10 de dezembro de 2013

REFLEXÃO OUTONAL

Com o fim de 2013 à vista, os balanços e o perspetivar o futuro começam a ver chegada a hora.
Este foi um ano de sacrifício e sofrimento acrescidos para muitíssima gente deste nosso Portugal, ainda que pautado por alguns exemplos de sucesso empresarial, independentemente da conjuntura económico-financeira.
Isto tanto se passa no País como na nossa Região, e, mesmo quando as palavras “crise” e “austeridade” monopolizam o espaço, quer informativo quer na vida de cada um, surgem bons exemplos de empreendedorismo que merecem ênfase.
Mas Portugal já tem quase meio milhão de jovens no vazio, entre os 15 e os 34 anos, jovens esses que nem trabalham nem estudam, porque não estão na escola mas também não conseguem entrar no mercado de trabalho, literalmente desocupados, com alguns hiatos, fazendo biscates ou trabalhos precários, para regressarem à situação anterior.
O receio de um ciclo de violência social em Portugal, muito fruto do protetorado da troika, naquilo que estamos a viver, com a degradação da democracia, pode levar-nos a situações catastróficas, não digo numa mudança de regime, mas na falta de paciência do povo português, que isto de brandos costumes já não é o que era.
Há dias, em plena loja de solidariedade, onde minha Mulher se encontrava a trabalhar em favor dos necessitados, roubaram-lhe a carteira. Por esta cidade covilhanense, outros roubos em pleno dia têm acontecido.
E o êxodo dos que possuem cursos superiores continua, de tal forma que já ultrapassam a população que emigrou nos anos sessenta, que, paradoxalmente, era aquela de pouca literacia; sendo que Portugal será o único país da troika a sair da crise com menos população.
Quando a Justiça portuguesa, incompreensivelmente, deixa arrastar processos, anos fora, alguns até à caducidade, e, por vezes, muitos dos ladrões da Nação, protegidos vergonhosamente pelo poder político, acabam por ver reduzidas as suas penas e as indemnizações; noutras ocasiões, a mesma justiça gasta exageradamente em pessoal e em dinheiro, duma forma algo caricata, para proceder ao julgamento dum pequeno roubo, como foi o caso de um jovem de 16 anos que roubou pizas no valor de 31,50 euros e o Estado vai gastar 2.500 euros e ter que constituir um coletivo de três juízes!
Pela nossa Região, justiça seja feita à celeridade no processo que incriminou o padre Luís Mendes, ex-vice reitor do seminário do Fundão, por abuso de menores, à pena de dez anos de prisão.
De lamentar a atitude deste padre, que ainda se acha inocente e é um dos maus exemplos da vida eclesiástica, mas que agora a Diocese da Guarda se apressou a defendê-lo. Esperemos que do recurso seja reforçada a verdade e possamos manter confiança na imparcialidade da Diocese da Guarda, que deverá diligenciar no sentido de ser retirado do seio da Igreja este indigno pastor.
Se a pobreza no nosso País grassa cada vez mais, o que dizer do contraste dos mais ricos de Portugal, que multiplicaram as suas fortunas neste ano da graça de dois mil e treze? Segundo a revista “Exame”, uma lista de 25 milionários portugueses somam 16,7 mil milhões de euros! Palavras para quê?
Nesta amálgama de chico-espertismo, descaramento, indiferença, do mandar os outros às favas, e no pensamento exclusivo do seu ego, vamos terminar o ano com mais algumas coisas, que já nem nos fazem mossa, quer aos olhos quer aos ouvidos, de tanta banalidade com que se veem aquelas palavras e frases.
E, porque não se pode abusar deste espaço, sito tão-somente dois casos: um, nacional; e, outro, desta Cidade.
Enquanto se passa míngua em muitas almas, se protesta contra os famigerados aumentos e cortes nas pensões, o Governo aumenta gastos com “boys”, revela um relatório elaborado por organismo público. Os membros dos gabinetes do Governo ganham, em média, 2.555 euros, sendo que em 2013 o primeiro-ministro aumentou o número dos ministérios.
Por cá, nesta que foi a Manchester Lusitana e hoje é a Cidade Universitária, a instituição Santa Casa da Misericórdia da Covilhã sofre de uma má gestão de longa data, com salários principescos de vários dos seus trabalhadores. O anterior provedor, que esteve na instituição ano e meio e saiu em junho deste ano, afirmando ter equilibrado as contas, veio a verificar-se, pela atual Comissão Administrativa que, afinal, isso não era verdade, já que, ao invés, a dívida aumentou 1,1 milhões de euros. Mas o estranho estava ainda para contar. É que, de penúria passou a fartura, e, vai daí, nomeia um diretor-geral (que nem se insere na estrutura da instituição), a ganhar 4.329 euros mensais! Foi agora extinto este posto de trabalho, por desnecessário.
Bom, parece-me que só há um culpado, e de longa data – foi o nosso rei, D. Afonso Henriques, que desrespeitou a mãe, em S. Mamede; e provocou a desonra de seu aio, Egas Moniz, perante o rei de Leão, fundando assim um país direcionado para estes maus exemplos…
Ponto final. Votos de um Bom Natal e Feliz Ano 2014!

(In "fórum Covilhã", de 10.12.2013)

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