14 de maio de 2019

TODOS AO MOLHO


Depois da vitória de Pirro de Mário Nogueira, com a bandeira já desfraldada, surge um obstáculo no desenrolar do jogo, no campo político, pois que a disputa ainda não tinha terminado.
Alguns que rodeavam o clube dominante, aquele que tem incutido alguma dose de esperança pelos resultados obtidos, não só a contento dos adeptos mas também de outros expetantes, juntaram-se aos do clube adversário, num desvario de embriaguez, querendo também dar azo à sua alegria pela presunção da vitória já no horizonte.
Na minha ingenuidade política, nunca pensei que apaniguados de dois dos clubes representados naquele estádio – BE e PCP – aceitassem fazer o jogo da direita, dando as mãos a partidários de outros dois clubes, também ali presentes: PSD e CDS, para derrotarem o outro clube que jogava – GOVERNO do PS.
A vitória quase no papo, do treinador do clube dos PROFESSORES, com a adesão à cumplicidade naquele orgasmo, naquele êxtase de todos ao molho – onde é que isto já se viu?!  –, foi objeto de uma amnésia temporária de que o jogo tinha o VAR – o tal videoárbitro.
Pois é, lá vão ficar numa ansiedade, os adeptos lançados todos ao molho, dos quatro clubes referidos, e nenhum já vai sequer ficar com a bola do jogo.
Já não é a consagração par(a)lamentar do fanático “professor” Mário Nogueira como real ministro da Educação.
Assinalada a grande penalidade a favor do clube do GOVERNO do PS, é o volte-face. E aí acontece a vergonha dum PCP à rasca nas sondagens, o opróbrio do BE na deceção de tantos que o farão decair, na ignomínia dum PSD, à reacionária Cristas que nem com o joker do hipócrita Rui Rio conseguirá chegar a bom porto.
Alguns dos espetadores daquele nevrálgico jogo, disputado no estádio PAR(A)LAMENTAR, quiseram dar entrevistas aos vários órgãos da comunicação social:
Manuel Carvalho (in Público): - “A interminável farsa da carreira dos professores. O tema está a dar origem a um lamentável espetáculo que consiste em querer cativar a docência com bravatas políticas que são puro ilusionismo. No outono, quando o Governo precisava do seu apoio para aprovar o OE, o Bloco e o PCP não tiveram a coragem de impor a reivindicação dos docentes.”
João Miguel Tavares (in Público): - “António Costa está cheiinho de razão. O grande problema do PSD e do CDS é que António Costa sabe mais de política a dormir do que Rui Rio e Assunção Cristas. António Costa meteu no bolso a sua esquerda e a sua direita – basta ver a forma disparatada como todos os partidos reagiram à cartada do Governo, atropelando-se em péssimas justificações como se tivessem sido meninos traquinas apanhados com a mão na caixa de biscoitos. Todo este bouquet de palermice é de tal forma patético e desconchavado que António Costa e Mário Centeno devem ter saído na sexta à noite para beber uns copos e brindar à imbecilidade da oposição”.
Teresa Sousa (in Público): - “Como foi possível, em primeiro lugar, ao PSD dar um monumental tiro no pé? Como foi possível, em segundo lugar, à esquerda radical pôr em causa uma eventual continuação da ‘geringonça’ depois das legislativas? Aparentemente nada disto tem lógica, sobretudo perante uma reivindicação encabeçada pela figura que vence por longevidade e demagogia o concurso da irresponsabilidade sindical (e política) nacional – Mário Nogueira.”
Vicente Jorge Silva (in Público): “Bravo, António Costa! António Costa sentiu que chegara o momento de soltar o seu grito do Ipiranga, fosse qual fosse o preço a pagar por isso”.
Anabela Sousa Dantas (in Economia ao Minuto): “Mário Centeno afirmou esta sexta-feira, em entrevista à SIC, que o diploma em causa para a contabilização total de serviço dos professores é ‘irresponsável’ e foi feito escondendo despesa e ‘manhosamente’ atirando para o futuro o tempo a recuperar”.
Patrícia Martins Carvalho (in Notícias ao Minuto): - “A ‘primavera quente’ de Costa chega com ‘chantagem’ e ‘eleitoralismo’. Tudo parecia andar sobre rodas até às próximas eleições legislativas. Pelo caminho ficavam as Europeias – com poucas críticas entre os partidos da Esquerda – e o PSD de Rui Rio e o CDS de Assunção Cristas com uma imagem desgastada ainda colada ao período da troika e com uma capacidade argumentativa incapaz de ‘fazer cair’ a Geringonça.”
João Pedro Henriques (in dn.pt): - “Costa tira pressão de Marcelo e protege geringonça. Corda completamente esticada. ‘Não consigo compreender como partidos que fizeram acordo com o PS para que haja esta solução de governo, que têm aprovado propostas no âmbito desse acordo, que tiveram o PS a ceder em posições importantes para acolher as suas propostas, possam hoje pôr em causa a sustentabilidade desta solução, numa coligação negativa com as forças da direita”, dizia, quanto ao BE e ao PCP. E quanto ao PSD e CDS acrescentava: “Também não consigo perceber como partidos da direita, que estão sempre a agitar o fantasma da suposta bancarrota, possam alegremente aprovar uma medida que significa 800 milhões de euros anuais em despesa permanente”.
Pedro Marques Lopes (in dn.pt): - “Há uma classe profissional que tem um estatuto especial, uma espécie de casta com direitos superiores ao resto da maralha. Os professores acham que devem ser a única classe profissional que não sofreu com a crise que todos atravessamos e pagamos. (…) Que se amanhem, dirão em voz não muito baixa os professores. E, claro, o que conta é o tempo decorrido, tenham sido bons ou maus profissionais, já se sabe que esta classe, a quem compete avaliar, não admite ser avaliada”.
Mas as centrais sindicais CGTP e UGT vieram, prontamente, pedir tratamento igual para as outras carreiras da Função Pública que também estiveram congeladas, e a FESAP avisou que são várias.
Mas os professores esquecem-se que não são só eles os lesados, olvidam, por exemplo, que não é possível devolver os empregos aos trabalhadores que os perderam, não é possível voltar a pôr a funcionar as empresas que faliram por causa da crise, não é possível fazer regressar os que emigraram. Isto a não ser que os quatro partidos dos apoiantes do clube dos PROFESSORES, pensem também que os trabalhadores do setor privado são gente de segunda categoria e que nem vale a pena pensar como lhes pagar os sacrifícios. A não ser que se ponha em cima da mesa várias hipóteses: acabar com o Serviço Nacional de Saúde. A escola pública não porque estão lá os professores, mas abandonar as estradas e as vias férreas, e mandar o subsídio de desemprego às malvas. Nem era preciso pensar em apoios sociais, podendo-se promover o fim das forças armadas e de segurança. E, porque não? Vender a Beira Interior e o Alentejo à China. Talvez já fosse suficiente. Que acham?

(In "Jornal fórum Covilhã", de 14-05-2019)

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