19 de agosto de 2020

O TERCEIRO CONGRESSO NACIONAL DE BOMBEIROS REALIZADO NA COVILHÃ

 Foi um grande evento que se realizou há 88 anos. A cidade laneira daquele tempo passou a ter uma maior expressão na comunicação social. Que não era tão fácil como nos dias de hoje. Percorreu muitas páginas das publicações diárias e periódicas de então. Haviam já sido muitos e variados os importantes temas tratados nos Congressos anteriores. O da Covilhã foi realizado de 21 a 25 de julho de 1932. O I Congresso foi no Estoril, de 16 a 18 de agosto de 1930; e o II Congresso teve lugar em Setúbal, de 21 a 23 de novembro de 1931.

Anteriormente já se haviam realizado outros designados Congressos, o primeiro no Porto, em 1889, por iniciativa de duas publicações especializadas existentes que se publicavam na época – Jornal dos Bombeiros e O Bombeiro Portuguez – sendo entretanto o principal inspirador do Congresso, o inspetor-geral de incêndios do Porto, Guilherme Gomes Fernandes. Já em 1877 tentara promover uma reunião magna de bombeiros portugueses. Este Primeiro Congresso dos Bombeiros Portugueses, da primeira fase, constituiu um marco decisivo da sua história. Mas, entretanto, vieram a surgir profundas divisões entre os bombeiros, que caraterizou toda a década de 20 do século XX, o que veio inviabilizar uma nova edição credível do Congresso Nacional de Bombeiros Portugueses.

Nos primeiros meses de 1930, no decorrer de um dos muitos almoços de confraternização promovidos pelo diretor do periódico “O Fogo” foi constituída uma Comissão Organizadora do Segundo Congresso dos Bombeiros Portugueses. Assim, ao contrário das anteriores tentativas de organização de um congresso verdadeiramente nacional de bombeiros portugueses, surgiram aqui, num curto espaço de tempo, um elevado número de adesões. Convocado para reunir no Estoril o Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses viria a consagrar a fundação da Liga dos Bombeiros Portugueses. Iniciou-se assim o I Congresso do segundo ciclo.

O III Congresso, realizado na Covilhã, tornou-se um grande evento. Foi talvez uma das maiores realizações jamais vistas e que trouxe grande evidência à cidade dos lanifícios. Foi com grande orgulho que as gentes covilhanenses souberem receber os participantes, naquela hospitalidade que lhes é peculiar. Depois dos congressistas em Setúbal, no II Congresso, terem votado a favor da Covilhã, esta decisão foi aplaudida entusiasticamente.

Com este evento, raro para a época, foi um grande êxito para os Bombeiros Voluntários da Covilhã. Mas também muitas das forças da organização citadina proporcionaram que toda a imprensa fizesse frequentemente ressaltar o nome desta cidade serrana, hoje universitária de excelência, como o fora de laneira naquela altura, conforme já referido.

Este evento ficou indelevelmente como marca na história dos bombeiros portugueses, onde viriam a ser tomadas importante decisões para a vida dos bombeiros.

O III Congresso teve sete sessões, em vários locais, com visitas a fábricas de lanifícios do concelho, e à Serra da Estrela.

 No cortejo, e desfile pelas ruas da cidade, realizado no dia 24 de julho daquele ano, participaram 56 Corporações, 620 bombeiros, 33 viaturas, muitas bandeiras e algumas bandas. Toda a Covilhã os esperava, com suas ruas, portas, janelas, torres, terraços e telhados repletos de gente. Uma formidável aluvião inundou a cidade. Eram verdadeiros cachos humanos por toda a parte. Vibravam no ar as marchas animantes, ouviam-se os clarins estridentes, com a cidade a viver uma hora de emoção como nunca viveu. Era o desfile pelas ruas dum exército tranquilo e pacífico que marchava sem tibiezas, cônscio dos seus deveres, levando por armas, como nos dias de hoje, a abnegação e o altruísmo, e por lema estrelado o seu eterno guia: VIDA POR VIDA!

Do Regimento de Infantaria 21 para o Pelourinho foi o desfile, ouvindo-se o estralejar de foguetes, os repiques dos sinos, os toques dos clarins e os acordes das bandas produzindo um estado de alma indescritível. Das várias autoridades civis e militares, estiveram presentes: o Comandante do Regimento de Infantaria 21, coronel Gustavo Piçarra que entregou as insígnias de Cavaleiro da Ordem de Torre e Espada com que o falecido Comandante dos BVC, Sebastião dos Santos Júlio, fora condecorado pelo Governo da República, a título póstumo, ao Comandante dos BVC, Jerónimo Monteiro Ranito.

No estandarte dos BVC, foram então colocadas várias fitas artisticamente pintadas, oferecidas por algumas entidades, salientando-se as das Senhoras da Covilhã. O Presidente da Assembleia Geral dos BVC, Guilhermino Melo e Castro, agradeceu todas as homenagens que acabavam de prestar à sua Corporação.

A Liga dos Bombeiros Portugueses não podia ficar indiferente perante tantas distinções das gentilíssimas Senhoras da Covilhã, e, assim, para que a sua gratidão se perpetuasse pelos tempos fora, tinha disposto no edifício da Câmara Municipal uma lápide, afirmando o sentir unânime de todos, tendo o presidente da edilidade, Dr. Francisco Xavier de Almeida Garrett, descerrado a referida lápide no meio de grandes aclamações de todos os Bombeiros presentes. A lápide de mármore branco contém a seguinte inscrição: “Homenagem de reconhecimento à Mulher da Covilhã. A Liga dos Bombeiros Portugueses. Julho de 1932”.

O Presidente da Direção dos BVC, que participou neste Congresso, era José Carvalho Nunes Tavares; o Presidente do Conselho Fiscal, Dr. João Ferraz Carvalho Megre; e o 2.º Comandante dos BVC, António Garcia. O já referido Comandante dos BVC, Jerónimo Monteiro Ranito, sucedeu a Sebastião dos Santos Júlio, de que era seu 2.º Comandante, devido ao seu  falecimento num acidente de viação que o vitimou em 10/09/1931, aos 33 anos, quando pelas 20 horas se dirigia no pronto-socorro “Lancia” para um incêndio no sítio denominado “Casas Novas”.

(In "Notícias da Covilhã", de 20-08-2020)

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