18 de dezembro de 2013

O CAVALO CHATEADO

Corria o ano de mil novecentos e setenta do século passado (temos o privilégio da nossa vivência ter passado por dois séculos), íamos, quase todas as manhãs, para regressar à tarde, a caminho do Regimento de Infantaria n.º 12, na Guarda, quatro furriéis milicianos (eu, o condutor do carro e seu proprietário António José Bicho Nogueira, o Eduardo Prata, e o Nuno Rato, do Teixoso), num FIAT 600 (o que fazíamos sempre que não estávamos de serviço, ou nos “desenfiávamos”), alegremente entretidos com as nossas conversas, quando, por vezes, surgia uma história para contar, mais que não fosse sobre o tenente “básico” Monteiro.
A certa altura, já depois de termos passado a Santa Cruz, numa descida, o raio do Fiat 600, vagaroso mas também pesado com os quatro militares, coitado, lá deu sinal de vida com as quatro rodas a poderem rolar mais depressa.
Só que tínhamos vindo atrás dum camião que não podíamos ultrapassar, pelo óbvio das circunstâncias. A certa altura, falou-se de viaturas que custassem mais a conduzir. Um referenciou uma; outro direcionou-se para outra; outro ainda, falou de outra; até que, vindo eu no banco traseiro, há uns momentos calado, e, não vislumbrando nenhuma viatura para dar uma resposta algo assertiva, lanço para a conversa: “Eh! Lá! Esta é para mim um pouco difícil, mas penso que a “viatura” que talvez custe mais a conduzir seja uma carroça com um cavalo chateado…”
Bom, a risada só parou à porta de armas do quartel, e, depois, à hora do almoço, na messe de sargentos, não se falava de outra coisa.
Este preâmbulo da minha última crónica deste ano da graça de dois mil e treze serve para trazer, nestas linhas, um ar mais descontraído neste final de ano, tão cheio de carroceiros e incompetentes, que mais parecem lidarem com ginetes não dispostos a obedecerem ao dono.
1 – NELSON MANDELA. A sua morte, já esperada, enterneceu todo o Planeta. Muitas páginas dos jornais, e imagens das televisões, encheram nossos olhos. Várias vezes vimos o seu nome associado a dois outros grandes combatentes da liberdade e da igualdade, Mahatma Gandhi e Martin Luther King, na probidade dum panteão de toda a humanidade. Não se pode também pôr de parte Frederik De Klerk, ex-Presidente branco da África do Sul, que deu um passo importante com o fim do apartheid e libertando Mandela, no caminho para a democracia.
Muito já se disse deste homem da Humanidade – Mandela – pelo que aqui ficam tão só algumas das suas expressões: “Está nas vossas mãos fazer do mundo um lugar melhor”; “Eu prezo muito a minha liberdade mas prezo ainda mais a vossa”; Eu só sou um ser humano se tu fores um ser humano. Eu só sou um ser humano se for humano contigo”.
2 – CEIAS DE NATAL e EFEMÉRIDES. Não obstante a crise, as várias associações, instituições, autarquias e grupos de pessoas, em várias vertentes, se juntaram em fervor natalício. E o bacalhau foi rei nestas celebrações, pelo menos em todos quantos participei. Neste ano 2013 muitas efemérides surgiram, mas destaco duas delas: o 40º aniversário do Congresso da Oposição Democrática em Aveiro; e os 500 anos do aparecimento do Bairro Alto (Lisboa). Foi em 15 de dezembro de 1513 que foram dados os primeiros passos para a formação do Bairro Alto, com o subaforamento das herdades que se encontravam fora da muralha fernandina, em talhões para construção de casas.
3 – TROIKA. Que espécie de saudade nos deixará este ano que agora termina? Parece que muito poucas. Uns, de que não há alternativa à política de austeridade; outros que vai surgir a redução do desemprego e o surgimento do crescimento económico. Esperemos, contudo, que no próximo ano nos libertemos, de vez, da Troika, e do denominado protetorado, segundo Portas, esperando que, segundo ele, o novo Dia da Restauração de Portugal esteja mesmo a chegar. Mas onde estão os novos protagonistas como foram, naquele tempo, a duquesa de Mântua e Miguel de Vasconcelos?
Vamos ver se Portugal não vai mas é ser conduzido em 2014 como aquele carroceiro do cavalo chateado…
BOAS FESTAS!

(In "Notícias da Covilhã", de 19.12.2013)

Sem comentários: