Timor faz parte das notícias
enfáticas mais recentes. Foi em 1512 que lá chegaram os portugueses e passaram
a colonizar este território, que o utilizaram durante quatro séculos. Nos meus
tempos da primária, era a última província ultramarina a ser estudada nos compêndios
de geografia. Era uma parte de Portugal, que, lá para as profundezas do
Planeta, servia não sei para quê. Mas, entretanto, surgem as guerras coloniais,
subversivas como os governantes desse tempo as apelidam. Também para lá se
deslocam contingentes militares para a defesa do Portugal multirracial que
integra o Império Português. E os militares, hoje antigos combatentes, para aí
deslocados do Continente, encontram um dos territórios ultramarinos onde ainda não
há guerrilha a sério. Ali, e também em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde não se
vislumbram os receios do que aconteceu a muitos que tombaram nas Colónias da
Guiné, Angola e Moçambique.
Mas o ano de 1961, para além de
fazer agitar o País, para as bandas do Atlântico, com as notícias das
guerrilhas em Angola e a invasão de Goa, e, depois, Guiné e Moçambique, faz
acordar também os outros territórios um pouco mais sossegados.
Enquanto pode, Timor Português
mantem-se sem incomodar o colonizador, até que surge o 25 de Abril em Portugal.
A independência do território do solo nascente, entre uma guerra civil, surge duma
forma temerária, em 28 de novembro de 1975. Mas só depois de se terem livrado
das garras da dominação indonésia, que considerou a sua 27ª província, e
originou grande mortandade, não obstante muitas denúncias de vários países e de
fortes pressões de Portugal, a Organização das Nações Unidas (ONU) decide criar
uma força internacional para intervir na região, o que acontece com a sua
entrada em Díli, a capital, em 22 de setembro de 1999. É então que o líder da
resistência timorense, Xanana Gusmão, sai da prisão onde se encontra, na
Indonésia. Este país, que entretanto, deixa o controle de Timor, vai
proporcionar que os timorenses, em 20 de maio de 2002, ergam um novo País –
Timor-Leste – sendo o primeiro novo Estado soberano do século XXI.
Portugal é incansável ao lado e
na defesa do povo timorense, durante o período crítico do jugo indonésio.
Estabelece relações de grande amizade, reconhecendo a justa luta, ao lado do
seu povo, de figuras proeminentes, desde o tempo em que, como Xanana Gusmão,
atual Primeiro-Ministro, e que fora já o 1.º Presidente da República, dura a
chefia da resistência, largos anos, que passa entre o mato e a prisão.
Todo o Portugal se enternece com
os sacrifícios e muitas torturas por que passa o Povo Maubere. Quando presido à
“Apae Campos Melo”, diligencia-se a
vinda à Covilhã, para o aniversário da associação, dum grupo de timorenses – “Taci Feto Taci Mane” –, a residir em
Lisboa. Participa com as suas danças tradicionais. E uma interessante exposição
alusiva a Timor, em 17 de junho de 1995, em colaboração com a Biblioteca por
Timor, em Lisboa, é proporcionada aos Covilhanenses. Altura em que lutam
fortemente contra a dominação indonésia. Em 19 de junho de 1996, também segue
uma carta para Xanana Gusmão, na prisão em Jakarta (L.P. Cipinang – Jalan Raya
Bekasi), aquando do seu 50º aniversário natalício: “Parabéns pelos 50 anos de vida, parte dela na luta pela causa do Povo
Maubere (…) Mas fique ciente que um dia a sua coragem e determinação há-de
servir para a libertação do seu povo. Pela nossa parte, estaremos sempre
atentos à vossa justa causa e daremos todo o apoio possível, dentro das nossas
possibilidades, como o reforço da divulgação que fizemos por um Timor livre e
independente (…)”.
Entretanto, o poder geralmente
corrói e altera comportamentos e atitudes, colocando, quantas vezes, os
valores, por que se debatiam, esfumados, e denegridos.
Efetivamente, não gostámos de ver
Xanana Gusmão, no dia 23 de julho de 2014, aquando da Cimeira da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Díli (Timor), ironia da
história, a levar o ditador Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, de início,
pela sua mão, contrastando com aquilo que foi a sua luta contra a ditadura.
Agora, é Xanana Gusmão e o Conselho
de Ministros do seu Governo, que determina a expulsão de Timor, num prazo de 48
horas, dos funcionários judiciais internacionais, incluindo cinco juízes e um
oficial da PSP de nacionalidade portuguesa, invocando “falta de capacidade técnica” para “dotarem funcionários timorenses de conhecimentos adequados”.
Atitude que não está em conformidade com tudo o que Portugal fez pelos timorenses.
A Ministra da Justiça de Portugal, e muito bem, fez cessar,
de imediato, todas as contratações existentes e renovações contratuais dos
funcionários judiciais internacionais, a exercer funções nos vários órgãos judiciais
daquele país, e a cooperação existente, neste âmbito.
Chegam agora notícias do
envolvimento de figuras, e do próprio Xanana, em casos de corrupção. Muita
tinta ainda vai que se gastar com esta conduta, qual ingratidão. Depois do país
ter saído das cinzas, emerge a preocupação timorense pela reação portuguesa. Chega-se
à conclusão que, afinal, o tiro saiu pela culatra.
(In "Notícias da Covilhã", de 13.11.2014)
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