Sensação foi a notícia de futuros magistrados terem copiado em exames para magistratura.
Apesar de apanhados na rede, o Centro de Estudos Judiciários (CEJ) decidiu anular a prova mas manter a passagem na mesma, com 10 valores, a todos os infractores. Serão estes, futuros juízes e procuradores…Que grande exemplo para o nosso país, tão empobrecido na justiça!...
Nos meus tempos de estudante havia um clima geral de emoção na época de exames.
Os jornais diários dedicavam algumas páginas aos exames, publicando os textos dos pontos escritos e as soluções. Toda a família vivia o acompanhamento dos seus filhos, até à porta da escola; ou mesmo do Liceu ou da Escola Industrial, onde eram efectuados os exames de admissão ao ensino secundário, então na altura, depois dos da 4.ª classe.
Os exames, no Ciclo Preparatório, só se realizavam no 2.º ano (actualmente, 6.º ano).
Depois, por aí fora, conforme os anos e as disciplinas.
No final dos exames, à saída, havia a preocupação de conversar com alguns colegas, trocando impressões, ou verificar/conferir as respostas ou cálculos matemáticos, se certos ou errados.
Surgia a ansiedade pelos resultados a colocar nas vitrinas.
Numa cena dos tempos de estudante, no 2.º ano do Ciclo Preparatório, na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, nos finais da década de cinquenta do século passado, o professor de Língua e História Pátria – Dr. Manuel de Castro Martins – mandou fazer um ponto escrito (teste). O texto de desenvolvimento era a descrição da viagem de circum-navegação, de Fernão de Magalhães.
Caiu-me que nem um figo. No livro de Ciências Geográfico-Naturais, de outra disciplina, vinha a viagem bem descrita e, de certo modo, resumida, num capítulo sobre a forma e dimensões da Terra… Tinha-a lido várias vezes, e fixado, quase de cor. Tratava-se dum tema duma disciplina que não pertencia ao Dr. Castro Martins. Fiquei satisfeito. Senti que o teste me iria correr bem.
No intervalo da aula seguinte à do teste, um colega soa-me aos ouvidos que o “ponto” lhe correu bem, e confidenciou que veio mesmo a calhar ter ali o livro de “Ciências” à mão, para a aula seguinte… foi só copiar… Fiquei apreensivo, porque iria dar barracada…
Surgida a aula do Dr. Castro Martins e consequente entrega dos pontos escritos, somos chamados para o estrado junto à sua secretária e, em voz alta, para todos os alunos ouvirem, quis saber o porquê de aparecerem dois testes aparentemente iguais, o que lhe causava uma certa perplexidade na classificação, e, por isso, queria saber o que se tinha passado.
De imediato, esclareci que sabia narrar a viagem de circum-navegação, estudada no livro de “Ciências”, e, se quisesse a prova de que não copiei, que me perguntasse ali.
- “Então diz lá” – perguntou o professor.
Comecei a desbobinar, certinho, pelo que me mandou ir para o lugar.
- “Agora conta lá tu” – dirigindo-se para o outro colega.
Este começa a gaguejar, a não dar trinta por uma linha, e manda-o também para o lugar.
No final, entrega-nos os pontos escritos, com as notas de “bom” , no meu; e “medíocre” no do colega.
Tive o privilégio de continuar a ter o Dr. Castro Martins, mais tarde, como professor de “Português” – a quem muito devo – em 1964. Neste mesmo ano, na disciplina de “Francês”, a sua esposa, Dr. Edite Arriaga Castro Martins. Foram professores de excelência.
O nome que uma das ruas da cidade da Covilhã ostenta – Rua Dr. Manuel de Castro Martins – na sua zona moderna, faz jus ao mérito patenteado na qualidade da sua forma de ensinar na Covilhã, tendo ainda sido director do extinto Colégio Moderno.
(In Notícias da Covilhã, 23/06/2011)Casal Castro Martins, uns meses antes do falecimento do marido |
Num restaurante da cidade da Covilhã, em 1967, tendo o Dr. Castro Martins acabado de discursar, na presença do Dr. Duarte Simões |
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