21 de dezembro de 2017

POIS, MAIS UM FINAL DE ANO

Que raio! Hoje, domingo, dia três do décimo segundo mês do ano dois mil e dezassete, depois de Cristo, não tinha ainda inspiração para um título a dar a este texto. Pensei um, mas, alto lá, pode vir a emanar nalguma errónea interpretação face a crónicas anteriormente publicadas. Outros destinar-se-ão para publicações noutros periódicos.
Não me esqueço duma lição de Língua e História Pátria, que o meu saudoso professor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, Dr. Manuel de Castro Martins, que tem o nome numa das ruas desta Cidade, nos disse, naqueles idos tempos dos finais dos anos cinquenta do século XX: “Quando quiserdes procurar inspiração basta fazer uma pequena viagem e, na tranquilidade de espírito, ela ajudará”.
Estava, então, exatamente na altura de sair à banca dos jornais: o quotidiano Público, onde vou dando uma olhadela pelos meus cronistas de eleição (que, outros, nem transversalmente lhes dou cavaco), leva-me, sempre, a ir lendo, pelo passeio fora, as crónicas mais apelativas. Há uns bons tempos atrás, as primeiras eram as do “fundador” da geringonça – Vasco Pulido Valente – que, nem ele adivinharia o que de transformação iria proporcionar ao País, de tal forma que até o Ministro das Finanças, Mário Centeno, é quase certo (à hora que escrevo estas linhas) como, também, Presidente do Eurogrupo. De facto, como diz Rui Tavares, in Público, “Às vezes, o nosso trabalho mais importante é ver o óbvio. Às vezes, o trabalho mais difícil é admiti-lo. Ver o óbvio parece demasiado fácil. Admitir o óbvio parece demasiado simples. E nós preferimos, por múltiplas razões pessoais e sociais, passar por complexos e difíceis”.
O final do ano, que se aproxima a passos largos, faz-nos emergir nas memórias impensáveis de mórbidas surpresas ocorridas no Portugal de todos nós, como foi o inferno dos incêndios, jamais visto ou algo pensado; isto, paradoxalmente, num país em que uma das grandes riquezas é a floresta, repleto de tamanhos encantos paisagísticos, então transformados numa dantesca panorâmica de cinzas e destruição.
Já antes se haviam realizado as eleições autárquicas, terminando assim o ribombar na vozearia dos prós e dos contras, no óbvio de se aceitar a democracia.
Depois, como todos os anos, nesta peregrinação no planeta, alguns dos nossos e figuras sobejamente conhecidas do nosso País, para só dele falar, deixaram o mundo dos vivos.
É o que me ocorre num pedaço de memória na transversalidade deste ano da graça de 2017.
Voltemo-nos agora, no que se insere no nosso meio, para aquele movimento organizado ou prática de associação de grupos sociais, quer seja na vertente cultural, quer na cívica ou laboral, para defesa de interesses ou de obtenção de objetivos comuns, cuja designação os dicionários registam na palavra associativismo.
Tendo já sido objeto de referências e até debates autárquicos não há dúvida que o Concelho da Covilhã tem o pendor do maior número de agentes culturais de todo o distrito, há muitos anos referido. Daí a responsabilidade de cada instituição, seja ela de que cariz for, se empenhar com ações justificativas da sua existência e manutenção, nas atividades que às mesmas dirão respeito, sempre que possível na criatividade em prol da sociedade onde se inserem.
Não vou falar das muitas existentes neste Concelho, mas tão só deste Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, do qual tenho orgulho de ser associado e colaborar no seu órgão trimestral – O Combatente da Estrela. Se, por vezes, podem existir ventos e marés fruto da sua existência, e não da passividade em ações desenvolvidas, sintoma de que há vida e não inércia, há conhecimentos e não ignorância do que por aqui se faz, a realidade resume-se naquela vertente de que a instituição prevalece nos requisitos que urge para se integrar no verdadeiro associativismo.
Basta uma leitura atenta deste periódico para se verificarem as várias atividades desenvolvidas ao longo do ano neste Núcleo, os artigos de opinião de distintos Colaboradores, sem esquecer os Associados, independentemente de serem ou não Antigos Combatentes (alguns não o foram, porque não foram chamados, mas cumpriram a sua obrigação militar), e, mormente, quando se separaram eternamente de nós, pela parte física, porque espiritualmente continuam vivos.
O Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes continua bem vivo, como atrás referi, e, não só pelas razões referidas, como também por outras ações desenvolvidas ao longo do ano, já sobejamente conhecidas, como, ainda, ter a sua sede aberta, onde, para além de poderem confraternizar, pela manhã ou pela tarde, há sempre um jornal diário, e outros periódicos para leitura.
Se falarmos nas ações do CAMPS da Beira Interior no seio deste Núcleo, podemos verificar quanto valor não tem a sua ação na terapia de acompanhamento psicológico dos associados, e suas famílias, face à perturbação do stress pós-traumático de guerra, conforme já foi referido no último número.
Depois, o associativismo não se faz sem pessoas, quer sejam as da sua massa de associados quer a dos seus dirigentes, estes que são a mola impulsionadora que faz andar a máquina, que a oleia com o seu dinamismo, que lhe incute entusiasmo, que lhe gera criatividade.
Nesta situação, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes tem vindo a ser bem servido, ao longo dos tempos, dos obreiros que conseguem manter a pedra angular desta instituição, entre, por vezes, altos e baixos; pudera, não fossem eles humanos, e, consequentemente, com pontos de vista que podem, por vezes, divergir de parte da construção. No fundo, ao longo dos tempos, todos deram parte do seu esforço em prol do Núcleo, não tivessem eles sido Antigos Combatentes!
Por último, não nos podemos esquecer que quem se encontra ao leme do navio tem a grande responsabilidade de o fazer chegar a bom porto, independentemente de, por vezes, os mares se encontrarem agitados, mas, nesta vertente, é preciso a inteligência de saber procurar as águas tranquilas. O Núcleo da Covilhã sempre soube encontrar esse Comandante e, já lá vão décadas, que o mesmo se encontra a saber encontrar os ventos favoráveis na rota certa.

Porque as palavras já se alongaram, resta-me desejar a todos quantos entraram nesta embarcação, sejam eles dirigentes, associados, colaboradores deste jornal e amigos, da CAMPS-BI, e aos prezados leitores, bem como a todas as suas famílias, os votos de um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

(In "O Combatente da Estrela", nº. 109 - Dezembro/2017)

13 de dezembro de 2017

O VENTO QUE PASSA

Aproximamo-nos do virar de mais uma página da história no planeta, na Europa, em Portugal, no nosso concelho, e no nosso próprio seio, para a contagem de mais um ano deste século.
Pelo mundo, um diabólico vento americano emergindo de um louco Trump, agitou outros ventos entre judeus e muçulmanos. E é assim que Jerusalém, onde já estive por duas vezes, passa de uma certa estabilidade para uma situação belicista, onde a vingança é uma das armas. Na Coreia do Norte, um desvairado líder, qual Nero a incendiar Roma, lança fortes ventos de uma demência de difícil cura.
Os europeus têm-se visto confrontados entre bons, regulares e maus ventos. O divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia está a consumar-se. O juiz “Brexit” lá foi conseguindo que os filhos deste matrimónio, agora dissolvido, não fossem totalmente abandonados e, ao invés, selaram um acordo que protege os direitos dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e vice-versa. O “casal” separado tenta agora alcançar o seu divórcio amistoso por forma a continuarem uma outra amizade. O “companheiro” Donald Tusk não deixa de avisar a sua “ex-companheira”, Theresa May, que “Romper é difícil, mas romper e construir uma nova relação ainda é mais difícil”. E, assim, de ventos de monção que nem são destas paragens nem desta época, mas imaginários, procura-se alguma brisa. E esta, antes que seja um vendaval, só na segunda fase das negociações sobre a futura relação entre Londres e Bruxelas.
Por este retângulo à beira-mar plantado, como aprendi dos tempos da primária, hoje, ensino básico, muitos acontecimentos foram surgindo do primeiro ao décimo segundo mês do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e dezassete, como em registos muito antigos assim se referia. Fazer um repertório de muitos dos eventos, e dos desencantos, para além do mais evidente, não caberia neste espaço, e são já do domínio público. Assim como o desaparecimento de figuras públicas, de várias vertentes da sociedade portuguesa, que todos os anos trazem o vento da inevitabilidade.
Apesar de tudo, como refere José Pacheco Pereira in Público, “… ainda me hão-de explicar o que é que tem de fascinante o presente e como é que sabem que o futuro vai ser melhor. Nem o presente é brilhante, o que acontece é que estamos presos nele, temos de viver nele, e nem ninguém sabe o que vai ser o futuro porque a essência da história é a surpresa. Pelo contrário, no passado podemos escolher algum proveito e exemplo, mesmo que saibamos que ele nunca se repete, e se se repete, tem sempre tendência para ser como comédia…”
Mas situemo-nos no nosso Portugal, onde outrora, nas eras quatrocentista e quinhentista, os portugueses se lançaram na aventura dos Descobrimentos, por mares nunca dantes navegados. Como não há mais nada para descobrir, os portugueses continuam na senda das aventuras pelo mundo e, como crentes do seu europeísmo, por este velho continente. É agora por via dos ventos direcionados na integração e união entre os povos, para a Paz Mundial e Direitos Humanos, que aí foi pegar no leme da organização um português e beirão, António Guterres, praticamente no início deste ano, ainda que oficialmente tivesse sido umas semanas antes do final do transato ano; depois, na união económica e política de agora 27 Estados-membros independentes onde já esteve Durão Barroso a presidir à Comissão Europeia (que algumas vezes não passou de joguete de Angela Merkel), agora neste final do ano surge o Ministro das Finanças, Mário Centeno, a ser eleito para presidente do Eurogrupo, dezassete meses depois de Portugal ter sido campeão europeu e sete meses depois de Salvador Sobral ter ganho a Eurovisão.
Pelo concelho da Covilhã outros ventos vinham anunciando transformar-se num furacão para se sobreporem aos ventos que sopravam na região concelhia, mas nem a ciclone chegaram, ainda que, mesmo assim, perspetivem vir aí um tornado. O que é certo e verdade é que os ventos alísios vão predominando em relação aos vendavais anunciados.
É que “O Vento Mudou”, pois “Oiçam, Oiçam, O vento mudou e ela não voltou; as aves partiram, as folhas caíram. Ela quis viver e o mundo a correr prometeu voltar se o vento mudar”, mas isto é tão só na canção de Eduardo Nascimento.
Que outros ventos também podem passar pela “Trova do Vento que Passa”, de 1963, balada do meu antigo colega de profissão, António Jorge Moreira Portugal, já falecido, e de seu cunhado Manuel Alegre, e cantada pelo saudoso Adriano Correia de Oliveira.
Alguns ventos vieram-me trazer o software que por vezes falta no meu hardware, isto porque já ultrapassou mais de dois terços do seu tempo provável de vida. Isto faz-me recordar o velho Galileu Galilei (1564 – 1642) quando alguém perguntou a este importante homem de ciências italiano a idade que tinha, tendo respondido: “Oito ou talvez dez”, explicando imediatamente que, na verdade, tinha apenas os anos que lhe restavam da vida, porque os já vividos não os tinha mais. Assim, há que aproveitar o tempo remanescente.
Aproveito para desejar a todos os meus leitores, amigos, colaboradores deste jornal na sua íntegra, e suas famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

(In "Notícias da Covilhã", de 14-12-2017)


12 de dezembro de 2017

IDADE DA PLENITUDE

Nada melhor do que ir ao encontro de um grande senhor da nossa cidade, para nos falar da idade de ouro, dos meninos da idade maior, dos nossos seniores, pela grande experiência alcançada ao longo dos anos, também ele, a viver, intensamente, o início da última (supostamente) etapa da vida.
Estou a falar, como calculam, do Senhor João de Jesus Nunes.
“Se há alguém que não receie a idade, sou uma dessas pessoas e até detesto quem é rotineiro do nada fazer após uma aposentação, salvo os casos de incapacidade por doença”, palavras do nosso anfitrião. Diz mesmo que se a vida teve um princípio, um dia terá o seu fim. É por isso que continua a viver cada dia, com as ocupações que lhe dão prazer (e são muitas), desenvolvendo atividades, escrevendo para a posteridade os seus brilhantes saberes, integrando equipas de ação diversa, contribuindo para a melhoria da nossa sociedade e do bem-estar dos que entram no grupo etário sénior.
O nosso amigo João, que dispensa quaisquer apresentações, homem simples, invulgar e dotado de um enorme coração pleno de sensibilidade e de amor ao próximo.
A sua vida, cuja história está ainda por contar, tal a sua riqueza de conteúdo e de saber, serve de exemplo ao mundo. E é por isso que, chegado a esta idade não escamoteia nem nega que esta é a idade da plenitude, do amor, da compreensão e do ensinamento.
Tem uma noção muito completa do que é e deverá ser, a idade maior daqueles meninos que já tudo fizeram para contribuir no desenvolvimento e engrandecimento do país, mas e também, para gerar família e, com isso, trazer ao mundo novos mundos de técnica e sabedoria.
De acordo com o que nos refere o nosso amigo João, “… é indubitável que no avançar da idade o organismo humano sente mudanças físicas que alteram as suas funções. Daí também mudanças nos seus comportamentos, pensamentos, sentimentos, e, obviamente, nas suas ações e reações. Deste estado, por vezes nalgumas pessoas leva-as a incapacidades que originam na própria família impossibilidade de manter condições de tempo, meios de atendimento do seu familiar e disponibilidades financeiras, para do mesmo se ocupar…”
Salienta ainda que “… somos o 7.º país mais envelhecido do mundo e, lamentavelmente, o que nos dói, é que 40% dos portugueses com mais de 65 anos passam oito ou mais horas por dia sozinhos, numa solidão desmedida, mesmo nalguns lares. E a Covilhã não é exceção. Que o digam as Conferências Vicentinas…”
A sua preocupação é bem patente, no que concerne ao bem-estar e qualidade de vida dos nossos seniores. De tal forma que:
“Envelhecer é redescobrir uma vida nova em cada dia.”
“A pessoa, nesta fase da vida, nasce novamente para uma vida cercada de surpresas, pronta para lhe garantir novos dias em vários campos.”
“Ainda que seja a época do aparecimento das doenças, por vezes mais invulgares, torna-se essa uma fase onde as emoções podem emergir muito mais facilmente.
Aproveitar a Idade da Plenitude ou Terceira Idade, como lhe queiram chamar, mas não de velhos ou idosos, é saber o valor de cada momento que se vive, seja antes, durante ou depois. Entender que tudo isto tem uma hora e, consequentemente, cada hora tem seu brilho.
Temos que compreender que, para não envelhecer, só morrendo jovem. Seria melancólico não poder conhecer o mundo em toda a sua grandeza, de eternizadas experiências ao longo da nossa vida, até ela chegar à sua plenitude.”
Como voto de coragem para todos, mas, em particular, para os que ainda acreditam no amanhã e, acima de tudo, nos nossos gestores políticos locais, deixa-nos este grito de glória, como exemplo a seguir.
“… tão só para deixar registado que, graças a Deus, o sentimento que vai na minha alma é de ter deixado tudo fora das gavetas, as tarefas executadas, ao longo da minha vida.
Ter dado a conhecer aos outros, para a atualidade e, eventuais vindouros interessados, tudo o que vou fazendo, sim com esforço, mas com muita dedicação e carinho, desde o mais de meio milhar de crónicas e textos de opinião em mais de duas dezenas de jornais regionais e alguns nacionais, aos livros que vou escrevendo (atualmente 10 já escritos), à memorização de eventos, factos e figuras de que as gentes da nossa gente tanto gostam, orgulha-me.
Tive o prazer de ter influenciado positivamente decisões por virtude de criatividade do pensamento, daí resultando a participação ou integrando, por convite, em algumas conferências ou debates, bem como o sucesso em duas grandes exposições temáticas que proporcionei à cidade.
Se algo posso ter dado de conhecimento, mais como autodidata, tenho a humildade de reconhecer que todos os dias tenho aprendido com todos, nos gestos e atitudes de quantos se cruzam comigo no caminho do quotidiano. E os que mais me ensinaram, e continuam a ensinar, são exatamente os pobres e os mais modestos.”
Homem de confiança, acredita que é possível elevar as sensibilidades do nosso município, na pessoa do seu Presidente Dr. Vitor Pereira, alcançando objetivos que, num passado recente, chegaram a ser uma realidade comprovada e amplamente testada.
E a sua alegria de viver, leva-o mesmo a referir que: “Se por vezes me manifesto como um pessimista, por coisas que vão surgindo, quer no planeta, quer neste país, quer ainda na minha terra – a Covilhã, paradoxalmente sou mais um otimista, pelas várias facetas da vida e uma delas é a “idade da plenitude”, ou seja, aquela que eu considero como designação mais correta, ao invés das que, oficialmente, se designam de terceira idade (aliás já existe uma quarta idade segundo alguns geriatras, ou seja, entre os 78 e os 105 anos), e também de velhice ou idoso.”
Preocupa-o ainda que:
“A velhice tenha deixado de estar associada a uma incapacidade para trabalhar para ser entendida como uma “inatividade pensionada”, ou seja, que a generalização dos sistemas de reforma tenham contribuído para que todas as pessoas, a partir de uma determinada idade, ficassem “dispensadas” de trabalhar, independentemente da sua capacidade para realizar trabalho.
Os receios agora também existem nos dados demográficos, pois segundo o Eurostat, Portugal é o quarto país da Europa onde a população com 65 ou mais anos depende mais da população ativa, com uma relação de 29,6% acima da média europeia. E confirma-se, assim, a tendência de diminuição da natalidade e do aumento de esperança de vida no país, nos últimos vinte anos.”
Por fim, sendo dispensável para a maioria, é bom que a nossa juventude saiba quem é este Senhor com H grande. Trata-se de:
João de Jesus Nunes, 71 anos, casado, pai de dois filhos e avô de quatro netos. É natural de Vila do Carvalho e residente na Covilhã desde os 9 anos. Estudou na Escola Industrial e Comercial Campos Melo onde tirou o Curso Geral do Comércio. Aos 17 anos empregou-se na Câmara Municipal da Covilhã, depois de, efemeramente, ter passado por uma firma comercial desta cidade, agora extinta.
No cumprimento do serviço militar obrigatório, tirou o curso de Sargentos Milicianos.
Partiu, depois, para o Soito – Sabugal, onde, durante um ano foi empregado de escritório duma empresa de refrigerantes, também já dissolvida.
Surgiu-lhe uma oportunidade, na Covilhã, para gerente da Companhia Europeia de Seguros, onde permaneceu durante 20 anos, até que, sequencialmente com a Liberty Seguros, passou a trabalhar por conta própria, como empresário, até que chegou a hora da aposentação.
Que brilhante exemplo para a posteridade, que extraordinária história de vida.
BEM-HAJA, SENHOR JOÃO DE JESUS NUNES.

“OS MENINOS DE ONTEM”, por António Rebordão


(In “fórum Covilhã”, de 12-12-2017)

ABOMINAÇÃO OU ACEITAÇÃO

O ano em curso aproxima-se do seu ocaso. Há sempre o alfa e o ómega. Ao longo deste ano surgiram muitas coisas nas nossas vidas, nos nossos espaços de ação, no nosso País, com destaque para as grandes catástrofes dos incêndios, com mais de uma centena de mortos, que grassaram no território português, e, para mal dos nossos pecados, ainda uma seca severa nos veio atormentar. Mas também houve coisas importantes a abonar a favor de Portugal, e, como referiu o diário espanhol El País, “Portugal ‘transmite paz’, e os seus diplomatas elevam esse valor de sossego ao seu trabalho nas sombras dos grandes poderes”.
Como inicialmente referi, se há um princípio também há um fim. Este pode vir mais cedo ou mais tardiamente, quando menos se pode esperar. Assim aconteceu, também este ano, com figuras sobejamente conhecidas dos portugueses, de várias esferas da sociedade.
Vou falar de outros acontecimentos que vão surgindo, como o celibato dos sacerdotes. Em novembro correu por toda a comunicação social a situação do padre do Funchal Giselo Andrade, que em agosto foi pai e assumiu a paternidade. Discutiu-se a sua situação, de poder ou não continuar a ser padre. O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, admitiu que não tem que abandonar o sacerdócio “desde que cumpra o celibato”. O cardeal disse ainda que estas situações são tratadas pelo respetivo bispo, até porque “todas as dioceses são autónomas”. Já Frei Bento Domingues, in Público, diz que a Igreja só está “com este problema ridículo às costas porque recusa discutir o fim do celibato eclesiástico”. Ainda sobre o problema da sexualidade, a teóloga Teresa Martinho Toldy refere se “não será legítimo perguntar o que pretende a Igreja fazer relativamente a padres e bispos que sejam homossexuais?” Na realidade, para além de casos sobejamente conhecidos, outros, supostos, de há muito tempo, foram notícia, em 2013, como a homossexualidade do bispo português D. Carlos Azevedo que se encontra em Roma, confirmado num dos canais da televisão pelo falecido padre Carreira das Neves.
Na diocese da Guarda surgiu a situação do ex-vice-reitor do Seminário do Fundão, padre Luís Mendes, que foi condenado a dez anos de prisão pelo abuso sexual de menores. Neste caso de pedofilia, o bispo da Guarda, D. Manuel Felício, sempre tentou proteger este padre. Será que o mesmo continuará a exercer o sacerdócio após cumprir a pena?
Há cinco anos, um amigo pediu-me para investigar algo sobre seu avô, padre Manuel António Rodrigues Mouta, que fora capelão da Igreja da Misericórdia na Covilhã. Quando o padre Mouta visitava frequentemente as suas duas filhas (nascidas em 1913 e 1915), criadas pela família ligadas ao sacerdote, fazia-se passar por padrinho. Nos documentos das suas filhas surgia a designação de “pai incógnito”. Face a esta situação, decidiu apresentar o seu caso ao bispo da Guarda, pedindo a sua resignação de padre, a qual lhe foi negada pelo bispo. Retirou-lhe, entretanto, a possibilidade de celebrar a Eucaristia. Foi colocado como capelão do hospital da Santa Casa da Misericórdia, sem esta função litúrgica. “Era, para ele, um ato de humilhação pública, não podendo celebrar missas, era também, a nível pessoal, um castigo”. Consta ainda que, à altura, esta conduta para com o padre Mouta foi mal recebida na Covilhã porque era muito querido das pessoas. Que a população se organizou e fizeram uma manifestação na Guarda na tentativa de falar com o bispo da diocese. Perante esta pressão dos covilhanenses, o bispo reconsiderou e o padre Manuel Mouta voltou à Igreja da Misericórdia, sendo que um dos seus pontos que o destacava ainda mais era, na Sexta-Feira Santa, a impressionante voz para os cânticos do Enterro do Senhor, vindo gentes de todo o lado para o ouvir.    
Após aturadas investigações e, conforme atas das sessões da mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, foi constatado que o padre Manuel Mouta foi nomeado interinamente capelão desta instituição em 13/12/1935, tendo sido mais tarde coadjuvado, face ao seu estado de saúde, e, depois substituído, interinamente, pelo padre José Mendes Pina, em 31/07/1944. Pela ata de 26 de março de 1945, desta Santa Casa da Misericórdia, dava-se conhecimento do falecimento do padre Manuel Mouta, ocorrida na madrugada do dia 21, “num quarto particular do hospital para onde tinha sido transferido da sua residência particular (…) e assim morreu, rodeado dos desvelos das reverendas irmãs (…)”.
Depois, o Notícias da Covilhã enaltecia as qualidades do sacerdote e enfatizava as notícias sobre o seu falecimento.
Só que o padre Manuel António Rodrigues Mouta foi pároco de Nª Sª da Conceição, de 1932 a 1933, sucedendo a provável seu irmão, padre João Rodrigues Mouta, que exerceu também ali o seu múnus, de 1899 a 1932. Sucedeu ao padre Mouta, o padre José de Andrade, ainda muito recordado, de 1933 a 1968.
Isto equivale a raciocinar que, durante duas décadas, o padre Mouta terá conseguido encobrir a sua paternidade ao bispo.
Sobre o assunto do celibato clerical muito haveria a dizer, mas o espaço não o permite. Existem muitas contradições, mas o que é certo é que ele já vem desde longa data. Vejam-se, por exemplo, o que dizem os vários Concílios: Concílio de Elvira, do ano 303 a 324 – O Concílio produziu um conjunto de cânones (regras) que regulam variados aspetos da vida cristã, como o celibato clerical. Primeiro Concílio de Niceia, no ano 325: Cânone I – Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão aceites aqueles que se castram. Cânone III – Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua casa, exceto sua mãe, irmã e pessoas totalmente acima da suspeita. Cânone IX – Quem quer que for ordenado sem exame deverá ser deposto, se depois vier a ser descoberto que foi culpado de crime. Segundo Concílio de Latrão, no ano 1139: Cânone 4 – Injunção contra os bispos e outros clérigos para que não provoquem escândalo ao vestir roupas muito ostensivas e recomendando que se vistam modestamente. Cânones 6, 7 e 11 – Repetiram a condenação do Primeiro Concílio de Latrão sobre o casamento e o concubinato entre padres, diáconos, subdiáconos, monges e freiras. Cânone 27 – Freiras foram proibidas de cantar no mesmo coro que os monges. Terceiro Concílio de Latrão, no ano 1179: Cânon 11 – Proibiu os clérigos de terem mulheres em suas casas ou visitar conventos de freiras sem um bom motivo; declarou que os clérigos casados perderiam seus benefícios; e decretou que os padres que praticarem a sodomia deverão ser depostos de seus cargos e fazer uma penitência – enquanto que leigos serão excomungados. Quarto Concílio de Latrão, em 1213: Cânones 14-18: Regras de conduta do clero, proibindo e combatendo a vida não celibatária, embriaguez, frequência a tabernas, caça ou participação em combates. Concílio de Trento, de 1545 a 1663: emitiu um decreto sobre o celibato clerical. Seguiu-se o Vaticano I.
Fica assim, uma reflexão sobre este importante tema.

Votos de um Santo Natal e um Feliz ano 2018


(In "fórum Covilhã", de 12-12-2017)