“Qual a razão de Nossa Senhora
da Conceição ser a padroeira da Covilhã, ou seja, qual a justificação
histórica, religiosa, cultural ou outra que levou a essa atribuição específica
à nossa cidade?” É uma pergunta que me foi colocada por um covilhanense,
radicado em Lisboa.
Não é fácil encontrar essa razão,
duma forma particular para a Covilhã, porque as fontes consultadas são escassas
e não conduzem a uma clareza, mas antes a uma suposição, sendo que também era
nosso desiderato conhecer verdadeiramente a sua génese, assim como a da Paróquia
da Conceição, considerada padroeira Nossa Senhora da Conceição mas cujo patrono
é S. Francisco de Assis, e, por isso, a Igreja é mais conhecida por Igreja de
S. Francisco.
Várias têm sido as festas e peregrinações de
Nossa Senhora (sem especificar o título, mas mais referenciadas com o de
Fátima), que passaram pela Covilhã, com pompa e circunstância, nas décadas de
40, 50 e 60 do século passado, a que já fiz referência em artigos publicados no
Notícias da Covilhã, em 2004, 2008 e
2012, relacionados mais com o Monumento a Nossa Senhora da Conceição. Já no
atual século surgiram duas peregrinações de Nossa Senhora no Arciprestado da
Covilhã: 4 de janeiro a 1 de fevereiro e 2009; e no dia 9 de outubro de 2015.
A devoção a Nossa Senhora é
uma história secular e glorificante que arrancou logo nos primórdios da
Nacionalidade. Sedimentou-se e alargou sobretudo com a Restauração no século
XVII. A maior parte das catedrais, como a da diocese da Guarda, criada em 1203,
e grande número de igrejas paroquias, tomaram a Virgem Maria para padroeira das
suas catedrais. Já o Conde D. Henrique e D. Teresa, a 12 de abril de 1120,
doaram o couto de Braga “à Virgem Maria, em cuja honra estava fundada, na
cidade de Braga, a igreja metropolitana”. D. Afonso Henriques, ao tomar as
rédeas do governo, elegeria Santa Maria de Braga para padroeira e rainha de
Portugal nascente. D. João I que tinha grande devoção à Virgem Maria,
particularmente à sua Assunção, cuja vigília coincidia com a da grande vitória de
Aljubarrota, fez a promessa, que cumpriu, quando da batalha de Aljubarrota, de
ir a “pé a Santa Maria da Oliveira, que era na vila de Guimarães”.
Todas as catedrais portuguesas foram dedicadas, em 1394, ao mistério da Assunção, por bula de Bonifácio IX. Este ambiente assuncionista levou os fiéis a tomarem a Senhora da Assunção como sua protetora e padroeira de Portugal. O Santo Condestável Nuno Álvares Pereira, como grande devoto da Virgem, ia haurir forças para os combates diante da sua imagem, andando a peregrinar de igreja em igreja, às vezes a “pé e descalço em romaria a Santa Maria”. Conquistada Ceuta, a 21 de agosto de 1415, o Infante D. Henrique enviou uma imagem de Santa Maria, mandando-lhe pôr o nome de Santa Maria de África. Assim como mandou levantar no Restelo, na margem direita do Tejo, um templo a Santa Maria de Belém. Antes de embarcarem para a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, Vasco da Gama e outros capitães passaram em vigília, nesta capela do Restelo, a noite de 7 para 8 de julho de 1497.
Todas as catedrais portuguesas foram dedicadas, em 1394, ao mistério da Assunção, por bula de Bonifácio IX. Este ambiente assuncionista levou os fiéis a tomarem a Senhora da Assunção como sua protetora e padroeira de Portugal. O Santo Condestável Nuno Álvares Pereira, como grande devoto da Virgem, ia haurir forças para os combates diante da sua imagem, andando a peregrinar de igreja em igreja, às vezes a “pé e descalço em romaria a Santa Maria”. Conquistada Ceuta, a 21 de agosto de 1415, o Infante D. Henrique enviou uma imagem de Santa Maria, mandando-lhe pôr o nome de Santa Maria de África. Assim como mandou levantar no Restelo, na margem direita do Tejo, um templo a Santa Maria de Belém. Antes de embarcarem para a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, Vasco da Gama e outros capitães passaram em vigília, nesta capela do Restelo, a noite de 7 para 8 de julho de 1497.
Encontrando na Virgem uma
proteção sempre pronta, os portugueses foram levados a considerá-la como
padroeira da Nação. Este padroado, embora não se conheça proclamação oficial
anterior à de D. João IV em 1646, já era reconhecido desde o século XIV, pelo
menos, como o demonstram vários documentos.
Mas porque também à Covilhã
diz respeito, a Virgem Maria foi ainda chamada Santa Maria de Agosto, em vez de
Assunção, como o fizera D. Afonso III, ao fixar, em 1260, a feira da Covilhã.
O século XIX foi também um século marcadamente mariano, e o patrocínio de Maria, nas horas amargas da descristianização de muitos, e desânimo de tantos, aparecia como uma tábua de auxílio e salvação.
O século XIX foi também um século marcadamente mariano, e o patrocínio de Maria, nas horas amargas da descristianização de muitos, e desânimo de tantos, aparecia como uma tábua de auxílio e salvação.
Mas se Portugal tinha já uma
especial e oficial devoção e crença na Imaculada Conceição (provisão do rei D.
João IV, de 25/3/1646), elas ampliaram-se com a definição desse dogma
(8/12/1854).
Quanto à Covilhã, enquanto que
em 13 de maio de 1946 era coroada a imagem de Nossa Senhora de Fátima, da
Capelinha das Aparições (coroa oferecida pelas mulheres portuguesas); em 13 de
maio do ano seguinte, o pároco de S. Pedro da Covilhã, padre José Domingues
Carreto, impulsionava com grande entusiasmo a coroação da imagem de Nossa
Senhora de Fátima da freguesia de São Pedro, com a coroa em ouro, objeto de
oferta voluntária de senhoras daquela freguesia, cujas cerimónias, com grande
brilhantismo, tiveram lugar no Pelourinho.
Mas já antes, no dia 10 de
outubro de 1904, era inaugurado na Covilhã o monumento a Nossa Senhora da Conceição
(imagem que, tendo sido mandada construir em França, veio vestida de Nossa
Senhora de Lourdes, por lapso dos franceses), fruto duma comissão de pessoas
gradas da Covilhã que resolveu consagrar a Cidade a Nossa Senhora, nas
comemorações das bodas de ouro da proclamação dogmática da Imaculada Conceição
de Maria. Dessa comissão faziam parte, entre outros, os padres João Rodrigues
Mouta, Gregório Lopes Arroz, José Costa Tavares e Oliveira Pinto. Para além da
Câmara Municipal da Covilhã também integrou a comissão o 1.º Conde da Covilhã,
Cândido Calheiros; o Dr. João Ferraz de Carvalho Megre e Gregório Baltazar.
Não conseguimos encontrar
qualquer referência concreta à origem de Padroeira da Covilhã. No entanto, na
parte final da ata n.º 19 da Reunião Ordinária da Câmara Municipal da Covilhã,
de 12 de maio de 1943, o Vereador Dr. António Pereira Espiga Júnior “falou
acerca do grande êxito espiritual que foi a Solene Consagração do Concelho da
Covilhã a Nossa Senhora da Conceição, realizada por promoção da municipalidade,
no passado dia 9. A romagem ao Monumento à Virgem foi impressionante de beleza
e de fé e nela se incorporaram perto de dez mil pessoas. A consagração escrita
pelo Senhor Presidente (Dr. Luís Victor
Tavares Batista) e lida por ele, estando rodeado de todas as Juntas de
Freguesia do Concelho, é um belo documento cristão (…)”.
No “Notícias da Covilhã” de 16 de maio de 1943 fazia grande referência
à “Consagração do Concelho da Covilhã ao Imaculado Coração de Maria”: “Na
Colina Sagrada do nosso Monumento à Imaculada Padroeira de Portugal, tem este
lugar sido teatro de atos religiosos e patrióticos da maior grandeza e
solenidade; desde a sua inauguração em 1904 têm-se ali juntado milhares de
pessoas implorando a proteção da augusta Padroeira da nossa Terra. Julgamos
porém poder afirmar que a romagem do passado domingo foi a mais importante de
todas pela sua projeção nacional e pelos efeitos que deve ter em benefício da
Covilhã. A resolução corajosa do Exm.º Presidente da Câmara de consagrar o
concelho ao Imaculado Coração de Maria transcende, na ordem moral todos os
empreendimentos que o seu consulado camarário tem realizado e está realizando
no progresso material da Covilhã. (…) Ora, o Senhor Presidente da Câmara da Covilhã
(…) quis ter a nobreza de, antecipando-se a outras regiões do país, seguir
atrás do Santo Padre Pio XII e dos Venerandos Prelados Portugueses,
entregando-nos e confiando-nos à proteção daquela que sendo Mãe de Deus é, tem
sido e será a amada Padroeira de Portugal. (…) Com as nossas felicitações ao
Senhor Presidente da Câmara, só nos resta fazer votos por que a Virgem
Imaculada se tenha benigna e maternalmente dignado receber os destinos do nosso
Concelho”.
A única vez que se falou no
termo “Padroeira” foi aquela acima, “Padroeira da nossa Terra”, pelo que é
natural que, de todos estes eventos solenes, saísse, de forma intrínseca, o reconhecimento
de que Nossa Senhora passara a ser também designada Padroeira da Covilhã, como
já o era do país, e de tantas outras cidades, com as várias denominações:
Fátima, Assunção ou Conceição.
Seja como for, ainda que de
forma consuetudinária, Nossa Senhora jamais deixará de ser a Padroeira da
Covilhã e da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, na fé de todos os Covilhanenses.
(In "Notícias da Covilhã", de 27-10-2016)