5 de agosto de 2020

NÃO OLHAR COM UM SÓ OLHAR - No meu apreço pelo ex- árbitro covilhanense Carlos Xistra

Chegámos ao final de carreiras, etapas, campeonatos, alegrias e tristezas, algumas (des)ilusões, e outros eteceteras.

Todos nós já percorremos alguns destes caminhos. Desde que o futebol existe em Portugal já passámos por situações de êxtase, outras de frustração.

No dia 11 de julho de 2000, ou seja, há duas décadas, enviei para a imprensa desta região um artigo sob o título “A Covilhã e o Distrito na Primeira Divisão”, pelo que me apraz, nesta oportunidade, transcrever algumas partes do mesmo: “Sendo nós da Beira Interior, e da Covilhã pela génese, com muita honra, não podemos deixar de manifestar nossa grande satisfação pelo facto de vermos ascender ao escalão máximo da arbitragem nacional um jovem covilhanense, facto inédito na história da arbitragem do futebol desta região. Carlos Miguel Xistra é assim o primeiro homem do Conselho de Arbitragem do distrito de Castelo Branco a poder dirigir jogos das I e II Ligas. (…) A Associação de Futebol de Castelo Branco merece ver reconhecida justiça aos seus árbitros, pois a qualidade não tem andado arredada desta região, contrastando, várias vezes, com outros árbitros, de regiões de maior influência e pressão, que singraram, não se sabe muitas vezes como, para escalões superiores da arbitragem. (…) A Covilhã pode orgulhar-se de ter dado à arbitragem regional bons elementos, contudo o ostracismo a que muitos governos votaram o Interior, mormente esta região beirã, foi a nota negra de impedimento dos mesmos no quadro de honra de acesso aos maiores. (…) Mas o Interior continua a não se aproximar do litoral, tendo-se verificado novamente em 1998, que um árbitro da Covilhã é impedido de subir à primeira categoria a escassas 33 décimas daquele que viria a ter o seu acesso, deixando algumas dúvidas. Esse jovem é precisamente aquele que agora vê os seus méritos com razão e justiça, e, aí está, Carlos Miguel Xistra honrando a sua família, ligada à prática e ao dirigismo do desporto na região; honrando também a Covilhã que o viu nascer e o distrito de Castelo Branco. As maiores felicidades para o jovem árbitro covilhanense da PRIMEIRA CATEGORIA.”

Pois bem, Carlos Xistra, aos 46 anos, terminou a sua carreira de árbitro profissional de Portugal, de categoria internacional, no jogo entre o F.C. Porto e o Moreirense, no dia 20 de julho. Foram 28 anos dedicados à arbitragem dos quais 20 no futebol profissional.

Em devido tempo, a edilidade covilhanense soube agraciá-lo, com toda a justiça.

Sendo a arbitragem objeto de grandes atenções e críticas, quantas vezes severas, porque mexe com emoções, Carlos Xistra viu-se várias vezes envolvido nelas, e é com aquele constrangimento que verifico nas redes sociais ferocidades de opinião, mesmo de gentes covilhanenses, não aceitando que o erro é humano, optando pela ênfase da pedra que sempre trazem no sapato.

Até aos dias de hoje, ainda nenhum Covilhanense alcançou o galarim na arbitragem, que a qualidade de Carlos Xistra soube honrar, dando a conhecer indiretamente, tantas vezes, a sua Terra – a Covilhã, por esses relvados de Portugal.

As lágrimas de Carlos Xistra, após o seu apito final, e a t-shirt a homenagear os seus mais próximos ficaram a marca nostálgica deste bom Covilhanense.

(In "Jornal Fórum Covilhã", de 05-08-2020 e "O Olhanense", de 01-08-2020)



Sem comentários: