10 de dezembro de 2014

O SENHOR QUE SE SEGUE

Este ano de 2014 trouxe a todos os habitantes do Planeta um incomensurável rol de eventos, os mais diversificados que se possam imaginar. E, com eles, o emergir de novas guerras. Mas também muita subtração de riqueza. Poderia ter sido dividida pelos que dum pedaço dela necessitam para satisfação das necessidades mais prementes. Foram antes para as algibeiras mais escondidas dos depravados.
De positivo também algo passeou pelas estradas e caminhos planetários, como a persistente voz, tão de simplicidade quão de eloquência, de Jorge Mário Bergoglio – o Francisco – que veio do fim do mundo para o Vaticano.
Depois de um quarto de século da queda do Muro de Berlim, eis que se reavivaram fantasmas de Guerra Fria, com o líder russo Vladimir Putin como que saudoso do sovietismo.
Passou já um ano que na Praça da Independência, em Kiev (Ucrânia) começaram as primeiras manifestações antigovernamentais. Ninguém podia prever que aquelas primeiras manifestações de estudantes fossem um episódio com as repercussões a que o mundo assiste. As fronteiras da Europa foram reescritas. Kiev entrou numa guerra civil e a Rússia e o Ocidente entraram no período mais conturbado das suas relações desde a Guerra Fria.
A Primavera Árabe, pacífica, que havia começado na Tunísia, no Inverno de 2010, deu lugar a um “Verão quente e longo”, ainda hoje sem sucesso.
Surgiu o auto denominado Estado Islâmico (EI), numa ação terrível e devastadora, sem dó nem piedade pelas populações por onde passa, aterrorizadas. As decapitações de americanos e britânicos são os seus grandes troféus.
Um cortejo de jovens europeus, dentre britânicos, franceses, holandeses, e alemães, como outros, e também dois ou três portugueses, insatisfeitos, corrompidos e alienados pela Internet, integraram aquele movimento de terror.
Na memória de tempos bélicos, passou um século do início da Primeira Grande Guerra Mundial. Mais de 9 milhões de combatentes foram mortos. O evento suscita uma reflexão sobre os riscos do mundo em que vivemos. Que lições nos deixa a tragédia fundadora do século XX?
O Corpo Expedicionário Português que nela participou entrou na mesma sem preparação moral. A vida nas trincheiras lamacentas em França, segundo testemunhos, mais não foram que “sepulturas em vida”. Os partidos, chefiados por Afonso Costa e Brito Camacho não se entendiam, e “as suas divergências deixaram efeitos desastrosos na moral da tropa”. Foram milhares de combatentes entre mortos e feridos. O primeiro soldado português a falecer na I Guerra Mundial foi António Gonçalves Curado, em 4 de abril de 1917.
Nesta guerra também se encontrava o covilhanense José Antunes Garrim, soldado corneteiro, que viria a ser agraciado com a Ordem Militar da Torre e Espada. Notabilizou-se nesta guerra por ter imitado o som do clarim dos alemães, toque que indicava a retirada deles para as linhas da retaguarda. Com este toque, levou a enganar os alemães e, assim, proporcionou a que os aliados assaltassem com mais facilidade as posições inimigas e se salvassem muitas vidas.
Mas não ficaríamos por aqui e viria a surgir a 2.ª Grande Guerra Mundial, mais destruidora e duradoura. Envolveu a maioria das nações do mundo. O seu início foi há 75 anos. Apesar do estatuto de neutralidade do nosso País na II Grande Guerra Mundial, muitos compatriotas lutaram no maior de todos os conflitos. Mas 150 portugueses, numa atitude idêntica aos que agora se alistaram no Estado Islâmico, participaram na invasão alemã da URSS. Integraram-se nas fileiras da Divisão Azul, juntando-se em Espanha e incorporando-se na enorme máquina hitleriana. E, paradoxalmente à atitude patriótica do covilhanense Garrim, encontrava-se ao serviço de Hitler um covilhanense, Virgílio Henriques da Fonseca, que, dizia-se, foram muitas as vezes que andou a cavalo pelas ruas da Covilhã, talvez encantando o coração das raparigas que o observavam. Consta que se distinguia pela sua generosidade, numa época de muita pobreza, a que o seu catolicismo militante não foi alheio. Virgílio nunca tinha combatido e, por isso, não foi o voluntário típico da Divisão Azul. Era filho de uma família de industriais de lanifícios e não terá sido por necessidades económicas que se alistou. Como, agora, os jihadistas, vai-se lá saber qual a intenção por que Virgílio se alistou ao lado dos nazis. Inscreveu-se a 24 de agosto de 1942, partindo para a linha da frente onde foi integrado numa companhia de armas pesadas. A sua carreira militar seria muito curta, pois foi ferido em combate a 10 de fevereiro de 1943 e evacuado para o hospital onde faleceu dois dias mais tarde.
Neste ano de 2014 celebrou-se mais um grande evento: a comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos – o 25 de Abril. Acontecimento que foi de esperança para os portugueses, com o regresso à democracia. Jamais se pensaria que as muitas esperanças se iriam transformar em períodos, e longas épocas, de muitos sofrimentos para os portugueses, depois de tantos anos de ditadura e da guerra nas antigas Colónias.
A corrupção passou a ser uma das palavras mais em voga ao longo destes 40 anos de democracia. Não obstante a morosidades da aplicação da justiça, mormente em figuras sobejamente conhecidas, quando um caso ainda estava envolvo em sensacionalismos da Comunicação Social, já outros emergiam. De antigos governantes a banqueiros, de responsáveis por organismos do Estado a antigos deputados ou autarcas, numa de retalhar este Portugal. E vai da incapacidade de saber governar à passividade dos reguladores, que deixaram continuar a ser um País adiado. E foi o ano em que a troika deixou de nos importunar tanto.
Mas até um primeiro-ministro de Portugal surgiu na fila dos homens da corrupção. Entra na prisão. É um caso inédito na democracia portuguesa. O País ficou contundido, ou talvez já não! A credibilidade em quem deveríamos confiar dissipa-se. E a corrente do segredo de justiça quebrou-se numa humilhação do suspeito, com os holofotes sensacionalistas da Comunicação Social. Afinal, confiar em quem?
Nesta sequência de figuras proeminentes que foram dos governos e da sociedade portuguesa, corroendo o País, resta perguntar, já sem qualquer surpresa: Quem é o senhor que se segue?
Mas o ano de 2014 também vai terminar com algumas boas notícias: o fadista Carlos do Carmo recebeu o Grammy Latino de Excelência Musical, cuja cerimónia se realizou em Las Vegas; e, em Paris, foi a vez de a UNESCO aprovar a inscrição do cante alentejano na lista representativa do património cultural imaterial da humanidade. Paris ouviu os homens de Serpa.
Pela Covilhã, neste ano que termina, houve trabalho de excelência de várias associações e coletividades, empenhadas fortemente na cultura, mostrando assim nova face da cidade, com a dinâmica que sabem impregnar, não obstante ventos e marés por que se tem passado.
Entre muitas outras destacam-se, para além do GICC – Teatro das Beiras, no seu 40º aniversário, a que já fiz referência no meu último texto, também o 70º Aniversário da Banda da Covilhã; o 88º aniversário do Orfeão da Covilhã e o 53.º do Conservatório de Música; o trabalho profícuo da Lapa – Liga dos Amigos dos Penedos Altos e do Oriental de São Martinho.
Também o Rancho Folclórico da Boidobra com a dinâmica do Paulo Alexandre; e o Rancho Etnográfico do Refúgio, nos seus “Serões à Lareira”, no entusiasmo de José Simões, são dignos de realce.
Ao completar três anos de vida jornalística, ao serviço do Concelho da Covilhã, e também de toda a Região Beirã, para além dos parabéns devidos ao fórum Covilhã, ficam as convicções de ser um Órgão da Comunicação Social, jovem mas incutido de uma força impulsora de seguir em frente na informação que, não agradando a todos, é autêntica.

Para os Leitores vão os votos de um Feliz Natal e um Novo Ano menos sacrificado.

(In "fórum Covilhã", de 10.12.2014)

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