Era eu ainda criança. Sem
saber porquê, ouvia falar nesta figura. Andava nos ouvidos dos covilhanenses.
Médico. Veio ao mundo com
origem na freguesia da Vela. Concelho e distrito da Guarda. Naquele 21 de novembro de 1899. Deixaria o
mundo dos vivos em 21 de dezembro de 1955. Tinha 56 anos. Radicou-se na cidade
dos lanifícios. Na Covilhã viveu quase três décadas. Isto após se ter formado
em medicina na Universidade de Coimbra. Tinha então 23 anos. Na cidade laneira começou
logo a exerceu a medicina. O seu consultório na Rua Ruy Faleiro, em frente ao
Teatro-Cine. Deu ainda enorme contributo a diversas instituições citadinas.
Médico do Hospital da
Misericórdia da Covilhã. Lugar que exerceu com muito aprumo e dignidade, durante
muitos anos, ali patenteou desinteressado amor pelos que sofriam com manifesto
prejuízo da sua vida profissional e particular. Em todos os pobres, que dele se
abeiravam nos momentos de aflição, criou amizades, enxugando lágrimas e levando
a esperança e o conforto a muitos corações e lares infelizes.
Dedicou especial carinho às
organizações juvenis. Ali era muito considerado. Foi por isso médico do Corpo
Nacional de Escutas.
Foi Presidente da Direção do
Sporting Clube da Covilhã (SCC). Épocas de 1925/26 e 1953/54. Foi nesta prestigiosa
coletividade que, nos seus primórdios, o jovem clínico insuflou a sua dinâmica.
Foi assim o primeiro médico do clube serrano. Pioneiro na instalação do sistema
de radiologia no Hospital desta Cidade. Foi ainda Vereador da Câmara Municipal
da Covilhã, Membro do Conselho Técnico do Clube Desportivo da Covilhã e
Presidente do Orfeão da Covilhã.
1943 a 1951. Presidente da
Direção dos Bombeiros Voluntários da Covilhã (BVC). Aqui foi aumentado ao
efetivo da Corporação, como médico, em 1 de janeiro de 1924. Passou a Sócio
Efetivo (Chefe Médico) em 31 de janeiro de 1925. Eleito para o cargo de Vogal
Efetivo da Direção em 7 de fevereiro de 1928. Novamente eleito para o mesmo
lugar, em 14 de janeiro de 1933. Reeleito para o mesmo cargo em 16 de fevereiro
de 1934. 50º Aniversário dos BVC. Palavras do médico António Gomes de Oliveira:
“O Espírito da Corporação – é das coisas mais admiráveis que tenho conhecido o
laço de união, apertado e firme, que liga uns aos outros os heroicos Bombeiros
da Covilhã. Laço apertado como de família, mais do que isso muitas vezes, enche
de simpatia e de admiração todos os que com eles têm ocasião de lidar. Inscrito
há pouco no número dos seus sócios ativos, como médico, comecei a
frequentar-lhes a sede e os exercícios como que por diletantismo. A breve
trecho, porém, vendo-os escalar ousadamente e sempre em risco da própria vida
as janelas elevadas dos prédios onde praticam a sua Arte humanitária;
presenciando o bom humor e o desinteresse com que se referem aos ferimentos que
vão fazendo em si mesmos; vendo e ouvindo os gracejos e diversões a que se
entregam nas folgas – lidando ousadamente com o perigo como com as chamas lutam
em ocasiões de sinistro – senti-me empolgado pelo seu espírito de abnegação e
heroísmo, pelos homens que do simples amor do seu semelhante,
desinteressadamente brincam com a morte. E a sua convivência tornou-se-me
necessária; com eles retempera-se a coragem para a luta, esquecem-se
mesquinhices da vida, desgostos das lutas, horas de cansaço, e apenas apetece
ser maior, ser apenas como eles, imitá-los na coragem que é o que hoje mais
falta à maior parte das gentes. Neste dia de grande festa para todos nós,
Rapazes, eu vos abraço como amigo que vos admira na vossa coragem, que vos estima
como irmãos. Gomes d’Oliveira.”
Foi Diretor do Notícias da
Covilhã, nomeado em 24/12/1944. Em 1951 deixou a Covilhã, saindo para Lisboa,
por motivos de ordem profissional e de saúde. Aqui viveu poucos anos, entregue
completamente aos seus deveres médico-radiológicos e no carinhoso ambiente
familiar.
O fulgor e o desassombro do seu
alto talento, e a facilidade com que usava a palavra fluentíssima, fizerem
dele, muitas vezes com o maior brilho, o porta-voz da cidade nas mais variadas
circunstâncias e qualquer que fosse o momento. Usando o seu poder invulgar de
improvisador, em parte alguma do país deixou de patentear calorosamente toda a
paixão que nutria pela cidade que o acolhera amigavelmente, cimentando nessa
ação amizades que bem úteis foram para a Covilhã.
(In "Notícias da Covilhã", de 16-07-2020)
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