O nosso tempo. Quanto tempo ainda
temos? O tempo das nossas vidas. Que tempo!...
Este tema que trouxe para o
penúltimo número de O Combatente da
Estrela, deste ano da graça de dois mil e dezasseis, faz-me lembrar aquela
lengalenga infantil dos meus tempos: “O
tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo responde ao tempo que
o tempo tem tanto tempo quanto o tempo o tempo tem”.
E é assim que nos espaços
temporais que nos vão acontecendo, há um despontar, quase sem nos apercebermos,
de vivências diversificadas, trabalhos, incompreensões, tristezas mas também
ledas passagens pelas nossas vidas. É o nosso tempo. O tempo em que vivemos.
Talvez o tempo por que não gostaríamos tanto de caminhar, ao invés de outro
tempo mais risonho, aquele com que sonhámos, naquele tempo da nossa juventude
para o horizonte dos nossos desejos.
Mas se a expressão “dar tempo ao tempo” quase que já não
cabe na nossa tolerância de pessoas moderadas, num continuar de sempre ver a
banda passar, naquela de “no meu tempo
não era assim” e/ou “enfim, agora são
outros tempos…” também um facto pode subsistir: não seremos todos nós
responsáveis por não agirmos em tempo oportuno com aquela consciência firme de
pensarmos no coletivo e não só no nosso ego?
Esta reflexão, se tomada a sério,
transformaria positivamente o tempo que nos resta do tempo das nossas vidas.
Vejamos tão só o que se passa a
nível mundial, de âmbito nacional, e, mais de perto, o local. Cada qual deve
analisar, de cabeça fria, no sossego do tempo de cada um, quais as nossas
atitudes comportamentais face aos ventos e marés que vão ocorrendo no seio de
todos nós.
Não cabe, nem deve, neste espaço,
fazer-se quaisquer comentários de âmbito político, religioso ou desportivo que
possa ferir a suscetibilidade das pessoas, “partidarizando” assim as suas
opiniões, pois o princípio por que se rege este órgão de comunicação tem uma
vertente de imparcialidade, acolhendo todos, com os seus defeitos e virtudes.
“O tempo pula e avança”, conforme escrevi num jornal algarvio em 15
de maio de 2012. Não é possível fazer parar o tempo. Ele avança, devagar,
devagarinho, ou tão acelerado que nem damos por ele. Este paradoxo temporal é
uma das vertentes da nossa vida. Para umas coisas, o tempo deveria ser
preguiçoso, mas, para outras, desejaríamos vê-lo como num corridinho algarvio.
No meio destas formas de vermos e sentirmos, muita coisa se desfila pela nossa
frente, e, então temos que preencher o tempo das nossas vidas: como devemos,
como gostamos, como podemos, como nos deixam.
Mas, por vezes, uma só pessoa não
consegue transportar às costas toda a montanha; e, por outro lado, há que dar
colorido a todas as formas de expressão, de pensamento, de amor às causas citadinas
ou de âmbito mais lato. Tem então que se trabalhar em equipa. Para tanto, há
que aceitar as boas vontades, para além dos que sentem, por via da pena (hoje
mais propriamente nas teclas do computador), um sorriso para a escrita, para
que, no âmbito do meio onde se inserem, até numa projeção extra muros, vejam o
reconhecimento dos seus textos numa apetência pela sua leitura.
No jornalismo podemos ver um
veículo ao serviço não só da informação como também do conhecimento, da
cultura, da recreação do espírito.
Não é fácil dirigir um jornal.
Quantas vezes um periódico, não obstante a vontade dos seus obreiros, se vê na
contingência de cerrar portas, que não é o nosso caso, face aos problemas do
tempo – lá está o tempo outra vez – em vários domínios, desde o financeiro à
utilidade destas páginas que nos passam pela frente dos olhos, para uma só
leitura rápida dos títulos, ou pela apetência dos artigos nelas inseridos.
Ora, um jornal sem diversidade, e
no exclusivo duma vertente desportiva ou religiosa, torna-se direcionado
somente para um determinado tipo de aderente, excluindo os restantes não
interessados nestas duas causas.
Sucede, porém, que o
trissemanário “O Combatente da Estrela”´
é um periódico enraizado numa vertente de muitos colaboradores – é obra! –;
dispersos por opiniões variadas, onde é óbvio imperar uma veia pelos
acontecimentos ocorridos ao longo da vida de antigos Combatentes, mas não só,
também na expressão colorida no entusiasmo de muitos outros temas, onde a
poesia também pode ter assento.
Todos trabalham com gratuitidade,
desde a aceitação e seleção de textos, à revisão, preparação para entrega na
tipografia, e, posteriormente, todo o trabalho para a distribuição aos prezados
associados e leitores.
E é nesta vertente que nos propomos
continuar a dar tempo ao nosso tempo.
P.S.
Já depois de este texto ter sido
escrito, atempadamente, para o nosso Jornal, ainda em tempo, já que de tempo
falamos, dois factos importantes se passaram, fora e dentro da Instituição que
nos dá razão de existência neste tempo das nossas vidas de antigos militares e
antigos combatentes. De fora, foi o grande orgulho e prazer que qualquer
português, e, duma forma especial, o beirão, sente ao ver o Eng.º António
Guterres, “contra ventos e marés” como atrás refiro, ser nomeado
Secretário-Geral das Nações Unidas. Dentro da Instituição “Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes” foi o recebimento da
notícia de que vai ser distinguida, pela Câmara Municipal da Covilhã, com a
medalha de mérito municipal – categoria prata, no dia 20 de outubro, no âmbito
das comemorações do 146º aniversário da Covilhã a cidade. Está de parabéns o “Núcleo da Liga dos Combatentes” desta
Cidade, já que o tempo veio dar uma visão de justiça que há muito se
justificava.
(In "O Combatente da Estrela", n.º 104, de outubro a dezembro 2016)
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