A Sociedade de S. Vicente de
Paulo já estava estruturada e organizada antes da sua entrada, instalação e
expansão em Portugal, que ocorreu no ano de 1859 (reinado de D. Pedro V). Teve
os seus antecedentes em S. Vicente de Paulo que nasceu na aldeia de Pouy, nas
Landes, a sudoeste de França, em abril de 1581 e veio a falecer na Casa de S.
Lázaro, em Paris, em 27 de setembro de 1660. Vicente de Paulo lançara, dois
séculos antes, a semente da Sociedade que viria a ter o seu nome, porque a
iniciara no seu espírito de amor aos pobres. A Sociedade acabaria por ser
fundada em Paris, no ano de 1833. Nenhuma obra de caridade foi estranha a
Vicente de Paulo e esse princípio foi trazido para a Regra da Sociedade de S.
Vicente de Paulo. Veio a ser aclamado Patrono de todas as obras de caridade. Desde
o século XVII que a semente da vocação e missão vicentina mesmo para leigos ficou
latente e só mais tarde, já em 1833, em Paris, ela realmente brotou, sendo António
Frederico Ozanam o seu grande fundador. Naquele seu impulso, para com seus
companheiros, lançou o grito: “Façamos o que fazia Nosso Senhor Jesus Cristo
quando pregava o Evangelho: Vamos aos pobres”. Assim, Ozanam, com o seu
companheiro Augusto Le Taillandier, dirigiu-se a casa de uma família pobre que
conheciam e vivia nos arredores de Paris. Levaram-lhe, simbolizando o seu afeto
e interesse, alguma lenha para aquecer. Iniciava-se assim a prática da visita
domiciliária, o processo que se tornou típico da ação destes leigos que
passaram a denominar-se “vicentinos”, membros de uma Conferência, inicialmente
chamada da Caridade, e, meses depois, “Conferência de S. Vicente de Paulo”.
Preparava-se então a entrada
da Sociedade de S. Vicente de Paulo em Portugal, depois de já se ter instalado em
vários países. Foi já no declinar do ano 1859, a 27 de setembro, que o Padre
Emídio Eugénio Miel, Superior da Igreja de S. Luís, em Lisboa, a viria a
fundar, passando a designar-se “Conferência de Lisboa”. Multiplicar-se-ia pelo
País fora, sendo o Porto o seu núcleo mais denso.
Chegava à Guarda, com o maior
núcleo de assistência aos necessitados e a forte implantação nesta Diocese, com
a Covilhã a sobressair, desde o seu início, nestas tarefas solidárias e
caritativas. E era no seu seio que vinha a ser fundada, em 12 de novembro de
1899, a Conferência de Santa Maria Maior (Nossa Senhora de Lourdes), na
Covilhã.
Como não havia qualquer
Conselho na Diocese da Guarda, ficou sob a tutela do Conselho Central do Porto.
A Conferência dedicou-se à visita domiciliária.
Não era a Conferência de Santa
Maria Maior, na Covilhã, a única Conferência na Diocese da Guarda. Existia nesta
cidade, desde 01 de dezembro 1891, mas só agregada a Paris em 1909, a
Conferência de São Luís Gonzaga, que lutava com grande dificuldade apesar da
esmola superior a 400$00 com que o Prelado a contemplava. Tinha esta
Conferência vários sacerdotes como seus membros, entre os quais o anterior
Bispo D. Tomaz Gomes de Almeida. De qualquer modo, o Bispo D. Manuel Vieira de
Matos, também considerando indispensável a ação da Sociedade de S. Vicente de
Paulo, ajudou a levantar a Conferência da Guarda que entrara em grande
declínio. Nesta ação vicentina também se terá destacado o Bispo Covilhanense,
D. Manuel Damasceno Costa, que depois foi Bispo de Angra, onde viria a falecer.
No domingo, 5 de Fevereiro passado, foi homenageado pelo Município
Covilhanense, com missa solene na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, presidida
pelo Bispo da Diocese, D. Manuel Felício; e uma exposição no Museu de Arte
Sacra, na comemoração dos 150 anos do seu nascimento.
A Conferência de Santa Maria Maior, na
Covilhã, apoiava o Albergue dos Pobres (hoje Lar de São José), fundado em 1900.
Dois anos após a sua abertura, em 10 de junho de 1902, conseguiu esta
Conferência a vinda das Irmãzinhas dos Pobres para cuidar do Albergue. Há
muitos anos que partiram. A Conferência decidiu ainda ceder ao Albergue as quotas
dos seus 168 subscritores, reconhecendo e valorizando a boa obra desta
Instituição.
Em 19 de março de 1903 é
fundada na Covilhã a Conferência de Nossa Senhora da Conceição.
Em 29 de junho de 1905,
aproveitado a festa de São Pedro, foi fundada na Covilhã a sua terceira Conferência
Masculina sob a invocação de S. Pedro. Em 1905, na Covilhã, nasceu em algumas
Senhoras o desejo de constituírem um Conferência Feminina – a Conferência de
Santa Maria Maior.
Em 03/12/1910 foi fundado na
Covilhã o Conselho Particular (hoje designado Conselho de Zona) que ia contudo
encontrando dificuldades na coordenação das Conferências a que ele estavam
ligadas. É que tinham poucos membros ativos para tão grande ação. Foi
organizado em 25/02/1924. O Conselho Particular da Covilhã dependia do Conselho
Central Masculino do Porto, tendo sido nessa altura que o Conselho da Covilhã,
por sugestão do Prelado, reuniu as Conferências da Covilhã numa só. Passou
assim a serem consideradas apenas duas Conferências na Diocese da Guarda: a
Conferência da Covilhã, resultante da fusão das existentes; e a Conferência da
Guarda.
Em 19 de fevereiro de 1911
surgiu ainda na Covilhã a Conferência de São Martinho. Entretanto, para a mesma
Diocese, surgia em 20 de novembro de 1913 a Conferência Feminina de Nossa
Senhora da Serra, em Castelo Novo, no Fundão, que só foi agregada em 1947.
Na Covilhã, as Conferências que
em 1921 se tinham fundido numa só, a partir de 1923 voltaram a passar a funcionar
separadamente.
Em 1925, as Conferências
Vicentinas na Diocese da Guarda foram aumentadas com a fundação da Conferência
de Pinhel; Conferência de Alpedrinha, em 26/11/1925; e a Conferência das Donas,
em 15/01/1925. Na Covilhã, surgia ainda, em 30 de agosto de 1925, o Grupo
Nun’Álvares, formado por escuteiros.
No ano de 1944, na Diocese da
Guarda, a Covilhã continuava a ser a zona da diocese com mais vocações
vicentinas.
Também na Covilhã, as
Conferências continuavam a ter apreciável dinâmica que, por exemplo, se concretizou
na criação da Cozinha Económica que funcionava através de uma caderneta de
senhas distribuídas aos pobres, assim adquirindo direito a refeições, bem como
auxílio moral. Esta instituição hoje já não existe. Era uma obra de vulto se
atentarmos que só no ano findo de 1945 servia a pobres 72.980 refeições, no
valor de 105.498$10.
Em 20/01/1935 ainda surgiria
na Covilhã uma Conferência de Jovens – Conferência de S. Tomás de Aquino; uma
em Unhais da Serra, em 11/10/1932, e, no Ferro, em janeiro de 1935; e em 16 de
janeiro e 3 de fevereiro de 1938, mais duas Conferências, em Aldeia de S.
Francisco de Assis.
Todas estas já não existem,
como também deixaram de existir mais estas, fundadas na Covilhã, em 1//1/1946 –
a de S. Tarcísio; e no Bairro de S. Vicente de Paulo, que se ia construindo, no
dia 02/12/1949. No Tortosendo, em 1947, ainda em vigor, surgiria a Conferência
de Nossa Senhora da Oliveira.
Sem dúvida que era, e ainda é,
a Covilhã, o núcleo mais dinâmico da Sociedade de S. Vicente de Paulo da
Diocese da Guarda.
Atualmente, a Covilhã continua
a sua ação em prol da solidariedade social e caritativa, nas Conferências de
São Vicente de Paulo, assistindo mais de três centenas de famílias, englobadas
no seu Conselho de Zona, das quais fazem parte as seguintes Conferências, numa
ação de grande dinamismo: Conceição, Santa Maria, S. Pedro, S. Martinho, S.
José (Penedos Altos), Canhoso, Tortosendo, Fundão e Alpedrinha, embora esta
última só distribua alimentos.
(In "Notícias da Covilhã", de 09/02/2017)
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