A minha última crónica referiu-se
aos cafés tradicionais nas cidades. E o café bebida como e quando surgiu nos
estabelecimentos com a mesma designação? A lenda mais conhecida das suas origens
reporta-se ao ano 575 em que um pastor etíope, de nome Kaldi, apercebeu-se que
suas cabras ficavam mais espertas ao comer as folhas e frutos do cafeeiro. Não
podiam conciliar o sono e ficavam em grande agitação. Estupefacto, decide
provar os bagos vermelhos do arbusto e começou a sentir maior vivacidade. Um
monge da região, informado sobre o facto, fez então uma infusão dos bagos para
resistir ao sono enquanto orava. Teria acabado de inventar o café!
Existem várias datas apontadas.
Mais certo será o local da origem – Etiópia – na localidade de Kaffa, não
tendo, no entanto, esta palavra sido a génese de Café (Coffe em inglês). O
Iémen seria um centro de cultivo
importante, de onde se propagou pelo resto do mundo árabe. Chega à Europa, onde
por volta de 1570 o café é introduzido em Itália, na cidade de Veneza.
Na Inglaterra, em 1652, foi
aberta a primeira casa de café da Europa Ocidental, seguindo-se a Itália dois
anos depois. Em 1672 cabe a Paris inaugurar a sua primeira casa de café, e foi
precisamente na França que, pela primeira vez, se adicionou o açúcar ao café,
no ano de 1713.
Outras versões têm sido referidas
para explicar o aparecimento do café, sempre envolvendo personagens ou povos
árabes.
Embora diferindo as histórias e o
grau de fantasia, todas são unânimes quanto às
qualidades excitantes do café e, em geral, situam a sua origem entre a Europa,
o Iémen, e a Arábia, mais citada a Etiópia. Já quanto à época da primeira utilização do
café e de forma de preparar a bebida as opiniões são mais diversificadas.
Recordo que quando eu tinha 13
anos, o Imperador da Etiópia, Hailé Selassié, visitou Portugal entre os dias 26
e 31 de julho de 1959, tendo lido a notícia e visto uma foto no então Diário
Popular, Diário de Notícias, e na revista Flama, sobre a visita e o
descarregamento de umas toneladas de café, de um navio, oferta do Imperador da
Etiópia, na sua visita a Portugal. Tínhamos então a velhinha Biblioteca
Municipal, ao Jardim. Também recordo que o presidente da Câmara da Covilhã, Dr.
José Ranito Baltazar, e membro da União Nacional, se deslocou a Lisboa para oferecer uma prenda do Município (penso que
uma tapeçaria) ao Imperador, tendo sido escritas umas palavras, num pergaminho,
pelo falecido Matos Pombo, então administrativo dos Serviços Municipalizados da
Covilhã. Mais tarde, o Dr. José Ranito Baltazar mandaria inutilizar a medalha
que lhe oferecera o Imperador Hailé Selassié, revoltado pelo facto de a Etiópia
ter votada na ONU contra o colonialismo português.
A partir de 1615 o café começou a
ser saboreado no Continente Europeu, trazido por mercadores, principalmente
italianos, nas suas frequentes viagens ao oriente. O hábito de tomar café,
principalmente em Veneza, estava associado aos encontros sociais e á música que
ocorriam nas alegres Botteghe Del Caffé. As cafeterias desenvolveram-se na
Europa durante o século XVII, enquanto florescia o Iluminismo e se planejava a
Revolução Francesa.
Bom, o café é atualmente a bebida
preparada mais consumida no mundo, sendo servidas cerca de 400 bilhões de
xícaras por ano. O tipo de café mais comum é o arábica, ocupando cerca de três
quartos da produção mundial.
As dúvidas são menores quanto à
primeira casa onde o café era servido publicamente. Consta que terá sido em
Constantinopla onde dois mercadores sírios, Hakin e Shams, cerca de 1555, ali
abriram dois estabelecimentos no bairro Tahtakale, próximo do bazar egípcio. Conforme
referiu Lemaire, o primeiro café que existiu na Europa – ou mais precisamente
na parte europeia do Império Otomano – foi em Belgrado, em 1552. No entanto, o Kiva Han datado de 1475 deve
ser realmente o mais antigo café de Constantinopla, e do mundo. Depois de
Constantinopla e de Belgrado, os cafés iriam surgir um pouco por toda a Europa,
a começar por Veneza e depois Inglaterra.
Os mercadores que negociavam com
o Oriente foram naturalmente dos primeiros a trazer o café para a Europa
Ocidental. Um deles, Daniel Edwards, tinha um criado, de nome Pasqua Rosée, que
em 1652 abre o primeiro café em Londres.
Os cafés londrinos proliferaram
rapidamente. Este rápido crescimento foi naturalmente devido ao crescente
número de clientes que frequentavam os cafés pelas mais variadas razões. Se bem
que houvesse algumas raras exceções, a esmagadora maioria destes clientes eram
homens, que passavam bastantes horas em animadas conversas, recolhendo
indicações e sabendo novidades que pudessem ser úteis aos seus negócios, ou
simplesmente por pensarem que este convívio lhes favorecia o seu estatuto
social.
É que além de lugares de
convívio, os cafés londrinos tiveram um papel importante na criação de serviços
sociais e económicos, tais como serviços privados de correios.
As pessoas que se queriam
encontrar, em vez de perguntar onde moravam, era comum perguntar quais os cafés
que frequentavam.
Os serviços de correios em
Inglaterra começam por ser limitados à distribuição de mensagens oficiais, só
sendo abertos ao público por Carlos I, em 1635. Os cafés eram ainda locais de
leilões dos mais variados objetos, obras de arte, livros e mercadorias. Os
cafés serviam, sobretudo, de locais onde trocavam informações e se emitiam
panfletos e outros meios informativos. Os cafés serviam inclusivamente de
lugares onde médicos davam consultas e onde se fazia publicidade de remédios
para os mais variados males. Eram ainda centros onde se especulava sobre
ciência, literatura e filosofia. Eram mesmo conhecidos pelas “universidades de
um penny”, em alusão ao preço de uma
chávena de café, em torno da qual se podiam passar horas de conversa que também
eram, muitas vezes, horas de aprendizagem e fonte de cultura e, principalmente,
onde se tratava de negócios. A maior parte das transações comerciais e das
operações financeiras eram ali concluídas.
Foi este leque de funções que
diferenciou os cafés londrinos dos seus congéneres de outros países.
(in "Notícias da Covilhã", de 02-08-2018; e "O Olhanense", de 01-08-2018)