13 de dezembro de 2017

O VENTO QUE PASSA

Aproximamo-nos do virar de mais uma página da história no planeta, na Europa, em Portugal, no nosso concelho, e no nosso próprio seio, para a contagem de mais um ano deste século.
Pelo mundo, um diabólico vento americano emergindo de um louco Trump, agitou outros ventos entre judeus e muçulmanos. E é assim que Jerusalém, onde já estive por duas vezes, passa de uma certa estabilidade para uma situação belicista, onde a vingança é uma das armas. Na Coreia do Norte, um desvairado líder, qual Nero a incendiar Roma, lança fortes ventos de uma demência de difícil cura.
Os europeus têm-se visto confrontados entre bons, regulares e maus ventos. O divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia está a consumar-se. O juiz “Brexit” lá foi conseguindo que os filhos deste matrimónio, agora dissolvido, não fossem totalmente abandonados e, ao invés, selaram um acordo que protege os direitos dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e vice-versa. O “casal” separado tenta agora alcançar o seu divórcio amistoso por forma a continuarem uma outra amizade. O “companheiro” Donald Tusk não deixa de avisar a sua “ex-companheira”, Theresa May, que “Romper é difícil, mas romper e construir uma nova relação ainda é mais difícil”. E, assim, de ventos de monção que nem são destas paragens nem desta época, mas imaginários, procura-se alguma brisa. E esta, antes que seja um vendaval, só na segunda fase das negociações sobre a futura relação entre Londres e Bruxelas.
Por este retângulo à beira-mar plantado, como aprendi dos tempos da primária, hoje, ensino básico, muitos acontecimentos foram surgindo do primeiro ao décimo segundo mês do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e dezassete, como em registos muito antigos assim se referia. Fazer um repertório de muitos dos eventos, e dos desencantos, para além do mais evidente, não caberia neste espaço, e são já do domínio público. Assim como o desaparecimento de figuras públicas, de várias vertentes da sociedade portuguesa, que todos os anos trazem o vento da inevitabilidade.
Apesar de tudo, como refere José Pacheco Pereira in Público, “… ainda me hão-de explicar o que é que tem de fascinante o presente e como é que sabem que o futuro vai ser melhor. Nem o presente é brilhante, o que acontece é que estamos presos nele, temos de viver nele, e nem ninguém sabe o que vai ser o futuro porque a essência da história é a surpresa. Pelo contrário, no passado podemos escolher algum proveito e exemplo, mesmo que saibamos que ele nunca se repete, e se se repete, tem sempre tendência para ser como comédia…”
Mas situemo-nos no nosso Portugal, onde outrora, nas eras quatrocentista e quinhentista, os portugueses se lançaram na aventura dos Descobrimentos, por mares nunca dantes navegados. Como não há mais nada para descobrir, os portugueses continuam na senda das aventuras pelo mundo e, como crentes do seu europeísmo, por este velho continente. É agora por via dos ventos direcionados na integração e união entre os povos, para a Paz Mundial e Direitos Humanos, que aí foi pegar no leme da organização um português e beirão, António Guterres, praticamente no início deste ano, ainda que oficialmente tivesse sido umas semanas antes do final do transato ano; depois, na união económica e política de agora 27 Estados-membros independentes onde já esteve Durão Barroso a presidir à Comissão Europeia (que algumas vezes não passou de joguete de Angela Merkel), agora neste final do ano surge o Ministro das Finanças, Mário Centeno, a ser eleito para presidente do Eurogrupo, dezassete meses depois de Portugal ter sido campeão europeu e sete meses depois de Salvador Sobral ter ganho a Eurovisão.
Pelo concelho da Covilhã outros ventos vinham anunciando transformar-se num furacão para se sobreporem aos ventos que sopravam na região concelhia, mas nem a ciclone chegaram, ainda que, mesmo assim, perspetivem vir aí um tornado. O que é certo e verdade é que os ventos alísios vão predominando em relação aos vendavais anunciados.
É que “O Vento Mudou”, pois “Oiçam, Oiçam, O vento mudou e ela não voltou; as aves partiram, as folhas caíram. Ela quis viver e o mundo a correr prometeu voltar se o vento mudar”, mas isto é tão só na canção de Eduardo Nascimento.
Que outros ventos também podem passar pela “Trova do Vento que Passa”, de 1963, balada do meu antigo colega de profissão, António Jorge Moreira Portugal, já falecido, e de seu cunhado Manuel Alegre, e cantada pelo saudoso Adriano Correia de Oliveira.
Alguns ventos vieram-me trazer o software que por vezes falta no meu hardware, isto porque já ultrapassou mais de dois terços do seu tempo provável de vida. Isto faz-me recordar o velho Galileu Galilei (1564 – 1642) quando alguém perguntou a este importante homem de ciências italiano a idade que tinha, tendo respondido: “Oito ou talvez dez”, explicando imediatamente que, na verdade, tinha apenas os anos que lhe restavam da vida, porque os já vividos não os tinha mais. Assim, há que aproveitar o tempo remanescente.
Aproveito para desejar a todos os meus leitores, amigos, colaboradores deste jornal na sua íntegra, e suas famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

(In "Notícias da Covilhã", de 14-12-2017)


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