“ O problema está em nós. Nós como povo. Porque pertenço a um país onde a esperteza é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico de noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Fico triste. Porque ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias. Somos nós que temos que mudar. Decidi procurar o responsável e estou seguro que o encontrarei quando me olhar ao espelho. Aí está. E você, o que pensa?...Medite!” – frases, salteadas, de parte de uma reflexão de Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25.08.2007).
A caneta com que hoje escrevemos é substituída pelo digitar dos dedos sobre umas teclas. As canetas antigas borravam ou deitavam tinta: MontBlanc, Pelikanm Lamy…
Surgiram outras. Com elas se enlevou a alma do povo português – terra de descobridores, de cientistas, de sábios e de santos –, (assim diziam os manuais escolares da primária d’outrora).
E foi a “10 de Junho” de 1943 que foi patenteada a caneta esferográfica, substituindo a caneta-tinteiro, invenção do jornalista húngaro László Biró.
Esta data que comemora o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, curiosamente também se insere em vários eventos, para além do dia do falecimento do nosso maior poeta de todos os tempos, Luís Vaz de Camões, em 10 de Junho de 1580:
- Falecimento de Alexandre III da Macedónia, o Grande ou Magno, em 10 de Junho do ano 323 antes de Cristo, na Babilónia, com 32 anos; fundação, nos EUA (Nova Iorque) do grupo de auto ajuda para dependentes do álcool, sob a designação Alcoólicos Anónimos, no dia 10 de Junho de 1935; como também as declarações de guerra à França e à Grã-Bretanha, por Mussolini, líder italiano, no dia 10 de Junho de 1940, para, no mesmo dia, o Canadá declarar guerra à Itália.
- Mas também de algum alívio, como o fim da Guerra dos Seis Dias, ganha por Israel, em 10 de Junho de 1967; e o Conflito do Kosovo, em 10 de Junho de 1999, com a Jugoslávia a assinar o acordo para encerrar o conflito.
A nossa guerra é política e financeira. Portugal subiu ao segundo lugar no ranking dos países com maior risco de bancarrota, tendo perdido quase 19 mil empresas em apenas três anos.
Pela primeira vez em Portugal, neste 10 de Junho de 2011, na sessão solene de Estado, em Castelo Branco , reuniu dois primeiros-ministros: o do ainda Governo de gestão, José Sócrates, e o eleito nas urnas há menos de uma semana, Pedro Passos Coelho.
Cavaco Silva falou sobre o momento delicado que se vive na sociedade portuguesa. Parafraseou o médico do século XVI – Amato Lusitano : “não há cura para aquele que não quer ser curado”.
As comemorações do 10 de Junho começaram por ser exaltadas com o Estado Novo, a partir de 1933, passando o “Dia de Camões” a ser festejado a nível nacional, sob a designação de “Dia de Camões, de Portugal e da Raça”, em memória às vítimas da guerra colonial. A partir de 1963, o feriado assumiu-se como uma homenagem às Forças Armadas e numa exaltação da guerra e do poder colonial. Eram então as condecorações aos que se distinguiam em combate e, tristemente, aos familiares dos que tombaram durante a guerra nas colónias.
A segunda república não se reviu neste feriado e, por isso, em 1978, converte-o em “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”.
É bom, pois, que a alma do povo português se reveja neste dia, onde o colorido das manifestações tem sido de regalar os olhos – este ano até aproveitando-se a festa da cereja, em Alcongosta, concelho do Fundão. E, a propósito, foi também num dia 10 de Junho (do ano 1907) que os irmãos franceses Auguste e Louis Lumiere passaram a comercializar, pela primeira vez, o “Auto Chrome”, ou seja, processo fotográfico com reprodução de cores.
Não nos podemos deixar cair na decadência mas sim abrir a porta de esperança.
Não podemos continuar a consumir mais de dez por cento do que aquilo que produzimos.
Não podemos continuar, logo que surja “a primeira distracção dos nossos credores a tentar repetir a manha de sempre e dar o remédio a lamber ao cão”, conforme palavras de José Manuel Fernandes , no Público de 3 de Junho, mas sim elevar a nossa alma de portugueses, com amor á sua pátria, de verdade.
(In “Notícias da Covilhã” e “Jornal do Fundão”, de 16.06.2011)
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