Começo este artigo e leio no Público o último editorial da diretora
Bárbara Reis (B.R.), que assim se despede nesta qualidade. E, cito das suas
palavras, a frase que sua colega dizia quando tinha um artigo pronto a
publicar: “Foi o melhor que consegui. Tem de certeza erros…mas ainda os não
encontrei”. Sempre gostou desta definição de jornalismo. “O que fazemos é
tornado público apesar de tudo. E dentro
das circunstâncias. Sempre imperfeito, partilhamos o nosso trabalho com os
leitores”.
Nestes últimos tempos, muitas
coisas mudaram no jornalismo. E o Público,
na liderança que agora muda, fez mais de dois milhares de edições em papel
ao mesmo tempo que cresceu exponencialmente como marca digital, dos seus seguidores
no Facebook. Criou várias secções, chamemos-lhe assim. Ganharam vários prémios
de reportagens e investigação. Segundo B.R., “todos envolveram equipas
multidisciplinares e muita investigação. Talento e tempo para um jornal que não
cede ao populismo nem à tentação do clique fácil”. Termina, dizendo: “Saio
orgulhosa do que fizemos, mas descontente com o jornal que damos aos leitores.
Queremos sempre mais e melhor. Este é o problema”.
O novo diretor daquele diário,
David Dinis, no seu primeiro editorial – “O nosso compromisso consigo” – propôs-se
fazer algumas alterações sem que “o Público
vá mudar de ADN”, e “dar ao leitor pistas para ler o país em que vivemos, o
mundo em que estamos. O pluralismo de opinião condição sine qua non para que cada um possa fazer o seu juízo, tomar as
suas opções, a cada dia que passa (…) porque no mundo em que vivemos já não há
um problema de falta de informação, mas há cada vez mais um desafio de boa
informação”.
O jornalismo que for relevante,
incómodo, ético e independente, chegará com agrado aos leitores. A opinião terá
que ser identificada, mesmo com imperfeições, todos os dias, ainda que se pise
o risco muitas vezes. São precisas boas ideias porque é isso que os leitores
querem. Muitas vezes, as tarefas mais longas, que exigem redobrado esforço nas
investigações, são os trabalhos que acabam por ser mais lidos, comentados e
partilhados. Com base no digital passou a haver um prolongamento da vida,
obrigando-nos contudo a ser mais exigentes.
Neste direito de opinar, também
investigar e menos vezes noticiar, são já 52 anos desde o meu primeiro texto nos
jornais, no já distante ano de 1964, reconhecendo ter leitores atentos aos
mesmos, não querendo com isso significar que haja concordância, de todos, em
tudo o que escreva. A pluralidade de opiniões deve sempre existir. Sendo certo
que a crítica positiva é saudável, já a zombaria se torna detestável quando se
escreve algo por ironia. Obviamente que este é um dos riscos da própria
escrita.
Há dias deu-me para compilar tudo
o que consegui reunir em encadernações sobre a minha envolvência com os jornais
neste mais de meio século até janeiro deste ano: 476 crónicas, artigos de
opinião e notícias em diversos jornais regionais e nacionais, boletins e
revistas temáticas (mais de duas dezenas, devidamente assinaladas). Num registo
também assinalei 177 referências na diversa imprensa, regional, nacional e
espanhola sobre as minhas várias publicações (dez obras de âmbito monográfico) e
eventos participados.
Na primeira década do meu
contacto com os jornais (meados dos anos 60 e 70) a assiduidade era reduzida face
às contingências da altura: a Internet não existia, a escassez de meios
técnicos, a antiga máquina de escrever era a ferramenta dessa altura. Por outro
lado, era ainda a vida de estudante e, depois, o longo serviço militar
obrigatório. Mesmo aqui, deitei mãos à datilografia para uma ou outra página de
jornal que tinham algumas unidades militares por onde passei, e que hoje me são
nostálgicas.
Todos os artigos publicados em
papel podem também ser lidos na Internet: facebook e blogue.
De defeitos e virtudes todos
temos um pouco. Mas é cada vez mais difícil encaixar nestas categorias as
caraterísticas com que somos confrontados no dia-a-dia. Certo e verdade é que
não somos tão bons como pensamos nem tão maus como tememos. Mas também existe, nalguma
escrita, muito bairrismo acéfalo, num menear de cabeça com base nas suas
conveniências. E, como já escrevi em 2007, é uma honra e um risco escrever num
jornal e quase nada é óbvio.
E ainda referi, que, para um
grande número de pessoas, a primeira angústia a “escrever no jornal” fala de
uma eventual falta de assunto, e onde encontrar a inspiração. A segunda
ansiedade relaciona-se à exposição pública de ideias, onde ainda é corrente
tirar vantagem de tudo o que ficar em cima do muro, não sendo fácil deixar de
opinar sobre certos eventos, pessoas e assuntos. Uma das tribulações está
ligada ao risco do engano, da ignorância e do mero erro humano, para já não
falar nas gafes ou mesmo nas gralhas jornalísticas, pois se algo surge no
jornal deverá ter um mínimo de veracidade, exigindo mesmo reflexão e
investigação.
Há quem se agarre às letras como
o desespero daquele que necessita de calafetar as frinchas por onde as ideias
se escapam. Mas também ouvimos dizer que os colunistas interessantes não são
aqueles que têm grandes ideias, mas aqueles que sabem maquilhar com estilo as
debilidades do pensamento.
A este propósito surgiu nestes
dias, em toda a imprensa portuguesa, um idiota “arquiteto-jornalista”, que
publicou um livro tão de ridículo como de estúpido – “Eu e os políticos” – “O que não pude (ou não quis) escrever até hoje”,
falando cobardemente da vida sexual e de intimidades, entre personalidades, mormente
políticos, algumas das quais já falecidas. José António Saraiva (J.A.S.), de
sua graça, despejou na lama as pessoas com quem falou aquando da sua atividade
de jornalista. Algumas figuras que J.A.S. denegriu já foram referidas nos
vários órgãos da comunicação social, mencionando algumas tristes passagens do abjeto
livro, com essas personalidades.
No entanto, outro abécula que foi
Primeiro-ministro em Portugal, estava quase predisposto a fazer a apresentação
daquele livro sem qualidade alguma, sem o ter lido, o que não era de estranhar
em Pedro Passos Coelho, o homem que quis ir “além da troika” sem conhecer o memorando da mesma.
Muito haveria para dizer mas o
espaço do jornal é limitado e também já fui para além do mesmo; tão só referir
que, não tendo adquirido o livro já o li porque um amigo quis fazer o favor de
mo enviar para o meu e-mail.
Pergunto, finalmente, como foi possível escrever 263 páginas dum livro sem
qualidade alguma? Com a agravante do seu autor ter sido diretor dos jornais “Expresso” e “Sol”.
(In "fórum Covilhã", de 11-10-2016)
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