23 de dezembro de 2015

VENTOS DE MUDANÇA

“Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de ventos” (Érico Veríssimo).
Neste ano que se aproxima do seu final, muitos acontecimentos ilustraram a contagem dos seus dias.
Entre a moderação e a agressividade dos tempos que vão passando no nosso caminhar quotidiano, nas várias vertentes da vida de cada um, talvez a reflexão, ou falta dela, fosse a palavra mais sublinhada.
O facto é que sonhadas certezas se transformaram na ambiguidade de momentos vividos, para uns; e na indiferença para os tempos que não correm de feição, para outros.
Vejamos, por exemplo, nesta última parte, o que de âmbito da vida política deste nosso Portugal, de quase nove séculos, se tem passado com a crescente taxa de abstenção nos atos eleitorais, atingindo neste 2015, a percentagem de 43,07.
Todos nós, como cidadãos portugueses, não podemos deixar de lançar o grito do Ipiranga nesta altura em que, volvidos 41 anos após a Revolução de Abril, nos podemos considerar falseados com todos quantos, ao leme das várias governações, não souberam encontrar formas de tornar a nossa Nação num país rico como tinha obrigação de o ser.
Eslováquia, República Checa, Polónia, entre outros, são países que tendo aderido à União Europeia mais tarde que nós já nos ultrapassaram no seu consistente crescimento.
E somos o único da Europa que em menos de 40 anos levámos, por três vezes, o país à beira da catástrofe.
O desenvolvimento não se compadece com a passividade dos portugueses, ao longo dos tempos, e o atraso continua a prevalecer em relação a outros países da mesma família da União Europeia, e não só.
Já não dependemos somente de nós, mas também dos nossos parceiros. É como num campeonato de futebol em que, para não descer de divisão, já temos que depender do resultado de outros. Os nossos já não são suficientes.
Nesta estagnação económica os portugueses são levados a olharem para outros mercados e a emigrarem, forçados pela inexistência de alternativas em Portugal.
O empobrecimento é generalizado e cai sobre todos nós. Por isso, a produtividade da economia tem que ser aumentada, sem rodeios.
Escrever este último parágrafo foi fácil. Difícil é saber quem, dos nossos governantes, ao longo destas mais de quatro décadas de democracia, foi capaz de incutir em nós esta forma de atuar, em prol do nosso desenvolvimento. E, quem, dos atuais, nestes ventos de mudança, vai descamisar-se para deixar correr o suor duma verdadeira, e não ambígua, ação de transformar o país no Portugal de todos e para todos, substituindo o pão que o diabo amassou pelo caldo quente que todos merecemos.
Enquanto houver forças partidárias retrógradas, presidentes da República pouco interventivos e parciais, ou ministros em meandros da corrupção, ainda que encapotada, ou na promiscuidade, este país continuará a marcar passo ou a ver a banda passar.
Pensamos que, neste final do ano 2015, e para um novo ano, é altura de, com muito respeito, mas com muita convicção, dizer um valente: basta!
O medo de mudar. “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. (Platão). Sim, entendendo esta luz como capacidade de ser brilhante diante das adversidades que nos são colocadas pela vida e conseguirmos produzir as necessárias mudanças.
O descrédito que subsiste, nos governantes, de não serem capazes de se sacrificar, eles próprios e os seus apaniguados, na tentação do poder, pelas genuínas causas do povo português, interpretado este como todos os integrantes deste Portugal à beira-mar plantado, mas também com olhos postos no interior e periferias, são o tal fator negativo que leva à abstenção eleitoral, conforme foi referido.
Há que, de uma vez por todas, cada um de nós, estar atento e vigilante, mas também consciente de que, independentemente de diferenças partidárias, há que deixar resolver os problemas do país, que são os nossos próprios problemas. Que jamais se voltem a ver situações de oportunismo, e que se façam as correções devidas na eliminação dos “jobs for the boys”.
Quando é que, num concurso público, se pode ter a certeza, que há seriedade na admissão de um concorrente?
E não é preciso ir muito longe, o séquito de “boys e girls” permanecem por essas autarquias do país fora, e no nosso meio, o que é duma atitude confrangedora.
Paradoxalmente ao que atrás escrevemos, ainda temos esperança que haja um virar de página nas condutas políticas, para que ainda possamos apanhar a carruagem do desenvolvimento, e, assim, deixarmos de perder o comboio por chegarmos sempre atrasados.

Votos de Boas Festas e um Feliz Ano 2016!

(In "Notícias da Covilhã", de 24-12-2015)

21 de dezembro de 2015

COVILHANENSE ANTÓNIO FELICIANO – GRANDE DESPORTISTA DO PASSADO

A Covilhã pode orgulhar-se de ter, ao longo dos tempos, muitos desportistas, nas várias vertentes, que engrandecem a cidade laneira, hoje também universitária.
Uns, covilhanenses pelo coração; outros, covilhanenses por aqui serem os seus berços.
Ainda há pouco tempo nos deixou um covilhanense pelo coração que servir as cores do Sporting Clube da Covilhã – Jorge Nicolau.
Naturais do concelho da Covilhã, como César Brito, também honraram a sua Terra nesta modalidade desportiva – futebol, chegando a representar as cores da Seleção Nacional.
Já na arbitragem, pela primeira vez na história do desporto covilhanense, temos Carlos Xistra como árbitro de futebol da I Liga e também tendo chegado a internacional.
Noutras modalidades, dantes impensáveis, como o automobilismo – caso de João Fonseca – conseguem a liderança nas suas provas, sendo o campeão nacional de montanha. Mas outros há que não cabem já neste texto, mas que têm o registo indiscutível do seu mérito.
É indubitavelmente um orgulho para a terra que é deles berço – a Covilhã.
Outros ainda, apesar de terem aqui nascido, foram desportistas de alto prestígio, fora de portas. Neste caso em apreço reporto-me a António Feliciano, que eu não conheci.
Ele integrou a equipa de “Os Belenenses” que ganhou o Campeonato Nacional da I Divisão na época de 1944/45 (única vez).
António Feliciano era natural da Covilhã onde nasceu em 19 de janeiro de 1922 e foi um dos maiores futebolistas do seu tempo.
Segundo o jornal “O Olhanense”, de 15 de outubro de 2015, “a sua história de vida, começa na Rua do Outeiro na cidade serrana, onde o pai era tintureiro de fazendas e a mãe tecedeira. Aos seis anos ficou órfão de pai e, a mãe, com quatro filhos para criar, conseguiu que António Feliciano entrasse na Casa Pia.
O futebol corria nas veias do pequeno António que tinha pelo jogo da bola um fascínio e uma paixão inusitadas.
Aos 17 anos, começa a jogar, já inscrito na Associação de Futebol de Lisboa, pelo Casa Pia Atlético Clube, que lhe pagava o elétrico para ir treinar mas, o garoto, ia a pé para ficar com os 24 tostões.
Começou como defesa esquerdo mas rapidamente se fixou a defesa central.
Por vezes, para ganhar vinte escudos, jogava pelo Hotel Borges, nos jogos entre os hotéis de Lisboa. Rapidamente atingiu a primeira categoria do Casa Pia e logo de seguida o Benfica interessou-se por ele. Porém, Alejandro Scopelli que o viu jogar, ficou deslumbrado e impediu-o de partir (obviamente do Belenenses).
Também o F. C. Porto se interessou pelo atleta e levou-o para a Cidade Invicta. Por lá ficou 15 dias, para, apertado pelas saudades, regressar a Lisboa, indo treinar às Salésias”.
“O negócio feito em 1940 foi facilitado, recebendo o Belenenses três contos de réis e Feliciano o ordenado de 300 escudos, ficando ainda empregado no Grémio dos Armazenistas de Mercearias. O seu primeiro treinador foi Artur José Pereira que verificando que Feliciano só chutava com o pé esquerdo o obrigava a treinar com o pé descalço”.
“Em 1949, tendo sido excluído da equipa pelo treinador Fernando Riera, ingressou no Marinhense como jogador-treinador passando depois pelo Beja, Chaves, Famalicão e Riopele.
Em 1965, convidado por Afonso Pinto de Magalhães, ingressou no F. C. Porto para treinar as camadas jovens. Das suas mãos saiu uma geração de ouro do futebol português, nomeadamente Fernando Gomes, João Pinto, Jaime Magalhães, Zé Beto, Rui Filipe, Domingos, Vitor Baía, entre outros. Foi internacional 14 vezes. Em 1946, num jogo contra a França, foi considerado o melhor médio-centro da Europa”.
Consultado o livro de Acácio Rosa – “História do Clube de Futebol “Os Belenenses” – 1919 a 1991 – Factos, Nomes e Números”, sob o título “As Três “Torres de Belém”, a páginas 491 a 493, se refere assim: “O Feliciano – um desportista e um dos defesas mais categorizados de sempre – era de uma honestidade a toda a prova, de um belenensismo e amor à equipa como dificilmente se pode, hoje, encontrar e, mesmo antes de partir para férias, mal acabava a temporada, era o primeiro a apresentar-se. Depois desse dever cumprido, partia para as praias. Nunca exigia um tostão, nunca pediu dinheiro nem punha condições. Era do Belenenses e o Belenenses era tudo para ele. Excelente rapaz e grande jogador. No entanto, Feliciano esteve em vias de deixar Belém. O Celta de Vigo, fazendo valer a cotação da peseta em relação ao escudo, meteu na cabeça de Feliciano muitas pesetas e muitas ideias. O Belenenses era “pobreza franciscana” em comparação com a riqueza do clube galego, que mandava falar em pesetas e em escudos com o maior à-vontade. Feliciano procurou Acácio Rosa e, lealmente, expôs-lhe o problema. Tinha, na sua frente, a perspetiva de casar-se e precisava ponderar na oportunidade que se lhe deparava, se o Belenense não visse nisso inconveniente.
O Belenenses não quis destruir a grande oportunidade de António Feliciano fazer um bom contrato. O Clube, embora o seu defesa estivesse, à época, no auge da sua forma e lhe fizesse muita falta, cedeu.
Acácio Rosa redigiu as condições a apresentar ao Celta de Vigo. Juntamente com a carta, contendo as condições a exigir aquele clube, Acácio Rosa disse a António Feliciano que pensasse no ambiente que, muito provavelmente, iria ter no seio dos jogadores espanhóis, que talvez o dinheiro não compensasse e, em contrapartida, fez-lhe notar a camaradagem que reinava em Belém, onde toda a gente o considerava não apenas como um ídolo mas como um amigo imprescindível, como um membro querido da vasta família “azul”. António Feliciano partiu e levou a carta, Não deu sinal de si durante alguns tempos. Apareceu depois e apenas disse a Acácio Rosa: “Farei o que o senhor e o Belenenses quiserem”. Logo nesse dia, Feliciano assinou a ficha pelo Belenenses e o clube encontrou uma plataforma para, dentro das suas possibilidades, corresponder ao gesto do seu jogador, gesto de um desportista íntegro. E Feliciano continuou no Belenenses por muitos mais anos. Serviu-o sempre com indómita vontade e com a categoria dos jogadores que ficam na história”.
 Também o livro “Federação Portuguesa de Futebol – Os Anos de Diamante - 1914 – 1989 – No 1.º Centenário do Futebol Português”, de Henrique Parreirão, se registam o nome, fotos e a participação, como internacional, do covilhanense António Feliciano, que viria a falecer em 14 de dezembro de 2010, aos 88 anos.


(In "O Combatente da Estrela", Nº. 101, dezembro 2015/março 2016)

QUEREMOS PROSSEGUIR

Mais um dezembro chegou ao tempo das nossas vidas.
Mais um Natal se aproxima para nos reunirmos no seio familiar.
Mais um fim de ano se vai adicionar a outros tantos que fizeram as estórias da nossa própria história de vida.
Este advérbio “mais” é de tantas tristes e ledas madrugadas; de tantos sonhos desfeitos ou alegrias incontidas; de tanta ira ou alguma tolerância; de tantos gestos irrefletidos ou de formas de conduta benfazejas; de espontaneidades em atos acertados ou embirrações indesejadas.
Ano de 2015 recheado de acontecimentos díspares quer de âmbito mundial quer no contexto nacional: políticos, religiosos, solidários, demográficos, climatéricos, culturais.
Sempre o mundo se encontrou em conflitos desde os tempos imemoriais. E, quando umas lutas se dissipavam, logo noutro local outras emergiam.
Também neste pedaço planetário mais ocidental da Europa, as guerras e lutas fratricidas não nos pouparam.
Disso já demos conta nos números anteriores d’O Combatente da Estrela; e, assim, comemorámos, de âmbito nacional ou local, efemérides como foram as respeitantes à 1.ª Grande Guerra, e as memórias das guerras em África, para onde foram conduzidos, durante mais de uma década, nos anos sessenta e setenta do século passado, a maioria dos que integram a grande família dos “Antigos Combatentes”.
Por via da grande revolução das redes sociais consegue-se hoje chegar a qualquer ponto do globo num ápice, e, daí, apercebermo-nos das grandes transformações por que está passando o Planeta Terra, mas também da enorme fábrica de maldade que grassa por todo o Mundo.
Os distribuidores das sementes do mal estão por todo o lado, em todos os Continentes, na Europa, e até no nosso País.
Se o terrorismo avança em alguns países, e já chegou à França, e não só, a passos largos, e não é travado porquanto alguns países o protege, por interesses duais, originando mortandade de inocentes e uma longa marcha de milhares de refugiados, o que fazer, afinal, para sucumbir as forças do mal? Esta reflexão terá que ser incutida em cada um de nós, como pessoas de bem.
Mas, para além do terrorismo, outra situação grave afetando todo o planeta onde vivemos se sobrepõe e tem que ser encarada com todo o sentido de muita responsabilidade individual. O clima está a ser fortemente afetado pelos efeitos de estufa e há que conter o aquecimento global. Ficamos com a  esperança nos resultados positivos verificados na Cimeira que decorreu até ao dia 11 de dezembro, em Paris, para uma tomada de posição para debelar, em parte, este gravíssimo problema.
Por cá, no âmbito da governação do País, após eleições, surgiu uma situação inovadora, mudando o paradigma de quem ganha sem maioria e de quem perde com possibilidade de formar governo. Há que olhar para esta nova realidade, com toda a serenidade.
Se fizermos uma retrospetiva dos principais acontecimentos que surgiram ao longo de 2015 em todo o Mundo, a grande percentagem é fortemente de situações muito negativas. Senão, vejamos: no dia 7 de janeiro, uma série de ataques terroristas fizeram 19 mortos e 17 feridos no jornal Charlie Hebdo, em Paris; no dia 29, atentados do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, ocasionaram 25 mortos e 34 feridos, no Sinai, contra forças do Egito, para, no último dia do mês divulgarem novo vídeo de decapitação de reféns. Em 4 de fevereiro, um avião da TransAsia Airways caiu minutos após a descolagem em Taiwan causando mais de 40 mortes; no dia 15, ataques terroristas numa sinagoga e num café fizeram dois mortos e dez feridos em Copenhaga, na Dinamarca; no dia 24 um avião da companhia Germanwings caiu com 150 pessoas a bordo nos Alpes franceses sem deixar sobreviventes. Nos dias 18 a 20 de março, ataques terroristas do Daesh, num museu da Tunísia e na capital do Iémen, provocaram centenas de mortes e de feridos. No dia 2 de abril, um atentado terrorista do grupo al-Shabaab, numa universidade do Quénia, matou 147 pessoas; e, no dia 25, ocorreu um sismo de 7,8 na escala de Richter, no Nepal, fazendo milhares de vítimas. No dia 18 de maio, Iraque e Síria perderam os derradeiros pontos de fronteira para o grupo terrorista do Daesh (o tal autoproclamado Estado Islâmico). No dia 26 de junho, atentado terrorista num hotel da Tunísia faz 38 mortos, entre eles uma portuguesa. No dia 8 de agosto, o tufão Soudelor causou mortos em Taiwan. Neste mês de agosto, a multiplicação de fogos em Portugal fez de 2015 um dos piores anos de sempre em termos de incêndios. No dia 3 de setembro, cinco crianças sírias que tentavam alcançar a Europa deram à costa da Turquia, criando as imagens das crianças mortas indignação nas redes sociais e aumentando o debate sobre a migração na UE. No dia 10 de outubro, um atentado terrorista na Turquia causou mais de 100 mortos e 400 feridos.
No dia 13 de Novembro, vários ataques terroristas coordenados instalaram o terror em Paris, em locais como a sala de espetáculos Bataclan e as imediações do Estádio de Paris, causando centenas de mortos, entre os quais alguns portugueses, e feridos graves. Os atentados foram reivindicados pelo Daesh. França encerrou as suas fronteiras. E, no dia 20, homens armados atacaram um hotel do Mali fazendo cerca de 170 reféns.
Mas também houve acontecimentos muito positivos, destacando, no dia 11 de abril, o encontro de Barack Obama com Raúl Castro, no Panamá, tendo em vista o fim do embargo dos Estados Unidos a Cuba. No dia 13 de julho a Grécia não saiu da zona Euro e foi acordado um terceiro pacote de ajuda económica ao país; no dia 23 foi a descoberta do exoplaneta Kepler-452b, a 1400 anos luz da Terra. No dia 28 de setembro, a Nasa anunciou ter encontrado água em Marte; assim como, no dia 8 de outubro, a Nasa anunciou ter encontrado água congelada em Plutão.
No que ao nosso País diz respeito, vários acontecimentos aconteceram ao longo de 2015, uns com mais impacto que outros, nomeadamente sob o ponto de vista das eleições que foram realizadas, mas prefiro tão só destacar o aspeto desportivo, a saber: no dia 12 de janeiro, Cristiano Ronaldo ganhou a sua terceira bota de ouro, de melhor jogador de futebol do mundo em 2014; no dia 21 de maio, o Rally de Portugal regressou ao norte do país; no dia 25 de junho, Telma Monteiro vence a medalha de ouro do judo nos Jogos Europeus de Baku; e no dia 27 de agosto, Nelson Évora vence a medalha de bronze dos Mundiais de Atletismo de Pequim.
E, no que concerne ao Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, ao longo do ano que agora se presta a findar, para além do dinamismo e entusiasmo que já é peculiar no seio desta Instituição, também houve tristes e ledas madrugadas, pois é sempre com tristeza que se mencionam os nomes e fotos dos antigos camaradas, que já partiram, na página da necrologia, alguns duma forma insólita como foram os casos dos amigos Albino da Costa e José Gregório Menina. Que Deus os tenha em paz.
Na outra parte, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes esteve sempre ativo, entre a cultura, o recreio e a ação social, a saber:
- 26 de fevereiro – Realizou-se o já habitual passeio a Porto da Raiva para degustar as saborosas lampreias.
- Em março – No 89º aniversário do Núcleo foi feita a trasladação dos restos mortais dos Combatentes mortos em combate, do Cemitério da Covilhã para a Cripta do Talhão dos Combatentes, com grande dignidade, estando presente uma força militar; seguindo-se uma missa de sufrágio na Igreja da Santíssima Trindade, e depois o almoço do aniversário.
- Dia 5 de março, realizou-se uma palestra, na Biblioteca Municipal da Covilhã, sobre Stress Pós Traumático da Guerra, pela psicóloga clínica e da saúde, Dra Martina Lopes, então coordenadora do CAMPS da Beira Interior.
- Dia 9 de abril foi o Dia do Combatentes, com uma homenagem junto ao Monumento dos Combatentes, ao Jardim.
- Dia 18 de abril – Uma interessante visita a Buda Eden, Óbidos e um passeio pelo Tejo.
- Dia 24 de maio – IX Peregrinação a Fátima.
- Dia 27 de maio – Visita de trabalho ao Núcleo da Covilhã, do Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, tendo sido abordados vários assuntos, entre os quais os relacionados com o funcionamento do Centro de Apoio Médico Psicológico e Social da Beira Interior (CAMPS), tendo ainda, desta reunião, sido assumido o compromisso para que a Peregrinação a Fátima passe a ser anual, como, aliás, já era, mas de âmbito nacional.
- De 10 a 26 de julho – Participação na Feira de São Tiago, com um stand.
- Dia 20 de agosto – Para além das tertúlias mensais, ainda que independentes do Núcleo da Liga dos Combatentes, mas partindo do seio do mesmo, por parte de alguns antigos Combatentes, como já foi esclarecido no número anterior, celebrou-se este evento com cariz especial – foi o 50º Encontro de Combatentes da Covilhã.
- Dia 19 de setembro – Viagem ao Douro.
- Dia 27 de setembro – Sardinhada na Senhora do Carmo – Teixoso.
- Dia 28 de setembro – Participação na Feira de S. Miguel, no Tortosendo, com um stand.
- Dia 3 de outubro – Organização da XIX Feira de Trocas e Colecionismo da Covilhã, no Sporting Shopping Centro de Ativ’Idades.
- De 16 a 25 de outubro – Exposição “O Centésimo”, na Galeria do Serra Shopping, sobre as 100 publicações de “O Combatente da Estrela”.
- 21 de outubro – Colóquio na Biblioteca Municipal, sob o tema “Pequenos Jornais no Associativismo”.
- 1 de novembro – Romagem aos Talhões dos Combatentes da Covilhã e Fundão.
- 21 e 22 de novembro – Viagem a Malafaia.
Resta-nos desejar aos prezados leitores e a todos quantos constituem esta grande Instituição que é o Núcleo da Liga dos Combatentes da Covilhã, e suas famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano de 2016.


(In "O Combatente da Estrela", N.º 101, dezembro 2015/março 2016)

9 de dezembro de 2015

O (DESA)APROVEITAMENTO DE ESPAÇOS DE LAZER

A cidade covilhanense está imbuída do espírito coletivo, no seio das suas agremiações, localizadas nas várias zonas citadinas, e seus termos, da grande aspiração para o melhor que possam oferecer aos seus associados, consequentemente também a suas famílias, para os momentos de lazer, que cada vez são mais, face ao envelhecimento da população.
Ou não fosse a Covilhã a detentora do maior número de agentes culturais e de recreação do distrito, atingindo perto de duzentas coletividades e associações.
Se bem que ao longo dos tempos algumas, que tiveram grandes pergaminhos na cultura e desporto da cidade, sucumbiram para não mais se levantarem, outras ressurgiram das cinzas e por aí vão andando, no empenho dos seus dirigentes.
Ora, houve uma via associativa no empenhamento municipal, dando a possibilidade de melhoramentos nas suas sedes, que, nalguns casos deram passos maiores que as suas pernas e hoje veem-se confrontados com elevadíssimos compromissos financeiros; outras, se a razão da sua atual existência é a quase exclusividade de um bar, não têm razão de existir.
Mas na dinâmica de outros dirigentes, conseguiram na exemplaridade do que é o fazer e o saber fazer, erguer baluartes no âmago da solidariedade, que extravasa a ação profícua para com os seus associados.
Mas já não é admissível ver alguns espaços há muito tempo desaproveitados, como as fotos documentam, retirando a possibilidade de cumprirem a missão para que foram criados, sem jamais terem sido utilizados.
Efetivamente, os dois campos de ténis que foram o sonho do Académico dos Penedos Altos, construídos há uma dúzia de anos, encontram-se quase num lameiro, encerrados, impossibilitando, já que para courts de ténis não pode assim funcionar, que as crianças que por ali andam de bicicleta não tenham a oportunidade de ali se divertirem com segurança. Este desagrado já foi sentido em tempos, ainda na liderança camarária do anterior autarca, devido ao facto de no Bairro dos Penedos Altos não existirem espaços infantis para as crianças poderem andar de bicicleta e praticarem outro tipo de atividades lúdicas.
Senhores autarcas, em colaboração com os dirigentes associativos, venham in loco e deem aproveitamento a estes espaços inativos pois as crianças, o melhor do mundo, não se compadecem com a passividade existencial.


(In "fórum Covilhã", de 09-12-2015)

DO CLIMA AMBIENTAL, DE MEDO E POLÍTICO, AOS CHOCALHOS

Dezembro, último mês da primeira década e meia do terceiro milénio da era de Cristo, nesta Idade Contemporânea. Saímos do equinócio do outono para nos prepararmos para a entrada no solstício de inverno.
O Planeta Terra, nestes primeiros anos do século XXI, e terceiro milénio, teve, na distribuição pelos seus Continentes, vários eventos, geralmente substantivados de “guerra” ou “crise”.
Começou na América e na Ásia, com os ataques às duas torres do Worl Trade Center, em Nova Iorque, e ao Pentágono, em Washington, numa fatídica 3.ª feira de 11 de setembro de 2001, provocando a morte de mais de três mil pessoas, depois dos terroristas terem desviado quatro avões comerciais.
No mesmo ano foi a Guerra do Afeganistão, e, logo a seguir, em 2003, a Guerra do Iraque, no Continente asiático.
No salto para o ano 2011, resultaria numa esperança para a África, com o início da “Primavera Árabe” que, mais tarde e paradoxalmente, se transformaria num “Inverno/Inferno Árabe”. Mas, no ano anterior (2010), surgiria a Crise da dívida pública”, na Europa.
Neste espaço temporal emergiram alguns estados soberanos: Timor Leste, em 2002, com o fim da ocupação da Indonésia; Sérvia e Montenegro (de 2003 a 2006), como último vestígio da Jugoslávia; depois, a Sérvia, em 2006, cisão da Sérvia e Montenegro; como igualmente, no mesmo ano, Montenegro, com a mesma cisão. Por último, em 2011, o Sudão do Sul, independência com a divisão do Sudão.
E, no meio de tudo isto, a nossa essência traduz-se em dois polos antagónicos: a dor e a alegria. É falsa a vida sem dor, como é falsa a vida sem alegria. Esta última depressa desaparece, qual penumbra, enquanto o sofrimento parece que não mais vai terminar.
E é assim que os justos, honestos e pacíficos se vêm confrontados com extremistas fanáticos, como é o caso do Daesh, em vez de autoproclamado Estado Islâmico, já que de Estado nada tem, uma vez que é uma organização que existe essencialmente para nos destruir; e representação islâmica também o não é. Daí, a grande avalanche de refugiados, qual êxodo para os países da Europa, fugindo à morte, como já acontecia com os terroristas do Boko Haram.
Só que, não obstante estas terríveis maldades humanas, homens e mulheres inebriados pelas carnificinas, surgem, de há muito, agora numa ação veloz, outros medos, fora da ação direta dos humanos, mas responsáveis indiretos pela mudança climática do Planeta, devido à grande envolvência industrial.
De cimeira em cimeira, chegou-se, neste mês de dezembro, até Paris, na tentativa de um acordo, no sentido de conter o aquecimento global. Esta conferência é conhecida como “COP21” por ser a vigésima primeira desde que foi aprovada a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, em 1992. Durante duas semanas quase duzentos países tentarão aprovar um novo tratado. Vão-se esperar dificuldades mas ou agora ou nunca, como sói dizer-se, desde a aprovação do Protocolo de Quioto, em 1997. O objetivo do acordo é estabelecer-se o que compete a cada país para evitar que a temperatura da Terra suba mais de dois graus centígrados até ao fim deste século. Efetivamente, “os dois graus de temperatura são o limite definido por políticos e cientistas a partir do qual as mudanças na Terra vão ser mais radicais e terão um impacto maior no clima”.
Desde 2007 que se vem tentando um novo acordo com o comprometimento de todos os países, quer sejam pobres ou ricos. Só que, em 2009, surgiu um fracasso em Copenhaga na conferência aqui realizada, que se pretendia decisiva.
Surgem assim duas grandes lutas: a luta contra as alterações climáticas e a luta contra o terrorismo, sendo os dois principais desafios do século XXI.
As grandes preocupações agora, entre o combate aos terroristas e o combate pelo ataque às alterações climáticas, reveste-se de maior sentido de agir no imediato sobre os efeitos de estufa, pelo que, na ordem de preocupações, é a situação climática do Globo, deitando para trás das costas o medo, principalmente depois dos atentados em Paris. A ameaça das alterações climáticas é mais grave.
A gravidade deste problema planetário já afetou o lago Chade, na África Central, que fornece água a mais de 68 milhões de pessoas de quatro países que o rodeiam, com “a perda de 90% da sua superfície inicial”. Também o Presidente do Kiribati “anunciou que as ilhas Fiji já se comprometeram a aceitar os seus habitantes, quando a subida do nível do mar tornar impossível a vida naquele arquipélago”.
Isto é, portanto, um caso muito sério, pelo que esperemos que a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP21), que decorre em Paris até 11 de dezembro, tenha um grande êxito no que ali se vier a decidir. E, assim, o clima político de todas as nações se volte no sentido único de debelar as grandes preocupações climáticas que a todos afeta.
Já há uns meses atrás que o Papa Francisco se debruçou, empenhadamente, sobre este problema gravíssimo, através da encíclica “Laudato si. Sobre a proteção da casa comum”. Uma encíclica inteiramente dedicada ao ambiente é uma novidade. O Papa advertiu: “Nosso lar comum está contaminado, não para de deteriorar-se. Precisamos do compromisso de todos. Devemos proteger o homem da sua própria destruição”.
E enquanto se debate o clima ambiental, em Paris, o clima alentejano sorri com a segunda distinção de Património Cultural Imaterial em apenas um ano. Em 27 de novembro de 2014 foi o cante alentejano a ser distinguido com este selo da UNESCO. O fabrico de chocalhos foi considerado no dia 1 de dezembro de 2015, pela UNESCO, Património Cultural Imaterial da Humanidade com Necessidade de Salvaguarda Urgente, na capital da Namíbia.
Antes do findar deste ano, queremos brindar ao “fórum Covilhã” por mais um ano de vida – o quarto – formulando os melhores votos para que continue com pujança, como o tem feito, com todos os seus obreiros, a servir a causa do jornalismo, ao serviço do bem comum, dos covilhanenses, e região beirã.

Para todo o mundo que envolve este semanário, incluindo os prezados leitores, votos de um Feliz e Santo Natal.

(In "fórum Covilhã", de 09-12-2015)