A Covilhã comemorou esta
efeméride no dia 6 de setembro com a recriação histórica do momento.
Efetivamente, a viagem inaugural da Linha da Beira Baixa realizou-se a 6 de
setembro de 1891, com a presença dos reis D. Carlos e D. Amélia.
Neste evento interessante foi
também distribuída uma cópia do jornal publicado há 125 anos pelo Presidente da
Câmara Municipal da Covilhã, à altura, António Pedroso dos Santos, intitulada “6 de Setembro de 1891”.
Transcrevo, por curiosidade
histórica, parte da primeira página do jornal 6 de Setembro de 1891 – Covilhã, com a ortografia atual, a saber:
SUAS MAJESTADES
Exulta, em jubilosa festa,
fremente de entusiasmo, a cidade dos Hermínios, ao receber por hóspedes os
soberanos de Portugal: Suas Majestades El-Rei D. Carlos I, e a rainha, sua
augusta esposa, D. Amélia d’Orleães.
(…) Romeiros da civilização,
os régios visitantes vêm saudar e glorificar o maior acontecimento, que esta
terra ainda presenciou, e o que mais intimamente se relaciona com o seu rápido
e completo engrandecimento comercial e fabril.
Veem, ainda, apóstolos da
beneficência, enxugar lágrimas, estancar misérias e trazer alívio a muitos dos
que sofrem, fundando, sob a régia proteção, o novo hospital destinado a
albergue dos doentes pobres e desvalidos.
Não é assim bela e nobre a
interferência das Majestades nas festas populares?
Não é assim sublime o ofício
de reinar?
A consciência pública, na sua
justiça incorrutível, vai hoje responder a estas interrogações.
Um coro de milhares de vozes,
exprimindo, uníssonas, os sentimentos briosos duma cidade leal, honrada e
hospitaleira, levará até ao coração dos reis de Portugal a grata homenagem do
mais afetuoso e expansivo acolhimento.
E perante o país, que comunga
do mesmo credo, e que neste momento é solidário connosco nas afirmações de
respeito e adesão à monarquia reinante, podemos formular, respeitosos, esta
saudação:
“Sede bem-vindos hoje, como
sereis sempre bem-vindos, ó monarcas lusitanos, ao alcáçar do trabalho, onde a
lealdade e a fidelidade são brasão e fidalguia do povo beirão.
“Vele a Providência por vós,
protela também a nação, que vos ama, para que as ambições desvairadas não
arrastem em seu torvelinho a independência deste amado torrão, que nos foi
berço comum, teatro de feitos heroicos de nossos avós.
“Salvé, Rei Português, Rei
liberal, neto de heróis, protetor do trabalho e da indústria nacional!
“Salvé, Rainha de inegável
bondade, mãe adotiva de todos os infelizes, sacerdotisa augusta da religião
santa do amor e da caridade!”
Neste dia soleníssimo o povo
covilhanense saúda e aclama com entusiasmo o Rei e a Rainha de Portugal,
testemunhando-lhes a homenagem da mais afetuosa e leal dedicação.
A.
Pedroso dos Santos
E, na última página, estas
efemérides covilhanenses, sob o título
DATAS MEMORÁVEIS CONCERNENTES À CIDADE DA
COVILHÃ
1186: - No mês de setembro deste ano é outorgado o primitivo foral
da Covilhã por El-Rei D. Sancho I.
1202 a 1206: - Nestes
anos residiu o mesmo rei por várias vezes na Covilhã, e noutras terras que incessantemente
percorria para prover de remédio aos males causados pela extraordinária fome,
que assolou Portugal e outros países da Europa.
1207: - Em agosto deste ano achava-se o rei povoador em Covilhã,
donde é datado o foral que concedeu a Souto.
1214: - É datada de Covilhã no dia primeiro de novembro deste ano a
carta régia pela qual D. Afonso II concede aos Templários a herdade da Cardosa
em que foi reedificada Castelo Branco.
1217: - No mês de novembro deste ano Afonso II, verosimilmente
residente na Covilhã, confirma o foral que a esta terra outorgara seu pai.
1260: - El-rei D. Afonso III por carta de agosto deste ano manda
estabelecer uma feira na vila de Covilhã, devendo ter lugar desde oito dias
antes até oito dias depois da festa de Santa Maria de agosto.
1319: - Em 22 de dezembro deste ano El-rei D. Dinis outorga uma
carta régia confirmando os privilégios, foros, usos e costumes do concelho de
Covilhã, declarando na mesma que os juízes do mesmo concelho forneceram carne,
pão, vinho e outras coisas não por foro nem por serviço, mas por mera
hospitalidade.
1415: - São criados o ducado de Viseu e o senhorio da Covilhã por
D. João I em favor de seu filho o glorioso infante D. Henrique, em galardão das
gentilezas que praticara na tomada de Ceuta.
1453: - Em provisão de 2 de dezembro deste ano declara Afonso V que
a Covilhã é uma das principais povoações de toda a Beira e que assim a
reconheceram os reis seus antecessores.
1470: - Por alvará feito em Covilhã, aos 17 de julho deste ano,
determina El-rei D. Afonso V o novo regimento dos cainhos (cunhos) das moedas
de ouro e prata.
1471: - O mesmo monarca, por carta régia de 30 de junho deste ano,
autoriza o infante D. Diogo a suceder no senhorio da Covilhã.
1489: - D. João II doa a seu primo o infante, depois rei, D.
Manuel, o senhorio da Covilhã, vago pela morte de seu cunhado o infante D.
Diogo.
1498: - Em provisão de 21 de fevereiro deste ano, declara D. Manuel
que a vila da Covilhã é muito principal no conto das outras vilas do reino:
fá-la por isso realenga e dá coroa para sempre, prometendo por sua real fé de
nunca se dar o donatário não somente a particular mas ainda aos filhos do rei.
1510: - É datada de Santarém do dia primeiro de junho deste ano o
segundo foral concedido à Covilhã por D. Manuel.
1573: - Ordena El-rei D. Sebastião, que na Câmara da Covilhã se
conservem os padrões de panos.
1580: - O primeiro Filipe confirma os privilégios, liberdades e
mercês que os reis antecessores haviam concedido à vila da Covilhã, por alvará
de 12 de maio deste ano.
1637: - Motim popular na Covilhã contra as imposições do terceiro
Filipe, em novembro deste ano. Forçam-se as portas do senado municipal, e
queimam-se papéis ali encontrados. Prelúdios de 1640.
1638: - Filipe III indulta os criminosos, excetuando os cabeças de
motim que foram justiçados.
1646: - Por alvará de 4 de setembro deste ano, El-rei D. João IV
faz graciosas concessões à Câmara da Covilhã.
1673: - Por alvará do príncipe regente, depois D. Pedro II, datado
de 28 de novembro deste ano, mandaram-se vir de Inglaterra cinco mestres para a
real fábrica da Covilhã.
1710: - El-rei D. João V ordena neste ano que na vila da Covilhã se
fabriquem todas as fardas para o seu exército.
1761: - El-rei D. José ordena neste ano a construção do grandioso
edifício da nova fábrica real da Covilhã.
1833: - Laboram pela primeira vez nesta cidade as cardas e fiações
mecânicas de lã.
1840: - Em portaria de 14 de fevereiro deste ano são aprovados os
estatutos da Associação Fabril da Covilhã.
1864: - É criada uma escola industrial em Covilhã por decreto de 20
de dezembro deste ano. Não se executou.
1870: - Por decreto de 20 de outubro deste ano é a vila da Covilhã
elevada à categoria de cidade.
1883: - Pela lei de 26 de abril deste ano foi o governo autorizado
a construir o caminho-de-ferro da Beira Baixa, passando por Castelo Branco,
Fundão e proximidades da Covilhã.
1884: - Por decreto de 4 de janeiro deste ano é instituída a Escola
Industrial – Campos Mello – em Covilhã.
Por decreto ditatorial de 31
de outubro de 1884 é reorganizado o exército e colocado em Covilhã o Regimento
de Infantaria 21.
1887: - Por portaria de 28 de julho deste ano é aprovado o projeto
da linha férrea da Beira Baixa até à estação da Covilhã no sítio denominado a
Corredoura.
1891: - É inaugurado o caminho-de-ferro da Beira Baixa, de Abrantes
à Covilhã, e é visitada esta cidade por S. M. El-Rei o Senhor D. Carlos I e por
S. M. a Rainha D. Amélia d’Orleães no dia 6 de setembro deste ano.
Valério Nunes de
Morais.
(In "O Olhanense", de 15-10-2016)
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