24 de outubro de 2016

O TEMPO PERGUNTA AO TEMPO

O nosso tempo. Quanto tempo ainda temos? O tempo das nossas vidas. Que tempo!...
Este tema que trouxe para o penúltimo número de O Combatente da Estrela, deste ano da graça de dois mil e dezasseis, faz-me lembrar aquela lengalenga infantil dos meus tempos: “O tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo responde ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo o tempo tem”.
E é assim que nos espaços temporais que nos vão acontecendo, há um despontar, quase sem nos apercebermos, de vivências diversificadas, trabalhos, incompreensões, tristezas mas também ledas passagens pelas nossas vidas. É o nosso tempo. O tempo em que vivemos. Talvez o tempo por que não gostaríamos tanto de caminhar, ao invés de outro tempo mais risonho, aquele com que sonhámos, naquele tempo da nossa juventude para o horizonte dos nossos desejos.
Mas se a expressão “dar tempo ao tempo” quase que já não cabe na nossa tolerância de pessoas moderadas, num continuar de sempre ver a banda passar, naquela de “no meu tempo não era assim” e/ou “enfim, agora são outros tempos…” também um facto pode subsistir: não seremos todos nós responsáveis por não agirmos em tempo oportuno com aquela consciência firme de pensarmos no coletivo e não só no nosso ego?
Esta reflexão, se tomada a sério, transformaria positivamente o tempo que nos resta do tempo das nossas vidas.
Vejamos tão só o que se passa a nível mundial, de âmbito nacional, e, mais de perto, o local. Cada qual deve analisar, de cabeça fria, no sossego do tempo de cada um, quais as nossas atitudes comportamentais face aos ventos e marés que vão ocorrendo no seio de todos nós.
Não cabe, nem deve, neste espaço, fazer-se quaisquer comentários de âmbito político, religioso ou desportivo que possa ferir a suscetibilidade das pessoas, “partidarizando” assim as suas opiniões, pois o princípio por que se rege este órgão de comunicação tem uma vertente de imparcialidade, acolhendo todos, com os seus defeitos e virtudes.
“O tempo pula e avança”, conforme escrevi num jornal algarvio em 15 de maio de 2012. Não é possível fazer parar o tempo. Ele avança, devagar, devagarinho, ou tão acelerado que nem damos por ele. Este paradoxo temporal é uma das vertentes da nossa vida. Para umas coisas, o tempo deveria ser preguiçoso, mas, para outras, desejaríamos vê-lo como num corridinho algarvio. No meio destas formas de vermos e sentirmos, muita coisa se desfila pela nossa frente, e, então temos que preencher o tempo das nossas vidas: como devemos, como gostamos, como podemos, como nos deixam.
Mas, por vezes, uma só pessoa não consegue transportar às costas toda a montanha; e, por outro lado, há que dar colorido a todas as formas de expressão, de pensamento, de amor às causas citadinas ou de âmbito mais lato. Tem então que se trabalhar em equipa. Para tanto, há que aceitar as boas vontades, para além dos que sentem, por via da pena (hoje mais propriamente nas teclas do computador), um sorriso para a escrita, para que, no âmbito do meio onde se inserem, até numa projeção extra muros, vejam o reconhecimento dos seus textos numa apetência pela sua leitura.
No jornalismo podemos ver um veículo ao serviço não só da informação como também do conhecimento, da cultura, da recreação do espírito.
Não é fácil dirigir um jornal. Quantas vezes um periódico, não obstante a vontade dos seus obreiros, se vê na contingência de cerrar portas, que não é o nosso caso, face aos problemas do tempo – lá está o tempo outra vez – em vários domínios, desde o financeiro à utilidade destas páginas que nos passam pela frente dos olhos, para uma só leitura rápida dos títulos, ou pela apetência dos artigos nelas inseridos.
Ora, um jornal sem diversidade, e no exclusivo duma vertente desportiva ou religiosa, torna-se direcionado somente para um determinado tipo de aderente, excluindo os restantes não interessados nestas duas causas.
Sucede, porém, que o trissemanário “O Combatente da Estrela”´ é um periódico enraizado numa vertente de muitos colaboradores – é obra! –; dispersos por opiniões variadas, onde é óbvio imperar uma veia pelos acontecimentos ocorridos ao longo da vida de antigos Combatentes, mas não só, também na expressão colorida no entusiasmo de muitos outros temas, onde a poesia também pode ter assento.
Todos trabalham com gratuitidade, desde a aceitação e seleção de textos, à revisão, preparação para entrega na tipografia, e, posteriormente, todo o trabalho para a distribuição aos prezados associados e leitores.
E é nesta vertente que nos propomos continuar a dar tempo ao nosso tempo.
P.S.

Já depois de este texto ter sido escrito, atempadamente, para o nosso Jornal, ainda em tempo, já que de tempo falamos, dois factos importantes se passaram, fora e dentro da Instituição que nos dá razão de existência neste tempo das nossas vidas de antigos militares e antigos combatentes. De fora, foi o grande orgulho e prazer que qualquer português, e, duma forma especial, o beirão, sente ao ver o Eng.º António Guterres, “contra ventos e marés” como atrás refiro, ser nomeado Secretário-Geral das Nações Unidas. Dentro da Instituição “Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes” foi o recebimento da notícia de que vai ser distinguida, pela Câmara Municipal da Covilhã, com a medalha de mérito municipal – categoria prata, no dia 20 de outubro, no âmbito das comemorações do 146º aniversário da Covilhã a cidade. Está de parabéns o “Núcleo da Liga dos Combatentes” desta Cidade, já que o tempo veio dar uma visão de justiça que há muito se justificava.

(In "O Combatente da Estrela", n.º 104, de outubro a dezembro 2016)

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