19 de dezembro de 2014

50 ANOS A ESCREVER NOS JORNAIS

Completou meio século, no passado dia 14 de novembro deste ano da graça de 2014, que comecei a escrever no primeiro jornal - Notícias da Covilhã -; depois, já foram mais de duas dezenas, entre jornais, revistas e boletins, de âmbito regional ou mesmo nacional, e, entre eles, algumas referências no espanhol El Adelanto; Urbi et Orbi, da UBI; Record, A Bola, O Jogo, Diário de Notícias,  e referido ainda nos livros "Escritores do Concelho da Covilhã, A Paixão do Povo - História do Futebol em Portugal e Desportos & Letras, estes os que me recordo.
Atualmente tenho o prazer de ainda poder escrever regularmente nalguns deles (Notícias da Covilhã, fórum Covilhã, O Olhanense, Combatente da Estrela, Boletim Informativo da Casa da Covilhã, Boletim Português da Sociedade de São Vicente de Paulo, Ecos da APAE, e, outros, de quando em vez, como o Notícias da Gouveia, Vida do Trabalho, Portas da Estrela, Gazeta do Interior, O Interior, Vida Económica, Jornal do Fundão, Revista Liberty em Acção e Notícias Magazine); outros ainda, onde escrevi, já passaram somente para memórias porque desapareceram como os humanos, entre eles Fronteiros da Beira (durante o meu serviço militar), Já Agora, Diário XXI, Kaminhos e Essencial Seguros.
Dou graças a Deus por me manter ainda ativo.
Aqui vão alguns dos primeiros textos in illo tempore. Entre eles, para os saudosistas, do tempo do serviço militar, e a informação do "Fronteiros da Beira", do RI 12, da Guarda, com os nome de alguns ex-Colegas de armas que ainda possamos recordar, entre oficiais e sargentos, e, o último, com a informação da minha passagem à disponibilidade... Mais tarde, já na disponibilidade, promoveram-se a 2.º Sargento Miliciano.














RESSURGIMENTO

Lá vai o tempo em que o provável último número do “Boletim da Casa da Covilhã”, vindo à presença dos leitores no mês de Julho do ano da graça de mil novecentos e quarenta e nove (tinha eu três anos), como número único, fazia menção em que ressurgia “O Boletim”, completamente reformado e melhorado no seu aspecto gráfico e literário que se havia deixado de publicar em Junho de 1947”. E, como editor, aparecia o nome do Presidente da Casa da Covilhã, Dr. Francisco Ranito de Almeida Eusébio.
Referia-se ainda este Boletim às comemorações das Bodas de Prata da Casa da Covilhã. Aqui começa o busílis da questão.
Tendo as Bodas de Prata sido comemoradas em Junho de 1949, a fundação da Casa da Covilhã, então ainda designada por Grémio Covilhanense, obviamente que teria de ocorrer em Junho de 1924.
E sobre esta data se referiu José Mendes dos Santos, no seu livro “Breve História Cronológica da Covilhã”, na página 81: “1924 – Junho – Data em que foi fundada em Lisboa por um grupo de 47 covilhanenses ali residentes, o Grémio Covilhanense, actual Casa da Covilhã, com sede na Rua do Benformoso, 150-1.º. Trata-se de uma agremiação vincadamente regionalista que na Capital tem pugnado pelos interesses da Covilhã e sua região”.
No preâmbulo do Boletim a que nos referimos, subscrito pelo Presidente da Direção da Casa da Covilhã, Dr. Francisco Eusébio, lá surgem os nomes dos 47 fundadores, a quem a Direção da Casa da Covilhã prestou homenagem, a saber:
Gaudêncio Pereira Neves, Dr. Alberto de Campos Andrade, João Pereira Saraiva, António Laranjinha, António Figueiredo dos Santos, António dos Santos Barata, António FerreiraJúnior, Américo Rocha Castanhinha, Joaquim Carapito de Morais, António Pereira Neves, José Antunes dos Santos, João Antunes dos Santos, Fernando António Lopes, Alfredo Tomé Mendes, Francisco Laranjinha, Alberto Inácio da Costa, Mário Cardona Quintela, Germano Anselmo Prazeres, António Antunes dos Santos Júnior, Eduardo Laranjinha, António Ramalho, Jerónimo da Silva Aguiso, José Augusto dos Santos, Francisco Ferreira Bicho, João de Jesus Freitas, Manuel da Costa Estrelado, Manuel de Almeida Muxagata, José de Almeida Bonina, João Horácio dos Santos, Luís dos Santos, João Andrade, José Nunes da Cruz, Joaquim Augusto dos Santos, João Carapito Donas, José Nobre Montez, Mário Dias Fiadeiro, Guilhermino de Almeida Barros, Aníbal dos Santos Lino, José Casimiro Quintela Júnior, José Bernardo Gíria, João de Carvalho Pedroso, José Ferreira Grácio, António Gomes de Lemos Cardoso, Benevides de Almeida Pinto, António Serrano, José Ribeiro e João Cardona Quintela.
Mas, como havia cantado António Mourão, no seu fado “Ó Tempo volta p’ra trás”, a Casa da Covilhã viu oficialmente a data da sua fundação “reduzida em cinco anos…”, pelo que, a sua verdadeira idade, neste final do ano 2014, é ainda de 85 anos!
Efetivamente, com base numa certidão do Governo Civil de Lisboa – 3.ª Repartição –, com data de 5 de Janeiro de 1929, refere que “N’esta data foi auctorisado o funcionamento da sociedade de recreio denominada Grémio Covilhamense. A sua séde é na Rua da Mouraria, 24-1.º e os seus fins são regionalista, instrutivo e recriativo”.
Volvida uma década, mais propriamente no dia 26 de Janeiro de 1939, a sede mudou-se para o Largo do Caldas, n.º 8, e, em 28 de Outubro o Grémio Covilhanense passou a chamar-se Casa da Covilhã.
Entretanto, voltaria a ter nova mudança da Sede, e esta a última, ou seja, para o local onde se encontra instalada atualmente, na Rua do Benformoso, 150-1.º B, desde 1 de Julho de 1940.
Cabe-nos agora referir que esta instituição regionalista, que representa o Concelho da Covilhã na cidade alfacinha, teve altos e baixos e, durante muito tempo viveu de grandes dificuldades de operacionalidade, com escassez de atividades ou mesmo quase nulas, por falta de obreiros capazes de ombrear com as tarefas difíceis de representatividade, não obstante as suas boas vontades e sacrifícios; e, por outro lado, os fracos recursos financeiros, a par de um edifício-sede altamente degradado e a necessitar de obras.
Em boa hora, surgiu, neste últimos anos, uma dinâmica equipa liderada pela tenacidade do Covilhanense António Vicente, que não só “inventou” propósitos para a recuperação do edifício-sede, resolveu contenciosos com o senhorio, como também intensificou semanalmente a união dos Covilhanenses radicados em Lisboa, e não só, em redor de almoços semanais.
Variadíssimas atividades têm surgido, sempre com um grande entusiasmo, como a “Réplica da Feira de S. Miguel”, Fados, Conferências, Exposições, Convite a Personalidades Covilhanense do mundo da cultura, como artistas Covilhanenses, e outras mais que não enumeramos para não sermos fastidiosos.
Nesta dinâmica se insere uma certa vontade, jamais vista outrora, de um avolumar de gentes covilhanenses, conhecedoras agora das atividades da Casa da Covilhã e desejosas de lhe fazer uma visita.
Depois, ainda que nada tenha de ligação com a Casa da Covilhã, mas implicitamente oriundo da mesma, a criação de um grupo denominado “Antigos Alunos da Covilhã”, ou seja, voluntariamente, a identificação de todos quantos desejem juntar-se aos Colegas de outrora, dos tempos do antigo Liceu Frei Heitor Pinto, Escola Industrial e Comercial Campos Melo e Colégio Moderno, e os das novas designações.
Para terminar estas linhas, queria tão só registar que no dia 18 de Junho de 1949, na Sessão Solene comemorativa da passagem do 25º aniversário (“Bodas de Prata” adiantadas num lapso temporal, na indução de um erro que desconhecemos, possivelmente tendo em conta de alguma Comissão Pró-Agremiação), “inaugurou-se, festivamente, mais uma Estante da nossa Biblioteca”.
Esta biblioteca da Casa da Covilhã passou a funcionar, naquela altura (1949), todos os dias úteis, das 21 às 23,30 horas… o que hoje é impensável, pensamos.
Fica, no entanto, aqui, um ponto de partida, para que das várias ações já desenvolvidas pela Casa da Covilhã, seja encontrada forma de reabertura da Biblioteca, o que é uma pena não poder ainda estar disponível para consulta das várias obras, muitas delas de escritores covilhanenses.
Sabemos que não é fácil, mas com a alma dos Covilhanenses radicados em Lisboa, com assento no elenco diretivo da Casa da Covilhã, e outros eventuais colaboradores, tudo farão de contento porque são Gente da Nossa Gente.
Resta-nos desejar a todos os elementos dos Corpos Gerentes da Casa da Covilhã e a todos os Associados e suas Famílias, um Feliz Natal e um 2015 próspero.
JOÃO DE JESUS NUNES (Sócio n.º 133)



18 de dezembro de 2014

O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO

Na continuidade de mais um número do Combatente da Estrela, o último deste ano da graça de dois mil e catorze, que vai findar, tempo que decorreu envolvido em sacrifícios que caíram sobre todos nós, vamos prosseguir o caminho de encontro ao interesse dos Associados.
E, como a metáfora que encima o título deste texto, caminharemos no sentido de dar voz aos antigos Combatentes, através das suas histórias de vida, memórias dum tempo que passou, e mesmo vivências dos tempos atuais, por vezes em hilariantes tertúlias de ocasião, a emergirem onde se juntam três ou quatro amigos, ou mais, no seu seio, ou provocados pela união em redor deste órgão que é a Liga dos Combatentes.
Muitos mais poderiam engrossar o número dos Associados da Liga, não só dentre todos quantos passaram pelas terras africanas em missão de fidelidade à Pátria, num tempo de obrigação militar, como mesmo qualquer cidadão que não tivesse sido objeto de mobilização. Também por cá se passaram histórias engraçadas que poderão ser contadas neste espaço que é o Combatente da Estrela.
Dá prazer ver hoje a união de tantos e tantos jovens de outrora, da funesta década de sessenta do século passado (sim, todos nós vivemos já em dois séculos), a reunir-nos não só na Covilhã, mas também em outras Ligas de Combatentes, por este País fora, memorizando os tenebrosos tempos da Guerra em África em que nos envolveram.
Se muitos podem agora celebrar com tranquilidade todo esse tempo passado, ainda que outros também tivessem seguido rumo à emigração, para se safarem da guerra, já milhares continuam a sofrer na carne e no espírito os nefastos efeitos da sua passagem pela luta nas antigas Colónias Portuguesas.
No último número fiz referência à enorme dor que sentiram as famílias, algumas com efeitos fatais, outras, dilaceradas com a perda dos seus jovens filhos, maridos ou irmãos.
Mas se esse luto entretanto passou, é pungente ver ainda mãos cheias de gente, incluindo as famílias que a rodeia, ainda a sofrer os efeitos psicológicos dos terrores da guerra. Uma juventude que regressou com vida mas que, na continuidade da sua vivência, agora com mais de 60 e 70 anos, não se consegue libertar duma terrível doença psicológica que os próprios não provocaram.
Valerão em parte alguns encontros com sociólogos, preparados para o efeito, mas que não passarão de um breve bálsamo.
E, por mais que se façam sentir estes problemas aos governantes de Portugal, o que é que os antigos Combatentes já usufruíram de palpável, no sentido de colmatar todo este sofrimento em que se viram envolvidos em carne para canhão?
Vamos continuar a persistir, e a lutar agora com as armas não-beligerantes, mas persuasivas, para os direitos a que cada um lhes assiste, na reparação dos efeitos maléficos ocasionados a quem ainda mantem esse enorme fardo como carraça impregnada no seu corpo.
E as tertúlias entre camaradas, e outros eventos próprios, são fazedoras de ambientes propícios a uma certa momentânea tranquilidade de espírito.
E é neste caminhar que a juventude de outrora, pelos sacrifícios que passou, ainda não chegou ao fim da viagem; e, embora a idade não perdoe e vá amolecendo o dinamismo e a vontade, continua a caminhar, ainda que em passos mais lentos, e calculados, naquele espírito, mesmo assim ainda jovem, de prosseguir, nestes dias turbulentos por que passa, e que se vão atravessando no caminho, para os quais já não existe qualquer surpresa, o sentido de que seja feita a justiça que a história um dia perpetuará.
Resta-nos desejar, a todos os Associados e suas Famílias, um Santo Natal e que o Novo Ano 2015 resplandeça daquela palavra bonita – a Esperança.

João de Jesus Nunes

(In "O Combatente da Estrela", n.º 97, de out 2014 a dezº 2014)

17 de dezembro de 2014

O SER E O PARECER

Última crónica deste ano de 2014. Foram meses conturbados, perplexos, mais de murmurações que de alertas e decisões fortes, incisivas, conducentes a mudar o rumo dos acontecimentos.
Todos somos culpados, uns com mais responsabilidades que outros. A nossa conduta também se repercutiu nas fragilidades ou alguns êxitos do todo nacional; mas foi no local onde se particularizaram mais os problemas, refletidos na nossa atenção desvelada e ação ou na nossa passividade e comodismo.
Encerrou-se o terceiro ano consecutivo de forte austeridade, e o sexto desde a crise financeira de 2008.
E é aqui que alguns se marimbaram, preferiram deixar a banda passar; outros, até se gabaram que a crise nem era com eles, riram-se dos outros que se preocupavam, e o zé quase que acreditou, mas depois do “parecer” veio a confirmação da tal inação de quem deveria regular, e surgiu o “ser”, devastador para a economia da qual todos dependemos.
Não fosse o fator espírito de solidariedade que é das coisas que admiravelmente funciona muito bem na nossa sociedade, onde estariam muitas famílias deste pobre Portugal?
Continuando a haver portugueses de primeira, portugueses de segunda e até portugueses de terceira, vejamos como uma classe das de primeiríssima se viu agora, digna de dó, sem uns ditos “direitos adquiridos”: o atual governador do Banco de Portugal cortou algumas das mordomias aos funcionários. Entre as várias regalias, acabou com as comparticipações para a compra de colchões ortopédicos e reduziu as comparticipações para as próteses auditivas. Aquilo que anos atrás víamos no Banco de Portugal – aquele “parecer” – em termos de confiança, afinal, transformou-se no que é o “ser” do nosso banco central – que andou a dormir todos estes anos, desde Vitor Constâncio a Carlos Costa! E também andou a ouvir mal, talvez por causa das reduções das próteses auditivas, porque não ouviu recomendações atempadas sobre o BES.
Bom, já não vamos falar mais no insólito caso das subvenções vitalícias que os nossos deputados (alguns?) queriam que voltassem a ter eficácia; nem nos líderes da Galp e da REN a não quererem pagar o imposto das suas empresas.
Mas vamos p’rá fente: “Espelho meu, espelho meu, diz-me lá quem fala a verdade, o juiz Carlos Alexandre, ou eu?”
Pois é este o tema de todos os dias, com toda a Comunicação Social e muitos “Correios da Manhã” a venderem papel. Até aqui tudo compreendido, só não se compreende porque é que a justiça também ela se corrói a si própria, com fugas de informação, violando o segredo de justiça e impondo o real sensacionalismo. O “parecer” da justiça não é, afinal, igual ao “ser”.
Convenhamos seja referido que é assaz importante que o caso Sócrates venha a ser desvendado, com mais celeridade que os anteriores, para credibilização do País. Não só o antigo primeiro-ministro mas também todos quantos seus séquitos surgem no “parecer” de sinais exteriores de riqueza.
“Há uma carga injusta de humilhação e vergonha que só será ultrapassada se o país e as suas instituições, os seus magistrados, os seus políticos, os seus jornalistas e os seus cidadãos souberem ser exemplares”, assim se refere Rui Tavares, no “Público”.
Na Covilhã, os ventos e marés também têm dado sinal de si. Tentativas de contra revoluções por um lado, e, depois, aplicação de contra fogos, por outro.
O Concelho necessita da credibilidade emanada daquele “parecer” que foi assinalado de porta a porta na altura das eleições, para que o “ser” se transforme na esperança depositada em quem se confiou. As palavras de confiança, transformadas em ouro fino, que não se venham a transformar em falso ouro, porque o povo, que não é caduco, jamais colocará à frente dos destinos da edilidade a força política que venceu estas últimas eleições, caso o cumprimento do prometido em prol do progresso da Covilhã não se venha a verificar. Mais que o “parecer” tem que ser o “ser”.
No entanto, uma estrela cintilou na cidade neste final de ano, despercebida, mas eficaz. Há longa data, já do tempo da anterior Câmara, que se apresentou o caso de dois irmãos, sobejamente conhecidos na cidade, a viverem numa casa (por sinal propriedade da edilidade!) desumana, a cair, sujeita a soterrar os dois habitantes. Por insistência, num trabalho árduo duma Conferência Vicentina da Cidade, a edilidade atual conseguiu, finalmente, depois de tanto batalhar, arranjar uma casa para os irmãos, em condições de segurança e humanas. O “Pinga” e o irmão já têm a sua casa. Consciencialização dos factos! Valeu a pena insistir.
Votos de um Feliz Natal para todos, e um 2015 com a esperança de melhores tempos.

(In "Noticias da Covilhã", de 18-12-2014)

10 de dezembro de 2014

O SENHOR QUE SE SEGUE

Este ano de 2014 trouxe a todos os habitantes do Planeta um incomensurável rol de eventos, os mais diversificados que se possam imaginar. E, com eles, o emergir de novas guerras. Mas também muita subtração de riqueza. Poderia ter sido dividida pelos que dum pedaço dela necessitam para satisfação das necessidades mais prementes. Foram antes para as algibeiras mais escondidas dos depravados.
De positivo também algo passeou pelas estradas e caminhos planetários, como a persistente voz, tão de simplicidade quão de eloquência, de Jorge Mário Bergoglio – o Francisco – que veio do fim do mundo para o Vaticano.
Depois de um quarto de século da queda do Muro de Berlim, eis que se reavivaram fantasmas de Guerra Fria, com o líder russo Vladimir Putin como que saudoso do sovietismo.
Passou já um ano que na Praça da Independência, em Kiev (Ucrânia) começaram as primeiras manifestações antigovernamentais. Ninguém podia prever que aquelas primeiras manifestações de estudantes fossem um episódio com as repercussões a que o mundo assiste. As fronteiras da Europa foram reescritas. Kiev entrou numa guerra civil e a Rússia e o Ocidente entraram no período mais conturbado das suas relações desde a Guerra Fria.
A Primavera Árabe, pacífica, que havia começado na Tunísia, no Inverno de 2010, deu lugar a um “Verão quente e longo”, ainda hoje sem sucesso.
Surgiu o auto denominado Estado Islâmico (EI), numa ação terrível e devastadora, sem dó nem piedade pelas populações por onde passa, aterrorizadas. As decapitações de americanos e britânicos são os seus grandes troféus.
Um cortejo de jovens europeus, dentre britânicos, franceses, holandeses, e alemães, como outros, e também dois ou três portugueses, insatisfeitos, corrompidos e alienados pela Internet, integraram aquele movimento de terror.
Na memória de tempos bélicos, passou um século do início da Primeira Grande Guerra Mundial. Mais de 9 milhões de combatentes foram mortos. O evento suscita uma reflexão sobre os riscos do mundo em que vivemos. Que lições nos deixa a tragédia fundadora do século XX?
O Corpo Expedicionário Português que nela participou entrou na mesma sem preparação moral. A vida nas trincheiras lamacentas em França, segundo testemunhos, mais não foram que “sepulturas em vida”. Os partidos, chefiados por Afonso Costa e Brito Camacho não se entendiam, e “as suas divergências deixaram efeitos desastrosos na moral da tropa”. Foram milhares de combatentes entre mortos e feridos. O primeiro soldado português a falecer na I Guerra Mundial foi António Gonçalves Curado, em 4 de abril de 1917.
Nesta guerra também se encontrava o covilhanense José Antunes Garrim, soldado corneteiro, que viria a ser agraciado com a Ordem Militar da Torre e Espada. Notabilizou-se nesta guerra por ter imitado o som do clarim dos alemães, toque que indicava a retirada deles para as linhas da retaguarda. Com este toque, levou a enganar os alemães e, assim, proporcionou a que os aliados assaltassem com mais facilidade as posições inimigas e se salvassem muitas vidas.
Mas não ficaríamos por aqui e viria a surgir a 2.ª Grande Guerra Mundial, mais destruidora e duradoura. Envolveu a maioria das nações do mundo. O seu início foi há 75 anos. Apesar do estatuto de neutralidade do nosso País na II Grande Guerra Mundial, muitos compatriotas lutaram no maior de todos os conflitos. Mas 150 portugueses, numa atitude idêntica aos que agora se alistaram no Estado Islâmico, participaram na invasão alemã da URSS. Integraram-se nas fileiras da Divisão Azul, juntando-se em Espanha e incorporando-se na enorme máquina hitleriana. E, paradoxalmente à atitude patriótica do covilhanense Garrim, encontrava-se ao serviço de Hitler um covilhanense, Virgílio Henriques da Fonseca, que, dizia-se, foram muitas as vezes que andou a cavalo pelas ruas da Covilhã, talvez encantando o coração das raparigas que o observavam. Consta que se distinguia pela sua generosidade, numa época de muita pobreza, a que o seu catolicismo militante não foi alheio. Virgílio nunca tinha combatido e, por isso, não foi o voluntário típico da Divisão Azul. Era filho de uma família de industriais de lanifícios e não terá sido por necessidades económicas que se alistou. Como, agora, os jihadistas, vai-se lá saber qual a intenção por que Virgílio se alistou ao lado dos nazis. Inscreveu-se a 24 de agosto de 1942, partindo para a linha da frente onde foi integrado numa companhia de armas pesadas. A sua carreira militar seria muito curta, pois foi ferido em combate a 10 de fevereiro de 1943 e evacuado para o hospital onde faleceu dois dias mais tarde.
Neste ano de 2014 celebrou-se mais um grande evento: a comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos – o 25 de Abril. Acontecimento que foi de esperança para os portugueses, com o regresso à democracia. Jamais se pensaria que as muitas esperanças se iriam transformar em períodos, e longas épocas, de muitos sofrimentos para os portugueses, depois de tantos anos de ditadura e da guerra nas antigas Colónias.
A corrupção passou a ser uma das palavras mais em voga ao longo destes 40 anos de democracia. Não obstante a morosidades da aplicação da justiça, mormente em figuras sobejamente conhecidas, quando um caso ainda estava envolvo em sensacionalismos da Comunicação Social, já outros emergiam. De antigos governantes a banqueiros, de responsáveis por organismos do Estado a antigos deputados ou autarcas, numa de retalhar este Portugal. E vai da incapacidade de saber governar à passividade dos reguladores, que deixaram continuar a ser um País adiado. E foi o ano em que a troika deixou de nos importunar tanto.
Mas até um primeiro-ministro de Portugal surgiu na fila dos homens da corrupção. Entra na prisão. É um caso inédito na democracia portuguesa. O País ficou contundido, ou talvez já não! A credibilidade em quem deveríamos confiar dissipa-se. E a corrente do segredo de justiça quebrou-se numa humilhação do suspeito, com os holofotes sensacionalistas da Comunicação Social. Afinal, confiar em quem?
Nesta sequência de figuras proeminentes que foram dos governos e da sociedade portuguesa, corroendo o País, resta perguntar, já sem qualquer surpresa: Quem é o senhor que se segue?
Mas o ano de 2014 também vai terminar com algumas boas notícias: o fadista Carlos do Carmo recebeu o Grammy Latino de Excelência Musical, cuja cerimónia se realizou em Las Vegas; e, em Paris, foi a vez de a UNESCO aprovar a inscrição do cante alentejano na lista representativa do património cultural imaterial da humanidade. Paris ouviu os homens de Serpa.
Pela Covilhã, neste ano que termina, houve trabalho de excelência de várias associações e coletividades, empenhadas fortemente na cultura, mostrando assim nova face da cidade, com a dinâmica que sabem impregnar, não obstante ventos e marés por que se tem passado.
Entre muitas outras destacam-se, para além do GICC – Teatro das Beiras, no seu 40º aniversário, a que já fiz referência no meu último texto, também o 70º Aniversário da Banda da Covilhã; o 88º aniversário do Orfeão da Covilhã e o 53.º do Conservatório de Música; o trabalho profícuo da Lapa – Liga dos Amigos dos Penedos Altos e do Oriental de São Martinho.
Também o Rancho Folclórico da Boidobra com a dinâmica do Paulo Alexandre; e o Rancho Etnográfico do Refúgio, nos seus “Serões à Lareira”, no entusiasmo de José Simões, são dignos de realce.
Ao completar três anos de vida jornalística, ao serviço do Concelho da Covilhã, e também de toda a Região Beirã, para além dos parabéns devidos ao fórum Covilhã, ficam as convicções de ser um Órgão da Comunicação Social, jovem mas incutido de uma força impulsora de seguir em frente na informação que, não agradando a todos, é autêntica.

Para os Leitores vão os votos de um Feliz Natal e um Novo Ano menos sacrificado.

(In "fórum Covilhã", de 10.12.2014)