8 de outubro de 2009

O ANTIGAMENTE E AS VULNERABILIDADES DE HOJE

As novas gerações recebem as memórias dos mais velhos duma forma tão de hilariante quão de estranheza, quase que deduzindo alguns que o mundo não tivera qualquer mutação de realce.
As facilidades e ofertas dos dias de hoje, não se coadunam com as dificuldades e falta de meios tecnológicos de outrora, onde a mão-de-obra era a mola impulsionadora do trabalho e a inteligência o grande computador omisso de há mais de sessenta anos.
Nascemos antes da televisão, das fotocopiadoras, ar condicionado, máquinas de lavar roupa ou secadoras. Não existiam cafeteiras automáticas, microondas, videocassetes, ou câmaras de vídeo.
Também ainda não tinham surgido o computador, os telefones sem fio e telemóveis, máquinas de escrever eléctricas e calculadoras. Nunca havíamos ouvido falar de música estereofónica, rádios FM, cassetes, CDs e DVDs. “Hardware” era uma ferramenta e “software” não existia.
Dava-se corda aos relógios todos os dias. Não existia nada digital. As fotos não eram instantâneas nem coloridas. Não existiam os radares, cartões de crédito e raios laser.
O homem ainda não tinha chegado à Lua. Ainda não havia as vacinas contra a poliomielite, as lentes de contacto e a pílula anticoncepcional.
“Gay” era uma palavra inglesa que significava uma pessoa contente, alegre e divertida, não homossexual. Das lésbicas nunca tínhamos ouvido falar e os rapazes não usavam piercings.
Ter um bom relacionamento, era dar-se bem com os primos e amigos. Tempo compartilhado, significava que a família compartilhava férias juntos.
Chamávamos cada homem de “senhor” e cada mulher de “senhora” ou “menina”. Ensinávamos a diferenciar o bem do mal e a sermos responsáveis pelos nossos actos.
Fomos da geração que acreditou que uma senhora precisava de um marido para ter um filho.
Acreditávamos que “comida rápida” era o que a gente comia quando estava com pressa. Ainda não havia comidas congeladas. Não se tinha ouvido falar de “Pizza”, “McDonald’s”, nem de café instantâneo.
Naqueles tempos, “erva” era algo que se cortava e não se fumava. Ainda não havia terapias de grupo.
Muita da juventude de hoje está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os cinquenta e os sessenta.
No ensino, da antiga instrução primária, até à 4.ª classe, havia rigor e aprendia-se a conhecer todos os rios de Portugal, as serras, os relevos, as principais cidades e suas indústrias, até as estações de caminhos-de-ferro e todas as províncias de Portugal. Na história, sobre a fundação de Portugal até à República.
Os alunos não eram mimados como nos dias de hoje. Os professores davam-lhes reguadas quando não sabiam a matéria. Só no Asilo, o professor Raul dava as reguadas não nas mãos mas no rabo. Punha todos os “sacrificados” de rabo para cima e mãos no chão. E ninguém morria de medo.
Quando se chegava à 4.ª classe e quem quisesse seguir para o ensino secundário, tinha explicações adicionais, “exigidas” pelos professores, para terem êxito no exame de admissão, contra o pagamento de cem escudos por mês.
No secundário, mormente na Escola Industrial e Comercial, tiravam-se os cursos, comerciais ou industriais, com rigor, e ficava-se preparado para uma actividade profissional. Eram transmitidas matérias como, por exemplo, saber redigir cartas comerciais em português, francês e inglês, daí que os alunos estavam quase sempre preparados para exames de acesso aos Bancos, emprego invejável na altura.
Depois, veio a geração “rasca”. Nós éramos mais a geração “à rasca”; sempre à rasca de dinheiro, contrastando com os de agora que não lhes falta nada, inclusive, com todos os meios que facilitam o estudo, como a Internet.
No nosso tempo, universidades só existiam em Lisboa, Porto, Coimbra e Évora. Para obter um curso superior era preciso uma mão cheia de massa.
Hoje existem muitos meios tecnológicos, mas por mais que se queira fugir do maldito vírus, há sempre os chico-espertos que os infiltram nos computadores, nos e-mails e não sei que mais, e não conseguimos deixar de passar por otários, por mais que evitemos ficar encavacados.


(In "Noticias da Covilhã" de 8/10/2009 e a sair no jornal "O Olhanense" de 15/10/2009)

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