Que raio! Hoje, domingo, dia
três do décimo segundo mês do ano dois mil e dezassete, depois de Cristo, não
tinha ainda inspiração para um título a dar a este texto. Pensei um, mas, alto
lá, pode vir a emanar nalguma errónea interpretação face a crónicas
anteriormente publicadas. Outros destinar-se-ão para publicações noutros periódicos.
Não me esqueço duma lição de Língua e História Pátria, que o meu
saudoso professor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, Dr. Manuel de
Castro Martins, que tem o nome numa das ruas desta Cidade, nos disse, naqueles
idos tempos dos finais dos anos cinquenta do século XX: “Quando quiserdes
procurar inspiração basta fazer uma pequena viagem e, na tranquilidade de
espírito, ela ajudará”.
Estava, então, exatamente na
altura de sair à banca dos jornais: o quotidiano Público, onde vou dando uma olhadela pelos meus cronistas de
eleição (que, outros, nem transversalmente lhes dou cavaco), leva-me, sempre, a
ir lendo, pelo passeio fora, as crónicas mais apelativas. Há uns bons tempos
atrás, as primeiras eram as do “fundador” da geringonça – Vasco Pulido Valente – que, nem ele adivinharia o que
de transformação iria proporcionar ao País, de tal forma que até o Ministro das
Finanças, Mário Centeno, é quase certo (à hora que escrevo estas linhas) como,
também, Presidente do Eurogrupo. De facto, como diz Rui Tavares, in Público, “Às vezes, o nosso trabalho
mais importante é ver o óbvio. Às vezes, o trabalho mais difícil é admiti-lo.
Ver o óbvio parece demasiado fácil. Admitir o óbvio parece demasiado simples. E
nós preferimos, por múltiplas razões pessoais e sociais, passar por complexos e
difíceis”.
O final do ano, que se
aproxima a passos largos, faz-nos emergir nas memórias impensáveis de mórbidas
surpresas ocorridas no Portugal de todos nós, como foi o inferno dos incêndios,
jamais visto ou algo pensado; isto, paradoxalmente, num país em que uma das
grandes riquezas é a floresta, repleto de tamanhos encantos paisagísticos,
então transformados numa dantesca panorâmica de cinzas e destruição.
Já antes se haviam realizado
as eleições autárquicas, terminando assim o ribombar na vozearia dos prós e dos
contras, no óbvio de se aceitar a democracia.
Depois, como todos os anos,
nesta peregrinação no planeta, alguns dos nossos e figuras sobejamente
conhecidas do nosso País, para só dele falar, deixaram o mundo dos vivos.
É o que me ocorre num pedaço
de memória na transversalidade deste ano da graça de 2017.
Voltemo-nos agora, no que se
insere no nosso meio, para aquele movimento organizado ou prática de associação
de grupos sociais, quer seja na vertente cultural, quer na cívica ou laboral,
para defesa de interesses ou de obtenção de objetivos comuns, cuja designação
os dicionários registam na palavra associativismo.
Tendo já sido objeto de
referências e até debates autárquicos não há dúvida que o Concelho da Covilhã
tem o pendor do maior número de agentes culturais de todo o distrito, há muitos
anos referido. Daí a responsabilidade de cada instituição, seja ela de que
cariz for, se empenhar com ações justificativas da sua existência e manutenção,
nas atividades que às mesmas dirão respeito, sempre que possível na
criatividade em prol da sociedade onde se inserem.
Não vou falar das muitas
existentes neste Concelho, mas tão só deste Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, do qual tenho orgulho de
ser associado e colaborar no seu órgão trimestral – O Combatente da Estrela. Se, por vezes, podem existir ventos e
marés fruto da sua existência, e não da passividade em ações desenvolvidas,
sintoma de que há vida e não inércia, há conhecimentos e não ignorância do que
por aqui se faz, a realidade resume-se naquela vertente de que a instituição
prevalece nos requisitos que urge para se integrar no verdadeiro associativismo.
Basta uma leitura atenta deste
periódico para se verificarem as várias atividades desenvolvidas ao longo do
ano neste Núcleo, os artigos de opinião de distintos Colaboradores, sem
esquecer os Associados, independentemente de serem ou não Antigos Combatentes
(alguns não o foram, porque não foram chamados, mas cumpriram a sua obrigação
militar), e, mormente, quando se separaram eternamente de nós, pela parte
física, porque espiritualmente continuam vivos.
O Núcleo da Covilhã da Liga
dos Combatentes continua bem vivo, como atrás referi, e, não só pelas razões
referidas, como também por outras ações desenvolvidas ao longo do ano, já sobejamente
conhecidas, como, ainda, ter a sua sede aberta, onde, para além de poderem
confraternizar, pela manhã ou pela tarde, há sempre um jornal diário, e outros
periódicos para leitura.
Se falarmos nas ações do CAMPS
da Beira Interior no seio deste Núcleo, podemos verificar quanto valor não tem
a sua ação na terapia de acompanhamento psicológico dos associados, e suas
famílias, face à perturbação do stress pós-traumático de guerra, conforme já
foi referido no último número.
Depois, o associativismo não
se faz sem pessoas, quer sejam as da sua massa de associados quer a dos seus
dirigentes, estes que são a mola impulsionadora que faz andar a máquina, que a
oleia com o seu dinamismo, que lhe incute entusiasmo, que lhe gera
criatividade.
Nesta situação, o Núcleo da
Covilhã da Liga dos Combatentes tem vindo a ser bem servido, ao longo dos
tempos, dos obreiros que conseguem manter a pedra angular desta instituição,
entre, por vezes, altos e baixos; pudera, não fossem eles humanos, e, consequentemente,
com pontos de vista que podem, por vezes, divergir de parte da construção. No
fundo, ao longo dos tempos, todos deram parte do seu esforço em prol do Núcleo,
não tivessem eles sido Antigos Combatentes!
Por último, não nos podemos
esquecer que quem se encontra ao leme do navio tem a grande responsabilidade de
o fazer chegar a bom porto, independentemente de, por vezes, os mares se
encontrarem agitados, mas, nesta vertente, é preciso a inteligência de saber
procurar as águas tranquilas. O Núcleo da Covilhã sempre soube encontrar esse
Comandante e, já lá vão décadas, que o mesmo se encontra a saber encontrar os
ventos favoráveis na rota certa.
Porque as palavras já se
alongaram, resta-me desejar a todos quantos entraram nesta embarcação, sejam
eles dirigentes, associados, colaboradores deste jornal e amigos, da CAMPS-BI,
e aos prezados leitores, bem como a todas as suas famílias, os votos de um
Santo Natal e um Feliz Ano Novo.
(In "O Combatente da Estrela", nº. 109 - Dezembro/2017)