeito, fama, carinho, amigos, etc., etc. foi abandonado por um clube como o Benfica. (…) Ganhei um troféu e já tinha conseguido, assim, algo que eu pudesse mostrar para os meus filhos, pois tenho o mais novo (4 anos) que tenho a certeza vai ser goleiro e dos bons, mas depois deste livro não posso parar e ainda tenho muito como goleiro para dar, pois segundo meu pai, goleiro é como vinho, quanto mais velho melhor.
Torço pelo SCC, desde pequeno, influenciado por meu pai, e como estou e continuarei jogando, gostaria de lhe pedir um uniforme de guarda-redes do SCC para que eu possa jogar aqui no “Leão do Morro” com o uniforme do “Leão da Serra”.
Pois bem, o equipamento de guarda-redes foi solicitado ao SCC mas não lhe foi enviado.
Mais tarde, no meu escritório, recebo um telefonema, oriundo dum empresário de futebol, do Brasil, solicitando apresentasse ao SCC o interesse em que jogasse à experiência um neto do Rita, “um garoto de grande valor, endiabrado, grande avançado”.
Informei o empresário de que eu não era dirigente do SCC, que me enviasse um e-mail, pois o canalizaria para o Clube.
No entanto, previamente, através dum telefonema, comuniquei o interesse manifestado ao então Presidente da Direcção, João Petrucci, que nada podia fazer na altura, face às finanças do clube.
O destino de Leandro Barrios, neto do Rita, acabaria por não vingar ainda em Portugal, naquela altura, mas bateu às portas do clube onde jogou seu avô, lá isso é verdade.

(In Diário XXI, de 7 de Julho; Notícias da Covilhã e Jornal do Fundão, de 23 de Julho)

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