“Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam
barreiras, outras constroem moinhos de ventos” (Érico Veríssimo).
Neste ano que se aproxima do seu final, muitos acontecimentos
ilustraram a contagem dos seus dias.
Entre a moderação e a agressividade dos tempos que vão
passando no nosso caminhar quotidiano, nas várias vertentes da vida de cada um,
talvez a reflexão, ou falta dela, fosse a palavra mais sublinhada.
O facto é que sonhadas certezas se transformaram na ambiguidade
de momentos vividos, para uns; e na indiferença para os tempos que não correm
de feição, para outros.
Vejamos, por exemplo, nesta última parte, o que de âmbito da
vida política deste nosso Portugal, de quase nove séculos, se tem passado com a
crescente taxa de abstenção nos atos eleitorais, atingindo neste 2015, a
percentagem de 43,07.
Todos nós, como cidadãos portugueses, não podemos deixar de
lançar o grito do Ipiranga nesta altura em que, volvidos 41 anos após a
Revolução de Abril, nos podemos considerar falseados com todos quantos, ao leme
das várias governações, não souberam encontrar formas de tornar a nossa Nação
num país rico como tinha obrigação de o ser.
Eslováquia, República Checa, Polónia, entre outros, são
países que tendo aderido à União Europeia mais tarde que nós já nos
ultrapassaram no seu consistente crescimento.
E somos o único da Europa que em menos de 40 anos levámos,
por três vezes, o país à beira da catástrofe.
O desenvolvimento não se compadece com a passividade dos
portugueses, ao longo dos tempos, e o atraso continua a prevalecer em relação a
outros países da mesma família da União Europeia, e não só.
Já não dependemos somente de nós, mas também dos nossos
parceiros. É como num campeonato de futebol em que, para não descer de divisão,
já temos que depender do resultado de outros. Os nossos já não são suficientes.
Nesta estagnação económica os portugueses são levados a
olharem para outros mercados e a emigrarem, forçados pela inexistência de
alternativas em Portugal.
O empobrecimento é generalizado e cai sobre todos nós. Por
isso, a produtividade da economia tem que ser aumentada, sem rodeios.
Escrever este último parágrafo foi fácil. Difícil é saber
quem, dos nossos governantes, ao longo destas mais de quatro décadas de democracia,
foi capaz de incutir em nós esta forma de atuar, em prol do nosso desenvolvimento.
E, quem, dos atuais, nestes ventos de mudança, vai descamisar-se para deixar
correr o suor duma verdadeira, e não ambígua, ação de transformar o país no
Portugal de todos e para todos, substituindo o pão que o diabo amassou pelo caldo
quente que todos merecemos.
Enquanto houver forças partidárias retrógradas, presidentes
da República pouco interventivos e parciais, ou ministros em meandros da
corrupção, ainda que encapotada, ou na promiscuidade, este país continuará a
marcar passo ou a ver a banda passar.
Pensamos que, neste final do ano 2015, e para um novo ano, é
altura de, com muito respeito, mas com muita convicção, dizer um valente:
basta!
O medo de mudar. “Podemos facilmente perdoar uma criança que
tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.
(Platão). Sim, entendendo esta luz como capacidade de ser brilhante diante das
adversidades que nos são colocadas pela vida e conseguirmos produzir as
necessárias mudanças.
O descrédito que subsiste, nos governantes, de não serem capazes
de se sacrificar, eles próprios e os seus apaniguados, na tentação do poder,
pelas genuínas causas do povo português, interpretado este como todos os integrantes
deste Portugal à beira-mar plantado, mas também com olhos postos no interior e
periferias, são o tal fator negativo que leva à abstenção eleitoral, conforme
foi referido.
Há que, de uma vez por todas, cada um de nós, estar atento e
vigilante, mas também consciente de que, independentemente de diferenças
partidárias, há que deixar resolver os problemas do país, que são os nossos
próprios problemas. Que jamais se voltem a ver situações de oportunismo, e que
se façam as correções devidas na eliminação dos “jobs for the boys”.
Quando é que, num concurso público, se pode ter a certeza,
que há seriedade na admissão de um concorrente?
E não é preciso ir muito longe, o séquito de “boys e girls” permanecem por essas
autarquias do país fora, e no nosso meio, o que é duma atitude confrangedora.
Paradoxalmente ao que atrás escrevemos, ainda temos
esperança que haja um virar de página nas condutas políticas, para que ainda
possamos apanhar a carruagem do desenvolvimento, e, assim, deixarmos de perder
o comboio por chegarmos sempre atrasados.
Votos de Boas Festas e um Feliz Ano 2016!
(In "Notícias da Covilhã", de 24-12-2015)
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