20 de março de 2020

DE G3 EM RISTE, O POVO ENTROU NA HISTÓRIA


Este é mais um número do nosso Jornal. Corresponde sensivelmente ao segundo trimestre deste ano. Aqui se inserem duas datas importantes entre os antigos Combatentes. O dia 9 de Abril comemora o ataque em larga escala dos alemães na batalha da Flandres, em 1917, onde começaram a lutar os 55 mil homens do Corpo Expedicionário Português (CEP) que também combatiam em África. O País não se encontrava empenhado no esforço de guerra, dado que o desejo político dos dirigentes não correspondia às realidades militares, nem à vontade da população. O ataque em larga escala lançado pelos alemães na madrugada daquele dia deu início à batalha de La Lys, de dolorosa memória para o exército português. As baixas do CEP estimaram-se em 1341 mortos, 1932 desaparecidos, 4626 feridos e 7740 prisioneiros. O País atravessava uma grave crise económica e financeira com aflitivas repercussões sociais.
Em 1924 foi oficializada a Liga dos Combatentes da Grande Guerra, através da portaria 3888. Instituição de utilidade pública, estatutariamente, tinha por principal função “proteger e auxiliar, através de pensões e socorros”, todos os militares do Corpo Expedicionário Português e respetivas famílias. A partir de 1965 passou a designar-se apenas Liga dos Combatentes e a aceitar também a inscrição dos mobilizados para a Guerra Colonial. Este dia, 9 de Abril, é também considerado Dia do Combatente.
Já não existe nenhum deste tempo mas subsistem, sim, das guerras coloniais, que se iniciaram na madrugada do dia 4 de fevereiro de 1961. Estas só terminariam com o dia 25 de Abril de 1974, por via do derrube do regime ditatorial de Salazar e Marcelo Caetano. As primeiras grandes colunas militares portuguesas partiram para o norte de Angola, para dar resposta aos massacres da UPA, em 13 de maio de 1961. Seria a guerra de uma geração – guerra do ultramar ou guerra colonial, ou ainda guerra de libertação, como a intitulavam os movimentos africanos.
Mas quero referir-me ao que dá força ao título deste texto. Durante quase meio século, a G3 foi a arma dos soldados portugueses. Fez a Guerra Colonial e o 25 de Abril, marcou o último ciclo do império português. Tornou-se ícone, lenda e objeto de um culto difícil de explicar. Por ser uma arma distribuída por todos, foi como se, de G3 em riste, o povo tivesse entrado na História, como protagonista. Não isento de culpa, na guerra, nem de heroísmo, na libertação. Entretanto, a G3 já saiu de cena.
A espingarda automática de calibre 7,62 mm que equipou as Forças Armadas portuguesas, desde os princípios dos anos 60 até outubro de 2019, tornou-se de facto um ícone e uma lenda. Ficou, na realidade e na imaginação, ligada à Guerra Colonial, mas também à Revolução do 25 de Abril, às lutas do PREC, ao golpe do 25 de Novembro, ao roubo de armas de Beirolas, aos piquetes da Maioria Silenciosa, às conspirações do caso Camarate, às missões militares portuguesas no Kosovo e em Timor-Leste.
Em várias ocasiões, esteve dos dois lados da barricada. Aconteceu no 25 de Novembro de 1975, quando se defrontaram os esquerdistas de Otelo e os moderados de Eanes. Era a arma de Salgueiro Maia e das forças do regime. Marcou presença na Reforma Agrária, quando as forças do Comando Operacional do Continente, o Copcon, apoiaram a ocupação das terras, e, mais tarde, quando a GNR garantiu a devolução das terras aos antigos proprietários.
Nas colónias africanas, confrontou-se quase sempre com a Kalashnikov, sua grande rival, usada pelos independentistas. Mas também esteve nas mãos das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste, as Falintil, na luta contra as forças indonésias de ocupação.
Segundo Pedro Marques de Sousa, tenente-coronel, professor de História na Academia Militar, a G3 acompanhou o último ciclo do império português. “Estava nos primeiros combates em Angola, e no contingente português de manutenção de paz em Timor, em 2000”. Agora, o seu desaparecimento fecha o ciclo para sempre.
Esta arma é o antepassado direto da G3. “Não é alemã, como geralmente se pensa. A origem da G3 é espanhola. Os espanhóis começaram a produzir a arma em 1956. Depois venderam a licença à Holanda, para produção em série.”
Quando as primeiras ações subversivas se iniciaram no Noroeste de Angola, o regime de Lisboa não estava preparado para a guerra que decidiu lançar nas colónias de África. Todo o treino das Forças Armadas portuguesas era feito nos moldes das duas guerras mundiais. Os primeiros contingentes que desembarcaram em Angola levaram armamento pesado, veículos obsoletos e treino convencional, como se fossem combater na guerra das trincheiras de 1914. Quando se percebeu que se tratava de um conflito de outra natureza, com caraterísticas de guerrilha e de guerra subversiva, foi preciso mudar tudo. E rapidamente. A guerra subversiva exigia equipamento leve, ágil e rápido, compatível com o que já estava a ser usado pelos movimentos de libertação nos três teatros de guerra. As primeiras forças portuguesas a chegar a África ainda levavam as velhas espingardas Mauser que equipavam, numa versão de 1937, as Forças Armadas. Os guerrilheiros que lutavam pela independência de Angola, Moçambique e Guiné, maioritariamente apoiados pela União Soviética, usavam espingardas automáticas AK47, conhecidas por Kalashnikov. Ou seja, os portugueses tinham armas da Segunda Guerra Mundial, enquanto os guerrilheiros já possuíam armamento típico da Guerra Fria.
A guerra da Argélia, que ainda decorria, foi o modelo para a guerra colonial portuguesa. Nas opções de armamento, prevaleceu a Alemanha, com a aquisição da licença para o fabrico de G3, que passou a fazer-se em Portugal na Fábrica de Braço de Prata, que viria também a exportar para vários países. Foram produzidas, entre 1962 e 1988, naquela unidade fabril da zona oriental de Lisboa, 442 mil espingardas G3, além de outro armamento e munições, como a metralhadora HK-21, também sob licença, ou a pistola metralhadora de 9 mm e o morteirete de 60 mm, ambos de marca original FBP (Fábrica de Braço de Prata). Fechou em 1991.
A introdução da G3 no Exército português implicou importantes alterações táticas, bem como de organização. “A espingarda automática é uma arma individual, é para todos. Antes, quase todas as armas exigiam uma operação coletiva”.
A velha Mauser tinha carregadores de cinco munições. “Podiam usar-se dois num minuto, numa cadência de dez tiros por minuto. A G3 tem carregadores de 20 balas e permite disparar 600 tiros por minuto. É uma revolução”. A G3 permitiria combater com grupos mais pequenos. “Uma secção, de 12 homens, comandada por um sargento, passa a ter um poder de fogo enorme”. A G3 transmite uma inebriante sensação de poder, mas também de dependência. De liberdade, até de heroísmo, mas, ao mesmo tempo, de insegurança. O medo de perder a arma e a alma.
Uma G3 em riste tinha exatamente o peso da lei e da boa consciência. E um preço: a responsabilidade individual. A G3 devolve ao soldado o protagonismo.
Na instrução que se dava aos soldados era-se particularmente exigente nas questões de segurança. Retirar o carregador antes de tirar a bala. Limpar a arma sempre sem as munições dentro. Culatra atrás e com a arma virada para cima. Dar um tiro para confirmar que não há bala na câmara, antes de tirar a cartucheira. No mato, nunca disparar de rajada, para não ficar sem munições, e atirar sempre ao alvo.
Adeus, G3. Se ao menos pudesses servir para combater o novo coronavírus!...

(In "O Combatente da Estrela", n.º 118, de março/2020)

11 de março de 2020

O POUCOCHINHO É MUITO


Pouco a pouco vamos encorpando o número de momentos marcantes ao longo das nossas vidas.
A expressão ficou-me retida há uns anos. A caminho da pré-primária, meu Neto embirrava com a escola. Ao tentar animá-lo dizia-lhe que era pouquinho tempo, que logo vinha para casa. Pelo caminho, insistia comigo: “Ó avô, mas um pouquinho é muito, não é?
Chega a vez de António Costa. Então presidente da Câmara de Lisboa. Preparava o assalto ao seu partido. Entendeu que a vitória de António José Seguro, de 31,4 por cento com que ganhou as eleições europeias em 2014, foi por “poucochinho”. O resto já se sabe. Apeou Seguro numas primárias. E é líder do PS desde então.
Surge o coronavírus na China. A OMS emite o primeiro alerta para a doença em 31 de dezembro de 2019. Depois das autoridades chinesas notificarem casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan. Metrópole chinesa com 11 milhões de habitantes. Sétima maior cidade da China. E a número 42 do mundo. Na China, em 9 de janeiro de 2020, um homem de 61 anos foi a primeira vítima. 41 pessoas já haviam sido infetadas. Era ainda poucochinho para aquela vastidão de gente. O medo não se instalara tanto como agora, numa imensidão de casos de infeção e mortes. Extravasando já a China e dispersando-se por quase todo o planeta. O poucochinho rapidamente se transformou no muito.
Noutro contexto, continuamos a assistir a muitos “poucochinhos” de pedaços da nossa vivência. De um momento para o outro transformam-se em “muitos”.
Duas dezenas de dias marcantes da última década deste século. Parcialmente já me referi por outras ocasiões. Parecem poucochinhos momentos. Mas transformaram-se numa enormidade de situações: adversas ou menos conseguidas.
As Primaveras Árabes em 2011. Começaram aos poucochinhos. Mas depressa alastraram. Não mudaram a História. Mas deixaram bem impressa na memória coletiva a vontade de os povos se apoderarem dos seus destinos. Eram acontecimentos que prenunciavam uma mudança histórica no mundo árabe. As imagens prendiam milhões de pessoas aos ecrãs das televisões. Seguiu-se uma interminável ressaca. Culminou na tragédia síria. À Tunísia, seguiu-se a Argélia, Egipto, Iémen, Bahrein, Líbia. Um fenómeno de contágio. Foram temas comuns: a persistência de regimes autocráticos, ditadores há décadas no poder, visibilidade da corrupção, uma imensa frustração social.
A troika foi chamada a Portugal em 2011. O seu programa ajudou a definir o rumo económico, social e político do País, aos poucochinhos. Mas o aceleramento não tarda. Do poucochinho passa-se ao muito, muito mesmo para além da troika. Dia 6 de abril desse famigerado ano. O pontapé de saída para mais uma era de austeridade. É poucochinho o que a generalidade dos portugueses recebem. Tornar-se muito grande o rasgão das suas algibeiras. Do “desvio colossal” ao “enorme aumento de impostos”.
Em 2019, a Cimeira do Clima – COP25. No último dia com tudo em aberto. Assim chega a 25ª. Conferência das Partes (CP25) da Convenção Quadro das Nações Unidas, em Madrid, com uma incógnita: Será mesmo o seu último dia? Isto não é poucochinho?
Dia 13 de março de 2013. Anúncio ao mundo da escolha de 115 cardeais reunidos em conclave. O novo Papa é um jesuíta de 76 anos – o argentino Jorge Mario Bergoglio. Adota o nome de Francisco.
Põe a Igreja a discutir a homossexualidade, o aborto, o fim do celibato, a ordenação de mulheres. Força o clero a encarar os abusos sexuais. Ao fim de oito anos não mexe na doutrina da Igreja. Alimenta quilómetros de notícias. Já na qualidade de Papa escapula-se do Vaticano para comprar óculos e sapatos. Trocado a limusine por um carro utilitário. Renuncia ao luxuoso apartamento papal. Reside com os funcionários da Santa Sé na Casa de Santa Marta.  Despreza os velhos símbolos do poder eclesial. Em vez dos famosos sapatos vermelhos calça uns velhos sapatos pretos. Recusa fechar as portas da Igreja aos divorciados recasados e aos homossexuais. Obriga padres, bispos e cardeais a olharem as vítimas olhos nos olhos. Critica a opulência em que se refestelam muitos dos representantes da Igreja Católica. Dos bens materiais e condições sociais quis poucochinho para ele.
Ano 2014. Queda do BES. A sua história é a história de um banco rico que afinal era pobre. O BES era afinal um castelo vazio. Com acionistas sem capital e ativos sobrevalorizados. Os supervisores (e os governos) eram distraídos. E durante duas décadas ignoraram os sinais de falta de solidez do grupo. E as falhas de idoneidade de alguns gestores. As mensagens de tranquilidade, poucochinhas, tinham partido nas vésperas do resgate de Belém, de São Bento e do Banco de Portugal. Escondiam a realidade: o Banco estava insolvente. Cavaco Silva enganou-nos. O poucochinho transformou-se num muito de problemas, muitos mesmo.
Foi num domingo de verão, a notícia em direto nas televisões: um dos bancos mais importantes da história de Portugal estava prestes a cair.
10 de novembro de 2015. António Costa quebrou “o Muro de Berlim”. Cavaco apela à rebelião dos deputados do PS contra a estratégia de alianças à esquerda que Costa está a construir. Assinaturas de António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia no papel. O PS apresenta a moção de rejeição. A esquerda parlamentar levanta-se em conjunto. Aprova-a. O Governo Passos – Portas cai. É a estreia da nova maioria. Acabou-se o poucochinho.
A queda do Governo de Passos leva Costa a primeiro-ministro. Portas faz, durante mais de vinte minutos, um sistemático e violento ataque ao líder do PS. Do púlpito do hemiciclo de S. Bento, Portas afirma: “Pedirei emprestado a Vasco Pulido Valente a definição da vossa manobra. Não é bem um governo, é uma geringonça.”
12 de dezembro de 2015 – O Acordo de Paris foi um marco. Há uma grande alegria. Adotado um acordo para limitar as emissões de gases que aquecem o planeta. Mas o mundo está longe de cumprir essas metas. A COP21, em Paris, fechou o primeiro documento. Todos os países do mundo se comprometem com metas de redução de emissões de gases de estufa. Foi um feito da diplomacia francesa, mas também produto de um acordo prévio entre os EUA e a China. O mais importante documento saído destas cimeiras promovidas pelas Nações Unidas tinha sido o Protocolo de Quioto, em 1997. Este só previa compromissos por parte dos países mais ricos. Desta vez, era o mundo todo que se punha de acordo. Do poucochinho havia surgido o muito.
Segue-se um balde de águia fria. Alertas sucessivos de que o mundo não está a seguir o caminho certo para alcançar as metas ali estabelecidas. À escala global, há um conjunto de más notícias: a eleição de Donald Trump. O anúncio de que pretende sair do acordo. Um conjunto de fake news. Põem em causa a ciência, e o crescimento de emissões. A boa notícia são as manifestações pelo clima à escala global. Estão aí, constantes e bem visíveis. Lideradas, sobretudo por jovens. Entre eles, o nome mais sonante é um dos mais improváveis. Uma sueca de apenas 16 anos. Chama-se Greta Thunberg. Sozinha, iniciou uma greve às aulas pelo clima, em agosto de 2018.
23 de junho de 2016. O Reino Unido decidiu encolher a União Europeia. Nada será como antes do referendo do Brexit. Em seis décadas de integração e alargamento, nunca a construção europeia se tinha feito a subtrair, só a adicionar. Os britânicos foram às urnas para decidirem em referendo se queriam continuar na União Europeia e o “não” venceu com 51,89% dos votos.

(In "Jornal fórum Covilhã", de 11-03-2020)

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


 “A Mulher na Sociedade Covilhanense”. Escrevi em 10-04-2008. Já lá vão 12 anos. Reli o texto publicado. Mantenho a minha satisfação com que o redigi. A Mulher ainda continua a ser uma pessoa postergada. E até repudiada, em partes consideráveis do Globo. Segundo Albert Einstein, “Grandes almas sempre encontraram forte oposição de mentes medíocres”.
Século XV. Seguros de escravas grávidas. Desenvolveram-se com alguma facilidade. Segundo um estatuto de Génova, sendo atribuído a alguém que tivesse comércio com uma escrava de outrem, o facto de ela engravidar se devia considerar plena prova de autoria, o juramento da escrava em causa e do dono desta. Caso fosse pessoa de boa fama, para além de outros indícios. As penas relativas a estes casos eram pesadas. E podiam duplicar caso a escrava viesse a morrer de parto. Um crime que não era considerado de ofensa à pessoa, mas sim à propriedade. Os donos das escravas começavam a entrar em acordos com os imputados autores. Estes seguros eram frequentes. Porque eram também frequentes as compras de escravas grávidas. Uma razão algo insólita: nestas condições o adquirente comprava previsivelmente dois escravos pelo preço de um.
Na atualidade, outras formas de discriminação da Mulher são sobejamente conhecidas. Da maioria de todos de nós.
Mas a Mulher esteve, de forma constante, no cerne de muitos acontecimentos. Desde a criação do mundo até à atualidade. É inegável o valor que acrescentam a tudo aquilo que se dedicam. Como a manifestação pela igualdade de direitos civis em favor do voto feminino. Entre outras.
“O coração tem razões que a própria razão desconhece” – Blaise Pascal.
A Mulher tem um “espírito engenhoso, imaginativo, sempre irrequieto”. Palavras de Fernando Pessoa. Define-o ainda pela “facilidade em arranjar soluções para as dificuldades que lhe possam surgir, e é ao mesmo tempo preocupado e instável, sendo, porém, no fundo, intenso e violento em tudo. Há uma grande dose de subtileza e diplomacia feminina”.
Dia Internacional da Mulher: a origem operária do 8 de Março. Não é apenas uma data de homenagem às mulheres. Tem raízes históricas mais profundas e sérias. Oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975. O Chamado Dia Internacional da Mulher é comemorado desde o início do século XX. Hoje, a data é cada vez mais lembrada. Como um dia para reivindicar igualdade de género. E com protestos ao redor do mundo. Aproximando a data de sua origem na luta de mulheres que trabalhavam em fábricas nos Estados Unidos. E em alguns países da Europa.
A Mulher distinguiu-se das demais desde políticas influentes, poetisas, arquitetas, gestoras, entre outras áreas de atuação. De geração em geração, atuaram e atuam para o bem comum. Relevaram sempre a educação que as distingue, o caráter, o espírito empreendedor. Apesar dos preconceitos relacionados com o género. Têm vindo a assumir um papel preponderante no crescimento económico e no bem-estar das sociedades.
A Mulher brilhou em todo o mundo e em Portugal. As Mulheres destacaram-se em várias dimensões. As que marcaram a história é extensa. Muitas outras seriam passíveis de ser enumeradas. Quer a nível internacional, quer a nível nacional.
Na exemplaridade, com desempenhos notórios: Cleópatra – figura feminina do Egito. Toda a gente recorda, pela sua beleza e capacidade de estratégia. Anne Frank – escreveu um diário com um forte testemunho sobre a Segunda Guerra Mundial. Coco Chanel – a única estilista na lista das 100 pessoas mais importantes do século XX. Segundo a revista Time. A princesa Diana – relembrada pelas causas humanitárias a que se dedicou. J. K. Rowling – destacou-se na escrita, com os livros de Harry Potter. Madonna – revolucionou a música POP. Malala – com papel de relevo no ativismo. Marie Curie – cientista e física polaca. A primeira mulher a receber um prémio Nobel. Madre Teresa de Calcutá – Santa de Calcutá e fundadora das Missionárias da Caridade. É dela: “Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor”.
A nível nacional: Rainha Santa Isabel – ficou na história por ajudar os pobres e pela lenda do “Milagre das Rosas”. Carolina Beatriz Ângelo – a primeira Mulher a votar e a consagrar esse direito ao sexo feminino. Amália Rodrigues – a eterna rainha do fado português que levou a tradição da nação pelo mundo inteiro. Florbela Espanca – grande poetisa portuguesa. Lourdes Pintassilgo – a primeira e única Mulher a assumir o cargo de primeira-ministra de Portugal, quando nenhuma outra Mulher o tinha sido. Maria José Estanco – a primeira Mulher portuguesa a assumir o cargo de arquiteta.

(In "Notícias da Covilhã", de 12-03-2020)

6 de março de 2020

UM PEDACINHO DA COVILHÃ A CAMINHO DO CENTENÁRIO


Quero em primeiro lugar agradecer o convite que o Senhor Presidente da Direção me fez para aqui falar um pouco sobre a Casa da Covilhã.
O que é que eu vou dizer, tendo em conta o pouco espaço de tempo de que já disponho?
Foi assim que, de alguma perplexidade surgida no meu pensamento, logo a mesma se desfez e,
num relance, achei por bem dar o título a esta minha palesta, assim:

UM PEDACINHO DA COVILHÃ A CAMINHO DO CENTENÁRIO
Vou ser breve.
Entrei pela primeira vez nesta Casa em 1973 numa altura em que por aqui andei uns dias, em formação na Seguradora cuja delegação eu geria na Covilhã.
Apenas me recordo de ter estado junto ao balcão-bar, e de ter encontrado algumas pessoas que não conhecia para além do velho António Isaac. O homem do bar disse-me que era do Fundão. Estranhei o edifício sujo e arruinado, nessa altura, com alguns ébrios à mistura.
Passei assim longos tempos sem visitar esta Casa, mais pela indisponibilidade de permanecer tempo suficiente em Lisboa, cujas horas necessárias não me abundavam, ou então era a permanência exclusiva em questões profissionais.
No entanto a minha curiosidade era sempre conhecer quem presidia à Casa da Covilhã, e, pelas notícias que na oportunidade eram veiculados nos semanários da região beirã, sobre o que se passava nesta Casa, confesso, com raridade, insuflavam-me algo de vontade em ver o seu novo rosto.
Mais tarde, as notas da imprensa regional que ligeiramente davam registo de a Casa da Covilhã acolher várias personalidades, ou eventos, enchiam-me de curiosidade.
Recordo-me de na presidência do falecido Abel Ribeiro Cunha, aqui foi recebida a equipa e dirigentes do SCC, que havia subido à I Divisão Nacional, em 1985, aquando da meia final da Taça de Portugal que veio disputar a Lisboa com o Benfica;  e também Jorge Vieira, antigo internacional e ídolo do SCP, então seu sócio n.º 1, e que esteve na fundação do SCC.
Na Covilhã algumas vezes interpelava o Clementino Xavier como corriam as coisas aqui pela Casa da Covilhã.
O século XXI traria algum período de turbulência a esta Casa, ficando fechada, sem qualquer tipo de atividade, entre 2006 e 2010. No entanto, um grupo de covilhanenses radicados em Lisboa, com vontade indómita em fazer renascer esta instituição, ao redor de um almoço mensal que ainda hoje mantêm, reativou a Casa da Covilhã.
Para se poder manter este barco a flutuar em águas tranquilas foi necessário o surgimento de dirigentes tenazes, suando a camisola com o nome da sua Terra, e é desta feita que esta instituição tem atingido os seus objetivos através de iniciativas de caráter cultural e recreativo e dando a conhecer a gastronomia da nossa região, atividades que me escuso de salientar por já serem sobejamente conhecidas, devidamente divulgadas não só pela Casa da Covilhã, mormente através das redes sociais, como também pela imprensa regional, mas, contrariando um pouco o que acabo de dizer, seria grave esquecer as noites de fado, nesta Casa, e a recriação da Feira de S. Miguel que proporciona uma das maiores concentrações de Covilhanenses em Lisboa. Nunca se viu tanta gente da nossa gente a vir agora aqui apresentar as suas obras literárias, as suas poesias, e a sua arte. É obra!
Se eu, como inicialmente referi, entrei pela primeira vez nesta Casa, há quase meio século, pois bem, esta Instituição vai agora a caminho do Centenário. Entre ventos e marés, ela vai desenhando o seu percurso com a bandeira desfraldada da Covilhã, com notoriedade, e é assim que o caminho se faz caminhando.
Efetivamente, chegámos à conclusão de que são 96 primaveras! Pudera, se o Boletim da Casa da Covilhã de 1949 assinalava as Bodas de Prata, obviamente que a sua génese já vem de 5 de janeiro de 1924 e não 1929, ainda que tenha sido “autorizada a sociedade de recreio Grémio Covilhanense” neste último ano. Igualmente José Mendes dos Santos, no seu livro “Breve História Cronológica da Covilhã”, refere a sua fundação a junho de 1924.
Depois da Rua da Mouraria, 24,1º, passaria para o Largo do Caldas, nº 8, e em 1 de junho de 1940, neste nº 150-1º B, na Rua do Benformoso. Assim também me referi no Boletim Informativo n.º 1, online, de dezembro de 2014, da Casa da Covilhã, sob o título “Ressurgimento”.
“No dia 18 de junho de 1949, na Sessão Solene comemorativa da passagem do 25º. Aniversário foi inaugurada, festivamente, mais uma Estante da nossa Biblioteca”, referia-se assim o Boletim da Casa da Covilhã já mencionado.
Deixo aqui um apelo para que façam mais um esforço no sentido de organizarem a Biblioteca, onde existem muitos autores Covilhanenses.
Pois bem, queremos continuar a entrar na porta 150 desta Casa, no âmbito da nossa “Beiranidade” já que ficámos fartos de saber que o 10 é do Downing Street, lá para outras bandas a transvazar a Europa.
Parabéns à Casa da Covilhã – a nossa Casa na capital –, e também a todos os seus obreiros, com realce para esta sua dinâmica Direção.
Obrigado.

(Minha palestra na Casa da Covilhã, no dia 15-02-2020)