Chegámos ao verão ansiosamente
esperado depois da inexistente primavera ter sido, neste ano da graça de dois
mil e dezasseis, um indevido continuar do inverno, quase… Esperemos que tenha
sido tão só um virar de página.
Assim, conforme anunciámos no
anterior número d’O Combatente da Estrela,
e como o atesta a reportagem inserta neste, as Comemorações dos noventa anos do
Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes revestiram-se de grande brilhantismo.
Mais de duas centenas de pessoas participaram nos diversos atos das
Comemorações que se concluíram com o almoço-convívio no Hotel das Penhas da
Saúde.
Na sua grande maioria éramos
conhecidos, amigos ou antigos companheiros de jornada, quer nos tempos saudosos
da escolaridade, das várias atividades profissionais, muitos na indústria laneira,
não só na Covilhã, quer por este país fora, e até além-fronteiras; e, como não
podia deixar de ser, dos difíceis tempos da obrigatoriedade do serviço militar,
em tempo de guerra nas Colónias, designadas na altura de Ultramar.
Diz-se que o tempo cura as
feridas, mas a profundidade com que foram sulcadas em muitos casos, jamais
desaparecem das mentes de cada um dos envolvidos nesses meandros da
incompreensão por que foram tantos jovens lançados às feras. Alguns textos aqui
reproduzidos pelos vários Colaboradores são disso testemunho real.
A juventude de hoje, que não se
vê envolvida no serviço militar obrigatório, em tempo de paz (não fazia mal
nenhum, nesta situação, antes pelo contrário) jamais se aperceberá do que foi a
sua antecessora dos anos sessenta e setenta do século passado, ao ser retirada
do seio da sua família, para ser enviada para as terras africanas, e não só, na
incerteza do seu regresso, volvidos muitos meses, após terminarem os seus
tempos de serviço, e poder ainda ser com vida.
Alguns familiares não aguentaram
o choque inicial da partida dos seus filhos, como podem verificar no texto, em
parte comovente, inserido neste número, na rubrica “Conte-nos a sua história”.
Mas agora, entre a diversidade de
casos; uns que regressaram sem problemas de maior, ao invés, outros com
deficiências na sua carne, incuráveis, mais ou menos acentuadas; um denominador
comum a quase todos abrange com os problemas traumáticos gerados. Que nunca
desaparecem. Para isso a Direção Central da Liga dos Combatentes disponibilizou
aos Núcleos o acesso a consultas com psicólogas, aos antigos Combatentes e suas
famílias, assim como outros apoios.
Para além dos sofredores no
terreno militar, daqueles ex-territórios longínquos, ficaram outros (as)
sofredores (as), na Terra-Mãe, que também, em muitíssimos casos, ainda estão a
suportar na vivência em comum, as doenças das mentes, muitas vezes sem se terem
muito bem apercebido da mudança de comportamentos que afetou o agregado
familiar.
Será pois nesta compreensão; que
é também uma união, uma força, um sentir, e também uma revolta, por que existe
esta instituição, abarcando todas as classes sociais, que se irmanam neste
grande elo de ligação – a força do dever cumprido – e, agora na tranquilidade
do não perigo iminente; que podem encontrar aquele lenitivo, para a recordação das
memórias dos tempos de medo, mas, também, no meio daqueles tempos conturbados,
o que os seus olhos viram de deslumbramento geográfico, que só a incompreensão
dos senhores da guerra, e dos que para ela nos atiraram, mancharam a paisagem
com tinta de sangue.
Efetivamente, a história desses
famigerados tempos de 1961 a 1974 vieram lançar um enorme e injusto castigo à
juventude de então, mas “não houve tempo” de punir justamente os causadores de
tanta maldade.
Poderia esta Instituição, que
aliás foi criada com base nos Combatentes da Grande Guerra, e depois
continuadora com os Combatentes do Ultramar, ser uma como tantas Instituições
ou Coletividades que grassam por este Concelho, para já não falar do país, que
não passam se não para manter em atividade um simples bar, ou, como agora está
em voga, aproveitar um leque de viagens, que também despertam o espírito, e
fazer alguns eventos normais ao longo do ano para preencher o espaço duma
gerência.
Poderia também ser uma dessas
muitas Instituições ou Coletividades em que o aspeto cultural é o de somenos
importância, que isso é matéria enfadonha. Para saber as novidades, na mesa de
leitura podem lá encontrar os jornais desportivos.
Felizmente que neste Núcleo da
Liga dos Combatentes da Covilhã, os meses são preenchidos com várias atividades
de vários âmbitos, onde a Cultura tem um papel de primordial importância.
É, pois, também uma Casa de
Cultura.
Daí que as equipas diretivas
encontram-se verdadeiramente empenhadas no prosseguimento desses objetivos que
têm traçado.
Dá gosto assim trabalhar, porque
todos os dias são convívios, cada qual ao seu gosto, cada qual à sua maneira,
cada qual num fazedor de novos amigos!
É por isso, como sempre tenho
dito, que a amizade é uma festa.
Neste contexto, a Direção do
Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, para além de ter prestado tributo a
todos os antigos e atuais dirigentes, em ato simbólico de reunião num
almoço-convívio, também se propôs recordá-los através duma brochura, ainda em
preparação, para que as memórias de todos quantos passaram pelo dirigismo desta
Instituição se perpetuem. Fazendo assim jus à memória de todos quantos
ombrearam nas várias tarefas para manter de pé, e neste fervor, uma Instituição
que é merecedora do respeito não só do Concelho e Cidade onde se encontra
inserida, mas também do país.
O relato que vamos dando conta
dos vários eventos, ao longo dos anos que se vão seguindo, assim o atesta.
Este espaço da escrita está cada
vez a ficar-me mais reduzido, mas não posso terminar sem referir aqui um Amigo pessoal
que precocemente nos deixou, o Dr. Rui Nunes Proença Delgado, que foi um dos
fundadores d’O Combatente da Estrela. Um
grande historiador sobre a Covilhã, onde deixou excelentes obras sobre a sua
história, as quais tive o privilégio de lhas adquirir, todas autografadas. Aliás,
eu era sempre um alvo por ele indicado para estar presente na apresentação das
mesmas. E conversámos várias vezes sobre os livros e as crónicas.
(In "O Combatente da Estrela", de julho a setembro de 2016)
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