Aproximamo-nos do virar de
mais uma página da história no planeta, na Europa, em Portugal, no nosso concelho,
e no nosso próprio seio, para a contagem de mais um ano deste século.
Pelo mundo, um diabólico vento
americano emergindo de um louco Trump, agitou outros ventos entre judeus e
muçulmanos. E é assim que Jerusalém, onde já estive por duas vezes, passa de
uma certa estabilidade para uma situação belicista, onde a vingança é uma das
armas. Na Coreia do Norte, um desvairado líder, qual Nero a incendiar Roma, lança
fortes ventos de uma demência de difícil cura.
Os europeus têm-se visto
confrontados entre bons, regulares e maus ventos. O divórcio entre o Reino
Unido e a União Europeia está a consumar-se. O juiz “Brexit” lá foi conseguindo
que os filhos deste matrimónio, agora dissolvido, não fossem totalmente
abandonados e, ao invés, selaram um acordo que protege os direitos dos cidadãos
europeus que vivem no Reino Unido e vice-versa. O “casal” separado tenta agora
alcançar o seu divórcio amistoso por forma a continuarem uma outra amizade. O
“companheiro” Donald Tusk não deixa de avisar a sua “ex-companheira”, Theresa
May, que “Romper é difícil, mas romper e construir uma nova relação ainda é
mais difícil”. E, assim, de ventos de monção que nem são destas paragens nem
desta época, mas imaginários, procura-se alguma brisa. E esta, antes que seja
um vendaval, só na segunda fase das negociações sobre a futura relação entre
Londres e Bruxelas.
Por este retângulo à beira-mar
plantado, como aprendi dos tempos da primária, hoje, ensino básico, muitos
acontecimentos foram surgindo do primeiro ao décimo segundo mês do ano da graça
de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e dezassete, como em registos muito antigos
assim se referia. Fazer um repertório de muitos dos eventos, e dos desencantos,
para além do mais evidente, não caberia neste espaço, e são já do domínio
público. Assim como o desaparecimento de figuras públicas, de várias vertentes
da sociedade portuguesa, que todos os anos trazem o vento da inevitabilidade.
Apesar de tudo, como refere
José Pacheco Pereira in Público, “… ainda
me hão-de explicar o que é que tem de fascinante o presente e como é que sabem
que o futuro vai ser melhor. Nem o presente é brilhante, o que acontece é que
estamos presos nele, temos de viver nele, e nem ninguém sabe o que vai ser o
futuro porque a essência da história é a surpresa. Pelo contrário, no passado
podemos escolher algum proveito e exemplo, mesmo que saibamos que ele nunca se
repete, e se se repete, tem sempre tendência para ser como comédia…”
Mas situemo-nos no nosso
Portugal, onde outrora, nas eras quatrocentista e quinhentista, os portugueses
se lançaram na aventura dos Descobrimentos, por mares nunca dantes navegados.
Como não há mais nada para descobrir, os portugueses continuam na senda das
aventuras pelo mundo e, como crentes do seu europeísmo, por este velho
continente. É agora por via dos ventos direcionados na integração e união entre
os povos, para a Paz Mundial e Direitos Humanos, que aí foi pegar no leme da
organização um português e beirão, António Guterres, praticamente no início
deste ano, ainda que oficialmente tivesse sido umas semanas antes do final do
transato ano; depois, na união económica e política de agora 27 Estados-membros
independentes onde já esteve Durão Barroso a presidir à Comissão Europeia (que
algumas vezes não passou de joguete de Angela Merkel), agora neste final do ano
surge o Ministro das Finanças, Mário Centeno, a ser eleito para presidente do
Eurogrupo, dezassete meses depois de Portugal ter sido campeão europeu e sete
meses depois de Salvador Sobral ter ganho a Eurovisão.
Pelo concelho da Covilhã
outros ventos vinham anunciando transformar-se num furacão para se sobreporem
aos ventos que sopravam na região concelhia, mas nem a ciclone chegaram, ainda
que, mesmo assim, perspetivem vir aí um tornado. O que é certo e verdade é que
os ventos alísios vão predominando em relação aos vendavais anunciados.
É que “O Vento Mudou”, pois
“Oiçam, Oiçam, O vento mudou e ela não voltou; as aves partiram, as folhas
caíram. Ela quis viver e o mundo a correr prometeu voltar se o vento mudar”,
mas isto é tão só na canção de Eduardo Nascimento.
Que outros ventos também podem
passar pela “Trova do Vento que Passa”, de 1963, balada do meu antigo colega de
profissão, António Jorge Moreira Portugal, já falecido, e de seu cunhado Manuel
Alegre, e cantada pelo saudoso Adriano Correia de Oliveira.
Alguns ventos vieram-me trazer
o software que por vezes falta no meu
hardware, isto porque já ultrapassou
mais de dois terços do seu tempo provável de vida. Isto faz-me recordar o velho
Galileu Galilei (1564 – 1642) quando alguém perguntou a este importante homem
de ciências italiano a idade que tinha, tendo respondido: “Oito ou talvez dez”,
explicando imediatamente que, na verdade, tinha apenas os anos que lhe restavam
da vida, porque os já vividos não os tinha mais. Assim, há que aproveitar o
tempo remanescente.
Aproveito para desejar a todos
os meus leitores, amigos, colaboradores deste jornal na sua íntegra, e suas
famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.
(In "Notícias da Covilhã", de 14-12-2017)
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