Chegámos ao final de carreiras,
etapas, campeonatos, alegrias e tristezas, algumas (des)ilusões, e outros eteceteras.
Todos nós já percorremos alguns
destes caminhos. Desde que o futebol existe em Portugal já passámos por
situações de êxtase, outras de frustração.
No dia 11 de julho de 2000, ou
seja, há duas décadas, enviei para a imprensa desta região um artigo sob o título
“A Covilhã e o Distrito na Primeira
Divisão”, pelo que me apraz, nesta oportunidade, transcrever algumas partes
do mesmo: “Sendo nós da Beira Interior, e da Covilhã pela génese, com muita
honra, não podemos deixar de manifestar nossa grande satisfação pelo facto de
vermos ascender ao escalão máximo da arbitragem nacional um jovem covilhanense,
facto inédito na história da arbitragem do futebol desta região. Carlos Miguel
Xistra é assim o primeiro homem do Conselho de Arbitragem do distrito de
Castelo Branco a poder dirigir jogos das I e II Ligas. (…) A Associação de
Futebol de Castelo Branco merece ver reconhecida justiça aos seus árbitros,
pois a qualidade não tem andado arredada desta região, contrastando, várias
vezes, com outros árbitros, de regiões de maior influência e pressão, que
singraram, não se sabe muitas vezes como, para escalões superiores da
arbitragem. (…) A Covilhã pode orgulhar-se de ter dado à arbitragem regional
bons elementos, contudo o ostracismo a que muitos governos votaram o Interior,
mormente esta região beirã, foi a nota negra de impedimento dos mesmos no quadro
de honra de acesso aos maiores. (…) Mas o Interior continua a não se aproximar
do litoral, tendo-se verificado novamente em 1998, que um árbitro da Covilhã é
impedido de subir à primeira categoria a escassas 33 décimas daquele que viria
a ter o seu acesso, deixando algumas dúvidas. Esse jovem é precisamente aquele
que agora vê os seus méritos com razão e justiça, e, aí está, Carlos Miguel
Xistra honrando a sua família, ligada à prática e ao dirigismo do desporto na
região; honrando também a Covilhã que o viu nascer e o distrito de Castelo
Branco. As maiores felicidades para o jovem árbitro covilhanense da PRIMEIRA
CATEGORIA.”
Pois bem, Carlos Xistra, aos 46
anos, terminou a sua carreira de árbitro profissional de Portugal, de categoria
internacional, no jogo entre o F.C. Porto e o Moreirense, no dia 20 de julho.
Foram 28 anos dedicados à arbitragem dos quais 20 no futebol profissional.
Em devido tempo, a edilidade
covilhanense soube agraciá-lo, com toda a justiça.
Sendo a arbitragem objeto de
grandes atenções e críticas, quantas vezes severas, porque mexe com emoções,
Carlos Xistra viu-se várias vezes envolvido nelas, e é com aquele
constrangimento que verifico nas redes sociais ferocidades de opinião, mesmo de
gentes covilhanenses, não aceitando que o erro é humano, optando pela ênfase da
pedra que sempre trazem no sapato.
Até aos dias de hoje, ainda
nenhum Covilhanense alcançou o galarim na arbitragem, que a qualidade de Carlos
Xistra soube honrar, dando a conhecer indiretamente, tantas vezes, a sua Terra
– a Covilhã, por esses relvados de Portugal.
As lágrimas de Carlos Xistra,
após o seu apito final, e a t-shirt a homenagear os seus mais próximos ficaram
a marca nostálgica deste bom Covilhanense.
(In "Jornal Fórum Covilhã", de 05-08-2020 e "O Olhanense", de 01-08-2020)
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