Última crónica deste ano de
2014. Foram meses conturbados, perplexos, mais de murmurações que de alertas e
decisões fortes, incisivas, conducentes a mudar o rumo dos acontecimentos.
Todos somos culpados, uns com
mais responsabilidades que outros. A nossa conduta também se repercutiu nas
fragilidades ou alguns êxitos do todo nacional; mas foi no local onde se particularizaram
mais os problemas, refletidos na nossa atenção desvelada e ação ou na nossa passividade
e comodismo.
Encerrou-se o terceiro ano
consecutivo de forte austeridade, e o sexto desde a crise financeira de 2008.
E é aqui que alguns se
marimbaram, preferiram deixar a banda passar; outros, até se gabaram que a
crise nem era com eles, riram-se dos outros que se preocupavam, e o zé quase
que acreditou, mas depois do “parecer” veio a confirmação da tal inação de quem
deveria regular, e surgiu o “ser”, devastador para a economia da qual todos
dependemos.
Não fosse o fator espírito de
solidariedade que é das coisas que admiravelmente funciona muito bem na nossa
sociedade, onde estariam muitas famílias deste pobre Portugal?
Continuando a haver
portugueses de primeira, portugueses de segunda e até portugueses de terceira, vejamos
como uma classe das de primeiríssima se viu agora, digna de dó, sem uns ditos “direitos
adquiridos”: o atual governador do Banco de Portugal cortou algumas das
mordomias aos funcionários. Entre as várias regalias, acabou com as
comparticipações para a compra de colchões ortopédicos e reduziu as
comparticipações para as próteses auditivas. Aquilo que anos atrás víamos no Banco
de Portugal – aquele “parecer” – em termos de confiança, afinal, transformou-se
no que é o “ser” do nosso banco central – que andou a dormir todos estes anos,
desde Vitor Constâncio a Carlos Costa! E também andou a ouvir mal, talvez por
causa das reduções das próteses auditivas, porque não ouviu recomendações
atempadas sobre o BES.
Bom, já não vamos falar mais
no insólito caso das subvenções vitalícias que os nossos deputados (alguns?)
queriam que voltassem a ter eficácia; nem nos líderes da Galp e da REN a não
quererem pagar o imposto das suas empresas.
Mas vamos p’rá fente: “Espelho
meu, espelho meu, diz-me lá quem fala a verdade, o juiz Carlos Alexandre, ou
eu?”
Pois é este o tema de todos os
dias, com toda a Comunicação Social e muitos “Correios da Manhã” a venderem papel. Até aqui tudo compreendido,
só não se compreende porque é que a justiça também ela se corrói a si própria,
com fugas de informação, violando o segredo de justiça e impondo o real
sensacionalismo. O “parecer” da justiça não é, afinal, igual ao “ser”.
Convenhamos seja referido que
é assaz importante que o caso Sócrates venha a ser desvendado, com mais
celeridade que os anteriores, para credibilização do País. Não só o antigo
primeiro-ministro mas também todos quantos seus séquitos surgem no “parecer” de
sinais exteriores de riqueza.
“Há uma carga injusta de humilhação e vergonha que só será ultrapassada
se o país e as suas instituições, os seus magistrados, os seus políticos, os
seus jornalistas e os seus cidadãos souberem ser exemplares”, assim se
refere Rui Tavares, no “Público”.
Na Covilhã, os ventos e marés
também têm dado sinal de si. Tentativas de contra revoluções por um lado, e,
depois, aplicação de contra fogos, por outro.
O Concelho necessita da
credibilidade emanada daquele “parecer” que foi assinalado de porta a porta na
altura das eleições, para que o “ser” se transforme na esperança depositada em
quem se confiou. As palavras de confiança, transformadas em ouro fino, que não
se venham a transformar em falso ouro, porque o povo, que não é caduco, jamais
colocará à frente dos destinos da edilidade a força política que venceu estas
últimas eleições, caso o cumprimento do prometido em prol do progresso da Covilhã
não se venha a verificar. Mais que o “parecer” tem que ser o “ser”.
No entanto, uma estrela cintilou
na cidade neste final de ano, despercebida, mas eficaz. Há longa data, já do
tempo da anterior Câmara, que se apresentou o caso de dois irmãos, sobejamente
conhecidos na cidade, a viverem numa casa (por sinal propriedade da edilidade!)
desumana, a cair, sujeita a soterrar os dois habitantes. Por insistência, num
trabalho árduo duma Conferência Vicentina da Cidade, a edilidade atual conseguiu,
finalmente, depois de tanto batalhar, arranjar uma casa para os irmãos, em
condições de segurança e humanas. O “Pinga” e o irmão já têm a sua casa.
Consciencialização dos factos! Valeu a pena insistir.
Votos de um Feliz Natal para todos, e um 2015 com a
esperança de melhores tempos.
(In "Noticias da Covilhã", de 18-12-2014)
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