Conheci o padre Fernando bastante
novo, após ter sido ordenado no dia 2 de agosto de 1959. Mas o saber quem de
facto ele era foi em setembro desse ano, quando o bispo da Diocese o colocou na
Covilhã, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, como coadjutor, aquela que
hoje se encontra a paroquiar.
Na minha adolescência não
percebia como este homem, humilde, numa inquietude com todo o mundo que o
rodeava, procurava na dinâmica, que então não existia, a mudança de
comportamentos, quando se vivia a perseguição política dos tempos da ditadura.
Tendo-lhe sido confiada a
assistência diocesana aos movimentos operários (JOC e mais tarde a LOC), foi
uma autêntica doação a esta causa durante 35 anos. Desde logo os jovens e os
operários tinham no padre Fernando a ajuda pronta para o encontro de uma
solução pacífica, que lhe valera grandes preocupações com a sua defesa face à perseguição
política de então.
O Centro Cultural e Social da
Covilhã abriu, entretanto, as suas portas e para ali se instalou a redação e
tipografia do Notícias da Covilhã (NC), de que era diretor o pároco, padre José
de Andrade.
É também aqui que o padre
Fernando Brito dos Santos vai encontrar o seu pouso, até aos dias de hoje, numa
constante dinâmica nas tarefas que lhe foram, entretanto, confiadas, já lá vão
seis décadas.
Para além da sua excessiva
humildade é adverso a qualquer homenagem que lhe queiram prestar, ainda que na
mesma se veja forçado a estar presente. Assim aconteceu em 17-11-2001, quando
os antigos e atuais elementos dos movimentos operários o homenagearam no
Tortosendo, na sua substituição pelo novo assistente.
É no anonimato que sempre desempenhou
e desempenha a sua ação em prol dos desprotegidos, fugindo aos projetos
mediáticos que trazem notoriedade, tendo sido bastante sacrificado
financeiramente com a situação que então existiu com o NC. Mesmo com a sua
saúde abalada, já depois de ter sido operado ao coração, persiste em trabalhar.
É uma personalidade
multifacetada, pois para além do já referido, foi professor de Moral nas
Escolas Frei Heitor Pinto e Secundária Campos Melo, tendo-se dedicado com
grande alma ao jornalismo. Em 1982 fez formação nesta área na Universidade
Católica; foi chefe de redação do NC de 1979 a 1989, e, a partir desta data,
acumulou com o cargo de diretor adjunto até ao falecimento do diretor, padre
José Geraldes, que o substituiria como diretor até ser recentemente substituído
pelo atual.
Foi um dos fundadores do Banco
Alimentar. Em 02.08.2009 a paróquia fez-lhe uma sentida homenagem na
comemoração das suas Bodas de Ouro Sacerdotais.
Em 12-10-2012 foi-lhe atribuída
pela Câmara Municipal da Covilhã a Medalha de Mérito Municipal, categoria ouro,
nas comemorações do 142.º Aniversário da elevação da Covilhã a Cidade. Em
02-12-2012 foi nomeado Cónego pelo bispo da Guarda, D. Manuel Felício.
Muito mais haveria a dizer deste
homem da simplicidade e humildade, da cultura e protetor dos desprotegidos, mas
o espaço não o permite.
João de Jesus Nunes
(In "Notícias da Covilhã", de 09-01-2019)
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