Vão desaparecendo figuras
carismáticas da vida artística portuguesa. O humor também faz parte do lenitivo
de que tanto necessitamos nas nossas vidas; cujo pendor não chega aos taciturnos,
que também os há. Aqueles que veem sempre o mundo todo do avesso. E que nada
contribuem para o melhorar. Mas também há outros macambúzios que não aceitam
críticas no vermelhão das suas vergonhas, arremessando as suas culpas para o
abstrato, em ferroadas inventivas por falta de inércia a vários níveis. Que nem
o momento eufórico do futebol nacional, a nível da Seleção de todos nós, os
envolvem patrioticamente.
Mas, como diziam os que
entretanto já partiram, Camilo de Oliveira (a semana passada, com 91 anos) e
Ivone Silva, na canção “Ai Agostinho, Aí Agostinha”; do programa de humor “Sabadabadu”, que surgiu na RTP1 em 1981;
de facto “Este país perdeu o tino. A
armar ao fino, a armar ao fino. Este país é um colosso; está tudo grosso, está
tudo grosso. Isto é que vai uma crise, isto é que vai uma crise!”.
Sentido de humor bastante atual,
com os nossos governantes no palanque a tentarem rumar contra a União Europeia,
esta na sua dualidade de injustiça e teimosia, pela pretensão de que sejam
aplicadas sanções a Portugal, pelo défice excessivo em 0,2%. Já António Costa
havia criticado a troika que impôs
quatro anos de austeridade recordando que as instituições europeias não
pouparam aplausos ao anterior executivo português, elogiado pelo FMI, Banco
Central Europeu e Comissão Europeia, por ter sido um “bom aluno” e ter
executado bem o programa de ajustamento.
E o primeiro-ministro e líder
socialista não aceita que os elogios tenham ficado para o anterior Governo,
que, “apesar de ter sido um aluno excecional, excedeu em 0,2% (360 milhões de
euros) os limites do défice, nem que as instituições europeias, que co
executaram o programa de ajustamento, queiram agora aplicar sanções a
Portugal”. “Mas qual é a moralidade de quem andou a apoiar esse Governo para
agora querer aplicar sanções?” Apontou os muitos sacrifícios que foram exigidos
aos portugueses.
E a decisão das sanções que forem
tomadas pela UE continuam a ser adiadas, à hora que escrevo esta crónica. Bruxelas
hesita em sancionar, ou como encontrar uma sanção, tendo em conta que os Portugueses
já não querem ser os Calimeros da Europa. A situação indefinida dos espanhóis
também nos pode afetar, embora os problemas sejam deles. E é que agora, nesta
talvez impensada fragilidade da UE (a fragmentação pelo menos já foi iniciada
pelo Reino Unido), Bruxelas deve agir no sentido de que “cautelas e caldos de
galinha nunca fizeram mal a ninguém”. Por isso, ansiosamente os governantes
portugueses aguardam “serenamente” as decisões, como diz António Costa.
Sabemos que na Europa, os
comissários, os ministros das Finanças, os líderes políticos e das instituições
dividem-se entre os ortodoxos que defendem as penalizações, como inevitáveis; e
aqueles que defendem uma maior flexibilidade das regras orçamentais europeias a
fim de evitar as sanções. A decisão que for tomada sobre o futuro de Portugal e
Espanha terá que nesse compromisso refletir sensibilidades diferentes,
agradando a gregos e a troianos.
E querer impor sanções a Portugal
e Espanha e não à França, porque “a França é a França”, como referiu
Jean-Claude-Juncker, é o exemplo do que é a Europa de hoje, indiferente ao voto
nacional, comportando-se de forma diferente conforme o tamanho dos países.
Pela parte que nos toca, foi com
enorme alegria que vimos, e sentimos, uma “saudável sanção portuguesa” imposta à
França, no domingo, 10 de julho, sagrando-se Portugal, pela primeira vez na
história, Campeão Europeu de Futebol!
O Presidente da República
destacou a unidade contra as sanções mas os partidos da direita criticam o
Governo. Passos Coelho disse que o Governo atirou credibilidade do país “pela
janela fora”. E o maior partido da oposição passa culpas de eventuais sanções
para o PS. É inacreditável que numa altura em que aplicação de medidas
corretivas a Portugal está ao rubro, o PSD venha dizer que, se estivesse no
Governo, a história era outra. Mas qual história? A da continuidade do grassar
da pobreza? E a antiga ministra das Finanças, Maria Luis Albuquerque, a referir
que “Se eu fosse ministra, as sanções não se colocavam”.
Mas que isto de ministro de Finanças
também se verificou a leviandade do alemão Wolfgang Schäuble, perdendo mais uma
oportunidade de estar calado, pois que numa altura em que os mercados estão nervosos
com as ondas de choque do “Brexit”, falou na possibilidade de Portugal ser alvo
de um novo resgate, neste anúncio falso e incendiário. Depois, vendo o erro que
cometeu, veio corrigir o que anteriormente tinha dito: “Os portugueses não o
querem e não vão precisar dele (segundo resgate) se cumprirem as regras
europeias”. Onde está a credibilidade deste senhor? E, como de humor já falei
atrás, penso que não foi por causa destas palavras de Schäuble que os alemães
perderam com a França, nas meias-finais do Campeonato Europeu de Futebol…
Este senhor todo-poderoso alemão
faz recordar uma história bíblica – Sansão que liderou durante vinte anos,
Israel, no tempo do domínio dos filisteus. Quando Sansão foi a Gaza, Dalila
disse a Sansão: “Você me fez de boba; mentiu para mim! Agora conte-me, por
favor, como você pode ser amarrado?”. Dalila receberia mil e cem moedas de
prata se conseguisse saber donde provinha a força de Sansão.
Ora, será que a “Dadila”
portuguesa, ex-ministra das Finanças, paga a peso de ouro e não de prata, pela
Arrow, conseguiria saber o segredo da força do “Sansão” Schäuble, ainda que
fosse pela quarta vez, que era cortar o cabelo do guerreiro para o enfraquecer?
É que as famosas possíveis sanções a Portugal dizem respeito a três anos (2013
a 2015). Neste período Maria Luís Albuquerque foi ministra das Finanças. E por
três vezes falhou as metas do défice. E, assim, no quarto ano, faz campanha
contra o atual ministro das Finanças.
Aquele Sansão tinha força, mas
estas sanções são uma farsa.
(In "fórum Covilhã", de 12-07-2016)
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