2 de junho de 2011

UM MOVIMENTO EM MOVIMENTO

Desde sempre houve lutas pelas injustiças sociais, entre trabalhadores e patrões. Reclamaram-se direitos e deveres, vertentes estas do trabalho nem sempre respeitadas.

A desumanização, a falta de dignidade pelo homem e pela mulher, desde tempos longínquos, foram de grande repulsa, ainda que interiormente suportada no âmago dos corações de cada ser humano, como a escravatura, sustentada num silêncio dilacerado.

Os tempos foram correndo, e evoluindo, para o bem mas também para o mal. Emergiram homens que, deste nome, mais lhe cabiam o de carniceiros, num desejo forte duma abrangência do mundo só para si e para os da sua corte.

Mas, também um séquito dos que espreitaram e espreitam essa corte, sempre existiu até aos dias de hoje. São os que aforram as calças para trepar o muro a fim de permanecer por uns momentos, olhando de soslaio o lado mais propício para saltar. Eram e são os homens da informação sobre os subjugados para os de decisão, os homens do mando…

“É bom trabalhador, cumpridor, mas…um gajo que não é do nosso lado…” E, assim, muitas famílias se viram privadas de um direito que era o pão ganho com o seu suor, por vezes adquirido com a última moeda retirada do bolso mais escondido da sua albarda, mas que ainda podia enganar a fome dos seus filhos, ranhosos com o choro.

Era uma vez um tempo em que houve uma Primeira Grande Guerra Mundial. Se dificuldades haviam no seio dos trabalhadores, agravar-se-iam. Decorriam somente duas décadas após aquelas lutas sangrentas, quando surge a segunda, mais terrificadora, e destruidora, de bens patrimoniais e vidas humanas.

Entre as duas grandes guerras mundiais, agravantes nos sofrimentos dos trabalhadores, surge uma alma que dá pelo nome de Joseph Cardijn, belga, filho de um cocheiro-jardineiro e duma empregada doméstica. Sobe ao mesmo muro, atrás referido, não de soslaio nem para escolher o lado mais agradável para saltar, mas para se revoltar e actuar contra toda a miséria que existia dos dois lados do globo! Ali, coloca uma bandeira imaginável que haveria de revolucionar o mundo dos jovens trabalhadores. Em 1925, funda a JOC – Juventude Operária Católica, que se haveria de estender por todos os continentes.

Trata-se então dum movimento para jovens dos 14 aos 30 anos para dar resposta às situações de sofrimento e exploração vivida pelos jovens operários, e à necessidade da Igreja Católica os entender e organizar.

Dez anos depois, a JOC, que foi o único movimento juvenil na igreja portuguesa até ao Concílio Vaticano II, dava os primeiros passos em Portugal.

O Mundo, e a Europa, após a Segunda Grande Guerra, começam a tentar organizar-se. Unem-se alguns países, em organizações económicas e de outras vertentes, ainda que venha a surgir uma Guerra-Fria. Pelo Tratado de Paris, em 1951, estabelece-se a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Vai evoluindo com outras designações, e outras acções próprias, passando a CEE, hoje União Europeia (UE). Junta-se-lhes Portugal e Espanha em 1986. Em 1 de Janeiro de 2007, passaram a somar 27 países.

Quando tudo deveria passar por um melhor bem-estar para as populações e, consequentemente, os seus trabalhadores, vem a verificar-se, cada vez mais, a necessidade do movimento operário cristão, fundado por monsenhor Joseph Cardijn, mais tarde cardeal, se manter vivo e dinâmico.

Foi assim que, no sábado, dia 28 de Maio, um grupo de antigos jocistas e vários membros da organização sequencial da JOC, a LOC/MTC – Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, evocou os 75 anos deste movimento em Portugal, no Seminário do Tortosendo.

Com a presença da Coordenadora Nacional do movimento, Fátima Almeida; da antiga Dirigente Livre da Diocese da Guarda, Camila, que trabalhou na empresa Coelima e foi presidente dum Sindicato; do antigo assistente diocesano, padre Fernando Brito (muito acarinhado face aos muitos anos que esteve como assistente, em tempos difíceis de ditadura), foram muito interessantes os testemunhos, marcados por vezes por expressões sentimentais, de antigos jocistas que sofreram com a ditadura as graves crises por que passaram. Foram tempos de trabalho negado no devido pagamento salarial, onde, por vezes, os habituais subterfúgios não encontravam atropelos, nos tempos de então, pelos Governos do Estado Novo.

Depois de alguns se expressarem, e ficar assente que se desse continuidade a este tipo de acções, para denúncia dos males que continuam a afectar os tempos difíceis de hoje, em várias vertentes, seguiu-se um ameno jantar, após a Eucaristia, presidida pelo actual assistente diocesano. No final do jantar seguiu-se um serão convívio, participando a cantata do Rancho Folclórico da Boidobra, onde surgiram as castanholas com pedras do Rio Zêzere, e pinhas dos pinhais da região, para além das violas e adufes, cuja actuação, como lhes é peculiar, a todos agradou.


 




 




In Notícias da Covilhã, de 02/06/2011

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