Depois do adeus à troika,
o recuperar da nossa soberania e poder de decisão independente ainda estão
longe.
Continuamos um país adiado e sob tutela apertada, e assim
continuaremos enquanto não tivermos juízo.
Segundo se consta, a troika
tem um compromisso de nos “deitar a mão” caso as condições dos “mercados”
nos obriguem, de novo, a que estendamos a mão à caridade.
Continua a haver fonte de desperdício e de dinheiro mal
gasto no setor público, onde ainda não foi organizado.
Dou um exemplo recente, de desorganização, que já vem de
anos atrás, e isto no que se refere à distribuição dos excedentes alimentares
da União Europeia, da responsabilidade da Segurança Social.
Na Covilhã, das listas de carenciados fornecidas à Segurança
Social pelas instituições de solidariedade social, como as Conferências
Vicentinas, foram eliminados vários nomes, muitos deles verdadeiramente
carenciados, o que causou estranheza nos meios que prestam, num autêntico
espírito de voluntariado, um bem às pessoas desprotegidas.
Aconteceu, porém, como vem sendo hábito, que a Segurança
Social, instituição pública, acabou por distribuir, a cada elemento das suas
listagens de carenciados, quantidades enormes como, por exemplo, duas ou três
dezenas de cada género alimentício (açúcar, arroz, massa) a uma única família,
o que naturalmente leva a que essa pessoa não consiga consumir tudo dentro do
prazo de validade, e não tenha espaço nas suas casas para tanto género
alimentício, originando, várias vezes, termos visto nos contentores do lixo
quantidades desses produtos deitados fora. Entretanto, para trás ficaram outros
que, como já referimos, por estranho que pareça, ficaram sem esses produtos.
Será isto uma boa gestão? Já muitos contestam o trabalho das
Assistentes Sociais, que deveriam andar no terreno, em ação profícua, e não nos
seus gabinetes.
Entretanto, sobre este assunto, no início pretendiam que
fossem as Conferências a fazer a distribuição direta dos produtos oriundos dos
excedentes da UE, mas teriam que efetuar um trabalho burocrático, que não lhes
competia, e para o qual as Conferências Vicentinas se negaram já que compete à
Segurança Social trabalhar, como empregados públicos que são, e não quem tem já
tanto serviço de voluntariado a fazer, muitas vezes sem mãos a medir.
Assim, não, não vamos lá.
“Nenhum grupo etário é tão afetado pela privação como as
crianças. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, no ano passado, 2,2% dos
menores de 15 anos pertenciam a famílias que não lhes garantiam pelo menos uma
refeição diária de carne ou peixe e 1,4% não comiam fruta e legumes uma vez por
dia. É de gente que salta refeições ou come mal que se fala quando se fala de
fome em Portugal”, segundo afirmou Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas
Diocesana.
Se formos levantar o véu doutras instituições públicas, como
alguns serviços de enfermagem dos Centros de Saúde, então teríamos muito para
contar.
Outro setor que nos faz um país adiado são os serviços
judiciais, com a investigação criminal lenta e má, não conseguindo produzir prova
de qualidade, em particular nos crimes de colarinho branco na área financeira,
mas não só, o que faz com que muitos criminosos, de todas as cores e
colarinhos, se consigam escapar pelas amplas malhas deixadas nas teias da lei
para quem tem dinheiro para contratar bons advogados. Advogados cujos sócios
“deputados” fizeram as leis com os buracos necessários para os seus
conhecimentos conseguirem livrar os seus constituintes.
No entanto, mais recentemente, já vemos alguns tribunais com
as suas sentenças em que as elites também já não escapam a mão pesada da
Justiça.
Costa Freire foi o primeiro político condenado por atos
durante o mandato, decorria o ano 1994. Dez anos depois, Maria de Lurdes
Rodrigues é sentenciada a mais três anos de prisão. A Justiça portuguesa, dizem
alguns juristas e advogados, segundo o jornal i, começa a ter mão pesada nos
políticos e não só. Costa Freire, Isaltino de Morais, Armando Vara, Jardim
Gonçalves, Ricardo Salgado e, mais recentemente, Maria de Lurdes Rodrigues, são
alguns exemplos de como a Justiça portuguesa não tem olhado a elites ou postos quando
em causa está uma condenação.
Esperemos que a Justiça dê o volte-face a esta situação, se
bem que existe quem julgue que os banqueiros e grandes agentes económicos,
assim como outras personalidades de elite, vão a tribunal em desigualdade com
os outros cidadãos.
Há por este país escolas privadas muito caras, e portanto só
acessíveis a uma minoria de privilegiados, conhecidas por serem excessivamente
generosas na atribuição de notas destinadas a subir médias.
Assim como há universidades privadas sem quaisquer
requisitos de qualidade e que oferecem “cursos superiores” sem qualquer
interesse prático. O grau de exigência do setor privado deveria
obrigatoriamente ser idêntico ao do setor público.
Enquanto não nos dedicarmos de corpo e alma, norteados pelos
interesses do país e não pelo umbigo partidário, a estudar em profundidade, com
técnicos e não políticos, a liderar o processo e a decidir sobre essas áreas
não podemos viver tranquilos em Portugal.
Muito, mas muito haveria que dizer, para que este país não
estivesse “entregue à bicharada” e, assim, deixasse de ser um país adiado.
(In "fórum Covilhã", de 14.10.2014)
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