11 de dezembro de 2020

GRITAR FOGO NUM TEATRO CHEIO

Os tempos que correm, a caminho do Natal, não se encontram famosos. Nada mesmo! Jamais alguns de nós ainda viventes passou por esta situação. Faz recordar os tempos dos nossos Combatentes, ausentes em terras ultramarinas de então. Havia a esperança de passados uns meses surgir o abraço dos entes queridos que se deixaram forçosamente na Metrópole. E umas mensagens via RTP e Emissora Nacional serviam para um pequeno lenitivo de verem os seus envergando a farda, com vida, ou ouvirem as suas vozes. Que, de doenças, também havia por aquelas paragens o paludismo.  E outras mais. Medo também existia que a qualquer momento pudesse surgir o inimigo. Traiçoeiramente, quando menos se contava, no surgir do rebentamento de uma mina, numa emboscada, e em tantas situações por muitos dos nossos Combatentes já narradas. Mas a que os senhores da Governação do País de então tentavam olvidar. Enquanto calejavam no rabo os efeitos do sedentarismo nas suas secretárias, já outros compatriotas, onde o humanismo para eles, governantes, era palavra vã, sentiam os efeitos perniciosos que, talvez a falta de uma vírgula num ofício que para retificação voltava para trás, deixava por terra, na sua morosidade de vir um helicóptero, o ferido que haveria de sofrer as consequências nefastas para toda a vida.

Se nessas famigeradas décadas  de início de 60 e meados de 70 tudo se passou numa guerra em que se conhecia o inimigo, o mesmo não acontece nos dias de hoje, em que o inimigo é invisível, e nem a balística consegue encontrar uma solução. Os beijos e abraços tão queridos dos familiares e amigos, possíveis em tempos bélicos aquando dos militares regressados, são agora uma palavra de ordem pelas forças sanitárias no seu afastamento para tentar debelar este inimigo invisível, em que não há armamento adaptado para o solucionar.

É indubitável que epidemias, pestes e pandemias sempre houve desde a Antiguidade, e na sua maioria ainda não se extinguiram na sua globalidade, com adaptação, das procuras de cura, aos tempos no âmbito dos seus conhecimentos e dos que foram adquirindo.

Se as duas anteriores Guerras Mundiais se encontraram nas mãos dos Homens, como tantas outras da História, o mesmo já não acontece com esta Pandemia, uma autêntica Guerra Mundial com foros de um único inimigo, invisível e minúsculo, que nem as forças em Exército Comum conseguem debelar.

Há que ter consciência, pois, dos deveres que competem a todos nós, cidadãos deste Planeta, para assumirmos o manejar das mesmas armas, de todos sobejamente conhecidas, e não darmos o corpo às balas, atrevida e irresponsavelmente, como vemos muitos por essas ruas das cidades, vilas e aldeias. O atrevimento do não cumprimento das regras sanitárias, geralmente paga-se caro, e fazem pagar de idêntica moeda o seu semelhante mais próximo.

O Mundo, não obstante esta tragédia virulenta que o tem abalado, já antes vivia os temores e indignação pela forma como, à face da Terra, surgiu no comando dos destinos do país que ainda é considerada a maior força mundial, um homem sem escrúpulos, qual Nero, a lançar uma sementeira de ódio, narcisismo, incompetência, mentira sem escrúpulos e arrogância suprema.

Felizmente que se o que estava em causa era antes uma oposição entre a verdade e a mentira, entre a democracia e a autocracia, entre a apologia dos direitos humanos e a sua corrupção, uma disputa entre cooperação multilateral e a extinção da ordem global das últimas décadas, o agora derrotado Donald Trump que revelou do princípio até ao fim um desdém absoluto por esse código de valores, saiu de cena.

O Mundo ficou aliviado!

Teremos, pelo menos, que mais não seja, neste Natal, Joe Biden, que embora receba uma América com um somatório tremendo de crises, numa tarefa hercúlea que se adivinha, a ter que reverter muito do que o seu antecessor fez duma forma perniciosa para o Mundo.

Conforme disse um juiz do Supremo Tribunal dos EUA, num caso apreciado em 1919, sobre liberdade de expressão, é “causar pânico ao gritar fogo, sem haver fogo, num teatro cheio”. Foram estas as circunstâncias, a América “em que Trump atacou os fundamentos da democracia, a paz social e a própria união ao descredibilizar os votos que não o favoreceram, os estados e cidades que não votaram nele, o seu opositor e o partido democrata, nomeando-os como fraudulentos, como responsáveis por lhe roubar a eleição, como inimigos. Isso é ou não gritar fogo num teatro cheio?”.

Na esperança que possamos ver dissipar-se, ou pelo menos atenuar-se, esta pandemia que nos assola, vão os votos de um Feliz Natal de 2020, dentro do que nos for possível, e que o ano 2021 possa ser o fim desta pandemia, votos estes para todos os Combatentes, e não Combatentes, Dirigentes, Associados, Leitores e Amigos, no âmbito deste Núcleo, e suas Famílias, para que possam ver aquela Luz que todos desejamos – PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE!

(In "O Combatente da Estrela", nº 121 - Dezembro 2020)


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