1 de julho de 2020

SÍMBOLO DE UMA CIDADE NO FERVOR DAS SUAS GENTES


Há muito não falava no desporto citadino. Passei a espetador televisivo. Mas atento a toda a sua envolvente. E à sua leitura e/ou consulta na imprensa, em papel ou online. Os ventos voltaram-se para outros temas. O sentido da pesquisa, no entanto, jamais me abandonou.
1990 – Iniciei historiar a vida do clube serrano – Sporting Clube da Covilhã (SCC) – numa grande aventura. O mais representativo de toda a Beira Interior. Não havia os meios tecnológicos como hoje. E, acima de tudo, faltava o vil metal. Amadorismo autêntico. Autodidata. Garra na execução dum trabalho jamais visto. Porque o Clube não tinha a sua história escrita. No meu lema de “fazer primeiro e pedir depois”. Se possível. Atento a não dar ouvidos a críticas. Vasculhar o que era possível. Quando ainda não havia acesso à Internet como hoje. Inexistência de computadores. Algumas fotocopiadoras, mas impressoras com scâner não. Existiam as máquinas de escrever. Em substituição dos faxes e e-mails, a correspondência pelo correio. Quando urgente e breve, o telegrama. Tudo mais moroso. Mas muitos contactos pessoais. Os jornais desportivos não eram diários. Alternavam o Record com a A Bola. Às 4ªs feiras, lá surgia a desaparecida Gazeta dos Desportos. Mais tarde surge O Jogo. As estórias para uma história com muitas facetas da vida serrana. Quase em segredo lá conseguiam deixar-me fazer uma passagem rápida pelos livros de atas da Coletividade. No sótão da antiga Sede, um montão de documentos e fotos antigas, na mistura de lixo e pó. Tinha de escovar as calças e engraxar os sapatos. Mas ainda encontrei alguns homens da sua fundação. Obtive interessantes quão importantes informações da génese. Dos que já tinham partido consegui contatar alguns familiares diretos. Recolhia apontamentos. Outros faziam-me chegar importantes documentos antigos. Mormente fotos. António Estrela e José Augusto de Carvalho, os então únicos fundadores vivos. Nonagenários. E os familiares dos falecidos António Rebelo de Matos, na pessoa de sua filha, Maria Leonor Sousa Matos, a viver na Figueira da Foz; e o filho do falecido fundador João de Oliveira, ele também já desaparecido. E ainda antigos dirigentes com conhecimentos profundos. Nas Poldras, na empresa fabril já extinta, o meu contacto com o falecido industrial José Lopes dos Santos Pinto, filho de José dos Santos Pinto. Transmite-me importantes depoimentos. Mais abaixo, na extinta fábrica de Cristiano Cabral Nunes, a CIL – Complexo Industrial de Lanifícios, Limitada, na Várzea, contatei os irmãos Mesquitas, todos antigos dirigentes de excelência, já falecidos: Manuel Rogério Mesquita Nunes, José Mesquita Nunes, Luís Filipe Mesquita Nunes. O massagista José Gil Barreiros não me largava, contando muitas passagens do SCC. Fora de portas, era o contacto com as falecidas velhas glórias serranas: Simonyi em França, Suarez no Brasil, Cabrita em Marrocos, onde treinava. E com muitos dos que ainda se mantinham por este recanto à beira-mar plantado, velhas glórias do clube serrano. O entusiasmo em fornecer dados embrionários foram aliciantes. Os mais entusiastas eram de fora da cidade. As notícias iam chegando, complementadas por alguns contactos telefónicos que iam passando palavra. E liam nos pedidos de informação que vinham por mim publicados nos desportivos nacionais. Contataram-me e foram objeto de importantes informações, proporcionadores de boas amizades, os antigos jornalistas desportivos do Record, Henrique Parreirão e Carlos Arsénio, já fora do mundo dos vivos. E até um atendedor automático de chamadas, aquando do encerramento do escritório, se encontrava repleto. Um amigo desconhecido, já falecido, de terras algarvias, lá tinha a sua voz gravada. Foi bom colaborador. Com informações do viveiro do SCC dessa sua zona. Geraram-se amizades. De tal forma que num encontro em Olhão, onde o SCC foi disputar com o clube local, o carola algarvio Augusto Ramos Teixeira dirigiu-se ao grupo de adeptos covilhanenses que assistiam ao jogo. Ao intervalo pergunta se eu lá estava. Para me conhecer. E cumprimentar. Disseram que não me viam lá, mas que me conheciam. O envio de um abraço. Recebido na 2ª feira. Passei a colaborar no quinzenário daquela Cidade já lá vai mais de um quarto de século. São crónicas ou notícias do lado de cá da Beira Serra. Muitos dos jornais desportivos nacionais transmitiam a informação que lhes era enviada. Como a célebre homenagem às velhas glórias do clube serrano naquele sábado de 28 de setembro de 1991. A APAE da qual era dirigente foi a da iniciativa, por minha proposta. A edilidade covilhanense quando se apercebeu que isto não era leviandade, abriu as portas do seu salão nobre aos visitantes, vindos de todo o país, e recebeu-os num abraço. Ficaram as memórias.
1991 – Subsídios para a História do Sporting Clube da Covilhã, numa 1ª edição, pouco mais chegou para ofertas aos homenageados e convidados.
1992 – Numa 2ª edição, renovada, do mesmo título, deu oportunidade à tipografia da região para publicar uma obra em tamanho inédito para a altura. A cores ainda era experiência. Tinham de ir para fora.
1993 – 2.º livro – Figuras e Factos do Sporting Clube da Covilhã. Acabou por ser o mais solicitado. Também esgotou, sem reedição.
1998 – 3.º livro – Sporting Clube da Covilhã – Passado e Presente. Nas Bodas de Diamante, a história ainda mais completa.
2007 – 4º livro – Sporting Clube da Covilhã na Taça de Portugal – Cinquentenário da sua participação na final.
Entretanto, 1991 e 2007 foram também proporcionadores de uma interessante e importante exposição histórico-documental sobre o SCC e objetos desportivos de Clubes e Federações de todo o mundo. Em 2007, as crianças da Escola Básica do Rodrigo apresentaram trabalhos alusivos ao SCC, com prémios simbólicos atribuídos aos melhores.
2017 – 5.º livro – História do Sporting Clube da Covilhã – 1923 * 1990. Tive o prazer de prefaciar e apresentar este interessante livro da autoria do amigo Carlos Miguel Silva Saraiva, dando assim continuidade ao estudo e divulgação do glorioso SCC. Esperemos que o mesmo autor possa estar no prosseguimento da sua história, a partir de 1990, já que a mesma não se esgota.
Há factos, eventos e personalidades novas que mantêm o clube a desfraldar briosamente a sua bandeira, na representação não só do concelho como de toda a vasta região beirã. Com uma persistente liderança na condução dos caminhos do êxito. Este trabalho não é feito em vão.
Todas as obras publicadas não interferem umas com as outras, antes se completam, pelo que há conteúdos que umas possuem e outras não.
É neste contexto que, nos próximos números, darei continuidade a memorizar factos do clube serrano, inseridos nos quatro anteriores livros. Para avivar memórias.  

(In "Notícias da Covilhã", de 02-07-2020, que, entretanto, excluiu a parte final do texto, onde menciono todos os livros publicados sobre o SCC; e quinzenário "O Olhanense", de 01-07-2020, com a sua publicação integral)

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