Vivemos uma situação
inimaginável para os tempos que correm. Os humanos de hoje, e mesmo de há um
século, jamais passaram por tamanha transformação do planeta. Bastou um ser
invisível à vista desarmada para engolir os gigantes Golias. Se compararmos numa
conjuntura bíblica. E esse ser invisível brinca com o Mundo. Em todas as
facetas da vida.
Mas o espírito desta crónica
na vertente dos ventos da Beira Serra, é tão só para que haja um pequeno
lenitivo nas nossas conversas. Aquela amizade entre serranos e algarvios.
Sporting Clube da Covilhã
(SCC) – Sporting Clube Olhanense (SCO). Ambos filiais do Sporting Clube de
Portugal. Recordo as suas 10 primeiras filiais: 1, em 9/4/1922 – Sporting Clube
Tomar; 2, em 17/5/1922 – Sporting Clube Farense; 3, em 1/9/1922 – Sporting
Clube de Luanda; 4, em 10/1/1923 – Sporting Clube Olhanense; 5, em 15/1/1923 –
Sporting Clube de Gouveia; 6, em 6/5/1923 – Sporting Clube de Lourenço Marques;
7, em 18/5/1923 – Sporting Clube de Abrantes; 8, em 2/6/1923 – Sporting Clube
da Covilhã; 9, em 8/7/1923 – Sporting Clube de Moçâmedes; 10, em 17/7/1923 –
Sporting Clube de Pombal.
Há 97 anos nascia o SCC. Mas já
por cá andava o SCO, há 108. Surgiu antes duma pandemia, mas sentiria a gripe
espanhola, ou pneumónica, em 1918.
Quanto ao SCC, a sua fundação
processou-se da seguinte forma: havia dois dos principais clubes rivais – o
Estrela Football Clube, formado por uma classe de maior poder económico, na
senda de homens ligados à indústria de lanifícios; e outro – o Montes
Hermínios, mais ligado ao operariado e bombeiros voluntários. Daí que, aos
primeiros, foram designados os do “clube dos ricos”. Algumas das figuras do
Estrela Football Clube, enraizados na alma leonina que grassava na altura,
acabaram por ter contactos com dirigentes do Sporting Clube de Portugal (SCP) que,
nesse tempo, vivia fase eufórica da criação de filiais. Tinham o dinâmico
presidente da Direção, Júlio Cardoso Araújo. Na Covilhã havia alguns grandes
entusiastas leoninos, como o proprietário e comerciante António Rebelo de Matos;
o jogador e capitão do Estrela, António Estrela dos Santos; o tipógrafo Joaquim
Meruje e o jornalista João de Oliveira. O presidente do SCP, verificando o
ambiente propício na Covilhã, enviou a esta cidade duas figuras relevantes:
Jorge Vieira, atleta internacional em grande evidência e o dirigente Amílcar
Pinto. Assim, em casa de António Rebelo de Matos, situada no coração da cidade,
na Rua Capitão Alves Roçadas, com a presença de dirigentes do Estrela Football
Club, em cerimónia pouco protocolar, criava-se a 8ª filial do SCP. E, consequentemente, o nome do Estrela
Football Club passou a designar-se, a partir dessa data (2/6/1923), Sporting
Clube da Covilhã.
O glorioso SCO viria a ver a
luz do dia no dia 27 de abril de 1912, mas com a data da fundação a 17,
realizada numa casa da R. de S. Bartolomeu, em Olhão, por um grupo de onze
atletas que vieram a dar o nome ao clube, a escolher a cor do equipamento e a
constituir a sua primeira direção. Ficou acordada a quotização semanal de 50
réis. Viria a ser Campeão de Portugal na data em que o SCC foi fundado (1923).
Tornaram-se assim ambos clubes
ecléticos e históricos do futebol português.
Entretanto, no Boletim do SCP n.º
52, de 15/07/1923, na sua página 271 (este boletim, quinzenário, destinado aos
sócios do SCP, iniciou a sua publicação em 21/03/1922 e saiu regularmente até
1952, custava 2$00 semestrais e a ideia da sua criação partiu de Júlio Araújo),
continha a seguinte informação: “O Sporting Clube da Covilhã constituiu-se 8ª.
filial do SCP” “A ideia leonina alastra-se e em breve nós teremos por todo o
País uma forte corrente de apoio ao Sporting. Devido à influência do nosso
antigo consócio Amílcar Pinto, o Estrela Football Club, em 2 de junho,
transformou-se em Sporting Clube da Covilhã constituindo-se nossa 8.ª
Filial. Não é o SCC uma coletividade
que conte muitos anos de existência e um passado cheio de recordações
gloriosas, mas, constituído por elementos cheios de boa vontade, virá a ser uma
grande coletividade à qual, como nos cumpre, daremos todo o apoio e auxílio
para que se torne um clube importante. São atualmente 70 os sócios do SCC e a
sua Direção é atualmente constituída pela seguinte forma: (…) A Filial adota a
nossa legislação na qual de princípio foram introduzidas algumas modificações
tendentes a facilitar a sua ação nestes primeiros tempos. As suas cores são
atualmente o amarelo e preto, mas a bandeira será como a de todas as filiais,
verde, com o leão encimando as suas iniciais. Confiemos que a boa vontade da
Filial, fortemente ajudada pela Sede, possa tornar o Sporting Clube da Covilhã
uma coletividade de valor”.
Já escrevi por outras ocasiões
que o SCC e o SCO se defrontaram várias vezes, em momentos importantes do
futebol português. Foi na antiga I Divisão Nacional (hoje I Liga); na II
Divisão Nacional por via do Torneio de Apuramento para a Primeira; na Taça de
Portugal, na Taça Ribeiro dos Reis e na Divisão de Honra, deixando sempre
rastos de simpatia, aquele fair-play tão necessário nos meios desportivos.
Alguns atletas que vestiram as
camisolas do SCO mais tarde viriam a representar as cores do SCC: Eminêncio,
Fernando Cabrita, Palmeiro e o guarda-redes Rita.
Curiosamente, como também algures
já referi, no 1.º Boletim do Totobola, surgido em 24-09-1961, pela mão do
Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Covilhanense Dr. José
Guilherme Rato de Melo e Castro, o número das 13 equipas que integraram este
primeiro boletim, surge, logo em n.º 1, um Olhanense – Covilhã…
Outros tempos! Ficam as memórias!
(In "O Olhanense", de 15-07-2020)