Este ano de 2014 trouxe a
todos os habitantes do Planeta um incomensurável rol de eventos, os mais diversificados
que se possam imaginar. E, com eles, o emergir de novas guerras. Mas também
muita subtração de riqueza. Poderia ter sido dividida pelos que dum pedaço dela
necessitam para satisfação das necessidades mais prementes. Foram antes para as
algibeiras mais escondidas dos depravados.
De positivo também algo
passeou pelas estradas e caminhos planetários, como a persistente voz, tão de
simplicidade quão de eloquência, de Jorge Mário Bergoglio – o Francisco – que veio
do fim do mundo para o Vaticano.
Depois de um quarto de século
da queda do Muro de Berlim, eis que se reavivaram fantasmas de Guerra Fria, com
o líder russo Vladimir Putin como que saudoso do sovietismo.
Passou já um ano que na Praça
da Independência, em Kiev (Ucrânia) começaram as primeiras manifestações antigovernamentais.
Ninguém podia prever que aquelas primeiras manifestações de estudantes fossem um
episódio com as repercussões a que o mundo assiste. As fronteiras da Europa
foram reescritas. Kiev entrou numa guerra civil e a Rússia e o Ocidente
entraram no período mais conturbado das suas relações desde a Guerra Fria.
A Primavera Árabe, pacífica, que havia começado na
Tunísia, no Inverno de 2010, deu lugar a um “Verão quente e longo”, ainda hoje
sem sucesso.
Surgiu o auto denominado
Estado Islâmico (EI), numa ação terrível e devastadora, sem dó nem piedade
pelas populações por onde passa, aterrorizadas. As decapitações de americanos e
britânicos são os seus grandes troféus.
Um cortejo de jovens europeus,
dentre britânicos, franceses, holandeses, e alemães, como outros, e também dois
ou três portugueses, insatisfeitos, corrompidos e alienados pela Internet, integraram
aquele movimento de terror.
Na memória de tempos bélicos, passou
um século do início da Primeira Grande Guerra Mundial. Mais de 9 milhões de
combatentes foram mortos. O evento suscita uma reflexão sobre os riscos do
mundo em que vivemos. Que lições nos deixa a tragédia fundadora do século XX?
O Corpo Expedicionário
Português que nela participou entrou na mesma sem preparação moral. A vida nas
trincheiras lamacentas em França, segundo testemunhos, mais não foram que “sepulturas em vida”. Os partidos,
chefiados por Afonso Costa e Brito Camacho não se entendiam, e “as suas divergências deixaram efeitos
desastrosos na moral da tropa”. Foram milhares de combatentes entre mortos
e feridos. O primeiro soldado português a falecer na I Guerra Mundial foi
António Gonçalves Curado, em 4 de abril de 1917.
Nesta guerra também se
encontrava o covilhanense José Antunes Garrim, soldado corneteiro, que viria a
ser agraciado com a Ordem Militar da Torre e Espada. Notabilizou-se nesta
guerra por ter imitado o som do clarim dos alemães, toque que indicava a
retirada deles para as linhas da retaguarda. Com este toque, levou a enganar os
alemães e, assim, proporcionou a que os aliados assaltassem com mais facilidade
as posições inimigas e se salvassem muitas vidas.
Mas não ficaríamos por aqui e
viria a surgir a 2.ª Grande Guerra Mundial, mais destruidora e duradoura. Envolveu
a maioria das nações do mundo. O seu início foi há 75 anos. Apesar do estatuto
de neutralidade do nosso País na II Grande Guerra Mundial, muitos compatriotas
lutaram no maior de todos os conflitos. Mas 150 portugueses, numa atitude
idêntica aos que agora se alistaram no Estado Islâmico, participaram na invasão
alemã da URSS. Integraram-se nas fileiras da Divisão Azul, juntando-se em
Espanha e incorporando-se na enorme máquina hitleriana. E, paradoxalmente à
atitude patriótica do covilhanense Garrim, encontrava-se ao serviço de Hitler
um covilhanense, Virgílio Henriques da Fonseca, que, dizia-se, foram muitas as
vezes que andou a cavalo pelas ruas da Covilhã, talvez encantando o coração das
raparigas que o observavam. Consta que se distinguia pela sua generosidade,
numa época de muita pobreza, a que o seu catolicismo militante não foi alheio.
Virgílio nunca tinha combatido e, por isso, não foi o voluntário típico da
Divisão Azul. Era filho de uma família de industriais de lanifícios e não terá
sido por necessidades económicas que se alistou. Como, agora, os jihadistas,
vai-se lá saber qual a intenção por que Virgílio se alistou ao lado dos nazis.
Inscreveu-se a 24 de agosto de 1942, partindo para a linha da frente onde foi
integrado numa companhia de armas pesadas. A sua carreira militar seria muito
curta, pois foi ferido em combate a 10 de fevereiro de 1943 e evacuado para o
hospital onde faleceu dois dias mais tarde.
Neste ano de 2014 celebrou-se
mais um grande evento: a comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos – o 25
de Abril. Acontecimento que foi de esperança para os portugueses, com o regresso
à democracia. Jamais se pensaria que as muitas esperanças se iriam transformar em
períodos, e longas épocas, de muitos sofrimentos para os portugueses, depois de
tantos anos de ditadura e da guerra nas antigas Colónias.
A corrupção passou a ser uma
das palavras mais em voga ao longo destes 40 anos de democracia. Não obstante a
morosidades da aplicação da justiça, mormente em figuras sobejamente
conhecidas, quando um caso ainda estava envolvo em sensacionalismos da Comunicação
Social, já outros emergiam. De antigos governantes a banqueiros, de
responsáveis por organismos do Estado a antigos deputados ou autarcas, numa de
retalhar este Portugal. E vai da incapacidade de saber governar à passividade
dos reguladores, que deixaram continuar a ser um País adiado. E foi o ano em
que a troika deixou de nos importunar
tanto.
Mas até um primeiro-ministro
de Portugal surgiu na fila dos homens da corrupção. Entra na prisão. É um caso
inédito na democracia portuguesa. O País ficou contundido, ou talvez já não! A
credibilidade em quem deveríamos confiar dissipa-se. E a corrente do segredo de
justiça quebrou-se numa humilhação do suspeito, com os holofotes
sensacionalistas da Comunicação Social. Afinal, confiar em quem?
Nesta sequência de figuras
proeminentes que foram dos governos e da sociedade portuguesa, corroendo o
País, resta perguntar, já sem qualquer surpresa: Quem é o senhor que se segue?
Mas o ano de 2014 também vai
terminar com algumas boas notícias: o fadista Carlos do Carmo recebeu o Grammy
Latino de Excelência Musical, cuja cerimónia se realizou em Las Vegas; e, em
Paris, foi a vez de a UNESCO aprovar a inscrição do cante alentejano na lista
representativa do património cultural imaterial da humanidade. Paris ouviu os
homens de Serpa.
Pela Covilhã, neste ano que
termina, houve trabalho de excelência de várias associações e coletividades,
empenhadas fortemente na cultura, mostrando assim nova face da cidade, com a
dinâmica que sabem impregnar, não obstante ventos e marés por que se tem
passado.
Entre muitas outras
destacam-se, para além do GICC – Teatro das Beiras, no seu 40º aniversário, a
que já fiz referência no meu último texto, também o 70º Aniversário da Banda da
Covilhã; o 88º aniversário do Orfeão da Covilhã e o 53.º do Conservatório de
Música; o trabalho profícuo da Lapa – Liga dos Amigos dos Penedos Altos e do
Oriental de São Martinho.
Também o Rancho Folclórico da
Boidobra com a dinâmica do Paulo Alexandre; e o Rancho Etnográfico do Refúgio,
nos seus “Serões à Lareira”, no entusiasmo de José Simões, são dignos de
realce.
Ao completar três anos de vida
jornalística, ao serviço do Concelho da Covilhã, e também de toda a Região
Beirã, para além dos parabéns devidos ao fórum
Covilhã, ficam as convicções de ser um Órgão da Comunicação Social, jovem
mas incutido de uma força impulsora de seguir em frente na informação que, não
agradando a todos, é autêntica.
Para os Leitores vão os votos
de um Feliz Natal e um Novo Ano menos sacrificado.
(In "fórum Covilhã", de 10.12.2014)
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