24 de outubro de 2016

DESPORTO 2016: ENTRE O ÊXITO E A DESILUSÂO

Este ano da graça de dois mil e dezasseis teve Portugal em grande evidência na área desportiva, sagrando-se Campeão Europeu de Futebol, pela primeira vez na sua história.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi um mãos cheias na distribuição de condecorações com o grau de Comendador, a todos os atletas, e outros mais que iam ganhando competições, caso do Hóquei em Patins, em cuja modalidade também se sagraram Campeões Europeus.
No entanto, no primeiro jogo oficial após a conquista do Campeonato da Europa de 2016, a seleção nacional sofreu uma derrota na Suíça, por 2-0, borrando assim a escrita, como sói dizer-se, tornando mais difícil a qualificação direta para o Campeonato Mundial de Futebol de 2018.
Entretanto, após os jogos com Andorra, realizado em Aveiro; e as Ilhas Faroé, naquele território dependente da Dinamarca, com o mesmo resultado de seis bolas a zero, para Portugal; as esperanças regressaram mais acentuadas para o nosso país. Vamos esperar que não esmoreçam.
Nos jogos olímpicos realizados no Brasil, o Rio 2016 acabou por ser um “Rio” de desilusão pelas medalhas que Portugal não venceu. Salvou-nos a Telma Monteiro, com a única medalha conseguida por Portugal, desta feita no judo, medalha de bronze.
De quatro em quatro anos o país desportivo faz uma pausa no verão. A atenção foca-se nos mais diversos recintos onde há portugueses a competir nos Jogos Olímpicos.
A comitiva portuguesa, neste ano de 2016, foi a maior de sempre.
Desde 1976 que Portugal tem trazido sempre medalhas. Houve uma exceção, nos jogos realizados em Barcelona, no ano de 1992.
O palmarés português tem escassez de títulos, ou seja, somente 24 medalhas olímpicas. Apenas se verificaram medalhas de ouro por quatro vezes, e, claro, sempre no atletismo (Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora). Foram oito de prata e doze de bronze.
Portugal está longe de campeões como os Estados Unidos com as suas 2546 medalhas. Assim como não se aproxima dos países latino europeus como a França (1169 medalhas), Itália (605), Espanha (148), Roménia (306) ou ainda a Holanda (195) ou Bélgica (164) – estes dois últimos com populações próximas da portuguesa.
As esperanças que este ano se depositavam no triplo salto, concretamente em Nelson Évora (venceu o ouro em 2008, em Pequim) e em Patrícia Mamona (recentemente havia sido campeã europeia); assim como na canoagem, em Emanuel Silva e João Ribeiro (Emanuel Silva com Fernando Pimenta deram-nos prata em Londres, no ano de 2012), não terão passado de uma desilusão.
Também a esperança de quem torce de fora por medalhas por vezes pode ser tão grande quanto a dos atletas. Mas, desta vez, a mesma não correspondeu ao desejado.
Ainda no Rio 2016, mesmo no futebol caímos nos “quartos-de-final”. Fomos campeões europeus este verão, o nosso melhor resultado de sempre. É um facto que já vencemos torneios europeus e mundiais nas camadas jovens.
No entanto, Portugal já provou que é capaz de ter vencedores em várias modalidades. E é certo que as desilusões, tal como as críticas, também fazem parte da competição. Mas também é indubitável que em mais de cem anos da realização de Jogos Olímpicos, o recorde de Portugal, em medalhas numa só competição, é de apenas três.
Existe uma enorme tendência de uma boa parte dos portugueses colocar infundadas expetativas sempre que há representações desportivas nacionais em confronto internacional. Consideramos assim bestiais na formação das expetativas que poderão ir a bestas perante a aparência dos resultados.
No entanto, os atletas portugueses bateram-se com grande dignidade e tudo tentaram para honrar a responsabilidade da representação em que estavam investidos, pois sabemos que a realidade do sistema desportivo português é fraca e encontra-se muito abaixo dos padrões europeus.

(In "O Combatente da Estrela", n.º 104, de outubro a dezembro 2016)

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