18 de dezembro de 2013

DÁ-ME LICENÇA QUE PASSE PARA MINHA CASA?

Conversa entre amigos e, vai daí, um passeio até ao Lameirão – uma zona dum passado de recordações, pelo caminhar, a pé, durante a minha meninice, de noite, após o encerramento da biblioteca municipal, ao jardim, onde meu Pai trabalhava desde que a mesma abriu oficialmente na Covilhã, em 1 de Setembro de 1952. Esse caminhar era no sentido da nossa morada, então na zona altaneira da Pousadinha, donde parti definitivamente para a Covilhã, aos nove anos.
Era digno de ver aquele formigueiro de gente das fábricas, de regresso a suas casas.
Mas o caso que agora emerge e me leva a referi-lo neste apontamento, é tão só o facto risível do que aqui se passa em termos de cortar o normal acesso à casa de moradores, de longa data, no Lameirão, arredores da nossa Cidade da Covilhã. Dirigia-me para o local, na minha viatura, onde o meu amigo tem ainda uma casa mobilada, ainda que em degradação, herdada de seus sogros, quando, contra o normal daquilo que hoje tanto se apregoa de mobilidade, deparei com o acesso vedado com pedregulhos que se veem na foto.
Contaram-me que os terrenos foram adquiridos, e não se salvaguardou o acesso às moradas, de outros proprietários, que ali residem, ou possuem prédios, há muitos anos. O caminho, parcialmente alcatroado, então adquirido, há já uns anos, desde 2009 que se encontra interdito a viaturas e pessoas. As que residem para dentro do caminho impedido, veem-se confrontadas com a impossibilidade de uma viatura chegar às suas portas e até não podem transportar os produtos para as suas necessidades do quotidiano. Neste ato impensado, nem o autor da interdição do caminho de acesso teve em conta que um dos moradores, António Antunes Catalão, inválido, de 77 anos, não pode sequer sair em cadeira de rodas, nem uma ambulância pode chegar à sua porta pois esbarra com os pedregulhos ali colocados. Diz-nos que o proprietário dos terrenos, aproveitando-se da ausência daquele inválido, que, com a esposa e um filho haviam ido à praia, fizeram aquele trabalho, pois foram confrontados, no regresso de férias, com o acesso vedado, cuja viatura já não pôde sequer ir até à porta da casa onde residem.
Também Joaquim Almeida, um dos afetados no acesso à casa que era de seus sogros, e onde em tempos houve, inclusive, uma taberna, diz já ter apresentado reclamação na edilidade covilhanense e na autarquia carvalhense, havendo até um abaixo-assinado, sem efeitos práticos, ou seja, continua tudo parado apesar da exigência, que urge, de que os moradores possam ter acesso a suas casas. – “Quero retirar as mobílias de casa de meu sogro e não posso passar”!, diz Joaquim Almeida E, já António Catalão reporta-se ao receio de não poder ir para o hospital no caso de uma urgência, “porque tenho o acesso à minha casa vedado!” É que, mesmo utilizando uma porta secundária, das traseiras da sua casa, obrigam-no a percorrer uma extensa escadaria e caminho afastado até chegar a uma estrada.
Apesar de já pouco legível, ainda ali se vê, na parede duma das casas, o nome de Travessa do Lameirão de Baixo.
Noutros tempos chegou ali a haver um estabelecimento de taberna, faziam-se se festas num largo e as viaturas passavam até às casas.
Sem mais delongas, penso que a edilidade tem o dever de pegar neste caso caricato, e abusivo, do cortar o acesso a residentes, ainda que seja um só, onde ali têm as suas moradias, obrigando a que se dê o direito dum acesso normal para a morada de cada um.
Brada aos céus não se ter direito a entrar na sua própria casa, pela porta principal! Que é isto, senhores?
Pensávamos que só lá fora, no Terceiro Mundo, se podia verificar o silenciamento de vozes que pretendem tão só um direito inalienável de poderem entrar e sair livremente para e de suas casas.
Que alguma coisa se faça de imediato é o que se pede agora que já existe outra governação municipal.

(In "fórum Covilhã", de 17.12.2013 e "Notícias da Covilhã", de 19.12.2013)

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