19 de dezembro de 2018

UM FINAL DE ANO AGITADO


Neste caminhar para o final do 18.º ano do século XXI da Era de Cristo, muitas coisas vêm acontecendo não só no retângulo mais ocidental da Europa como também neste mesmo Velho Continente.
Começando pelo nosso país, as greves não param. Há 47 pré-avisos até final do ano, sendo que 11 setores da função pública estão em greve com essa intenção de continuidade. Não haverá um único dia sem paralisações, refere a comunicação social.
Neste mês de dezembro o setor da saúde é o mais afetado, com os enfermeiros que iniciaram a greve em 22 de novembro e já ameaçaram a continuidade em janeiro, com milhares de cirurgias adiadas, apesar do apelo ao bom senso por vários responsáveis do país, entre os quais o Presidente da República. A Ordem dos Enfermeiros tem vindo a descredibilizar-se publicamente, suscitando uma compreensível repulsa da sociedade portuguesa. O seu Movimento Greve Cirúrgica – que esteve na base da greve, lançou um fundo aberto ao público que recolheu mais de 360 mil euros para compensar os colegas que aderiram à paralisação. E já criou uma nova plataforma pública de recolha de fundos para a designada “greve cirúrgica 2”, desta vez para recolher até 14 de janeiro, 400 mil euros num “fundo solidário” com vista a ajudar os profissionais que aderirem e ficarem sem salário durante o período de protesto, tendo já recolhido 6100 euros em quatro horas, segundo a comunicação social. Que triste notícia, se não for peta, dum setor que se diz estar ao lado dos doentes quando se borrifam para os mesmos. E lamentável é ainda quem lhes dá apoio nas ajudas pecuniárias. Isto é pessoal que não passou pelas ventas do salazarismo, onde muitos comiam o pão que o diabo amassou, e que não era o das visões dos diabos em cada esquina que Passos Coelho pressagiara. Mas certamente ele aí está “encarnado” nalguns agitadores sobejamente conhecidos.
É que ainda há memórias curtas dos tempos da troika em que muitos andavam caladinhos e, agora, nada receiam, há dinheiro a jorros para satisfazer de imediato todas as reivindicações. Até atividades profissionais como a dos juízes fazem greves, quando tanto estas como a proteção civil, bombeiros, polícias, militares e outras análogas, deveriam ser proibidas.
Reivindique-se, sim, através de armas como o voto maciço, os melhoramentos nas zonas onde a demografia é cada vez mais fragilizada como o nosso Interior Beirão, e procure-se que os muitos ladrões de Portugal sejam condenados e não saiam para fora das grades enquanto não ressarcirem o país dos valores com que se locupletaram.
Com estas condutas irresponsáveis de muitos, não olhando a meios para atingir os seus fins, estão a preparar um lindo Portugal, não fazendo nada de diferente para proporcionar uma sociedade de bem-estar aos cidadãos, neste Portugal dos nossos netos.
No dia 10 deste mês de dezembro comemoraram-se os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos que defende valores universais ainda por realizar em vários países. O antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, defendeu que “a celebração deste 70º aniversário deveria ser uma ocasião para lançar um alerta vermelho”.
A outra parte da agitação deste final de ano já é de todos conhecida, desde os “coletes amarelos”, que têm saído à rua todos os sábados desde 17 de novembro, em Paris, com o presidente Macron em verdadeiros apuros para conter a fúria dos manifestantes reivindicadores; até Theresa May com o seu problema do Brexit, aquela primeira-ministra que se diz ter sete vidas mas com o seu “Brexit” na incubadora. Este não é mais do que, finalmente, o divórcio esperado e ansiado pelo Reino Unido e a União Europeia, e, assim, vão as crises desta mesma União Europeia.
Já os “coletes amarelos” exprimem a revolta da classe média empobrecida, da França periférica, que já não acredita na via eleitoral. Macron não é De Gaulle e não estamos em 1968, pois dizia um dos “coletes amarelos” nos primeiros dias de protestos que as “elites francesas se preocupam muito com o fim do mundo, mas o povo está preocupado é com o fim do mês”.
Termino esta crónica deste ano de 2018, citando a parte final da crónica de Vicente Jorge Silva, in Público de 9 de dezembro, sob o título “Lições europeias do terramoto francês: É por isso que o terramoto francês suscita tantos motivos de alerta e reflexão a uma Europa já em depressão profunda. Quem escapa agora ao contágio do que acontece em França? Quando se perde o controlo dos acontecimentos e não se sabe como recuperá-lo, o pior é, infelizmente, sempre possível. Eis também uma lição para nós, portugueses, nestes tempos de greves e reivindicações em cadeia”.
Um Santo Natal e um Feliz Ano 2019.

(In "Notícias da Covilhã", de 20-12-2018)

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