9 de janeiro de 2019

UM HOMEM, UMA MISSÃO


Conheci o padre Fernando bastante novo, após ter sido ordenado no dia 2 de agosto de 1959. Mas o saber quem de facto ele era foi em setembro desse ano, quando o bispo da Diocese o colocou na Covilhã, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, como coadjutor, aquela que hoje se encontra a paroquiar.
Na minha adolescência não percebia como este homem, humilde, numa inquietude com todo o mundo que o rodeava, procurava na dinâmica, que então não existia, a mudança de comportamentos, quando se vivia a perseguição política dos tempos da ditadura.
Tendo-lhe sido confiada a assistência diocesana aos movimentos operários (JOC e mais tarde a LOC), foi uma autêntica doação a esta causa durante 35 anos. Desde logo os jovens e os operários tinham no padre Fernando a ajuda pronta para o encontro de uma solução pacífica, que lhe valera grandes preocupações com a sua defesa face à perseguição política de então.
O Centro Cultural e Social da Covilhã abriu, entretanto, as suas portas e para ali se instalou a redação e tipografia do Notícias da Covilhã (NC), de que era diretor o pároco, padre José de Andrade.
É também aqui que o padre Fernando Brito dos Santos vai encontrar o seu pouso, até aos dias de hoje, numa constante dinâmica nas tarefas que lhe foram, entretanto, confiadas, já lá vão seis décadas.
Para além da sua excessiva humildade é adverso a qualquer homenagem que lhe queiram prestar, ainda que na mesma se veja forçado a estar presente. Assim aconteceu em 17-11-2001, quando os antigos e atuais elementos dos movimentos operários o homenagearam no Tortosendo, na sua substituição pelo novo assistente.
É no anonimato que sempre desempenhou e desempenha a sua ação em prol dos desprotegidos, fugindo aos projetos mediáticos que trazem notoriedade, tendo sido bastante sacrificado financeiramente com a situação que então existiu com o NC. Mesmo com a sua saúde abalada, já depois de ter sido operado ao coração, persiste em trabalhar.
É uma personalidade multifacetada, pois para além do já referido, foi professor de Moral nas Escolas Frei Heitor Pinto e Secundária Campos Melo, tendo-se dedicado com grande alma ao jornalismo. Em 1982 fez formação nesta área na Universidade Católica; foi chefe de redação do NC de 1979 a 1989, e, a partir desta data, acumulou com o cargo de diretor adjunto até ao falecimento do diretor, padre José Geraldes, que o substituiria como diretor até ser recentemente substituído pelo atual.
Foi um dos fundadores do Banco Alimentar. Em 02.08.2009 a paróquia fez-lhe uma sentida homenagem na comemoração das suas Bodas de Ouro Sacerdotais.
Em 12-10-2012 foi-lhe atribuída pela Câmara Municipal da Covilhã a Medalha de Mérito Municipal, categoria ouro, nas comemorações do 142.º Aniversário da elevação da Covilhã a Cidade. Em 02-12-2012 foi nomeado Cónego pelo bispo da Guarda, D. Manuel Felício.
Muito mais haveria a dizer deste homem da simplicidade e humildade, da cultura e protetor dos desprotegidos, mas o espaço não o permite.
João de Jesus Nunes

(In "Notícias da Covilhã", de  09-01-2019)

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