Muito se falou sobre a forma “confusa” como foi atribuída a
Taça “O Século” aos clubes da 2.ª Divisão, a qual acabaria por vir a ser ganha
pelo Sporting Clube da Covilhã, com todo o mérito.
Dizia-se que só havia em Portugal duas monumentais taças com
esta matriz – uma, ganha pelo Sporting Clube de Portugal (SCP) e, outra, pelo
Sporting Clube da Covilhã (SCC).
Após aturadas pesquisas conseguiu-se o cabal esclarecimento,
cujas dúvidas vinham ofuscando a transparência da informação.
A história desta Taça começa com a iniciativa do diretor do
extinto jornal O Século, João Pereira
da Rosa, organizando, em 1938, a “Exposição Histórica do Futebol”, para
comemorar os 50 anos do futebol em Portugal e, com a respetiva receita, criou
duas gigantescas taças, do mesmo tamanho, a que se chamou Monumental Taça “O
Século”, destinando-se uma para os Clubes da I Divisão e outra para os Clubes
da II Divisão.
“O Século, ao mesmo
tempo que fez a encomenda das duas taças, elaborou um projeto de regulamento
das taças, que submeteu à apreciação da Federação Portuguesa de Futebol, tendo
merecido a sua melhor aprovação.
O Regulamento é do
teor seguinte:
Artigo 1.º - As duas
taças “O Século”, oferecidas pelo mesmo jornal, para serem disputadas, uma na I
Divisão e outra na II Divisão do Campeonato Nacional de Futebol, comemorando a
organização das Bodas de Ouro do Futebol Português, que promoveu em Outubro de
1938, serão disputadas nas seguintes condições:
1.º - Ficarão na posse
provisória do Clube que se classificar em primeiro lugar na respetiva divisão
do Campeonato Nacional de Futebol, com início na época de 1938/39.
2.º - Cada uma das
taças passará à posse definitiva do Clube que ganhar em três anos consecutivos,
ou cinco alternados, o Campeonato Nacional de Futebol, na respetiva divisão.
Artigo 2.º - No fim de
oito épocas, se nenhuma das taças tiver passado à posse definitiva de qualquer
Clube, proceder-se-á do modo seguinte:
a) Se nessa altura nenhum Clube tiver duas
inscrições na taça, será a mesma entregue ao vencedor do Campeonato de 1946/47,
da respetiva divisão.
b) Se nessa altura já houver Clubes com duas
inscrições alternadas, na época de 1947/48 serão ainda as taças disputadas nos
termos do n.º 2.º do art.º 1.º.
c) Se até ao início da época de 1948/49, nenhum
Clube tiver ganho as referidas taças nas condições atrás citadas, serão elas
conferidas definitivamente aos Clubes que forem os vencedores das I e II
divisões do Campeonato nesse décimo ano da sua disputa.
d) Artigo 3.º - Se o Campeonato Nacional deixar
de disputar-se, não sendo substituído por outra prova semelhante na qual as
taças possam continuar a disputar-se, ficarão elas na posse da Federação
Portuguesa de Futebol, com destino ao Museu de Futebol Nacional, quando vier a
constituir-se.”
Relativamente aos Clubes da I Divisão a tarefa foi fácil na
sua definição. À luz do regulamento, ganhou a 1.ª Monumental Taça “O Século” o
Sporting CP porque, de 1938/39 (data do início desta Taça) até ao seu termo
(1947/48) não houve nenhum requisito conseguido por qualquer clube
primodivisionário.
Os vencedores dos Campeonatos das I e II Divisões foram
então os seguintes:
I Divisão: 1938/39 – FC Porto; 1939/40 – FC Porto; 1940/41 –
Sporting; 1941/42 – Benfica; 1942/43 – Benfica; 1943/44 – Sporting; 1944/45 –
Benfica; 1945/46 – Belenenses; 1946/47 – Sporting; 1947/48 – Sporting.
II Divisão: 1938/39 – Carcavelinhos (ganhou na final ao Sp
Covilhã, por 1-0); 1939/40 – Sp. Farense; 1940/41 – Olhanense; 1941/42 –
Estoril; 1942/43 – Barreirense; 1943/44 – Estoril; 1944/45 – Atlético; 1945/46
– Estoril;
1946/47 – Sp. Braga; 1947/48 (Sp. Covilhã, ficando em 2.º lugar o
Barreirense, com o mesmo número de pontos, 8. O SCC teve 17 golos marcados e 7
sofridos e o Barreirense 13 golos marcados e 7 sofridos, o que o inibiu de
subir em favor do SCC).
Portanto, o Sporting, analisado o Regulamento da Taça “O
Século”, acabou por ganhar a primeira, ao 10º ano, ou seja, na época 1947/48.
Embora tivéssemos desconhecido que o jornal “O Século” deu
continuidade a nova Taça “O Século (penso que só para a I Divisão), o mesmo
jornal viria a deixar de instituir este troféu a partir de 1953.
Foi entretanto ganha novamente pelo Sporting Clube de
Portugal por ter sido vencedor de três campeonatos seguidos, em 1950/51,
1951/52 e 1952/53 (ganhou também o de 1953/54). Esta segunda Taça é também
monumental, com 1,40 cm de altura, sendo que a primeira, igual à que possui o
Sporting da Covilhã, tem 1,23 de altura.
Relativamente à II Divisão, nenhum Clube conseguiria ganhar
três campeonatos seguidos, como é óbvio, já que subiam à I Divisão. Assim,
ganhou a Taça “O Século” o SCC, no 10º ano, em 1947/48, precisamente quando
subiu, pela primeira vez à I Divisão Nacional.
Estas Taças estiveram provisoriamente em cada Clube (I ou II
Divisões), durante o ano em que ganharam os respetivos campeonatos, e iam
colocando uma chapinha metálica, na Taça, com o nome do Clube e época.
Portanto, as Taças, quer a da I Divisão, quer a que é pertença do SCC, esteve
em poder provisório de todos os Clubes que foram ganhando os respetivos
Campeonatos, daí se encontrarem algumas fotografias com esta Taça, como é o
caso do Olhanense e do Barreirense.
Alguns Clubes, como o Barreirense (livro sobre a história do
Clube pág.s 134 e 135), duma forma errónea, bem gravitaram na tentativa de a
obter, face à má interpretação do Regulamento, ou mesmo desconhecimento do
assunto que a envolveu.
Aqui fica o devido esclarecimento que se impunha.
(In "Tribuna Desportiva", de 6.10.2014; "fórum Covilhã", de 7.10.2014; e "Notícias da Covilhã", de 09.10.2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário