Há muito não falava no
desporto citadino. Passei a espetador televisivo. Mas atento a toda a sua
envolvente. E à sua leitura e/ou consulta na imprensa, em papel ou online. Os ventos
voltaram-se para outros temas. O sentido da pesquisa, no entanto, jamais me
abandonou.
1990 – Iniciei historiar a
vida do clube serrano – Sporting Clube da Covilhã (SCC) – numa grande aventura.
O mais representativo de toda a Beira Interior. Não havia os meios tecnológicos
como hoje. E, acima de tudo, faltava o vil metal. Amadorismo autêntico.
Autodidata. Garra na execução dum trabalho jamais visto. Porque o Clube não
tinha a sua história escrita. No meu lema de “fazer primeiro e pedir depois”.
Se possível. Atento a não dar ouvidos a críticas. Vasculhar o que era possível.
Quando ainda não havia acesso à Internet como hoje. Inexistência de
computadores. Algumas fotocopiadoras, mas impressoras com scâner não. Existiam
as máquinas de escrever. Em substituição dos faxes e e-mails, a correspondência
pelo correio. Quando urgente e breve, o telegrama. Tudo mais moroso. Mas muitos
contactos pessoais. Os jornais desportivos não eram diários. Alternavam o Record com a A Bola. Às 4ªs feiras, lá surgia a desaparecida Gazeta dos
Desportos. Mais tarde surge O Jogo. As estórias para uma história
com muitas facetas da vida serrana. Quase em segredo lá conseguiam deixar-me
fazer uma passagem rápida pelos livros de atas da Coletividade. No sótão da
antiga Sede, um montão de documentos e fotos antigas, na mistura de lixo e pó.
Tinha de escovar as calças e engraxar os sapatos. Mas ainda encontrei alguns homens
da sua fundação. Obtive interessantes quão importantes informações da génese.
Dos que já tinham partido consegui contatar alguns familiares diretos. Recolhia
apontamentos. Outros faziam-me chegar importantes documentos antigos. Mormente
fotos. António Estrela e José Augusto de Carvalho, os então únicos fundadores
vivos. Nonagenários. E os familiares dos falecidos António Rebelo de Matos, na
pessoa de sua filha, Maria Leonor Sousa Matos, a viver na Figueira da Foz; e o
filho do falecido fundador João de Oliveira, ele também já desaparecido. E
ainda antigos dirigentes com conhecimentos profundos. Nas Poldras, na empresa
fabril já extinta, o meu contacto com o falecido industrial José Lopes dos
Santos Pinto, filho de José dos Santos Pinto. Transmite-me importantes
depoimentos. Mais abaixo, na extinta fábrica de Cristiano Cabral Nunes, a CIL –
Complexo Industrial de Lanifícios, Limitada, na Várzea, contatei os irmãos
Mesquitas, todos antigos dirigentes de excelência, já falecidos: Manuel Rogério
Mesquita Nunes, José Mesquita Nunes, Luís Filipe Mesquita Nunes. O massagista
José Gil Barreiros não me largava, contando muitas passagens do SCC. Fora de
portas, era o contacto com as falecidas velhas glórias serranas: Simonyi em
França, Suarez no Brasil, Cabrita em Marrocos, onde treinava. E com muitos dos
que ainda se mantinham por este recanto à beira-mar plantado, velhas glórias do
clube serrano. O entusiasmo em fornecer dados embrionários foram aliciantes. Os
mais entusiastas eram de fora da cidade. As notícias iam chegando,
complementadas por alguns contactos telefónicos que iam passando palavra. E liam
nos pedidos de informação que vinham por mim publicados nos desportivos
nacionais. Contataram-me e foram objeto de importantes informações,
proporcionadores de boas amizades, os antigos jornalistas desportivos do Record,
Henrique Parreirão e Carlos Arsénio, já fora do mundo dos vivos. E até um
atendedor automático de chamadas, aquando do encerramento do escritório, se
encontrava repleto. Um amigo desconhecido, já falecido, de terras algarvias, lá
tinha a sua voz gravada. Foi bom colaborador. Com informações do viveiro do SCC
dessa sua zona. Geraram-se amizades. De tal forma que num encontro em Olhão,
onde o SCC foi disputar com o clube local, o carola algarvio Augusto Ramos
Teixeira dirigiu-se ao grupo de adeptos covilhanenses que assistiam ao jogo. Ao
intervalo pergunta se eu lá estava. Para me conhecer. E cumprimentar. Disseram
que não me viam lá, mas que me conheciam. O envio de um abraço. Recebido na 2ª
feira. Passei a colaborar no quinzenário daquela Cidade já lá vai mais de um
quarto de século. São crónicas ou notícias do lado de cá da Beira Serra. Muitos
dos jornais desportivos nacionais transmitiam a informação que lhes era
enviada. Como a célebre homenagem às velhas glórias do clube serrano naquele
sábado de 28 de setembro de 1991. A APAE da qual era dirigente foi a da
iniciativa, por minha proposta. A edilidade covilhanense quando se apercebeu
que isto não era leviandade, abriu as portas do seu salão nobre aos visitantes,
vindos de todo o país, e recebeu-os num abraço. Ficaram as memórias.
1991 – Subsídios para a
História do Sporting Clube da Covilhã, numa 1ª edição, pouco mais chegou para
ofertas aos homenageados e convidados.
1992 – Numa 2ª edição,
renovada, do mesmo título, deu oportunidade à tipografia da região para
publicar uma obra em tamanho inédito para a altura. A cores ainda era
experiência. Tinham de ir para fora.
1993 – 2.º livro – Figuras
e Factos do Sporting Clube da Covilhã. Acabou por ser o mais solicitado.
Também esgotou, sem reedição.
1998 – 3.º livro – Sporting
Clube da Covilhã – Passado e Presente. Nas Bodas de Diamante, a história
ainda mais completa.
2007 – 4º livro – Sporting
Clube da Covilhã na Taça de Portugal – Cinquentenário da sua participação na
final.
Entretanto, 1991 e 2007 foram
também proporcionadores de uma interessante e importante exposição
histórico-documental sobre o SCC e objetos desportivos de Clubes e Federações
de todo o mundo. Em 2007, as crianças da Escola Básica do Rodrigo apresentaram
trabalhos alusivos ao SCC, com prémios simbólicos atribuídos aos melhores.
2017 – 5.º livro – História
do Sporting Clube da Covilhã – 1923 * 1990. Tive o prazer de prefaciar e
apresentar este interessante livro da autoria do amigo Carlos Miguel Silva
Saraiva, dando assim continuidade ao estudo e divulgação do glorioso SCC.
Esperemos que o mesmo autor possa estar no prosseguimento da sua história, a partir
de 1990, já que a mesma não se esgota.
Há factos, eventos e
personalidades novas que mantêm o clube a desfraldar briosamente a sua
bandeira, na representação não só do concelho como de toda a vasta região
beirã. Com uma persistente liderança na condução dos caminhos do êxito. Este
trabalho não é feito em vão.
Todas as obras publicadas não
interferem umas com as outras, antes se completam, pelo que há conteúdos que
umas possuem e outras não.
É neste contexto que, nos
próximos números, darei continuidade a memorizar factos do clube serrano,
inseridos nos quatro anteriores livros. Para avivar memórias.
(In "Notícias da Covilhã", de 02-07-2020, que, entretanto, excluiu a parte final do texto, onde menciono todos os livros publicados sobre o SCC; e quinzenário "O Olhanense", de 01-07-2020, com a sua publicação integral)
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